quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

Manchas e nódoas…

por J. L. Mendes Gomes


Não deixam de ser glaciares
Aquelas montanhas de neve
Que cobrem os polos da Terra,
Com algumas refegas negras.
Não deixa de ser azul
O céu,
Com algumas nuvens voando.
Nem o mar sereno
Com alguns arrufos
De tempestade.
 
Não se perde um concerto ao piano,
Tocado por mãos divinas,
Se houver uma nota em falso.
E a felicidade que nos banha a alma,
Com uma névoa de dor no corpo.
E um copo de vinho bom,
Mesmo que lhe caia dentro
um cisco…
O bem é bem, porque o mal existe…
Senão, tudo seria igual.
 
Que seria das montanhas belas
Se tudo fosse uma planície verde?
E do arroz de forno
Que não deixa esturro?
A harmonia total
Nunca existiu
Nem existirá…
Calor sem frio…
O que seria?
Não há alegria perene
Sem uma mancha de tristeza.
Quão enssonsa seria a vida
Se não tivesse dias de alguma angústia…
Como é bom chegar a casa
Depois duma longa ausência!…


Mafra, 26 de Julho e 2014
7h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série > 12 de agosto de  2014 >  Guiné 63/74 - P13487: Blogpoesia (386): A mordaça (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

1 comentário:

antonio graça de abreu disse...



Capítulo II da minha tradução do Tao Te Ching, de Lao Zi ou Lao Tsé (sec. VI a.C)



天下皆知美之为美
斯恶已
皆知善之为善
斯不善已
故有无相生
难易相成
长短相形
高下相倾
音声相和
前后相随
是以圣人处无为之事
行不言之教
万物作焉而不辞
生而不有
为而不恃
功成而弗居
夫唯弗居
是以不去


Dois

Debaixo do Céu, todos vemos que o belo é belo
porque o feio existe.
Todos sabemos que o bom é bom
porque o mau existe.
Coexistem o ser e o não-ser,
completam-se o difícil e o fácil,
aproximam-se o alto e o baixo,
harmonizam-se a voz e o som,
sucedem-se o da frente e o de trás.
Por isso, o sábio avança e nada faz,
ensina sem nada dizer
e os dez mil seres desenvolvem-se, sem cessar.
Ele trabalha e nada possui,
ele cria e de nada se apropria.
Tudo feito, tudo esquece,
assim, para sempre, a obra permanece.


Abraço do não sábio

António Graça de Abreu