1. Conjunto de comentários, ao poste P13078 (*), subscritos por do Luís Gonçalves Vaz. professor do 2º/3º ciclos do ensino básico, em Vila Verde, a residir em Braga, ativo ambientalista, membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo:
Para melhor comunicação, resolvi apagar o primeiro comentário e melhorar alguns pormenores, a saber:
Caros camarigos, tanto quanto sei (a ideia que ainda me ficou ao fim destes 40 anos), o "assalto ao gabinete" do Comandante em Chefe, general Bethencourt Rodrigues ... deve ter sido "muito desagradável", já que decorreu de um Golpe Militar!
E quanto a mim os oficiais revoltosos do MFA não admitiriam retorno, obviamente, estavam muito bem organizados, e deles faziam também parte alguns oficiais superiores, Majores e pelo menos um Tenente-coronel (que até seria familiar do então Comandante do CTIG, o sr. Brigadeiro Banazol, de que me lembro muito bem e até boleias me deu no seu Mercedes, entre a cidade de Bissau (Liceu Honório Barreto) e Santa Luzia, onde morava, mesmo em frente ao clube de oficiais.
Não entendo mesmo é a "destituição" do sr. Coronel António Vaz Antunes, muito menos pelas razões aparentes, que o documento da sua autoria nos dá, nomeadamente por questionar quem eram os representantes dos MFA… Haveria outras razões? Será que devido ás funções dele (comandante Interino do COMBIS) poderia “travar a evolução do golpe em curso? Brevemente deveremos saber mais, já que estes oficiais do MFA de então poderão “dar luz” a estas questões. Acho que será quase uma obrigação...
De qualquer forma, considero que, ao afastá-lo das suas funções (ao sr. cor Vaz Antunes), os representantes do MFA criaram um vazio na Defesa de Bissau: para todos os efeitos era ele quem estava à frente do COMBIS (Comando da Defesa de Bissau).
Eu penso que em Bissau, nesta mesma altura, corremos alguns riscos de um ataque à cidade e aos QG (ainda que de baixo nível) ..... Eu estava lá e senti isso mesmo! Não “pânico”, mas havia muitos boatos que iriamos sofrer um “Ataque aéreo”, por exemplo! Mas no fundo eu senti-me sempre seguro, apesar desses mesmos boatos.
No entanto, fazendo agora uma análise (passado 40 anos), as quebras de "cadeias de comando", os saneamentos/afastamentos (alguns seriam imprescindíveis), a bandalheira nalguns sectores militares, etc., poderiam ter criado "graves prejuízos em termos de segurança".
No entanto, fazendo agora uma análise (passado 40 anos), as quebras de "cadeias de comando", os saneamentos/afastamentos (alguns seriam imprescindíveis), a bandalheira nalguns sectores militares, etc., poderiam ter criado "graves prejuízos em termos de segurança".
Tal não aconteceu, pois a necessária “Cadeia de Comando” reorganizou-se e foram tomadas “as medidas certas” para mantermos a “segurança" quer em Bissau, quer na gestão da frente de combate, que sei que aconteceu ainda durante uns tempos, antes de os nossos militares iniciarem convívios com os guerrilheiros do PAIGC.
Mas relativamente ao “Golpe em si, o de 26 de Abril”, que me fez levar a realizar estes artigos agora postados, felizmente tudo correu em Bissau sem sangue, nesse aspeto, foi à "boa maneira portuguesa", com brandos costumes! Sendo assim não fomos atacados pelo IN, pois, se calhar, os seus “Serviços de Inteligência” (do PAIGC) não estariam a par dos “nossos golpes internos”, tal qual o general Bethencourt Rodrigues, que também foi apanhado de surpresa .
Ainda bem, foi um “golpe palaciano”, sem fogo real, sem vítimas mortais, (já havia muitas nas várias frentes de combate) … e assim estou aqui, de boa saúde para poder contar alguns destes episódios, parte dos quais foram-me “avivados na memória” através da minha mãe, já que o meu pai, não falava sobre estes assuntos com os filhos …
Quanto ao "assalto ao gabinete" do CMDT CHEFE, alguns dos revoltosos teriam sido "menos corretos" com o Sr. General Bethencourt Rodrigues (segundo ele e outras opiniões...), já que “jovens capitães” teriam de ser “contundentes e muito firmes ….
Para imporem uma destituição de UM GENERAL CMDT CHEFE com muita CLASSE e muita influência no meio dos seus homens (sempre foi pacífico que este general era muito admirado pela maioria dos seus oficias) e houve mesmo “aspetos dramáticos”, segundo o então capitão Jorje Sales Golias, um dos oficiais “revoltosos do MFA na Guiné”, ao ponto de o CEM/CTIG, que não fazia parte do MFA da Guiné ( mas com o qual acabou por se solidarizar naturalmente), se impor no sentido de que aqueles oficiais teriam de "respeitar o Sr. general" em todo aquele processo (repito que ele aderiu sem pensar muito), sob a pena de não aceitar continuar nas suas funções (acabou por vir a ser o CEM/CTIG e CCFAG do Comando Unificado, já que desde 17 de Agosto de 74, que oficialmente se constitui no TO da Guiné, um QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG, publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.
O CEM/CCFAG já estava afastado (Coronel Hugo Rodrigues), o sr. Brigadeiro Leitão Marques (gostava de perceber a razão deste afastamento, já que o MFA da Guiné contava com ele!!!), o General Bethencourt Rodrigues, o Coronel António Vaz Antunes (Comandante do COMBIS),enfim todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau!
O 1º Comandante estava de licença, o segundo parece que também ..... Ficaríamos sob o Comando dos Comandantes da Marinha? Agora percebo melhor que "o melhor para mim e para outro dos meus irmãos” foi vir nos TAM [Transportes Aéreos Militares] logo no mês de Maio ....
O 1º Comandante estava de licença, o segundo parece que também ..... Ficaríamos sob o Comando dos Comandantes da Marinha? Agora percebo melhor que "o melhor para mim e para outro dos meus irmãos” foi vir nos TAM [Transportes Aéreos Militares] logo no mês de Maio ....
O Liceu Honório Barreto finalizou o ano lectivo em Maio/Junho. E o meu pai que levou três filhos menores para Bissau em 1973, contra muitas opiniões, tratou de nos enviar para a Metrópole logo a seguir ao 25 de Abril, talvez porque temesse (ou não?) "um ataque em massa a Bissau", não sei, mas não deve ter sido, pois o meu irmão mais pequeno ficou lá.
Mas agora, depois destas "análises após 40 anos", acho que fez muito bem, a "coisa podia ter corrido para o torto" .... já que o IN, o PAIGC poderia ter aproveitado …. Mas pelos vistos não tinham “competência militar” para isso, a “Nossa Máquina Militar estava Bem Montada e Oleada”, ainda que ao custo do sofrimento de muitos jovens Portugueses nas várias frentes de combate, neste TO (Teatro de Operações), sem dúvida alguma, o pior, o mais duro de todos os nos TO da altura.
Para finalizar, e ainda relativamente ao “Golpe Militar de 26 de Abril no TO da Guiné”, apenas gostaria de dizer que, quanto eu sei, e aliás como o tenente-coronel Jorje Sales Golias diz “Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático” (, em comentário que o editor Luís Graça vai publciar e que teve a gentileza de antecipadamente me dar conhecimento), foi de facto em minha opinião, pois apesar das “cenas dramáticas”, que mais tarde ou mais cedo iremos ser esclarecidos, os “Altos Comandos deste TO” foram parcialmente substituídos, tendo o meu falecido Pai, na altura CEM/CTIG acompanhado o sr. general Bethencourt Rodrigues ao avião (penso que nesse mesmo dia ?) e despediu-se dele com um abraço, tendo o próprio general agradecido a “forma altamente digna com que foi tratado", e tanto quanto eu sei as queixas/mágoa que o sr. general se referia durante estes anos todos, se relacionava especificamente com “a forma como o destituíram naquela manhã no Comando Chefe”...
Eu, como não assisti a esses momentos dramáticos, mais não poderei dizer... (**)
Um abraço.
Braga, 3 de Maio de 2014
Luís Beleza Gonçalves Vaz
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I
(**) 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13044: (Ex)citações (227): A guerra vista de Bafatá. O edifício-sede do batalhão (António Bernardo, CCS / BART 2920, Bafatá, 1970/72)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I
(**) 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13044: (Ex)citações (227): A guerra vista de Bafatá. O edifício-sede do batalhão (António Bernardo, CCS / BART 2920, Bafatá, 1970/72)
5 comentários:
"Ainda bem, foi um “golpe palaciano”, sem fogo real, sem vítimas mortais..."
Esta definição acho perfeita, Golpe Palaciano.
De facto foi um golpe dentro daquela disciplina e "respeitinho" próprios do Estado Novo por gente do Estado Novo.
A partir daquele dia só tinhamos dois problemas para resolver:
Arranjar, "juizinho" e arranjar "sarna" para nos coçarmos.
Está quase alcançado o objectivo.
P.S. morreu ontem Veiga Simão, antigo ministro do Estado Novo e reciclado.
Boa noite António Rosinha:
Achas piada ao termo "Golpe Palaciano", mas este epíteto, não retira a "Força", nem a "complexa organização" então montada pelo MFA da Guiné, ou não fosse aqui que a "Revolução do Cravos" não tivesse a sua origem .....
Vale a pena perguntar: "e se o 25 e Abril não tivesse Sucesso na Metrópole?" a resposta, para quem ainda não saiba:
"A decisão de que na Guiné também optaríamos pela tomada de poder pelas armas já estava tomada há muito; daríamos no entanto a possibilidade à hierarquia militar no Comando Territorial Independente da Guiné /CTIG para se pronunciar. Quem não estivesse connosco seria devolvido a Lisboa. No caso de insucesso das operações do Movimento em Portugal a nossa estratégia era a tomada de poder na mesma. Teríamos esse trunfo para jogar na defesa das nossas convicções. Por outras palavras, constituir-nos-íamos numa grande pedra no sapato e dor de cabeça para o Governo Português, com uma Colónia sublevada. Para isso, tínhamos de ter o completo domínio do comando em todos os Sectores e Ramos das Forças Armadas instaladas no teatro de operações da Guiné. ..."
in: http://aofaportugal.blogspot.pt/2014/04/descolonizacao-guine-o-25-e-abril-e-o.html
Boa Semana para todos
Luís Gonçalves Vaz
Caro Luís G. Vaz
A "boataria" de Bissau sempre foi hilariante para nós os do "mato"
Ataques aéreos...em massa... e outras que tais...
Recordo-me que quando recebemos a notícia do que se passou numa sessão de cinema no Q.G. com o incêndio de uma carteira de fósforos e consequente pânico gerado com quedas para a piscina vazia..gozamos à grande.
Quanto à tomada de poder na Guiné pelo MFA se o golpe fracassasse na
"metrópole" teria certamente uma grande repercussão política internacional...mas nós os do mato se já comíamos "arroz com estilhaços" todos os dias...o que é que passaríamos a comer..já para não falar de todas as outras questões...políticas..logísticas..militares e até administrativas.
Ainda bem que nada disso aconteceu.
Um abraço
C.Martins
Olá Caro C. Martins.
Compreendo o que dizes, e até te entendo, mas "eles existiram" e influenciavam a vida de "civis como eu", embora quem se preocupava mais eram as mães e mulheres de uma forma geral!
Já sabes que eu estava na sessão de cinema ao ar livre junto à piscina do Clube de oficias, e devo-te lembrar que quem causou o "Pânico com consequentes feridos", foi um "oficial miliciano" que tinha vinda à pouco do Mato! Eu safei-me da confusão, pois o então tenente-coronel Ventura (Chefe da 1ª Repartição do QG) me amarrou a mim, ao meu irmão António e ao filho dele e disse "Ninguém sai daqui", de uma forma Determinada.... e no fim estávamos "porreiros e inteiros".... Enfim o Pânico/Medo existiria em Bissau, sem dúvida, mas também existiria na frente de combate, e neste caso "a Origem" foi de um combatente com o "natural Stress de Guerra".
Grande Abraço
L. Vaz
Caro Luís Vaz,
Também acho que o golpe não poderia falhar, pois os revoltosos estavam unidos em torno do objectivo, que seria o de regressar a casa, e tão depressa quanto possível.
Depois, as questões da liberdade e da democracia, constituiram a desculpa necessária, e não mais controlaram efectivamente os termos do Programa, na medida em que, por um lado, os próprios membros do MFA estraram em picardias e derivas, muitos outros abandonaram o barco perante o espectaculo degradante, e por outro lado, deixaram para os políticos a gestão da coisa, apesar das figuras de estilo que construiram, como o CR e o presidente Spínola.
Esta nota que incluis agora, é, também ela, muito interessante, e dá uma ideia da preparação operacional. O pior foi a política, onde as pernas não chegavam.
Um abraço
JD
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