Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Jorge Cabral, ele mesmo, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71.
Foto: © Jorge Cabral (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Mais um estória do nosso alfero (*)... Começou em abril de 2007, a nº 1... Já lá vamos na 74, à espera do lançamento do prometido livro de antologia que será, dizem, um acontecimento social de arromba na noite de Lisboa... (LG) (**)
Danado para as cúpulas ?
por Jorge Cabral
– Branquinho, eu era danado para as cúpulas ? – perguntei-lhe um dia destes, porque habitualmente me socorro da sua memória. Ainda há meses, logo depois do almoço da CCS do Bart 2917, em Guimarães, no qual contaram tantas estórias do meu Missirá, tive de procurar confirmação junto dele. Praticamente eram todas invenções, pois também têm direito…
A esta questão, o Branquinho nem soube responder.
–Cúpulas ? Quais cúpulas?
Lá lhe relatei o encontro com o Belmiro, um Rapaz dos Morteiros, que esteve connosco largos meses. Vinha com um cunhado e a certa altura afiançou-lhe:
–Aqui o Alferes era danado para as cúpulas!
Não percebi.. Sorri e concordei:
– Pois era ! – Mas a expressão não me saiu da cabeça.
Danado para as cúpulas? Matutei, matutei e penso que descobri.
Em Missirá, a mesa das refeições servia também de secretária, na qual escrevíamos as nossas cartas e aerogramas. No início até me pediam para escrever às namoradas. Mas depois da má experiência, documentada na estória “O Básico Apaixonado” (***), passei a funcionar como uma espécie de Ciberdúvidas [da Língua Portuguesa]:
– Meu Alferes, como se escreve isto? Meu Alferes como se escreve aquilo?
Ora, uma tarde o Belmiro perguntou-me:
– Meu Alferes, f…..é com u ou com o?
– Mas para quem estás a escrever? Põe copular, é assim que se diz.
Não sei se seguiu o meu conselho. A carta era para o irmão e certamente o Belmiro gabava-se das suas proezas sexuais.
Mais de quarenta anos depois deve ter relembrado a palavra.
– Mas atenção, Belmiro, como a outra, esta também se escreve com um o.
Bem, aqui entre nós, o ou u não interessa mesmo nada. Até porque é bem melhor de fazer do que de escrever…
Jorge Cabral
______________
Notas do editor:
(*) Últimos postes da série, publicados no ano em curso:
29 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)
(...) Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me interpela:
- É o Senhor Conde, não é?
Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
-Sou sim. Como vai a senhora?
-Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa. (...)
9 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)
(...) Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível. Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo. (...)
(**) O nosso alfero veio logo protestar: "Luís, a antiguidade é um Posto! Comecei em Dezembro de 2005! O 'Básico Apaixonado' é de 7 de Janeiro de 2006, tendo sido posteriormente republicado".
- É o Senhor Conde, não é?
Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
-Sou sim. Como vai a senhora?
-Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa. (...)
(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia. Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites. (...)
24 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9796: Estórias cabralianas (71): Fixações etnomamárias: evocando o meu avoengo Carloto Cabral que, no séc. XVIII, crismou Quebo como a Aldeia das Mamas Formosas (Jorge Cabral)
(...) Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista, presumo. (...)
3 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)(...) Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível. Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo. (...)
(**) O nosso alfero veio logo protestar: "Luís, a antiguidade é um Posto! Comecei em Dezembro de 2005! O 'Básico Apaixonado' é de 7 de Janeiro de 2006, tendo sido posteriormente republicado".
E eu tive que lhe dar razão: "Querido 'alfero': Os meus neurónios já não andam bem!... Fui lá atrás, a dezembro de 2005 (!), aos postes da I Série (que já ninguém lê), descobrir algumas preciosidades tuas, as primeiras estórias cabralianas, de que fiquei logo fã, repubicadas depois, mais tarde, na série do mesmo nome... Bato-te a pala e peço-te mil e uma desculpas pelo lapso biocronológico. É verdade, aqui(e lá) a antiguidade é(era) um posto... Foi "pela mão do Humberto Reis" que a gente se reencontrou em Lisboa, em dezembro de 2005... Abraços, longos. Luís".
(***) Vd. poste de 23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)
(...) O Pel Caç Nat 63 esteve quase sempre em Destacamentos. Comigo em Fá e Missirá. Antes no Saltinho, e depois no Mato Cão. Para os Destacamentos eram mandados os especialistas que a CCS [do Batalhão sediado em Bambadinca] não queria. Assim, tive maqueiros que não podiam ver sangue, motoristas epilépticos e até um apontador de morteiros cego de um olho. Tudo boa rapaziada, aliás! (...)
3 comentários:
Luís, a antiguidade é um Posto!
Comecei em Dezembro de 2005!
O "Básico Apaixonado" é de 7 de
Janeiro de 2006,tendo sido
posteriormente republicado.
ABRAÇÃO!
J.Cabral
Querido 'alfero':
Os meus neurónios já não andam bem ou já não são o que eram!...
Fui lá atrás, a dezembro de 2005 (!), aos postes da I Série (que já ninguém lê), descobrir algumas preciosidades tuas, as primeiras estórias cabralianas, de que fiquei logo fã, republicadas depois, mais tarde, na série do mesmo nome...
Bato-te a pala e peço-te mil e uma desculpas pelo lapso biocronológico.
É verdade, aqui(e lá) a antiguidade é(era) um posto...
Foi "pela mão do Humberto Reis" que a gente se reencontrou em Lisboa, em dezembro de 2005...
Abraços, longos. Luís.
http://blogueforanada.blogspot.pt/search?q=%22Jorge+Cabral%22
http://blogueforanada.blogspot.pt/2005/12/guin-6374-ccclxxxii-vocs-no-tenham.html
Bom dia meu Alfero
Que história deliciosa. Depois de a ler fui caminhar durante uma hora e dei por mim várias vezes a rir sozinho...
Grande abraço de Alcobaça, JERO
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