A MATA DO FIOFIOLI (*)
Em fim de abril de 1963, o nosso pelotão (3º), com apenas duas Secção, a 2ª (Fernando Condez) e a 3ª (a minha), estando a 1ª destacada em Paunca (Victor Lezaola), e comandados pelo alferes mil Cardoso Pires, fizemos vários patrulhamentos abaixo do Xime, um a dois por semana.
Assim, partimos de Bafatá, paramos em Bambadinca, em Amadelai, no Xime, e quando chegamos ao entroncamento para a Ponte do Inglês, junto ao rio Corubal, viramos á esquerda para Taibatá. Aí o Alferes chamou-me e disse:
- Ò Marinho, você é capaz de ir até Satecuta, que nós ficamos aqui e preparamos o almoço ?!
Respondi:
Para esclarecer, eu no primeiro patrulhamento, com apenas três dias da Guiné, tinha comprado numa loja de Bafatá (Casa Correia ou casa Barbosa), na Avenida Principal, logo abaixo da Transmontana, uma panela de alumínio, com capacidade para alimentar cerca de 20 homens, para não comermos ração de combate, como queria o furriel vagomestre (Ramiro Gomes)... Comprávamos batatas ou arroz e requisitava-se atum (lata de 2.5 kg) ou polvo seco (cesto).... Ou até uma granada no rio e tínhamos peixe. Pedi na Mecânica, para me fazerem uma trempe, para assentar a panela e, com uns gravetos, toca a cozinhar.
Lá avançamos então para a mata do Fiofioli. A primeira impressão, á época, foi que era uma mata diferente das outras, que já conhecíamos, pois as árvores eram muito altas (20 ou 30 metros ou mais), a luz coava-se através das folhas, muito ténue, tudo escuro, e o chão em muitos locais era liso ou tinha tufos de ervas e arbustos rasteiros.
Com cautela redobrada e atentos, lá seguimos pela picada até Satecuta. Ao chegarmos à tabanca, o pessoal (homens, mulheres e crianças) ficaram espantados, por nos ver. Falei com o chefe da tabanca, através do cabo Mamadu Baldé (fula-forro), que nos recebeu muito bem.
Mais tarde, tocou-nos a atravessar o Fiofioli, quando estivemos destacados no Xitole (fim de maio, junho, julho e meio de agosto de 1963).
Ab
Alcídio Marinho
CCaç 412 - Abril/1963-Maio/1965
Em fim de abril de 1963, o nosso pelotão (3º), com apenas duas Secção, a 2ª (Fernando Condez) e a 3ª (a minha), estando a 1ª destacada em Paunca (Victor Lezaola), e comandados pelo alferes mil Cardoso Pires, fizemos vários patrulhamentos abaixo do Xime, um a dois por semana.
Ora, num desses primeiros patrulhamentos, foi-nos destinado deslocarmo-nos à mata do Fiofioli. Eu já tinha ouvido falar da referida mata, na 3º classe da escola primária, quando estudámos a geografia das colónias.
Aliás, já em Santa Margarida, quando esperávamos o embarque para o Ultramar, tinha explicado, aos militares do nosso pelotão, vários aspectos (fauna, flora, tempo, etc) sobre África, pois havia lido o livro "África", do Henrique Galvão.
Assim, partimos de Bafatá, paramos em Bambadinca, em Amadelai, no Xime, e quando chegamos ao entroncamento para a Ponte do Inglês, junto ao rio Corubal, viramos á esquerda para Taibatá. Aí o Alferes chamou-me e disse:
- Ò Marinho, você é capaz de ir até Satecuta, que nós ficamos aqui e preparamos o almoço ?!
Respondi:
- Ok, eu vou, não há problema.
Para esclarecer, eu no primeiro patrulhamento, com apenas três dias da Guiné, tinha comprado numa loja de Bafatá (Casa Correia ou casa Barbosa), na Avenida Principal, logo abaixo da Transmontana, uma panela de alumínio, com capacidade para alimentar cerca de 20 homens, para não comermos ração de combate, como queria o furriel vagomestre (Ramiro Gomes)... Comprávamos batatas ou arroz e requisitava-se atum (lata de 2.5 kg) ou polvo seco (cesto).... Ou até uma granada no rio e tínhamos peixe. Pedi na Mecânica, para me fazerem uma trempe, para assentar a panela e, com uns gravetos, toca a cozinhar.
Lá avançamos então para a mata do Fiofioli. A primeira impressão, á época, foi que era uma mata diferente das outras, que já conhecíamos, pois as árvores eram muito altas (20 ou 30 metros ou mais), a luz coava-se através das folhas, muito ténue, tudo escuro, e o chão em muitos locais era liso ou tinha tufos de ervas e arbustos rasteiros.
Com cautela redobrada e atentos, lá seguimos pela picada até Satecuta. Ao chegarmos à tabanca, o pessoal (homens, mulheres e crianças) ficaram espantados, por nos ver. Falei com o chefe da tabanca, através do cabo Mamadu Baldé (fula-forro), que nos recebeu muito bem.
Regressámos pelo mesmo caminho, onde nos esperava o resto do pessoal,onde almoçámos.
De tarde, fomos à Ponte Varela, à confluência do Corubal e do Geba, em frente à bolanha do Enxalé.
Mais tarde, tocou-nos a atravessar o Fiofioli, quando estivemos destacados no Xitole (fim de maio, junho, julho e meio de agosto de 1963).
Ab
Alcídio Marinho
CCaç 412 - Abril/1963-Maio/1965
Mapa (esboço) do Sector L1, ao tempo do BCAÇ 2851 (1968/70), do BART 2917 (1970/72) e da CCAÇ 12 (1969/71)... Vd. posição relativa de Taibatá, Fiofioli e Satecuta... De Taibatá a Satecuta, em linha reta, deveriam ser uns 25 km.
Observações:
NT= Nossas Tropas;
Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados;
RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal;
N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este;
IN= Inimigo;
1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros);
2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros);
A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).
Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
Observações:
NT= Nossas Tropas;
Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados;
RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal;
N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este;
IN= Inimigo;
1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros);
2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros);
A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).
Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos...
7 comentários:
Alcídio, foste a pé ou de viatura ?...Já havia sinais de guerra no setor (sabotagens, abatizes, deslocações de populações...). Por que é que o chefe e a população de Satecuta estão espantados por vos ver ? Eles tinham "fugido para o mato" ?
Ir de Taibatá a Satecuta via Fiofioli e depois regressar a Taibatá, era obra, deviam ser 40 a 50 quilómetros (em linha reta)...Para ires almoçar a Tainatá, no próprio, só podias ter ido de viatura... Na altura não havia minas e atravessava-se a Guiné em poucas horas...
Tens uma manancial de informação, de experiências, dessa época, 1963, início da guerra, qué é único, e que gostaria quie continuasses a partilhar com todos nós... Nãop te esqueças, que quando desaparecermos, restará apenas o "silêncio dos arquivos"... Temos um dever de memória, uns para com os oputros, e de nós para com as outras gerações...
Um abraço do tamanho do Corubal. Luis
Caro Luis
Quando chegamos à Guiné foi-me distribuído um jipão (americano-2ªG. Mundial), só em 1964 é que apareceram os unimogues pequenos (2). Fomos de jipão e jipe Willis.
Eles ficaram admirados, porque:
1º Já talvez há anos que nenhuma tropa, aparecia por aqueles lados
2º Nós íamos fortemente armados e sem capacetes de ferro, todos de verde, só com
quico e camuflado, tudo rapazes jovens.
A velocidade a norte do Xime era de 40 ou 50 kms/hora, no entanto para baixo, seria cerca de 20 kms/hora e em Matas fechadas não passavamos dos 10 kms/hora.
E era assim , porque da 1ª vez que fomos à Ponta do Inglês, com três de Guiné, fomos atacados, no regresso, com dois tiros de pistola.
Oportunamente, contarei a chegada a Bissau e as peripécias das primeiras semanas como maçaricos
Abraços
Alcidio Marinho
C.Caç 412
Camarigo Alcidio Marinho a C.caç 557 rendeu a C.caç. 412 em Bafatá Maio de 1965 vocês deram as directrizes informações qual era a área que devi-amos patrulhar e onde havia o perigo de ser-mos atacados.
Já tive ocasião de o dizer que esta época devia ter sido uma altura em PAIGC meteu férias para se organizar, porque nós ia-mos para além do que vocês disseram e nunca houve contacto com o inimigo e eu fiz parte de todas as patrulhas porque o capitão ia sempre e quando ele ia eu só se estivesse doente acamado o que felizmente não aconteceu, é que não era convocado para fazer parte integrante.
Para o Luís Graça nosso sistema de saídas foi sempre de dois dias só em num caso especial foi de 3 dias, partia-mos na Gmc e Mercedes até onde seria normal não haver perigo de ataque, aí as viaturas regressavam a Bafatá e nós seguia-mos a pé vários Kms o pior era ser o tempo da chuva e o abrigo para pernoitar tinha que ser com um certo declive para o buraco não encher de agua, outro contra era caminhar com os pés encharcados de agua (nos próximos dias nem saiamos do quartel porque os pés era uma autêntica chaga), no dia seguinte parte da tarde era comunicado a Bafatá a hora do nosso regresso e as viaturas lá estavam à nossa espera.
Um abraço Colaço C. caç. 557.
Alcídio e Zé Colaço, vocês estão proibidos de se "passarem para o outro lado" sem antes contarem, tudo direitinho, esssas aventuras do ano de 1963 em que se andava de jipe Willis pelas matas do Xime e do Xitole!... Quie inveja!... Espero pelas próximas revelações!... LG
Ao tempo que estive no Xime, de Junho/69 a Maio/70, falava-se na mata do Fiofioli e que era impenetrável, até diziam que o IN tinha abrigos subterrâneos, não sei se corresponde à realidade ou se era mito. Taibatá estava sob protecção do Xime, cheguei a ir lá algumas vezes e até mais à frente a uma tabanca que também estava em auto-defesa que era Demba Taco. Íamos de viatura.
Um abraço para todos os camaradas.
Luís a companhia 1426 do Fernando Chapouto foi quem nos rendeu em Bafatá Outubro de 1965, ao Fernando calhou-lhe ir render o pelotão em Cantacunda, quando se apresentou um dos furriéis que ele ia render pegou no gipe acompanhado de dois soldados e foi-lhe mostrar as zonas e matas que eles tinham que patrulhar diz o Fernando o gajo devia ser mesmo maluco ou estava todo apanhado do clima, eis talvez uma das razões para o Fernando ficar sem reacção momentânea que até recebeu um caixote cheio de sal como se tivesse toucinho. Fala com o Fernando que ele de certeza te confirma o que relatei.
Um abraço Colaço.
Da Satecuta dos anos 60 à Satecuta dos anos 70...
http://cart2716.blogspot.pt/2011/02/1971-passeio-turistico-um-acampamento.html
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