por J. L. Mendes Gomes
Não deixam de ser glaciares
Aquelas montanhas de neve
Que cobrem os polos da Terra,
Com algumas refegas negras.
Não deixa de ser azul
O céu,
Com algumas nuvens voando.
Nem o mar sereno
Com alguns arrufos
De tempestade.
Não se perde um concerto ao piano,
Tocado por mãos divinas,
Se houver uma nota em falso.
E a felicidade que nos banha a alma,
Com uma névoa de dor no corpo.
E um copo de vinho bom,
Mesmo que lhe caia dentro
um cisco…
O bem é bem, porque o mal existe…
Senão, tudo seria igual.
Que seria das montanhas belas
Se tudo fosse uma planície verde?
E do arroz de forno
Que não deixa esturro?
A harmonia total
Nunca existiu
Nem existirá…
Calor sem frio…
O que seria?
Não há alegria perene
Sem uma mancha de tristeza.
Quão enssonsa seria a vida
Se não tivesse dias de alguma angústia…
Como é bom chegar a casa
Depois duma longa ausência!…
Mafra, 26 de Julho e 2014
7h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série > 12 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13487: Blogpoesia (386): A mordaça (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
1 comentário:
Capítulo II da minha tradução do Tao Te Ching, de Lao Zi ou Lao Tsé (sec. VI a.C)
二
天下皆知美之为美
斯恶已
皆知善之为善
斯不善已
故有无相生
难易相成
长短相形
高下相倾
音声相和
前后相随
是以圣人处无为之事
行不言之教
万物作焉而不辞
生而不有
为而不恃
功成而弗居
夫唯弗居
是以不去
Dois
Debaixo do Céu, todos vemos que o belo é belo
porque o feio existe.
Todos sabemos que o bom é bom
porque o mau existe.
Coexistem o ser e o não-ser,
completam-se o difícil e o fácil,
aproximam-se o alto e o baixo,
harmonizam-se a voz e o som,
sucedem-se o da frente e o de trás.
Por isso, o sábio avança e nada faz,
ensina sem nada dizer
e os dez mil seres desenvolvem-se, sem cessar.
Ele trabalha e nada possui,
ele cria e de nada se apropria.
Tudo feito, tudo esquece,
assim, para sempre, a obra permanece.
Abraço do não sábio
António Graça de Abreu
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