quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10795: In Memoriam (135): Dona Berta de Bissau (1930-2012) (Hélder Sousa / Patrício Ribeiro / Antº Rosinha)



Página de ontem, 12, do sítio Pensão Berta..."É com muita tristeza, mas também alguma paz no coração, que escrevo aqui a noticia da morte da Avó Berta. Cumprido que estava o seu enorme papel na vida de cada um de nós, partiu em paz e ficara para sempre no nosso coração como uma inspiração e modelo de vida. Obrigada, Avó, por tudo! A partir do início da tarde estará na Igreja de Santo Contestável, em Campo de Ourique,  para que nos possamos despedir."... E hoje a editora da página acrescentava a seguinte informação: "Despedida da D. Berta  >  Exéquias da D. Berta Bento: amanhã (dia 14) chegada do corpo à Basílica da Estrela. Sábado (dia 15) pelas 10h30 missa, 11h00 funeral para o crematório da Póvoa de Santa Iria."

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, também conhecido por Tabanca Grande, deixa aqui, publicamente, os seu votos de pesar pela perda desta grande mulher do povo, e ao mesmo tempo de homenagem pelo seu exemplo de humanidade: ela teve o condão  de tocar todos aqueles que com ela conviveram, que a conheceram, ou que simples beneficiaram da sua hospitalidade, nesse porto de abrigo que era a Pensão da Dona Berta, em Bissau, durante e depois da guerra colonial.


1. Texto enviado hoje mesmo pelo Hélder Sousa:

À DONA BERTA DE BISSAU

Caros camaradas, amigos e outros…

Devia estar agora a fazer um breve relato do que foi o lançamento do livro de José Ceitil dedicado à Dona Berta, ao qual assisti.

É sabido que esse livro, a que foi dado o nome de “Dona Berta de Bissau”, pretende ser a concretização da homenagem escrita feita a essa grande Senhora, homenagem várias vezes tentada, agora concretizada e inteiramente merecida. Mas hoje, agora mesmo, é também já uma ‘homenagem póstuma’ pois foi dado conhecimento que a Dona Berta faleceu.

Deste modo, este relato assume então uma função dupla: o registo da apresentação/lançamento do livro com a “homenagem à sua vida”, consubstanciada nos relatos do seu conteúdo e também a referida “homenagem póstuma”. (*)

A sessão decorreu, em minha opinião, com elevado nível e boa representação de público variado, sendo certo que a ligação à Guiné estava, evidentemente, presente em todo o lado. Há no livro referências ao nosso Blogue, como fonte de recolha de informação e há depoimentos de pessoas que são ‘tabanqueiros’. Ao dirigir-me para o local da sessão cruzei-me no pátio de acesso com o Mário Beja Santos e lá dentro, com o auditório cheio, estive e falei com o João Paulo Dinis e no final com o Eustácio. Vi, mas não cheguei a falar, com o Francisco Henriques da Silva e outro elemento que não me ocorre agora o nome.


Foto nº 1 

Na foto nº 1,  pode-se ver a mesa que presidiu à sessão, estando da esquerda para a direita, no uso da palavra, Marta Jorge, jornalista da RTP e ex-delegada da RTP na Guiné-Bissau durante vários anos e que fez o prefácio do livro, Mónica Azevedo, agente da cooperação portuguesa e administradora do Blogue “Pensão D. Berta Bissau”, António Baptista Lopes, proprietário da editora Âncora, José Ceitil, autor do livro, Céu Marques, sobrinha da D. Berta, Gisela Rocolle, agente da cooperação portuguesa. Vêm-se também dois músicos guineenses, o Mamadu Baio e outro que não colhi o nome.


Foto nº 2

Na outra foto (foto nº 2) com a panorâmica do auditório temos na primeira fila vários familiares da Dona Berta, vendo-se também, mais à direita, a Marta Ceitil que continua o seu trabalho na Guiné, levando já lá mais tempo que o que utilizámos nas nossas comissões. Na fila a seguir vê-se o embaixador Francisco H. da Silva e eu encontro-me em pé, na coxia, que acabou por também encher.

Da leitura do livro (, vd. foto nº 3, expositor),  que, na prática é um misto do percurso da vida da Dona Berta desde que chegou à Guiné, “para passar um mês”, ficando todo este tempo por lá, entrelaçando esse percurso com a própria história da Guiné, vamos conhecendo mais e melhor a Dona Berta e a razão porque tantos se consideram hoje seus “filhos” e “netos”, não escondendo a sua grande admiração e gratidão a uma personagem que se tornou amiga, “mãe”, confidente, e até ‘milagreira’, no modo como do ‘nada’ conseguia desencantar o que era preciso, e não nos esqueçamos que se atravessam os períodos da luta pela independência, de guerras civis, de intervenções estrangeiras e de conflitos sempre latentes e sempre presentes.


Foto nº 3

Todos os depoimentos que estão plasmados no livro são unânimes em reconhecer a importância do papel que a Dona Berta teve na sociedade de Bissau, nos pequenos pormenores e nos momentos de maior angústia, nas recordações dos momentos agradáveis passados na Pensão Central, nas conversas na varanda, nos gelados saborosos, etc.

A história da Dona Berta faz-nos lembrar que em qualquer lugar e circunstância a atitude marca a diferença e isso pode ser muitas vezes a separação entre a esperança, a alegria, a confiança e o desespero, a amargura, a descrença, e essa postura é o que mais ressalta do que foi o comportamento da Dona Berta.

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa  [, foto à direita]
Fur Mil Transmissões TSF

Créditos fotográficos: Sofia Lima / Editora Âncora. (**)


2. Mensagem de Patrício Ribeiro, enviada esta manhã, de Bissau  [, foto à direita]

 Sobre a noticia que tive ontem há noite em Bissau, quero passar a todos.

D. Berta de Bissau, a sua morte em Lisboa.

Hoje aqui em Bissau, resta-me passar junto ao edifício, que o foi a Pensão Central, olhar para a escada que durante três décadas subi para ir almoçar e para a varanda onde descansava um pouco depois do almoço.

Bem haja ao José Ceitil, pela publicação do livro, ela esperou e depois foi …

É assim a vida...

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. DomingosRamos 43D - C.P. 489 - Bissau , 
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 
Lisboa www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com 


3. Depoimento de António Rosinha:

 A Dona Berta tinha a imagem típica dos velhos "portugueses tropicais" que possuiam um carácter português diferente do português metropolitano.

Os Portugueses tropicais tinham defeitos e qualidades diferentes dos portugueses metropolitanos. Esses portugueses estão em extinção lá, no antigo Ultramar, têm vindo a "refugiar-se" na antiga Metrópole,  no Brasil e na Europa em geral.

Passei anos maravilhosos em companhia de pessoas como a Dona Berta em Bissau e em Luanda, e também fui comensal da pensão da Dona Berta.

Como todas as centenas ou milhares(?) de cooperantes portugueses que foram seus hóspedes, também eu a lembro com saudade.

Paz à sua alma.
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >17 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10685: In Memoriam (134): Amália Martins Reimão, enfermeira paraquedista do 3º Curso (1963)... Cumpriu a sua missão nos TO da Guiné e Angola e no HM Força Aérea... Família, amigos e camaradas despedem-se hoje, às 16h30, na igreja de Queijas (Oeiras) e no cemitério de Rio de Mouro (Sintra)

(**)  Ficha técnica:

Título: Dona Berta de Bissau
Autor: José Ceitil
Editora. Âncora
Local: Lisboa
Preço de capa
€16,00
Número de páginas 200
Formato 150 mm x 230 mm
Código: 6031
ISBN 978 972 780 374 3

Sinopse:

 História oficial dos povos realça os nomes e feitos dos governantes vencedores e os defeitos dos vencidos mas raramente refere as pessoas singulares que não pertencem às elites próximas do poder, mesmo que tenham enorme dimensão humana. Como é o caso de Berta Bento.

Berta Bento viveu em Bissau a maior e também a melhor parte da sua vida. Embora tenha nascido em Cabo Verde e ser filha de cabo-verdianos, desde que chegou à Guiné em 1948, sentiu-se em casa e aos poucos começou a sentir-se também parte desse povo, um povo que se tal lhe fosse permitido apenas o desejaria ser.

Narrar o seu percurso numa terra habitada por povos antigos e diferentes entre si, caldeados numa convivência interétnica precária geradora de visões culturais e divisões políticas que tornam difíceis os dias de quem, como a D. Berta, apenas deseja viver em paz é o desígnio desta biografia.
A biografia é uma homenagem e um tributo a que só têm direito aqueles que se destacaram no seu tempo e por isso merecem que o registo do que fizeram perdure para além dele. O que se segue é o resultado das entrevistas por mim feitas à D. Berta na Pensão Central em Maio e Dezembro de 2010.

Se foi isto que me quis contar então é porque a verdade é assim mesmo, tal e qual, pois é sabido que na linguagem dos sábios mesmo que a verdade com que traduzem a realidade seja contada através de algumas metáforas, não deixa de ser menos real.  Por outro lado se é uma quase evidência que as lendas podem ser mais úteis do que os factos, então a realidade pode muito bem continuar ao alcance da verdade de cada narrador que neste caso, procurando completá-la com outros olhares, socorreu-se do testemunho de pessoas que conheceram e gostosamente acederam em partilhar as memórias que têm desta admirável Senhora. (Da Introdução).-

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

A Dona Berta tinha a imagem típica dos velhos "portugueses tropicais" que possuiam um caracter português diferente do português metropolitano.

Os Portugueses tropicais tinham defeitos e qualidades diferentes dos portugueses metropolitanos.

Esses portugueses estão em extinção lá, no antigo Ultramar, têm vindo a "refugiar-se" na antiga Metrópole, no Brasil e Europa em geral.

Passei anos maravilhosos em companhia de pessoas como a Dona Berta em Bissau e em Luanda, e também fui comensal da pensão da Dona Berta.

Como todas as centenas ou milhares(?)de cooperantes portugueses que foram seus hóspedes, também eu a lembro com saudade.

Paz à sua alma.