domingo, 13 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18627: Blogpoesia (566): "Vi o vento irado...", "Pedras e flores...", e "Pairando no ar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Vi o vento irado... 

Vi o vento irado com as núvens. 
Elas não se entendiam entre si. 
Umas queria seguir para norte. 
Saudosas da neve branca. 
Outras para o sul. 
Mortas por mergulhar no mar. 
Chamou a trovoada para as pôr na ordem. 
Um trovão tronitruante as estremeceu de medo. 
De repente se desfizeram em chuva tão copiosa, fez esbordar os rios. 
O mar subiu três pontos. 
As marés sumiram as praias. 
E as gaivotas, esbaforidas, grasnavam loucas por alimento. 
Foi o fim do mundo. 
Eis que o rei sol, incomodado com toda a desordem, resolveu intervir. 
O céu ficou azul. 
O calor serenou a tempestade. 
Num instante, tudo ficou em paz... 

Roses, 8 de Maio de 2018 
9h7m 
Jlmg

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Pedras e flores... 

O mundo, como a vida,
é tecido de pedras e flores. 
Calcamos um chão de abrolhos,
sorrimos à cor das cores. 
Há sempre um bem para cada mal. 
Uma fonte pura que mate a nossa sede. 
A nossa fé e a nossa esperança. 
É infinito o céu azul. 
Não têm conta as estrelas que só de noite brilham. 
Não tem limites o poder da nossa imaginação. 
É divina a arte do fulgor das sinfonias
como a de combinar as cores num quadro belo de pintura. 
Brilham no tempo os versos geniais de Virgílio e de Homero. 
Ainda hoje, desafiam o poder dos deuses as pirâmides colossais que há no mundo. 
Quisesse o homem e teríamos já o céu aqui na terra... 

ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 9 de Maio de 2018 
9h5m
Jlmg

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Pairando no ar... 

Como gaivota, pairando no ar,
vejo os salpicos brotando das ondas. 
Cardumes bailando a alegria da água,
descrevem bailados, num silêncio sem fim. 
Desafio as nuvens paradas no céu,
zombando de mim. 
O vento tardou. 
Abandonadas, ficaram ali como o destino traçou. 
E o pequenino farol, implantado ao fundo,
parece tão triste,
esperando nevoeiro para tocar. 
No casario ao longe, do lado de lá,
reluzem janelas de vidro, fechadas. 
Bate-lhes o sol, reflectem o céu,
emitindo faíscas. 
As gaivotas em bandos, disputam os cardumes ocultos,
mal sabem o risco que correm. 
Pela estrada, entre a praia e as casas,
zumbem os carros num frémito veloz. 
Enquanto as camionetas de carga,
paradas na berma,
descarregam os géneros que atiça o comércio. 
E penso: Que sou eu tão minúsculo,
no meio de tudo? 
Oiço esta música bem linda e sonho... 

ouvindo "Adágios Russos" 
Roses, 10 de Maio de 2018 
9h33m 
dia cinzento
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18603: Blogpoesia (565): "Sombras nos olhos", "Hora das acácias...", e "O sabor das coisas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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