segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)



Tavira > CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria) > 1969  > Encostas do Rio Gilão (ou melhor Rio Séqua, pois que o Gilão só começa depois da ponte romana...)  > 1º Pelotão da 2ª Companhia > O Carlos Silva, natural de Gondomar, foi um dos muitos camaradas que, tendo feito a recruta no RI 5, Caldas da Raínha, foi frequentar o  2º ciclo do CSM, no no CISMI em Tavira, neste caso para tirar a especialidade de armas pesadas de infantaria (canhão sem recuo, morteiro 81, metradalhadoras pesadas Browning e Breda...). Esteve lá, de 10/4/1969 até 27/6/1969. Passou ainda pelo RI 10 (Aveiro) onde foi promovido (e "praxado") como 1º cabo miliciano até ser mobilizado para a Guiné. Embarcou no "Ana Mafalda" a 17/9/1969, com os seus camaradas do BCAÇ 2879. Esteve na região do Oio, Setor de Farim.

Foto do Carlos Silva, inserida na sua página e aqui reproduzida com a devida vénia.












As seis primeiras páginas, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias lá fez a recruta e a especialidade (sapador) (2º semestre de 1968). O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos  o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta,o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]


César Dias, Mansoa, 1970

1. O César Dias [,ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, foto à esquerda, ]  mandou-me ontem a seguinte mensagem:


Boa noite, Luis

Como tens falado de Tavira, aqui nos meus papéis e fotos encontro coisas que serão inéditas, penso eu. Esta é uma delas, um documento histórico, apanhado na altura num cesto de papéis. Um abraço, César


2. Resposta de L.G.`

Camarada César, é uma preciosidade roubada à "cesta secção"... Dou-te os parabéns por a teres salvo... Ou melhor: dou os parabéns ao teu (e nosso) camarada Fernando Hipólito que te fez chjegar o documento...  Tenho uma vaga ideia de também ter recebido (ou lido), no CISMI,  um exemplar do "Guia do Instruendo", quando lá fiz  a minha especialidade de armas pesadas, na mesma altura que tu (set/dez 1969). Vou publicar o documento em partes numa série com o teu nome...  Outra questão: tens mais fotos da instrução, do nosso tempo ?  São fotos raras... Se sim, digitaliza e manda, por favor!... Um alfbravo miliciano. Luis



Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Meados de 1968 > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada), César Dias,  de frente (a azul) e, em segundo plano, o Fernando Hipólito (a amarelo). O Hipólito, que descobriu o César Dias através do nosso blogue, foi mobilizado para Angola. O António Levezinho, por sua vez, vou conhecê-lo, mais tarde, no Campo Militar de Santa Margarida, nos princípios de março de 1969,  aquando da formação da nossa companhia (independente), a CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Foi um dos grandes amigos que eu fiz na Guiné.

Curiosamente, não sei onde é que ele tirou a especialidade (atirador de infantaria). O Cèsar ficou no CISMI, para o 2º ciclo do CMS. Foi nessa altura que estivemos juntos. E, depois, na Guiné, estivemos perto, mas nunca nos encontrámos: ele, em Mansoa; eu (e o Tony) em Bambadinca. Ele partiu para a Guiné em 7/5/1969 e nós,  duas semanas depois... No mesmo navio, o Niassa. (LG)


Foto: © César Dias  (2010). Todos os direitos reservados

3. Comentário ao poste P12673, assinado pelo César Dias [, foto atual à direita] : 

Luís, também eu estive 6 meses em Tavira, na recruta (3ª Companhia) e na especialidade de Sapador ( 2ª Companhia), e pelos vistos estivemos no mesmo turno, com o tal tenente Esteves do qual me recordo como se divertia ao anunciar à sexta feira os cortes nos fins de semana:  "O militar é a parte válida do povo e como tal não há fim de semana para ninguém".

Eu penso que ficámos retidos algumas vezes porque foi nessa altura que Salazar caiu da cadeira.  Sobre esse Alferes [de que falas], lembro-me que era algarvio e também dava instrução de provas fisicas ao meu pelotão, Deves-te lembrar do meu pelotão, pois andavam todos com um estropo de corda ao ombro, fazia parte da farda.

Tudo o que referes avivou-me a memória já muito fraca, mas foi a parte de Tavira que conheci.



Tavira > Quartel da Atalaia > Antigo CISMI, hoje RI 1 > 1 de fevereiro de 2014 >  Belo exemplar da nossa arquitetura militar, fica situado na Rua Isidoro Pais. Imóvel em vias de classificação,segundo o excelente síio da Câmara Municipald e Tavira, de onde  se extrai, com a devida vénia, o texto abaixo reproduzido.

Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


(..) "Quartel da Atalaia (...): Por volta de 1780, devido à transferência do Regimento de Infantaria de Faro para esta cidade, aumenta o número de efetivos militares em Tavira. O facto leva o Governador e Capitão-general do Algarve, Nuno José Fulgêncio de Mendonça Moura Barreto, a exercer a sua influência junto da corte no sentido de se construir um quartel em Tavira, capaz de alojar condignamente o regimento da cidade.

O Quartel da Atalaia, um dos mais antigos do país, é iniciado em 1795 com o beneplácito de D. Maria I, de acordo com a inscrição lapidar que encima o arco da entrada principal. A construção foi interrompida pouco tempo após o seu início, sendo apenas retomada em 1856, depois de atenuados os efeitos de uma conjuntura politica e economicamente desfavorável, de invasões francesas, de permanência da corte no Brasil e de convulsões politicas que conduziram à implantação do Liberalismo e à Guerra Civil. 

Durante este interregno os militares acolhiam-se em casas particulares até que, em 1835, na sequência da extinção das Ordens Religiosas, é entregue ao exército o antigo Convento de Nossa Senhora da Graça. Aí, rapidamente adaptaram os militares as antigas estruturas religiosas a aquartelamento militar.

Por sua vez, o Quartel da Atalaia, ainda por concluir, servia de hospital de coléricos civis por ocasião da peste que se abateu sobre a cidade em 1833. O edifício ficará concluído somente nos primeiros anos do século XX, só então para lá se transfere a guarnição de Tavira.

Trata-se de um rico exemplar de arquitetura militar. Apresenta planta retangular composta por corpos ligados em torno de um amplo pátio central interior. O maior interesse reside na fachada principal, constituída por um solene corpo central que forma a porta de armas, dois pavilhões de telhado simples de quatro águas com mansardas, terraços cercados por balaustrada e, nas extremidades, torreões com duplo telhado. 

Embora o recorte dos vãos, de inspiração barroca, revele o gosto cortesão próprio da época de D. Maria I, poderá estar aqui presente a lição da arquitetura pombalina da recém-fundada Vila Real de Santo António, em cuja implantação colaborou o engenheiro militar José Sande de Vasconcelos (1730 - 1808), destacado para o Algarve cerca de 1772 e possível autor do projeto deste quartel.

No decurso do século XX, o edifício sofre algumas alterações funcionais. Assim, em 1950 é construído um novo refeitório, em 1954 é calcetado o pátio da parada e em 1970 é adicionado um segundo piso nas alas laterais, para servir de novas casernas." (...)

9 comentários:

Luís Graça disse...

Confesso que nunca tinha lido (ou já não me lembrava de) esta lapidar e dramática definição de um infante... Cai que nnejm uma luva em muitos de nós que, infantes ou não, conhecemos o duro teatro operacional da Guiné, as picadas, as savanas arbustivas, as florestas galeria, os rios e braços de mar, as bolanhas...

Só pode ser da autoria de um poeta, que tenha feito a guerra das trincheiras em La Lyz, em 1918... N guerra de contraguerrilha era difícil era de cara a cara com o IN, a não ser quando morto ou aprisionado... Quanto ao resto, estão lá os ingredientes: o lodo, o tarrafe, o sangue, a merda, mais os mosquitos, as formigas, as abelhas, as balas das "costureirinhas", as minas, os roquetes, as morteiradas...

"O soldado de infantaria é aquele que vive, vigia, sofre e combate na lama, no pó e no sangue, aquele que tirita sem abrigo e sofre privações, fadigas e horrores de toda a espécie. É aquele que no ardor da luta vê o inimigo cara a cara, que não combate só com as suas armas, mas com toda a sua alma. Ele é a verdadeira sentinela da Pátria.”

segunda-feir

Carlos M.Pereira disse...

Em Mafra na EPI também nos impingiam esta conversa da treta.
Carlos M.Pereira
Ex-Sold

Henrique Cerqueira disse...

Cesar Dias...grande "tiro" neste assunto sobre Tavira. Parabéns ,mas parabéns mesmo por teres conservado estes preciosos documentos sobre o C.I.S.M.I. de Tavira. Eu não afirmo mas penso que em 1971 já nem se deram ao trabalho de nos impingirem tal balela. É que aquela gente da altura " militares ou civis "faziam exatamente o contrário do que está escrito nesses documentos em especial os últimos parágrafos.
« CONTITUI POIS QUE O ALGARVE É MOTIVO DE ORGULHO RECEBER OS FILHOS DE TODAS AS PROVINCIAS blá...blá...PROPORCIONANDO-LHES A MAIS FRATERNA HOSPITALIDADE,blá..blá.. etc. NO DESTINO DA PÁTRIA.
Grandes pulhas era exatamente tudo ao contrário (salvo raras exceções ).
Duas coisas mais . Desculpem as letras grandes e também aos que não tenhem nada a reclamar ( eu conheço pelo menos dois porque era jogadores de futebol e tinham um regime de excecionalidade que até vinham passar os fins de semana de avião ),mas aí eu não tenho nada a dizer é como ainda hoje. Para o Governo há os que são FILHOS DA MÃE E OS QUE SÃO FILHOS DA outra...
Na altura eramos tratados assim para ganhar "endurance " e servir a Pátria .Hoje temos endurance para a Pátria se servir de nós.
Henrique Cerqueira

Cesar Dias disse...

Henrique Cerqueira
Realmente fui eu que fiz chegar ao Luis Graça este documento, mas quem o conservou durante todos estes anos foi o camarada da recruta FERNANDO HIPÓLITO, o seu a seu dono.
Um abraço
César Dias

Anónimo disse...

"O rico é para o escritório"
"O pobre é para a enchada"

Para lá caminhamos

O gajo que proferiu esta pérola na inauguração da escola da minha terra em 1938 ..ía levando uma carga de porrada..disse-me o meu Avô.

Não estive em Tavira mas parece-me que aquilo era destinado para "infante" defensor da "pátria" sofrer...

O "pobre" ou sem cunhas ía para "infante"...defender a..a..isso..

O "remediado" para cavalaria

O "remediado intelectual"...ah.ah..para artilharia..

O "rico" ou com uma grande cunha para aquelas especialidades..mais ou menos..não precisava defender a dita..que isso é para "pobre"

Vivam os infantes e também S.Bárbara

AMEN

C.Martins

Anónimo disse...

PS

desculpem a enchada é enxada

C.Martins

Henrique Cerqueira disse...

Martins és sempre o mesmo.
Não te preocupes que "enchada ou enxada " será sempre para o pobre.
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Cito o C. Martins:

(...) O "pobre" ou sem cunhas ía para "infante"...defender a..a..isso.. O "remediado" para cavalaria. O "remediado intelectual"...ah..ah... para artilharia... O "rico" ou com uma grande cunha para aquelas especialidades...mais ou menos... não precisava defender a dita...que isso é para "pobre" (...)

C. Martins: Levantas uma questão interessante, que deveria merecer a atenção de sociólogos e historiadores da guerra colonial: a composição e a estratificação sociais das Forças Armadas Portugueses...

Em tempo de guerra, quem é que vai integrar as fileiras do Exército, Marinha e Força Aérea ?... Quem é que preenchia os "quadros de complemento" do Exército ? Ou quem é que ia para a "Reserva Naval" ?

Não sei exatamente em que altura foram introduzidos os "testes psicotétnicos"... A noção relativa de "métito" já existia, mas eu tenho a impressão de que uma "valente cunha" se sobrepunha a tudo e todos... E a cunha era usada a todos os níveis, ou pelo menos por quem podia... Por exemplo, às vezes a melhor cunha era ser-se filho... do rendeiro de um coronel ou general, lá do norte... Ou de um político influente lá da terra... Ou então ter-se 200 contos, em "cash"...

Eu sei que o assunto é delicado, e que quem foi à Guiné não tem tem em princípio histórias para contar sobre este tópico, na primeira pessoa do singular... Mas no nosso blogue não há tabus... Ou não devia haver...

Um alfabravo. Luís Graça

Anónimo disse...

Aqui, neste terraço de que se avista o quadriculado da antepara, vivi eu uma aventura imoderada.
Sexta-Feira, formutura para saída, o oficial de dia, ALferes Cadete, olha-me na cara e diz que tenho as botas mal engraxadas. Formatura desfeita, volto à caserna e, ainda que sabendo da mentira, ponho as botas a brilhar. Nova formatura e lá vou eu de novo e o gajo olha-me para as botas e diz que tenho a barba mal aparada. De novo na caserna, espero por nova formatura para tentar ir passar o fim de semana na Ilha, de novo entro para a revista e o bicho diz-me -você é parvo. Não viu já que não sai? A minha vontade era mesmo partir-lhe o focinho e, nessa altura, sendo o que era, juro que o machucaria bem. Contive a raiva e puz-me a estudar a forma de sair dali, aparecendo-me o terraço como a única salvação. Disfarcei, andei por alí, subi as escadas, atrás de mim veio um camarada amedrontado mas desejoso de sair também. Passei para fora da antepara, desci para uma das janelas ainda agarrado acima, ajudei o camarada medroso a descer e saltámos correndo de imediato dali para fora. No Domingo, na praia camaradas que sairam nesse dia avisaram-me que o Cadete dera pela minha falta e andara de bicicleta a ver os riscos da borracha das botas na parede, jurando que me esperaria na entrada na Segunda de manhã. De facto, apesar da apreensão, entrei sem problemas e ninguém me perguntou por onde tinha andado. Já antes, eu havia tido uma questão com o Cadete que não era o Comandante do meu Pelotão mas tinha metido o bico numa pega comigo. Acabei por reencontrá-lo quando a minha Companhia saiu de Aldeia Formosa e, por troca com a dele, fomos para Medjo onde ele estava antes.
José Brás