Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o Geba, o Mansoa e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...
Um dia destes, os novos senhores de África decidem construir aqui uma monstruosa barragem, hidroelétrica, à revelia dos verdadeiros interesses do povo guineense... É sonho antigo que vem da independência... E com isso destruir o recurso mais precioso que tem a Guiné-Bissau, para além do seu povo, que é a sua biodiversidade... Não sei se este projeto tem viabilidade (do ponto de vista técnico, financeiro, económico, ambiental e político)... Mas já vimos tanto coisa, em todo o lado (a começar pelo nosso país)...
Enfim, o que eu quero sublinhar é que sem biodiversidade não há futuro, não há desenvolvimento sustentado e partilhado, não há esperança... Oxalá que este projeto nunca se chegue a concretizar... Para bem da Guiné-Bissau e de todos nós, incluindo o povo chinês cujo dinheiro está a ser fortemente investido em África, e não só... Porque a terra não nos pertence, é a nossa casa comum, e temos a obrigação de a deixar, melhor, mais habitável e sustentável, aos que hão-de vir depois de nós, os nossos filhos, netos e bisnetos, europeus, africanos, asiáticos, americanos, australianos...
Também me parece que há hoje um sério risco de "pesca selvagem" no Rio Corubal, a avaliar pelas fotos de alguns "sites" de caça e pesca, internacionais, que promovem, descaradamente, quase pornograficamente, o saque dos recursos piscícolas do Rio Corubal... Vejam aqui.
O mar da minha terra também era rico de vida marinha, lançavam-se cem covos, apanhavam-se cem lagostas. E pescador que não apanhasse à linha uma garoupa do seu tamanho era uma merda de pescador... Estou a falar de há 60/70 anos atrás... Hoje até a sardinha foge de nós... En Peniche o número de traineiras deve ter sido reduzido na ordem das 80 para 10... O atum desapareceu do mediterrâneo. E, claro, do Algarve.
No passado, nunca aprendemos com os erros uns dos outros... Tem sido a ganância de uns poucos que nos empobrece e mata a todos... Aqui, e em toda a parte... Infelizmente a Guiné-Bissau é um dos países mais ameaçados do mundo, em consequência das alterações climáticas... Não sei se os nossos bisnetos poderão chegar a conhecer o Rio Corubal, os rápidos do Saltinho e de Cusselinta (e não "Cussilinta", como já tenho visto grafado...) ou o arquipélago dos Bijagós... Todavia, a consciência ecológica está a chegar também à Guiné-Bissau: o povo bijagó, por exemplo, está-se a mobilizar para defender e proteger os seus recursos marinhos e florestais, sem os quais corre o risco de perder o seu modo de vida e a sua forte identidade cultural... E são as mulheres que lideram essa luta... Vejam aqui o sítio da ONGD, de base comunitária, Tiniguena. (LG)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas. Todos os direitos reservados
1. Mensagem do Patrício Ribeiro:
[Foto à esquerda: Patrício Riubeiro, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]
Data: 2 de julho de 2015 às 11:38
Assunto: Sondagem sobre ss nossos rios da Guiné
Boas,
Ainda recentemente, estive a fazer caça submarina, com uns amigos no Corubal, em Cusselinta.
Todos os anos, vou dar lá uns mergulhos e matar uns peixes, assim como no Saltinho, águas com mais de 5 metros de profundidade, doce, com 3 metros ou mais, de visibilidade.
Normalmente apanhamos percas do Nilo (garoupas do rio) que chegam a pesar, algumas, mais de 5 kg.
São bons fins de semana e passeios, mergulhos, javalis, com campismo á mistura.
Já atravessei o rio Corubal duas vezes a nado, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória...
Nesta jangada no Ché Ché a funcionar, lá vão passando com frequência, as professoras portuguesas da ONG FEC, que estão a morar em Gabú, levar a língua portuguesa até Beli, no Boé.
Para informação do António Rosinha, a estrada entre Gabú e o Ché-Ché, onde estive a semana passada, está a reparada por uma empresa portuguesa, penso que depois da reparação há 30 anos pelo Rosinha, ele volta a ter manutenção.
Abraço
Ainda recentemente, estive a fazer caça submarina, com uns amigos no Corubal, em Cusselinta.
Todos os anos, vou dar lá uns mergulhos e matar uns peixes, assim como no Saltinho, águas com mais de 5 metros de profundidade, doce, com 3 metros ou mais, de visibilidade.
Normalmente apanhamos percas do Nilo (garoupas do rio) que chegam a pesar, algumas, mais de 5 kg.
São bons fins de semana e passeios, mergulhos, javalis, com campismo á mistura.
Já atravessei o rio Corubal duas vezes a nado, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória...
Nesta jangada no Ché Ché a funcionar, lá vão passando com frequência, as professoras portuguesas da ONG FEC, que estão a morar em Gabú, levar a língua portuguesa até Beli, no Boé.
Para informação do António Rosinha, a estrada entre Gabú e o Ché-Ché, onde estive a semana passada, está a reparada por uma empresa portuguesa, penso que depois da reparação há 30 anos pelo Rosinha, ele volta a ter manutenção.
Abraço
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
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www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
_______________________
Nota do editor:
Último poste da série > 2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14825: Memória dos lugares (298): Rio Cacheu, o meu rio...Ia-me engolindo, em 1964, mas continuei sempre a gostar dele. (António Bastos, 1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)
impar_bissau@hotmail.com
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14825: Memória dos lugares (298): Rio Cacheu, o meu rio...Ia-me engolindo, em 1964, mas continuei sempre a gostar dele. (António Bastos, 1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)
11 comentários:
Paulo Salgado
3 jul 06:20
Caros bloguistas,
Caro Luís,
Como podeis pensar apenas na grandeza, na extensão (quase todos os que indicais...)?
Há um pequeno rio que serpenteia entre arvoredo frondoso, que recebe as crianças, jovens brincando na água, que devolve tranquilidade a quem, por certo se aventurou a navegar numa canoa...é o rio Olossato, que corre na povoação com o mesmo nome.
Registai: Olossato.
Saudações bloguistas
Carlos Nery
2 jul 2015 12:21
Voto no Rio que não é rio... O Rio Grande de Buba (um braço de mar, ou uma ria)...
Abração
CNery
Manuel Passos
2 jul 2015 15:09
Eu voto na bolanha que corria em Galomaro onde dava uns mergulhos, se tiver que ser num dos três grandes vai para o Geba,um abraço.
MANUEL SANTOS
2 jul 2015 22:43
Voto no Cacheu
João José de Lima Alves Martins
2 jul 2015 23:57
Caro Luís Graça
Já respondi em outro lugar, mas não sei se consideraram a minha resposta.
O rio que conheci mais deslumbrante, e também passei por outros, foi, de longe, o Cacine.
Grande abraço
João Martins
José Rodrigues
2 jul 2015 11:08
FO rio que mais gostei foi o rio Amada em Bissorã, onde inconscientemente tomei alguns banhos.
Saudações calorosas a todos os camaradas
Zé Rodrigues
Apesar de ter votado no Rio Mansoa, conheci ainda um dos seus afluentes que quase banhava a Tabanca do Morés, Rio Braia, tendo ainda visto o Rio Cacheu, que atravessei para Farim e admirado a sua foz na vila de cacheu.
Ainda conheci os dois rios que "delimitam" a "área" de Canchungo, Rio Costa ou Pelundo por Norte e, Rio Pecau por Sul, este que desagua perto de Caió.
Naveguei, como contei, numa banheira transformada em lancha, o que "ofendeu" muito o nosso vate Maia, no Rio Baboque, dobrando, para mim o "meu Cabo das Tormentas" ao entrar no caudaloso Rio Mansoa perto da sua foz.
Porém o Mansoa foi o "meu Rio".
Abraços para todos, daqui da mais formosa Praia Portuguesa, enquanto aguardo pela feitura da sopa e que a máquina da roupa termine o seu trabalho.
Costa Nova do Prado
JPicado
Era um velho sonho do pai da Pátria, o engenheiro Amílcar Cabral...Veja-se aqui este excerto do Manual Político do PAIGC, duisponível em:
https://www.marxists.org/portugues/cabral/ano/paicg/01.htm
(...) O nosso país oferece boas condições para o desenvolvimento da pesca, da caça e do turismo, podendo organizar-se a pesca e o turismo numa base industrial.
Possibilidades hidroelétricas: Possuímos uma grande quantidade de rios. É por isso possível utilizá-los em obras de hidráulica agrícola (para irrigação dos campos).
Mas o mais importante reside na possibilidade do seu aproveitamento hidroelétrico. Há dois rios na Guiné que são suscetíveis de aproveitamento hidroelétrico. Trata-se dos rios Geba e Corubal. Segundo estudos a que já se procedeu, só o rio Corubal pode fornecer eletricidade para toda a Guiné. Isso criará condições futuras de desenvolvimento e possibilitará a criação duma indústria pesada (produção de grandes máquinas, manutenção de grandes fábricas), com a consequente formação de grandes centros industriais e mesmo de cidades industriais.
Se, como se supõe, existirem outras riquezas minerais em quantidades exploráveis, tais como a ilmenite, os calcários, o zircão, e sobretudo a bauxite e o petróleo, tal fato poderá servir de ponto de partida para um grande progresso económico futuro do país. (...)
(...) O nosso país oferece boas condições para o desenvolvimento da pesca, da caça e do turismo, podendo organizar-se a pesca e o turismo numa base industrial.
Luís Graça, Os sonhos dos africanistas como o nosso compatriota Amilcar Cabral, tinham a sua lógica, mas a maioria dos nossos compatriotas africanistas sabiam que em África poucas coisas iam reultar e lutaram contra as intensões de Amílcar, Agostinho Neto Lúcio Lara e mais meia dúzia que se meteram na aventura das independências.
Talvez os chineses venham a tomar conta daquele continenete e venha a resultar tudo em grande.
Mas não para os milhões de africanos jovens que fogem para a europa, não por fome ou guerra, mas a perguntar aos europeus, qual são as prespectivas de vida que lhes está reservada.
Patrí cio, da Guiné ainda guardo alguns dentes de javalí, avós desses que sobraram por essas margens do Corubal.
Ou já não há mais nenhum?
Cumprimentos.
José Colaço
14:37 (há 22 horas)
para Luís
Caríssimo Luís
Sem querer ser vidente parece-me que esta sondagem tem à partida um vencedor absoluto, pela sua grandiosidade, beleza inconfundível o macareu, as suas aguas cristalinas a partir do macareu, mas essa aguas genuínas puras tépidas também têm os seu reveses foram elas que em Bafatá abraçaram para sempre a vida do soldado da companhia de Caç. 557 Domingos Gomes Nabais. Além disso quase todos os militares navegaram nas suas aguas, saída quase obrigatória para as companhias seguirem para os aquartelamentos no mato ou mesmo as companhias especiais de combate para qualquer operação militar.
O meu voto não é secreto e foi para o rio que corria no local onde estive em quadricula a a maior parte do tempo de comissão o rio Cagopere uma beleza medieval ver os Jacarés no seu vai e vem atravessar de margem para margem e toda a fauna e flora no seu estado primitivo aqui a intervenção humana ainda não tinha acontecido.
Mas sem querer votei clandestinamente no rio que como disse me parece ser o vencedor absoluto, primeiro corria para o local onde estive Bissau 40 dias no início da comissão e mais 180 dias quando fomos rendidos no Cachil, a seguir o rio corria em Bafatá local onde terminei a comissão cerca de 180 dias.
Um abraço
Sem dúvida o Corubal. Sem dúvida os rápidos do Saltinho. Sem dúvida um privilégio ter nadado e lavado o corpo depois de uma coluna entre Bambadinca, via Xitol, ao serviço da 12 em 1973, ao Saltinho. Quem, como eu, conheceu o Corubal mais perto da nascente, a alguns quilómetros de Cabuca, e especialmente no Saltinho nunca o vai esquecer. Tenho sérias duvidas da viabilidade do aproveitamento hidroelétrico como albufeira, talvez como fio de água, mas nesse caso a produção seria residual.
joão silva, Cabuca, Ccav 3404 e Ccac 12 abril de 1972 a Maio de 1974
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