sábado, 16 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13504: Blogpoesia (387): Artífice da Paz (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 12 de Agosto de 2014, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema a que deu o título de Artífice da Paz.


Artífice da Paz

Dei comigo apavorado,
Ao toque do clarim.
Convocava-me para a guerra,
Fazendo de mim um soldado,
E eu não queria viver assim.

E segurei as palavras, num turbilhão,
Que da boca me fugiam, sem tino.
O combate, a fuga ou a prisão,
Eram o meu triste destino.
E sem poder fugir da guerra,
Sem poder fugir de mim,
Eu que queria amar a terra,
Comigo me desavim.
... ... ...

E alinhei como combatente,
De estratégia bem estudada,
Ser comigo, coerente,
E fazer da guerra uma justa jornada.
Das balas fiz doces palavras,
Que atirava com sorrisos.
Continuamente…
E sorrisos, recebia,
Alegremente.
As granadas dos canhões,
Em momentos bem precisos,
Transformei-as em abraços
Que uniam corações
Quase sempre empedernidos.

Dois anos vivi correndo,
Séculos e séculos, sem fim,
Caminhando pelo sonho
No longo do rio da esperança.
E regressei ao futuro
De um passado já vivido,
Um presente de bonança.

Triste pelo que vi e sofri,
Alegre pela vida que vivi.

E retomei o caminho, longe da guerra,
Gritando ao fora de mim 
– Vale a pena, nesta terra,
Lutar… 
Lutar e fazer da vida um festim.

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13490: Blogpoesia (387): Manchas e nódoas... (J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

3 comentários:

Zé Teixeira disse...

Julgo conveniente explicar que se trata de uma poesia escrita 45 anos depois de vivenciar a guerra. O "sujeito poético" apenas tenta escrever aquilo que gostava que tivesse acontecido na realidade.

Zé Teixeira

Joaquim Luís Fernandes disse...

Amigo e Camarada Zé Teixeira

Venho exprimir-te a minha grande admiração e respeito enquanto Artífice da Paz, através da poesia, mas muito mais por uma vida dedicada, de amor ao próximo, que bem se percebe no teu relacionamento com as gentes da Guiné-Bissau, nosso denominador comum.

Um abraço de amizade
JLFernandes

Hélder Valério disse...

Caro amigo e camarada Zé Teixeira

Sabemos que somos 'todos iguais, todos diferentes' mas é bem verdade que a formação que se teve foi importante, foi decisiva, para se projectar a personalidade.

Muitos, muitos mesmo, estavam perfeitamente convencidos da justeza de 'necessidade' de se abandonar família, amigos, cursos, empregos, para ir para África 'defender as fronteiras' daqueles que cobiçavam as 'nossas riquezas'.
'Patriotas' convictos ou pelo menos "assim-assim". Dilatar a Fé e o Império, numa mão a espada noutra a cruz, diziam-nos.

Contudo houve escolhas dolorosas. Opções que se tiveram que tomar e que também deixaram feridas abertas.

Amigo, gostei do teu poema.
É honesto na revelação dos teus pensamentos e reflecte bem a tua postura lá, durante e agora também.

Abraço
Hélder S.