Foto nº 1 > A "lavandaria" de Banjara... O detergente OMO eras um bem de primeira necessidade
Foto nº 2 > Com acúcar, com afeto...
Foto nº 4 > Só havia 3 camas e 3 colchões (!) para as praças do pelotão. o cmdt, alferes Alfredo Reis, aqui
à entrada de um abrigo...
à entrada de um abrigo...
Foto nº 5 > Inventário das munições existentes no destacamento de Banjara, em 5 de junho de 1967... 7900 cartuchos de 7,9 m/m (para Mauser, usada pela milícia) e 4000 cartuchos de 7,62 m/m (para a G3)... Em caso de ataque, os defensores teriam mesmo que poupar as munições... As munições de G3, a divirdir, por 30 homens, davam para 6 carregadores (de 20)... O ataque a um destacamento como este, à noite, isolado, sem possibilidades de socorro, podia dura 1, 2, 3 horas...
Foto nº 6 > Requisção de material, com data de 9/VI/67:
Nota final: "Agradecemos o envio dos artigos requisitados e os preços dos que têm de ser pagos por nós".
fósforos,
palha de aço,
camisas para petromax de 150 velas,
torcida e vidro (?) para o frigorífico,
pregos (...),
aerogramas,
selos,
12 esferográficas (uma vermelha e as outras azuis),
bloco de cartas,
OMO e sabão,
uma garrafa de whisky,
Sumol ou outros sumos,
camas e colchões para as praças (só havia 3...),
500 tijolos (...),
cabeça para a máquina a petróleo (...),
3 jogos de talheres,
12 pratos de alumínio,
1 barril de vinho,
latas de cerveja
e 100 gramas de piri-piri...
Nota final: "Agradecemos o envio dos artigos requisitados e os preços dos que têm de ser pagos por nós".
O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. A seleção, a legendagem e a organização temática do álbum (cerac de 170 fotos) são do A. Marques Lopes. (*)
Além da sede (Geba), o Alfredo Reis esteve nos vários destacamentos da CART 1690, alguns dos quais, como Banjara e Cantacunda, eram os piores "buracos" do CTIG na época.
Banjara não tinha população civil (apenas milícia em reforço...) e estava cercada por mata densa; era defendida nesta época por um pelotão, 30 efectivos (, podendo ser reforçado); a um quilómetro havia uma fonte onde, alternadamente, os NT e o PAIGC se iam fornecer de água. Às vezes, encontravam-se… Mas havia uma fuga concertada dos dois lados, sem tiroteio. (**)
(*) Postes anteriores da série:
15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)
19 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15386: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (2): A visita, à sede da companhia, do Conjunto Académico João Paulo, em 24 de agosto de 1968
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Notas do editor:
15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)
19 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15386: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (2): A visita, à sede da companhia, do Conjunto Académico João Paulo, em 24 de agosto de 1968
(**) Vcd. poste de 31 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu...rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)
(...) «Banjara fica situada a cerca de 40 Km de Geba e a cerca de 20 Km de Mansabá, na estrada Bissau/Bafatá. Fica no coração da mata do Oio, e teve, antes da guerra colonial, uma unidade industrial de serração de madeiras. (...)
O destacamento era constituído por uma caserna, quatro abrigos subterrâneos e um posto de comando, que era uma casa abarracada, sem portas nem janelas, por onde os sardões e as cobras vagueavam livremente, sem nenhum obstáculo que lhes barrasse a passagem, a não ser a presença humana. Tinha ainda outros abrigos à superfície. A envolver este destacamento, que no essencial era uma clareira circular com cerca de mil metros de diâmetro, duas fiadas de arame farpado paralelas e em círculo. O capim era necessário cortá-lo de dois em dois meses, para evitar a aproximação camuflada do IN. As casas de banho, como é de calcular, eram a céu aberto.
A guarnição deste destacamento, comandado por um alferes, variava entre 60 a 80 homens, normalmente (houve alturas em que tinha só um pelotão), bem armados e disciplinados, capazes de aguentar debaixo de fogo uma boas dezenas de horas. O seu comando era rotativo (...).
(..:) O dia, em Banjara, iniciava-se naqueles anos (1967/1968), por volta das 18 horas. A essa hora o Comandante mandava distribuir a 3ª refeição, e as sentinelas avançadas ocupavam os seus postos. Toda a gente vestia então o seu camuflado, calçava as botas e recarregava as armas. Não é que de dia estivessem todos a dormir, mas durante a noite entrava-se em alerta máximo. Durante a noite era rigorosamente proibido acender luzes, fazer fogo e fumar à vista desarmada para não denunciar a presença e a localização de ninguém.
Tomada a 3ª refeição e colocadas as sentinelas, que eram sempre dobradas, iniciava-se toda uma série de rondas de posto a posto, podendo os soldados que estavam de folga, e só nos abrigos subterrâneos, jogar cartas, conviver e confraternizar, pôr a correspondência em dia, etc. (...)
Durante a noite, de vez em quando, uma sentinela nossa dava um tiro, à aproximação do arame farpado de um macaco ou qualquer outro bicho (podia não ser...). Logo todos corriam para as armas pesadas e, normalmente, o IN respondia com dois tiros ao longe. Então a nossa sentinela, aquela ou outra, respondia passado algum tempo com três tiros. A seguir a resposta de novo do IN, então com 4 tiros. Era um jogo macabro, que nos mantinha constantementevivos e despertos.
O dia amanhecia, então, e, pelas 7 da manhã, iniciava-se a distribuição da 1ª refeição. As horas mortas do pessoal eram gastas, durante o dia, à caça, quando isso era possível e o capim estava seco e caído no chão, a jogar cartas, pôr a correspondência em dia e jogar futebol. O jogo de futebol era normalmente diário, mas sempre a horas diferentes, para não se cair na rotina, e sempre com os abrigos guarnecidos de atiradores.
Terminada a 1ª refeição iniciavam-se os trabalhos de rotina, para o que o efectivo estava dividido em 4 grupos, cada um deles composto por 15 ou 20 homens, comandados por um sargento.Um grupo estava de serviço à água e à lenha para as refeições. Os banhos eram tomados na bolanha a um quilómetro do arame farpado, e sempre com 10 ou 12 homens armados em vigia. Outro dos grupos era o piquete que realizava, normalmente, uma patrulha de reconhecimento nas imediações do aquartelamento. O terceiro grupo estava de prevenção rigorosa e o quarto estava de folga.
Este destacamento tinha apenas uma coluna de reabastecimento por mês, no máximo, mas chegava a estar mais de 2 meses sem alimentos frescos e sem correio. Não havia população civil, apenas militares.(..:)
(...) [Em Outubro de 1969, quando a CART1690 saíu de Geba, a CCAÇ2406, que estava
em Mansabá, colocou um pelotão em Banjara. No entanto, saíu de lá em Janeiro
de 1970, sendo o destacamento desactivado] (...)
4 comentários:
As fotos, para além da boa disposição que mostram, ilustram também muito bem como era a vida naqueles sítios.
Realmente, a esta distância, será difícil entender por parte de grande parte da nossa juventude a importância de um pacote de OMO....
Daí a enorme importância das fotos.
Hélder S.
Quero aqui dar os meus parabéns pelo relato que fez em relação a Banjara pois era a realidade que se vivia aí.
De salientar o abrigo que está na foto foi construído por mim, primeiro um metro aproximadamente por a cobertura e só depois se concluiu fundando até se poder lá mais ou menos a vontade.
Fernando Chapouto
Olá Camaradas
Fui a Banjara em 1972/73.
Nada restava do "aquartelamento" para além de alguns troços de arame farpado, uma caixa correi e alguns postes "sistema exterior de iluminação".
Este seria garantido por uns troncos de palmeira espetados no chão aos quais ficavam pregados bidons de gasolina vazios. Tinha-lhes sido retirada uma das tampas e, depois de aberto segundo a geratriz (vertical) serviam de protector ao vento e à chuva aos petromaxes que lhes eram pendurado na outra tapa. Brilhante, como podem ver, por aquela qualidade n.º 1 dos portugueses: o desenrascanço.
Concordo, mas não posso aceitar que o desenrascanço seja elevado à categoria de solução definitiva. Muito menos numa situação como aquela.
Estas soluções dão-me que pensar com respeito a certas características do nosso povo...
Um Ab.
António J. P. Costa
Olá Camaradas
Cá venho eu só para pedir desculpa pelas gralhas do comentário anterior.
Um Ab.
António J. P. Costa
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