Foto nº 1 > O pelotão de sapadores da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 172/74) a bordo do T/T Angra de Heroísmo, a caminho da Guiné. O Glória é o 4.º a contar da esquerda, na fila na frente, e está sentado. Foto do ex-fur mil António Maria Fernando, o 1.º em pé a contar da direita.
Foto nº 2 > Galomaro: o meu abrigo e o espaldão da MG 42
Foto nº 3 > Capela de Galomaro, construída em 1973 pelo pelotão de sapadores
Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. [Seleção, edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de ontem à noite, enviada pelo Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem" (Lisboa, Chiado, Editora, 2016):
Caros camaradas,
Recebi esta notícia e que outra coisa poderia fazer senão homenagear este camarada, senão transportá-lo para aqui e aqui descansar à sombra desta Tabanca Grande, que se construiu a partir das vivências e memórias que nos unem para sempre.
Daqui endereço os meus mais sentidos pêsames à família e amigos
Até sempre, Glória
Juvenal Amado
2. In memoriam > O Glória, o inesquecível 1.º cabo sapador Glória
por Juvenal Amado [foto à esquerda]
Com ele fiz colunas, serviços de reforço, partilhei mesa no refeitório e joguei à “sueca” muitas vezes, o que era uma animação.
Na noite de 1 de Dezembro de 1972, quando Galomaro foi violentamente atacado ao arame, estávamos nós, os dois, mais o Costa também sapador e o Confraria operador STM, embrenhados numa animada partida desse popular jogo na cantina . Normalmente dez riscos e a equipa ganhadora recebia duas cerveja pagas pela a equipa que perdia. Não é preciso explicar muito sobre as bocas de quem com regozijo ganhava e o desgosto de quem perdia.
Mercê da divisão de alojamento pelos diversos abrigos, muitos dos nossos tempos livres eram passados com quem nos era mais próximo e por conseguinte, embora nos conhecêssemos bem, o nosso relacionamento era esporádico.
Mas estar onde ele estava era sempre uma animação, pois as discussões em voz alta eram constantes. Não era por mal, era do seu feitio expressar-se e defender-se com a voz muitos pontos a cima dos decibéis normalmente utilizados e aconselhados. Assim a gritaria, que se ouvia vinda do abrigo dos sapadores era sempre constante e por vezes, até bem tarde. A malta ria-se, pois eles eram capaz de discutir numa coluna.
Mas atentem, que eram três ou quatro assim e que, não eram discussões que alguma vez pudessem descambar a agressões, pois nunca eram desse cariz. Chegava a ser discutir por discutir como quem teima.
Uma vez as discussões e berros, já noite fora, eram de tal ordem, que o coronel Castro e Lemos levantou-se da cama e em roupa interior, atravessou a parada para se inteirar do barulho e mandar calá-los.
Foram motivo da galhofa geral e era frequente na cantina quando havia mais barulho, o “estofador” dizer em ar de gozo: “ Ó!! meus meninos, querem ver que me tenho que pôr em cuecas para vos mandar calar”? A boca servia para eles e para os outros, que também faziam barulho que se fartavam. As discussões acaloradas não eram exclusivas dos sapadores.
O pelotão de sapadores era usado para além do trabalho de linha, também lhes cabia a eles os trabalhos de consertar os telhados, uma parede, um muro etc. Ao trabalho deles se devem as alterações estéticas, que o quartel de Galomaro foi sofrendo desde que chegamos até à nossa partida, acabando por sua livre iniciativa construir a capela, que o quartel nunca tinha até aí tido. Até aí o padre Nuno realizava o culto numa arrecadação, que já tinha servido de morgue e depois serviu para alojar parte dos camaradas do Dulombi após a retracção daquela companhia, que foi dividida entre a CCS, Cancolim e Nova Lamego ou Piche.
O 1º cabo sapador Glória |
Mas estar onde ele estava era sempre uma animação, pois as discussões em voz alta eram constantes. Não era por mal, era do seu feitio expressar-se e defender-se com a voz muitos pontos a cima dos decibéis normalmente utilizados e aconselhados. Assim a gritaria, que se ouvia vinda do abrigo dos sapadores era sempre constante e por vezes, até bem tarde. A malta ria-se, pois eles eram capaz de discutir numa coluna.
Mas atentem, que eram três ou quatro assim e que, não eram discussões que alguma vez pudessem descambar a agressões, pois nunca eram desse cariz. Chegava a ser discutir por discutir como quem teima.
Uma vez as discussões e berros, já noite fora, eram de tal ordem, que o coronel Castro e Lemos levantou-se da cama e em roupa interior, atravessou a parada para se inteirar do barulho e mandar calá-los.
Foram motivo da galhofa geral e era frequente na cantina quando havia mais barulho, o “estofador” dizer em ar de gozo: “ Ó!! meus meninos, querem ver que me tenho que pôr em cuecas para vos mandar calar”? A boca servia para eles e para os outros, que também faziam barulho que se fartavam. As discussões acaloradas não eram exclusivas dos sapadores.
O pelotão de sapadores era usado para além do trabalho de linha, também lhes cabia a eles os trabalhos de consertar os telhados, uma parede, um muro etc. Ao trabalho deles se devem as alterações estéticas, que o quartel de Galomaro foi sofrendo desde que chegamos até à nossa partida, acabando por sua livre iniciativa construir a capela, que o quartel nunca tinha até aí tido. Até aí o padre Nuno realizava o culto numa arrecadação, que já tinha servido de morgue e depois serviu para alojar parte dos camaradas do Dulombi após a retracção daquela companhia, que foi dividida entre a CCS, Cancolim e Nova Lamego ou Piche.
No dia a seguir ao ataque, lá estava o Glória a mudar as coberturas de zinco do refeitório e a mandar umas bocas para o outro sapador, que estava a tapar um buraco de RPG numa parede.
Bem, no fim do dia podia-se jurar, a pés juntos, que não tinha havido ataque nenhum, de tal maneira foi rápido o conserto que, por mais que eu peça aos meus camaradas de companhia, não há uma única foto sobre os estragos a não ser os do abrigo da MG 42 e do meu próprio abrigo.
Mas os sapadores eram também utilizados em picagens, em patrulhas nocturnas e assim o Glória mais os seus camaradas de pelotão, acabaram mesmo por serem enviados para Buruntuma já em 1974, a pouco tempo do nosso regresso, para minar zonas circundantes desse destacamento onde, após Copá, era esperado um grande ataque, que acabou por acontecer em Canquelifá na forma de foguetões.
Bem, no fim do dia podia-se jurar, a pés juntos, que não tinha havido ataque nenhum, de tal maneira foi rápido o conserto que, por mais que eu peça aos meus camaradas de companhia, não há uma única foto sobre os estragos a não ser os do abrigo da MG 42 e do meu próprio abrigo.
Mas os sapadores eram também utilizados em picagens, em patrulhas nocturnas e assim o Glória mais os seus camaradas de pelotão, acabaram mesmo por serem enviados para Buruntuma já em 1974, a pouco tempo do nosso regresso, para minar zonas circundantes desse destacamento onde, após Copá, era esperado um grande ataque, que acabou por acontecer em Canquelifá na forma de foguetões.
Soube agora, por um camarada sapador, que o Glória morreu no princípio deste mês.
Nunca mais o vi desde o nosso regresso, mas lembrava-me muitas vezes dele tanto, que do pelotão dele só me lembro do nome de mais dois ou três.
É assim, vamos ficando menos. Faço votos que a terra lhe seja leve e que descanse em paz junto com os que nos deixaram, mas que vivem na nossa memória. Os meus mais sentidos pêsames à família e a todos que com ele privaram.
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É assim, vamos ficando menos. Faço votos que a terra lhe seja leve e que descanse em paz junto com os que nos deixaram, mas que vivem na nossa memória. Os meus mais sentidos pêsames à família e a todos que com ele privaram.
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16945: In memoriam (275): Adeus Mário e nobre Soares (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)
Último poste da série > 11 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16945: In memoriam (275): Adeus Mário e nobre Soares (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)
4 comentários:
Juvenal, é bonita a tua homenagem ao 1º cabo sapador Glória, e deixa-me associar ao teu sentimento, porque também fui sapador e como ele tivemos algumas tarefas comuns. Que esteja em paz a sua alma, e também para a sua familia deixo os meus sentidos pêsames.
César Dias
BCAÇ2885
Furriel Milic Sapador
È verdade, é triste, é inexorável: a "nossa" rapaziada vai ficando pela picada da vida, uns muito cedo, ao km 21/22, outros mais tarde, sempre prematuramente, aos km 30, 40, 50, 60, 70... Nem os sapadores escapam às p... das minas e armadilhas com que nos "pavimentaram" a picada da vida...
Fizeste bem, querido amigo e camarada Juvenal, em evocar aqui a memória deste "reguila", o Glória, resgataste-o da "vala comum" do esquecimento... É para isso que (também) serve o nosso blogue e a página do Facebook da Tabanca Grande...Ab. Luís Graça
Gostei de te ler Juvenal! É nobre a tua atitude de relembrares o vosso(nosso) Glória. Recordo a sua fisionomia apesar de não poder dizer ter partilhado com ele alguns bocados desse tempo. Uma outra recordação me ocorreu, a lembrança da capela e do serviço religioso do nosso capelão Nuno. Quase que já só nos restam estas memórias que guardamos religiosamente dentro de nós. Descanso eterno ao Glória e abraço a todos os camaradas do BCAÇ 3872.
Que descanse em paz. Sentidos pêsames à família.
BS
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