Fardas e batinas...
Fardas e batinas,
Vestes chiques,
Fraques de cerimónia,
Lunetas e óculos escuros,
Lantejoulas,
descem vaidosos as calçadas de Lisboa,
Chiado e Madragoa.
Espiolham as vitrines,
Mercam cravos e flores,
Tragam bicas e fumegam cigarros e cachimbos, pelos cafés,
Bons vivants,
Uns snobs.
E, na esquina,
empertigado,
Um homenzarrão,
Corda ao ombro,
É só chamá-lo,
Um bruta-montes,
Carrega às costas
O que for preciso,
Por uma migalha.
Pelas valetas dos passeios,
Escorre a chuva, leva tudo adiante,
Até ao Tejo.
E, na Praça nobre, dos ministérios,
Um Arco triunfa aos tempos,
Canta glórias e desditas,
Feitos idos.
Umas escadas leves, em mármore eterno,
Desce ao rio e lava os pés,
Olhando além.
Incansáveis, os eléctricos amarelados,
Trilham as linhas de aço,
Brilhando ao sol.
Fervilham de gente que não quer ficar.
É asim Lisboa, enquanto Deus quiser...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 14 de Novembro de 2018
7h15m
Jlmg
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Romagem a Lisboa
Afastaram-me de Lisboa as forças cegas do destino.
Vagueio perdido neste mundo.
Minhas raízes estão bem vivas.
Meus pés sangram de saudade.
Só de longe a longe lá regresso.
Nem chego a aquecer-me nos seus lençóis.
Tomo as malas e me ausento angustiado.
Foi assim traçado meu destino.
Desvarios de quem comanda nosso barco,
Atirando para o infortúnio da emigração,
Negando-lhe o direito de permanecer no seu torrão natal.
Só os desterrados sabem quanto dói
E a só temos uma vida para viver...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 17 de Novembro de 2018
8h7m
JLMG
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Olho daqui Lisboa...
Aqui de longe, olho para Lisboa e sinto saudades.
Daquele amanhecer suave ao sol nascente glorioso vindo do além.
Daquele manto extenso de casario em ondas largas de colinas.
Aquele formigar de gente pacata pelas ruas e avenidas descendentes e sinuosas,
de autocarro ou eléctrico, a caminho do trabalho.
Daquele espelho azul do magno rio, em constante correria que, prazenteiro, nos leva ao mar.
A incessante procissão de barcos-cacilheiros abraçando as duas margens.
As duas pontes longas levando e trazendo, num instante, gente nova.
Os braços divinos de Cristo-Rei a abençoar Lisboa e Almada.
Aquelas noitadas longas no mistério cativante das guitarradas.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 16 de Novembro de 2018
8h5m
JLMG
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19184: Blogpoesia (594): "Vasos de barro", "As notas da guitarra" e "Com granizo e trovoadas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
2 comentários:
Então, caro amigo JL Mendes Gomes, saudadinhas de Lisboa?
Se não.... assim parece!
Abraço
Hélder Sousa
É mesmo!...
Ventos do destino. Os filhos fugiram para aqui...
Abraço
Joaquim Gomes
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