Ver nascer mais um dia...
Um privilégio natural, gratuito, concedido a toda gente.
Um horizonte vasto que se abre, luminoso.
Uma cortina extensa, em tecido deslumbrante, de largas nuvens,
Estratifica o céu em degraus que levam os olhos baços para o infinito.
A terra desperta, suave e lenta.
Há reflexos brilhantes sobre os telhados e as janelas.
Das chaminés brotam crescentes fumarolas brancas, helicoidais.
As árvores geladas, com suas ramagens nuas, sobressaindo do casario,
Elevam brados ao sol nascente que as aqueça.
Choram as folhas verdes que o vento lhes roubou.
De longe, num silêncio astral, vêm clarões em chama, num cortejo incessante de aviões, orientados para a pista do aeroporto.
Trazem dentro multidões de gente fresca
Que vão enxamear as ruas e os bares desta urbe gigantesca.
Pelos vastos campos circundantes, crescem em lume brando, os pastos verdes que, por artes mágicas da natureza, se transformam em alimento.
Serão breves as horas que o sol nos dá.
Porque, agora, é o tempo em que a noite reina...
ouvindo "Serenata de Schubert"
Berlim, 18 de Dezembro de 2017
9h5m
Jlmg
************
A verdade das pedras…
Nuas e cruas se expõem ao tempo.
Fazem calçadas. Erguem muralhas.
Cercam castelos.
Abrigam as casas, de renda ou compradas.
Mantêm a forma desde o ventre da terra.
Quase infinitas. Resistem milénios.
Se mostram agrestes. Macias à água.
Moem farinha na mó do moleiro.
Tecem as lajes que a morte ditou.
Perpetuam a forma do rei que morreu.
Quem dera que a vida terrena fosse doce e eterna
E a morte tivesse a sorte da pedra na hora da morte.
Berlim, 21 de Dezembro de 2017
20h41m
Jlmg
************
Mais um pouco e…
Mais um pouco e, num instante, vem a ausência de quem se queria perto sempre.
Um filho ausente que ficou e parte.
Alguém de perto que, por razões da vida, se fecha em si e não está.
Quem partiu para longe e não dá notícia.
Aqueles nossos que deviam estar, mas a quem, para sempre, acabou o tempo.
É a vida em movimento.
Tão bela e tão fugaz.
O que verdadeiramente conta é bem e só o instante, sem passado nem futuro…
Ouvindo Once upon a time in Paris de Erik Satie
Berlim, 22 de Dezembro de 2017
9h19m
Jlmg
____________
Nota do editor
Último poste da série de 17 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18098: Blogpoesia (544): "Pintar com água...", "Cada um seu jeito..." e "A voz cala para se ouvir o coração...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Sem comentários:
Enviar um comentário