segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18138: Notas de leitura (1026): A luta armada na Guiné reexaminada por Mustafah Dhada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
É de salientar que estas imagens terão sido captadas aí à volta de 1977, dá para perceber que o património arquitetónico deixado pela potência colonial ainda não foi desvirtuado, as ruas estão limpas, os jardins tratados. Este álbum terá sido encomendado para mostrar as potencialidades turísticas, o exotismo, a diversidade étnica, as potencialidades agrícolas. Tem um resumo propagandístico da história do PAIGC e da luta de libertação.
Vasco Cabral, o poderoso comissário da Economia, fala de plantações de cana-de-açúcar para 60 mil toneladas. René Dumont ficou alarmado quando ouviu estes números e fez as contas, teria um preço incomportável.
É um tempo de sonhos, de fantasias e de uma ingenuidade que custou muito caro.

Um abraço do
Mário


A luta armada na Guiné reexaminada por Mustafah Dhada

Beja Santos

Mustafah Dhada é um categorizado investigador de acontecimentos contemporâneos, incluindo as lutas de libertação em África. Pertence ao naipe de nomes sonantes como Basil Davidson, Gérard Chaliand, Patrick Chabal, R. H. Chilcote e Lars Rudebeck que durante e após a luta de libertação se têm debruçado atentamente sobre o ideal revolucionário de Cabral, a forma como liderou, no plano ideológico, militar e diplomático a condução da luta, e a vida do país depois da independência.

Tomámos a liberdade de pegar num seu ensaio datado de 1998, publicado no prestigiado The Journal of Military History, em que ele procede a um reexame da luta armada, com a finalidade de ver os aspetos essenciais da sua argumentação, ter uma postura crítica face ao acesso às suas fontes e tecer conclusões quanto à premência de os investigadores de diferentes proveniências (incluindo portugueses e guineenses) ponderarem as lacunas inaceitáveis que existem, reapreciarem as fontes consultadas e debateram informalmente o modo de superar fontes propagandísticas, muito úteis para a luta ideológica, inaceitáveis para elaborar uma primeira tentativa da história da Guiné-Bissau a partir da sua luta armada.

Mustafah Dhada inicia o seu trabalho com a fase de arranque da luta armada e a estratégia seguida. Os dados avançados parecem-me irrepreensíveis. Apostou-se no Sul, pelas suas dificuldades de acesso, desde o segundo semestre de 1962 a sublevação foi destruindo infraestruturas e comunicações, escolheu posicionamento em pontos naturalmente de muito difícil acesso. Enquanto decorria esta operação a Sul, criava-se a chamada frente Norte, no Oio. Tudo isto decorria ainda com armamento precário, recorria-se ao abatis e às emboscadas do “bate e foge”. O ano de 1963 marca a consolidação no Sul e uma progressiva extensão nas regiões de Cacheu, Bissorã e fronteira senegalesa. Em 1964, a guerrilha estende-se à região de S. Domingos, põe um pé no Gabu, aparece no Boé e ocupa o Corubal. Noutro capítulo fala da estratégia usada para combater a presença do PAIGC no Como e a resistência posta pela etnia Fula ao PAIGC. A economia no interior do país desarticula-se progressivamente, fecham as serrações, não se cultivam bolanhas, desaparecem as destilarias, o comércio do amendoim reduz-se. A resposta de Louro de Sousa e depois de Schulz é a criação de destacamentos, a formação de milícias, a proteção de tabancas, é uma malha de pequenas unidades gravitando à volta de batalhões que procura estender-se pelo território.

Faz-se aqui uma pausa para mostrar dois mapas. O primeiro, data de 1960 e parece-me demonstrativo da colocação das etnias por todo o território.


Dá-se entretanto uma transformação das FARP, são divididas em três forças regionais em que 200 a 300 militares estacionam nas principais bases do interior. Foram selecionados alvos privilegiados no Boé e na região de Guileje. Recordo que quando o capitão Tomé Pinto (o conhecido “capitão do quadrado”) chegou a Binta, em 1964, os grupos afetos ao PAIGC estavam implantados a escassos dois quilómetros do quartel e circulavam com toda a facilidade entre Binta e Guidage. Schulz obtém de Lisboa um elemento dissuasor fundamental: as bombas de fósforo e mais meios aéreos. O PAIGC é forçado a reduziras as bases, a torná-las mais contingentes, os grupos mais reduzidos, é uma flexibilidade que responde às destruições provocadas pelos bombardeamentos. O Corubal torna-se praticamente intransitável.

Hélio Felgas, que comandou um batalhão de Bula, escreverá anos depois um livro intitulado “Guiné 1965”, não ilude o tom laudatório para as atividades desenvolvidas na sua área, mas também não esconde que as FARP se aproximam de Bigene, Ingoré, Barro, Binar. No início de 1967, os helicópteros semeiam o terror, é uma arma nova que surpreende a guerrilha quando pretende fazer frente às tropas portuguesas em campo aberto. Vejamos agora um mapa em que Mustafah Dhada mostra a existência de conflito militar em 1967.


O mapa revela imprecisões, algumas delas com bastante gravidade. Falo do teatro de operações em que combati, a região do Cuor, limite, no Centro-Norte do mapa, vem lá referido Sinchã Corubal. Do lado de lá de Bambadinca, havia dois destacamentos no Cuor e um no Enxalé. Sinchã Corubal era uma tabanca abandonada, perto ficava o acampamento de Madina e a Norte, numa região profundamente árida, Belel, o início de um corredor que prosseguia por Sara-Sarauol, esta uma posição importante, dispunha de um hospital de campanha. A norte do Cuor havia a região de Mansomine, onde o PAIGC se posicionava sobretudo em Sinchã Jobel. Nós, no Cuor, podíamos calcorrear uma boa parte do regulado, fora dos destacamentos de Missará e Finete, as populações residentes em Madina e Belel vinham comerciar e obter informações nos Nhabijões (portanto próximo de Bambadinca, na outra margem do Geba) e em Mero, também na outra margem, tabanca habitada por população Balanta. Quem olhar para este mapa é capaz de pensar que não havia conflito latente/permanente no Xitole e em toda a região até Geba, em 1967, nada de mais errado. Seguramente que outros combatentes que estejam a ler este texto encontrarão outras anomalias no mapa referente a 1967.

De 1967 para 1968 assiste-se a uma penetração na região de Teixeira Pinto, no Sul o Comandante-Chefe Schulz determinou um conjunto de operações com forças especiais e na região Norte entraram em cena bombardeamentos em povoações afetas ao PAIGC próximo de Farim, Bissorã e S. Domingos, suspeitas de abrigar as FARP. Segundo Mustafah Dhada foi um período extremamente difícil para as FARP, perderam abastecimentos, passaram fome, é um período inclusivamente marcado por contestação à estratégia militar no interior do PAIGC. Cabral consegue o reequipamento das FARP e em 28 de Fevereiro de 1968 um comando atacou Bissalanca. Pretextando doença, Schulz retira-se e é substituído por Spínola. Abandonam-se quartéis e posições consideradas inviáveis, redesenha-se a guerra psicológica, reagrupam-se as forças, estabelece-se um plano de reordenamentos, e Dhada traz um elemento novo, o apoio de Spínola a uma força política opositora ao PAIGC, a frente unida de libertação. Dhada como outros autores, labora num equívoco que é atribuir a exclusividade a Spínola da criação de milícias, grupos em autodefesa e a formação de caçadores nativos, de um modo geral esta africanização já estava em curso no tempo de Spínola o que este conseguiu foi obter financiamento para acelerar a africanização inclusive ao nível das tropas de elite. Dhada, não se sabe qual a fundamentação e os documentos em que baseou, dá como certo e seguro a constituição da FUL onde cabiam dissidentes do PAIGC, Rafael Barbosa e nacionalistas guineenses.

A operação de ataque a Conacri acabou por minar a política externa portuguesa, teria começado aí a congeminação do plano para chegar às negociações diretas com Cabral, entretanto a agressividade militar de Spínola parecia imparável, o que obrigou a uma nova reformulação das FARP. Dhada fala sistematicamente das operações anuais das FARP, omite as operações de iniciativa portuguesa, o que é incompreensível em historiografia militar. Temos as conversações com Senghor e refere-se um plano para dividir o PAIGC entre a ala cabo-verdiana e a guineense, seria com esta, segundo Dhada, que Spínola contaria preparar um plano de autodeterminação.

Em Janeiro de 1973, tudo vai mudar com o desaparecimento físico de Cabral, o PAIGC envereda por ataques seletivos, cria infernos à volta desses objetivos selecionados. O autor detém-se sobre os acontecimentos de Copá, em Janeiro de 1974, os bombardeamentos sistemáticos das FARP e as emboscadas próximo de Pirada bem como a coluna vinda de Bajocunda em direção a Pirada que foi brutalmente atacada. Dhada refere um número de baixas para os efetivos portugueses que é manifestamente delirante, em 1973 diz que o número ultrapassou os 2 mil mortos, o segundo mais alto desde o início da guerra armada (!), isto quando há muito tempo já há dados sobre os mortos portugueses em campanha.

O que se pode depreender de um trabalho onde há uma indiscutível investigação séria, mas onde existem lacunas relativamente ao comportamento das Forças Armadas portuguesas (nem uma só palavra sobre o papel da Marinha que, como é de todos sabido, foi primordial), onde se usam mapas fantasiosos? Tudo leva a querer que personalidades como Mustafah Dhada, Julião Soares Sousa, António Duarte Silva, Leopoldo Amado, historiadores militares portugueses como Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes conversassem entre si, sobre as fontes probatórias e aquelas que ainda estão inquinadas pela propaganda (não é a primeira vez que vejo escrito que as tropas portuguesas tiveram 650 mortos no Como entre Janeiro e Fevereiro de 1964), e que depois de laborioso acerto sobre o rigor dos dados transmitissem o produto das suas reflexões para meio universitário e para as opiniões públicas dos dois países mais afetados pelo que aconteceu naquela luta armada, a Guiné-Bissau e Portugal. Quanto ao mais, de boas intenções está o inferno cheio.

Recomendo a todos os interessados a leitura integral do ensaio de Mustafah Dhada no site:
https://www.academia.edu/4022011/Mustafah_Dhada_The_Liberation_War_In_Guinea-Bissau_Reconsidered_Journal_of_Military_History_62_3_Summer_1998_571-593

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18123: Notas de leitura (1025): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (14) (Mário Beja Santos)

5 comentários:

Anónimo disse...

Diz o Mário Beja Santos:

"Dhada refere um número de baixas para os efetivos portugueses que é manifestamente delirante, em 1973 diz que o número ultrapassou os 2 mil mortos, o segundo mais alto desde o início da guerra armada (!), isto quando há muito tempo já há dados sobre os mortos portugueses em campanha."

E logo de seguida acrescenta:

"O que se pode depreender de um trabalho onde há uma indiscutível investigação séria..."

Uma "indiscutível investigação séria?" Como é possível um homem inteligente como o Mário Beja Santos continuar a debitar tanto rigor, tanta sabedoria, tanta aldrabice, e a citar tanta "investigação séria"?

Respeito pela dignidade de todos nós,combatentes na Guiné, 1973/74.

Abraço,

António Graça de Abreu

Dhada disse...

Tuesday, August 14, 2018
Peco imensas desculpas de enviar esta mensagem em Inglês, e ainda mais sem diacríticas disponíveis quando utilizando maquina de tipografar em Portugues. Ah 4o anos que nao utilizo a lingua Portuguesa diariamente, mas claro que utilizo esta mesma para as minhas investigações sobre o mundo de historia do império Portugues nos últimos anos de existencia, período 1950 ate 1974/5. Com este prefacio, tambem aumento que o que vai em baixo esta escrito infelizmente em Inglês Americano, e com desafios concomitantes que normalmente encirculam pesquisas do campo em Guinea-Bissau onde estou neste momento, pesquisar assuntos historiograficos. Finalmente, vou tentar por o mesmo texto em Portugues imperfeito, mesmo que este nao dara nuancias subterraneas que sublinham o texto Ingles.

PART01
I read the curated critical comments on my article on Guinea’s liberation war revisited on your weblog. Perhaps providing a context to the article would help your readers better evaluate, and more critically than they have I hope, my text. The article was a summary of a longer piece, in fact, Part One, bearing the title “A War Unfolds,” which appeared in a book published in 1993 under the title, Warriors At Work. The research for the book was done between 1972 and 1978, that is to say, during Portugal’s fascist regime, and lasted four years AFTER the 25 April revolution of carnations. The work used a carefully constructed methodology using, liberation ephemera, UN documents, publicly available colonial texts, and some oral interviews. The Preface to the book warned readers of what the book was not all about and what it did not use in terms of historical data; and where the book would need to be improved to make it a bit more solid.

For that period, the work was seen to be pioneering in the field. (1) Douglas Wheeler, the Henry The Navigator Professor of History, and now emeritus, perhaps was more effusive than other reviewers, deeming the book to be a landmark work and suggesting that from then on the field of inquiry would be judged from two perspectives, pre-Dhada and post-Dhada.

But that was in the nineteen-nineties. Much has happened since then. As the reviewers on this web-log noted, the work exhibit several lacuna, which stand in need of correction in light of new research, new public documents, newly declassified archival materials at several imperial holdings in Lisbon: 1102 documents related to Guine in the Portuguese Foreign Office, the 1257 folders lodged in the OAS, 432 PIDE/DGS folders, and the papers from the Portuguese Armed Forces and the Navy, the latter of which played a crucial role in Portuguese Guinea during the colonial war. When considering these materials, we must not forget your web-log extant since 2004. A preliminary survey of the latter reveals an enormous memorial trove of stories and accounts that need to be combed to “flesh” out the lived experience of the colonial war in Portuguese Guinea. I will return to this in a moment.

Put differently, the article and the book I wrote in 1979 and published in 1993, from which the article was extracted justly deserves revision. Some errors of fact need correction — and your readers have pointed out some; others have escaped their beady eyed scrutiny, because the article excised longer essay-length footnotes that themselves need better interpretative frameworks. All this is to say, the work when it appeared was the best that could be crafted, and the work while methodologically sound by all accounts, needs an update.

This is a very long reply to a paragraph long critical evaluation from your readers of my article and by implication my work. But I think its length is needed here, because I consider your weblog, which I discovered only a few weeks ago, a serious, informative, well structured effort, and it is unenviably… (continued PARTII)

Dhada disse...

PART 02
…well indexed I might add, to serve and inform Portugal’s civil society interested in telling the other side of the colonial war — the non-liberation side.

All in all, thank you for posting my work for others to see.

I am at the moment re-writing Warriors At Work! Of course, it will not be a perfect work, and certainly not a Rankian exercise in omniscient history, that I can assure you. This time I will do what I did when I wrote it, use what is available to craft a transparently faithful narrative, one that I see as authentic. To this end I will be using archival materials. What would be wonderful is to invite your readers, to contact me, if they are willing to be interviewed on the colonial war in Guinea by a forensic historian to tell their side of the story for the book. Perhaps, as a weblog host, you would not mind intermediating such a task. Needless to add, I would be immensely grateful if you could post this note, and perhaps contact me privately to see if you are willing to meet when I am next in Portugal. My email address is dhada@mindspring.com

Footnote:
(1) “Warriors at Work" examines the complete functioning of the Guinean people's struggle against Portuguese imperialism. Brilliantly noting the contribution and leadership of Amilcar Cabral, Dhada, as Cabral would have approved, focuses on the mass popular contribution and national role in the process of liberation. Dhada clearly reveals the brilliance of the PAIGC effort. The fighters of Guinea while battling Portuguese aggression simultaneously created a functioning relevant and indigenously produced nation state that would replace the Portuguese colonial machine. Dhada's focus on the mechanics of this process give us the most insightful view of what made the Guinean revolution effective, unique and a theoretical model for all revolutionaries to consider.”
— Charles F. Peterson (petersoc@fiu.edu) on December 14, 1998

In her work, Guinea-Bissau, World Bibliographical Series, Volume 121 (Santa Barbara, Clio Press, 1990), p. xi, and entry numbers 118, 133, and 147, Rosemary Galli cites the work as "one of the most complete records (sic) of the military situation...a non-romantic view of the struggle...(that) strips away the revolutionary rhetoric... (a study providing) a balanced assessment...an extensive (and) exhaustive...listings of UN documents".

"Thoughtful, thoroughly researched and exquisitely written piece of scholarship... buttressed by political-historical analyses... (with) a rich array of meticulous documentation...(combining) the disciplinary skills of historian and political scientist to leave us with an essential reference for scholars...a balanced, (and)...a rather elegant articulation of an interesting revolutionary movement in Africa with nuggets of insightful commentary. It is a fascinating portrayal of actors, institutions, events and relationships seemingly non-doctrinaire description(s) of the individuals, ideas, institutions, interests and nation-states involved in the dismantling of the Portuguese empire in that part of West Africa…thought-provoking.” Steve Mazurana, 1994.

Mustafah Dhada, FRSA FRAS, D. Phil (Oxon)
Professor of History, Department of History, California State University, Bakersfield
Research Associate, Centro de Estudos Sociais, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra.

Dhada disse...

PARTE01
Li os comentários críticos selecionados sobre o meu artigo sobre a guerra de libertação da Guiné revisitada em seu blog. Talvez fornecer um contexto para o artigo ajudaria seus leitores a avaliar melhor, e mais criticamente, meu texto. O artigo foi um resumo de uma parte mais longa, na verdade, a Parte Um, com o título “Uma guerra se desdobra”, que apareceu num livro publicado em 1993 sob o título Warriors At Work. A pesquisa para o livro foi feita entre 1972 e 1978, ou seja, durante o regime fascista de Portugal, e durou quatro anos após a revolução de cravos de 25 de abril. O trabalho utilizou uma metodologia cuidadosamente construída usando, arquivos de libertação, documentos da ONU, textos coloniais publicamente disponíveis e algumas entrevistas orais. O prefácio do livro alertava os leitores sobre o que o livro não era e sobre o que não utilizava em termos de dados históricos; e onde o livro precisaria ser melhorado para torná-lo um pouco mais sólido.

Para esse período, o trabalho foi visto como sendo pioneiro no campo. (1) Douglas Wheeler, o Henry The Navigator Professor de História, e agora emérito, talvez tenha sido mais efusivo do que outros revisores, considerando o livro um trabalho histórico e sugerindo que a partir de então o campo de pesquisa seria julgado de duas perspectivas, pré-Dhada e pós-Dhada. Yikes!

Mas isso foi nos anos noventa. Muito aconteceu desde então. Como observaram os revisores deste web-log, o trabalho exibe várias lacunas, que precisam ser corrigidas à luz de novas pesquisas, novos documentos públicos, materiais de arquivo recentemente desclassificados em várias propriedades imperiais de Lisboa: 1102 documentos relacionados a Guine no Ministério das Relações Exteriores de Portugal, as 1257 pastas depositadas na OEA, 432 pastas da PIDE / DGS e os documentos das Forças Armadas e da Marinha Portuguesa, esta última desempenhando um papel crucial na Guiné Portuguesa durante a guerra colonial. Ao considerar estes materiais, não devemos esquecer o seu web-log existente desde 2004. Um levantamento preliminar deste último revela um enorme acervo histórico de histórias e relatos que precisam ser estudados para “detalhar” a experiência vivida da guerra colonial em Guiné Portuguesa. Voltarei a isso daqui a pouco.

Em outras palavras, o artigo e o livro que escrevi em 1979 e publiquei em 1993, do qual o artigo foi extraído justamente, merece revisão. Alguns erros de fato precisam de correção - e seus leitores apontaram alguns; outros escaparam do escrutínio dos olhos redondos, porque o artigo continha notas de rodapé mais longas que exigiam melhores estruturas interpretativas. Tudo isto é para dizer que o trabalho quando apareceu foi o melhor que pôde ser trabalhado, e o trabalho, apesar de metodologicamente sólido, precisa de uma atualização.

Esta é uma resposta muito longa a um longo período de avaliação crítica de seus leitores do meu artigo e, por implicação, do meu trabalho. Mas acho que o seu comprimento é necessário aqui, porque considero o seu blog, que descobri há apenas algumas semanas, um esforço sério, informativo e bem estruturado, e é invulgar…

Dhada disse...

PARTE 02
… Bem indexada, devo acrescentar, para servir e informar a sociedade civil de Portugal interessada em dizer o outro lado da guerra colonial - o lado da não-libertação.

Tudo em tudo, obrigado por postar meu trabalho para os outros verem.

No momento, estou reescrevendo Warriors At Work! É claro que não será um trabalho perfeito, e certamente não um exercício rankiano de história onisciente, que eu possa lhe assegurar. Desta vez farei o que fiz quando o escrevi, use o que estiver disponível para criar uma narrativa fiel e transparente, que eu considere autêntica. Para este fim, estarei usando materiais de arquivo. O que seria maravilhoso é convidar seus leitores, entrar em contato comigo, se eles estão dispostos a ser entrevistados sobre a guerra colonial na Guiné por um historiador forense para contar o seu lado da história para o livro. Talvez, como host de um blog, você não se importe em intermediar essa tarefa. É desnecessário acrescentar que ficaria muito grato se pudesse publicar esta nota, e talvez contacte-me em particular para ver se está disposto a encontrar-se quando estiver próximo em Portugal. Meu endereço de e-mail é dhada@mindspring.com

Nota de rodapé:
(1) “Warriors at Work” examina o completo funcionamento da luta do povo guineense contra o imperialismo português, destacando a contribuição e liderança de Amílcar Cabral, Dhada, como Cabral teria aprovado, focaliza a contribuição popular em massa e o papel nacional no Dhada revela claramente o brilhantismo do esforço do PAIGC Os combatentes da Guiné, enquanto lutavam contra a agressão portuguesa, criaram simultaneamente um Estado nacional pertinente e produzido de forma autóctone, que substituiria a máquina colonial portuguesa. ”O enfoque de Dhada na mecânica deste processo dá-nos a visão mais perspicaz do que tornou a revolução guineense efetiva, única e um modelo teórico a ser considerado por todos os revolucionários. ”
- Charles F. Peterson (petersoc@fiu.edu) em 14 de dezembro de 1998

Em seu trabalho, Guiné-Bissau, Série Bibliográfica Mundial, Volume 121 (Santa Barbara, Clio Press, 1990), p. xi, e os números de entrada 118, 133 e 147, Rosemary Galli cita o trabalho como "um dos registros mais completos (sic) da situação militar ... uma visão não-romântica da luta ... (que) tiras afastar a retórica revolucionária ... (um estudo fornecendo) uma avaliação equilibrada ... uma extensa (e) exaustiva ... listagens de documentos da ONU ".

"Pensativo, completamente pesquisado e requintadamente escrito bolsa de estudos ... sustentada por análises político-históricas ... (com) um rico conjunto de documentação meticulosa ... (combinando) as habilidades disciplinares de historiador e cientista político para nos deixar com uma referência essencial para os estudiosos ... um equilíbrio, (e) ... uma articulação bastante elegante de um movimento revolucionário interessante na África, com pepitas de comentários perspicazes. É um retrato fascinante de atores, instituições, eventos e relações aparentemente não- descrição doutrinária (s) dos indivíduos, idéias, instituições, interesses e estados-nações envolvidos no desmantelamento do império português naquela parte da África Ocidental… instigante. ”Steve Mazurana, 1994.

Mustafah Dhada, FRSA FRAS, D. Phil (Oxon)
Professor de História, Departamento de História, Universidade Estadual da Califórnia, Bakersfield
Pesquisador Associado do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.