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Guiné > Bissau > O Valdemar Queiroz na Solmar
1. Mensagem de ontem, do Valdemar Queiroz , ex-fur mil, CART 2479 / CART 11,
Faz hoje 48 anos que eu e a rapaziada da CART 2479 (futura CART 11) chegamos à Guiné. 48 anos passam daquele dia da chegada a Bissau e da chegada à guerra.
48 anos foi quanto durou a ditadura que governou Portugal (1926-1974) e não resolveu a questão colonial como todos os países europeus, a partir da 2ª guerra mundial. A ditadura preferiu enviar milhares de jovens prá guerra colonial em vez de, com eles, fazer desenvolver o País.
Nunca consegui perceber, por que a ditadura não considerou aquela guerra como uma guerra civil sendo que aqueles territórios eram considerados Portugal. Claro que eram colónias e como tal era aplicado o direito colonial que nada tinha a ver com o direito do nosso País e por causa disso os povos das colónias queriam ser independentes do país colonizador e seguir o seu próprio caminho e por causa disso os povos colonizados se revoltaram e por causa disso lá foram milhares de jovens para a guerra colonial.
......até aparecerem os pilotos de barra, muito pretos e falar (crioulo?) sem perceber o que diziam, e o alf. Mil. Pina Cabral a dizer-me:
Inesquecível.
______________Faz hoje 48 anos que eu e a rapaziada da CART 2479 (futura CART 11) chegamos à Guiné. 48 anos passam daquele dia da chegada a Bissau e da chegada à guerra.
48 anos foi quanto durou a ditadura que governou Portugal (1926-1974) e não resolveu a questão colonial como todos os países europeus, a partir da 2ª guerra mundial. A ditadura preferiu enviar milhares de jovens prá guerra colonial em vez de, com eles, fazer desenvolver o País.
Nunca consegui perceber, por que a ditadura não considerou aquela guerra como uma guerra civil sendo que aqueles territórios eram considerados Portugal. Claro que eram colónias e como tal era aplicado o direito colonial que nada tinha a ver com o direito do nosso País e por causa disso os povos das colónias queriam ser independentes do país colonizador e seguir o seu próprio caminho e por causa disso os povos colonizados se revoltaram e por causa disso lá foram milhares de jovens para a guerra colonial.
......até aparecerem os pilotos de barra, muito pretos e falar (crioulo?) sem perceber o que diziam, e o alf. Mil. Pina Cabral a dizer-me:
- Queiroz, agora é que chegamos à Guiné.
Chegamos à Guiné. Terra vermelha. Bissau sem colinas, céu cinzento, calor pesado, mosquitos e crianças a pedir 'parte um peso', crianças que nós passamos a chamar jubis (mas jubi em crioulo quer dizer 'olha', estás a ver', 'repara' - bu ka na jubi riba = sem olhar para cima),... Ttropa por tudo o que é sitio, com as camisas suadas, a dizerem-nos 'salta periquito' ou 'periquito vai pró mato', mas, também, muita gente à civil, europeus e naturais muito pretos, e nós, desejosos de umas cervejas frescas, fomos encaminhados para umas tendas, em Brá, em que alguns tiveram o primeiro encontro com lacraus e todos desfilaram depois do discurso empolgante de Spínola.....
Inesquecível.
Valdemar Queiroz
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17050: Efemérides (245): "Black out" noticioso sobre a partida do T/T "João Belo" com os expedicionários do RI 11 (Setúbal) para Cabo Verde em 16 de junho de 1941...Nesse mesmo dia, o velho transporte-hospital "Gil Eanes" partia para dar assistência sanitária à frota de pesca do bacalhau na Terra Nova e Groenlândia... (Um ano e tal depois o "Gil Eanes" esteve para ser afundado pelos ingleses, por suspeita de espionagem do seu operador de rádio a favor dos alemães)
Último poste da série > 15 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17050: Efemérides (245): "Black out" noticioso sobre a partida do T/T "João Belo" com os expedicionários do RI 11 (Setúbal) para Cabo Verde em 16 de junho de 1941...Nesse mesmo dia, o velho transporte-hospital "Gil Eanes" partia para dar assistência sanitária à frota de pesca do bacalhau na Terra Nova e Groenlândia... (Um ano e tal depois o "Gil Eanes" esteve para ser afundado pelos ingleses, por suspeita de espionagem do seu operador de rádio a favor dos alemães)
4 comentários:
Amigo Queiroz Embalo,
Caro amigo Valdemar, grande Lacrau de Paunca e Guiro Iero Bocar!
O tempo passa e as memorias ficam, a maioria celebra o regresso ao Puto, a peluda, mas tu destacas as sensacoes da chegada, cada qual mais emocionante.
A Guine esta a deriva, sem rumo, mas ainda esta viva, quente e acolhedora. Os seus filhos la fora (na diaspora) nao sao melhores nem os de dentro sao piores, cada um fazendo pela vida como pode e conforme os meios e as circunstancias o permitem.
Com um abraco amigo,
Cherno Balde
Querido amigo e irmãozinho Cherno:
Como sabes, e de acordo com as nossas regras editoriais, evito "opinar" sobre a situação política na Guiné-Bissau... Mas não posso deixar passar em claro o teu comentário... Dizes (e eu fico preocupado, por ti, a tua família, todos os amigos e amigas da Guiné-Bissau) sobre o momento atual:
(...) "A Guiné está à deriva, sem rumo, mas ainda está viva, quente e acolhedora. Os seus filhos lá fora (na diáspora) não são melhores nem os de dentro são piores, cada um fazendo pela vida como pode e conforme os meios e as circunstâncias o permitem." (...)
Ainda não desisti de voltar à Guiné e poder dar-te um abraço, ao vivo, em Bisaau ou em Contuboel ou em Bafatá...Mas se lá voltar, quero voltar a (re)conhecer essa gente viva, quente e acolhedora... Não vamos deixar morrer a esperança!...
Também eu não gostaria de fazer comparações entre os guinenses "de dentro e de fora"... Tu, que decidiste ficar e viver na tua terra, com a tua família e amigos, apesar das duras condições de vida e de trabalho, és credor da minha maior admiração, estima e amizade...
Mantenhas!
Luís Graça
Ora viva, caro amigo Cherno Baldé.
Jarama pelo teu abraço.
Como tu dizes 'a Guiné está à deriva', o que eu lamento, por ter criado uma grande estima/amizade às gentes da Guiné. Lamento, pelas notícias que tenho acompanhado, o pouco de desenvolvimento do país e o já esquecimento/falta de conhecimento da língua portuguesa.
E, ainda, nem passou meio século (!!!!), da independência e da saída dos portugueses.
Não quero pensar que daqui a uns anos os meus netos(filhos do meu filho), que até são holandeses, por curiosidade, quando vêm fotos do avô na Guiné, quererem comunicar com alguém da Guiné-Bissau não se compreenderem em português e terem que comunicar em francês.
Quanto a línguas, por que é que o francês está enraizado no Senegal e na Guiné-Conacri, mas na Guiné-Bissau, com portugueses há centenas de anos, não aconteceu o mesmo com o português?
Espero que isso não aconteça, mas a continuarmos assim, talvez com crioulo, tal como o de cabo-verde, a ser completamente implementado e generalizado para uma língua oficial nacional, possa sempre ficar raízes da língua portuguesa.
Quanto ao francês, lembro-me que no meu pelotão Aliu Djaló, futa-fula, e Demba Jau, fula, só falavam fula e pouco crioulo, mas também um pouco de francês, de português só passados uns meses.
Quanto nós caro Cherno, cá nos vamos entendendo na língua de Camões.
Um abraço para o amigo mauro gorco (já não me lembro quando se aplica o jametungue)
Valdemar Queiroz e Embaló
Caros amigos Valdemar e Luis Graca,
Ao contrario de Angola onde nao existiu uma lingua intermedia e concorrente (e de certo modo "inimiga" do Portugues) na Guine o Crioulo, mais facil e mais acessivel e ainda como lingua da resistencia nacional, superou de longe o Portugues em todas as camadas da populacao.
Pessoalmente nao tenho e nunca tive qualquer receio da integracao regional em curso na nossa sub-regiao Africana porque a Guine-Bissau sozinha nao vai a lado nenhum e, em consequencia, precisara sempre de ser rebocada, mesmo que as condicoes nao continuem como estao.
Depois de ter vivido mais de 8 anos na Europa (5 na Ucrania e mais de 3 em Portugal) Eu escolhi viver na Guine porque me pareceu ser o unico onde poderia viver dignamente sem ter que me preocupar com a minha cor e origem.
Com um abraco amigo,
Cherno Balde
PS:
O 'Djam-Tum' na lingua fula significa "em paz apenas".
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