sábado, 14 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14254: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (6): António Estácio, seu aluno de Francês no Liceu Honório Barreto, em Bissau


A centenária Senhora Dr.ª Clara Schwarz da Silva

Foto: © Luís Graça


1. Mensagem do nosso Amigo Grã-Tabanqueiro António Estácio, natural da Guiné-Bissau, com data de 13 de Fevereiro de 2015:


HOJE FAZ ANOS!

Hoje faz anos a minha antiga professora do Liceu de Bissau, a Dr.ª Clara Schwar da Silva, a quem devo muito do francês, que, deliciosamente, nos foi ensinando, assim como da postura firme e determinada que sempre assumiu.

Para ela uma grande salva, por tudo quanto nos deu. O meu Obrigado.

Recordo-me, como se fosse hoje, a minha primeira tentativa para falar, enunciando o presente do indicativo do verbo “Savoir”, que eu já sabia, mas que ela estava a ensinar-nos, de forma pausada e firme. Apercebeu-se que eu já tinha umas bases e reconheceu-o logo de entrada, acabando por me dizer:
- Mas tu já sabes. Quem foi que te ensinou?

No ano seguinte, fui considerado um aluno muito bem-educado, etc. e tal, o que me permitiu transitar nesse ano para a turma das raparigas. Eramos 7 - a que se juntou um 8.º aluno - sendo o gozo da turma, em que nas aulas tudo corria bem, enquanto noutras, era o que Deus quisesse, e, nunca por nunca, conseguiam, nas aulas, saber o que se estava a comer de fruta...

Dali para diante, foi um rápido crescimento, tendo tido a sorte de chegar ao 5.º ano, com um crescimento hesitante até que, no 4.º ano, em que eramos 28, só passaram 14, tendo eu sido contemplado com um estrondoso chumbo.

Enfim lá se juntaram os alunos que vieram do 3.º ano e em que abundavam referências boas, de que entre eles o Toni Delgado, o Armandinho Salvaterra, o João Cardoso, e quantos mais, se não o filho querido da senhora, o nosso "Pepito", sempre pronto a gozar, fosse com quem fosse.

Disse a mim mesmo: "Isto assim não pode ser. Tenho que mostrar o que valho". E de facto foi uma mudança do dia para a noite, tendo completado esse 4.º e o 5.º para seguir para Coimbra, onde viria a estudar na Escola Agrícola.

Seguiram-se anos que nunca nos vimos, mas eu nunca me esqueci da sua boa imagem, da mulher justa, das aulas com disciplina, de nunca por nunca a ter visto fazer ou dela, houvesse a notícia de ter assumido um raciocínio errado, ou, no mínimo, ainda que pequeno, tivesse qualquer crítica.

Acabada a tropa, voei para Macau, onde, ao fim de 26 anos, regressei. Muitos se afastaram, outros houve que se foram agregando e outros houve que, sabendo eu os seus nomes, nunca se juntaram.
De permeio, numa das vindas a Portugal, se juntaram para, numa festa organizada pelo Vasco Rodrigues, se encontrou um grupo de antigos professores e colegas da Guiné.

 Mas, dizia eu, que hoje, 14 de Fevereiro, era o dia de aniversário da nossa querida professora.
Assim seja, se me for permitido, daqui ouso levantar a minha taça para a felicitar pelos seus 100 anos de saber estar, com dignidade e afecto, em que, apesar das duras experiências da vida, sido uma Professora com o conhecimento, a inteligência e todo o saber da Dr.ª Clara Schwar da Silva.

António Júlio Estácio
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14253: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (5): João Martins (Tabanca de São Martinho do Porto)

1 comentário:

antonio graça de abreu disse...


Um abraço pelos cem anos à Clara Schwarz, senhora, mestra e amiga de todos nós.

E ao António Estácio, meu camarada de tantas vivências e fascínios. Depois da Guiné, o Estácio seguiu para Macau, para a China, um pouco como eu.
Conversámos a semana passada
no Centro Científico e Cultural de Macau,aqui em Lisboa, quando da apresentação do livro "A Minha Viagem" do major António Salavessa da Costa, um militar brilhante, antes e depois do 25 de Abril.
Quantas estórias minhas, até com beldades chinesas a faiscar nos meus dedos, e coração, no Porto Interior, na Praia Grande,no Beco do Engano, em MACAU, terra de todos os contentamentos, desilusões e alegrias... Estórias minhas. O António Estácio, comedido e sóbrio (ao contrário de mim, seis anos de China a delapidar-me na brisa), viveu excelentemente Macau.

Abração,

António Graça de Abreu