quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16965: Os nossos seres, saberes e lazeres (195): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a uma passeata em Pedrógão Pequeno e ao Cabril do Zêzere, local onde tenho uma morada.
Hoje saímos da aldeia de Xisto e entrámos numa encosta lateral conhecida por Moinho das Freiras, vamos descer para a albufeira, observar um túnel feito na rocha, projeto de engenharia com vista ao aproveitamento hidroelétrico das águas do Zêzere, projeto abandonado de que só resta este túnel. E vamos em direção à ponte filipina, a ponte do Granada sobrepõe-se à paisagem, é o ponto de ligação-chave sobre o Zêzere, e subimos por uma velha estrada do século XIX sempre a desfrutar a mais formosa jóia da Beira Baixa, como alguns a consideram.
Espero que este incitamento cale fundo no vosso gosto em viajar para conhecer a jóia do Cabril.

Um abraço do
Mário


Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (3)

Beja Santos

Saímos de Pedrógão Pequeno e vamos passear no Vale do Zêzere, um espaço que tem cativado muitos viajantes. Logo Alfredo Keil e Luigi Manini, que percorreram a região de lés-a-lés, e se sentiram deslumbrados. De tal modo, que o leitor está a ver o excerto do pano cenográfico para o IV ato da ópera “Irene”, de Alfredo Keil, tratar-se-á provavelmente da confluência de Ribeira de Pera com o Rio Zêzere, tenho o privilégio de ter esta paisagem para ver de minha casa. Os elogios dos viajantes não são pecos: Sintra da Beira Baixa, panorama de incomparável beleza, a mais formosa jóia da Beira Baixa, etc. Vamos começar pelo Moinho das Freiras até à ponte filipina, da barragem do Cabril já se falou, e depois subimos pela estrada do século XIX até Pedrógão Pequeno.



Já estamos no Moinho das Freiras, avista-se um meandro do Zêzere que se encaminha para Constância. Andam por vezes aqui caiaques, atividade desportiva é coisa que não falta na região. Nesta tarde pontificava o silêncio, e daqui seguimos para o túnel que se escavou na rocha para fazer plataforma nesta margem do rio.



Impõe-se a ponte do Granada, operacional desde 1993, assim se ligaram os concelhos de Pedrógão Grande e da Sertã, graças à ponte mais alta da Península Ibérica, conhecida por IC 8, que assegura a ligação entre a Figueira da Foz e a fronteira de Segura com Espanha. Muitos apelidam a ponte como ponte do Granada, homenagem ao grande escritor e místico Frei Luís de Granada que residiu no Convento de Nossa Senhora da Luz, Pedrógão Grande, junto ao Cabril do Zêzere. Por debaixo do tabuleiro da ponte vemos a ponte filipina.


Sítio pedregoso e alcantilado, tudo rocha viva, como se a natureza tivesse feito um contrato para que estas penedias apontam-se para um abismo, pergunta-se como é que estas oliveiras e sobreiro enraízam na pedra árida. E o escritor Roberto Pedroso das Neves acrescenta: “E lá no fundo, a mais de 200 metros, nas profundezas do abismo, entre as duas margens alcantiladas e estreitas rola, vertiginosamente, impetuoso e rugidor, de rocha em rocha, sobre um leito alvinitente de granito, o rio mais novo de Portugal”. O escritor e jornalista Raul Proença também foi surpreendido pela grandiosidade paisagística do sítio, e escreveu no seu Guia de Portugal, considerando-o como “um dos textos mais arrogantes de toda a Europa, no seu genéro”.


Vista do tabuleiro da ponte filipina em direção à barragem do Cabril. Esta ponte estava concluída no início do século XVII, prenda do rei espanhol. Por aqui se caminhava para Pombal, via Ansião ou para a Lousã, por Castanheira de Pera, mas também se pode imaginar ir para Sertã, Oleiros, Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco. O leito do rio está calmo, sombreado pelos altos penedos, as cores da vegetação refletem um dia acalorado.



Só a ponte filipina do Cabril justifica a viagem, venha-se do Minho e Trás-os-Montes ou lá do fundo Algarvio. Esta é a ponte do Cabril, construída em granito, monumento nacional. Reza o livro “Jóia do Cabril, Pedrógão Pequeno”, de Aires Henriques e Ema Cruz, “A sua construção teve lugar cerca de 50 metros acima do lugar onde outrora existiu uma outra, de tabuleiro em madeira e de um só arco, atribuído aos romanos, e de que hoje apenas restam os silhares em granito, submersos a cerca de 7 metros de profundidade do nível superior das águas da albufeira da Bouça”.


Em 1860, os caminhos foram melhorados com empedrado em basalto, restam imensos vestígios, até então o trajeto fazia-se a pé, de burro a cavalo. Resta acrescentar que até meados de 1954, data da inauguração da barragem do Cabril, a ponte filipina foi durante séculos o único ponto de passagem, por léguas em redor entre as terras a Ocidente e a as terras da Raia e Beira Baixa.



Em jeito de despedida, deixam-se duas imagens do Cabril do Zêzere, maravilha da natureza, o Zêzere correndo em alvo leito de granito, sítios admiráveis são estes até chegar à ponte filipina, vindo do Moinho das Freiras e caminhando depois pela estrada com a lembrança de por aqui andaram animais de carga em terreno tão áspero e abrupto.
Findou aqui o passeio, mostrada a modesta morada onde contemplo o Penedo do Granada, a formosa aldeia de Xisto, e agora o esplendor do Cabril do Zêzere, embevecimento de qualquer viajante. Prepare-se para estas panorâmicas e miradouros, igrejas e capelas e, sobretudo a paisagem rochosa e agreste do majestoso Cabril. Como se diz em gíria comercial, volte sempre.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16944: Os nossos seres, saberes e lazeres (194): Pedrógão Pequeno e o Cabril do Zêzere (2) (Mário Beja Santos)

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