Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A equipa de futebol de onze, composta por "pretos de 1ª classe"... (As praças eram todas do recrutamento local; os graduados e os especialistas eram oriundos da metrópole).
Na primeira fila, da esquerda para a direita,
(i) o "Paranhos", natural do Porto, padeiro;
(ii) Francisco Magalhães Moreira, capitão da equipa (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, vive em Santo Tirso);
(iii) António Manuel Carlão (alf mil at inf, cmdt do 2º Gr Comb, destacado depois para a equipa do reordenamento de Nhabijões; vive em Fão, Ermesinde);
(iv) Abílio Soares, 1º cabo at inf, que vivia em Lisboa, já falecido;
e (v) Arlindo Teixeira Roda (fur mil at inf, 3º Gr Comb, natural de Pousos, Leiria, vive em Setúbal);
na segunda fila, de pé, também da esquerda para a direita:
(vi) guarda-redes João Rito Marques (1º cabo manutenção de material, vulgo "quarteleiro"; vive no Souto, Sabugal);
(i) o "Paranhos", natural do Porto, padeiro;
(ii) Francisco Magalhães Moreira, capitão da equipa (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, vive em Santo Tirso);
(iii) António Manuel Carlão (alf mil at inf, cmdt do 2º Gr Comb, destacado depois para a equipa do reordenamento de Nhabijões; vive em Fão, Ermesinde);
(iv) Abílio Soares, 1º cabo at inf, que vivia em Lisboa, já falecido;
e (v) Arlindo Teixeira Roda (fur mil at inf, 3º Gr Comb, natural de Pousos, Leiria, vive em Setúbal);
na segunda fila, de pé, também da esquerda para a direita:
(vi) guarda-redes João Rito Marques (1º cabo manutenção de material, vulgo "quarteleiro"; vive no Souto, Sabugal);
(vii) Fernando Andrade de Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa);
(viii) Arménio Monteiro da Fonseca (sold at inf, natural da Campanhã, vive no Porto);
(ix) Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares (1º cabo escriturário, vivia em Oliveira do Douro, faleceu em 29 de agosto de 2015) (*);
(x) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, vive na Póvoa do Varzim);
e (xi) Ernesto A. M. Rocha, 1º cabo at inf, 4º Gr Comb, que veio substituir o 1º cabo at inf António Pinto, também evacuado para o HMDIC; morada atual desconhecida.
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Legendagem: Fernando Sousa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
I. Mais um exemplo de um vocábulo, desta feita do léxico castrense, "quarteleiro", que vem grafado no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, sendo citado o seu uso no nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) (*)
quarteleiro | s. m. | adj.
quar·te·lei·ro
(quartel + -eiro)
substantivo masculino
1. Militar que nas unidades tem a seu cargo a arrecadação do armamento, material de guerra e uniformes.
adjectivo
2. Relativo a quartel (ex.: revolta quarteleira).
"quarteleiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/quarteleiro [consultado em 29-11-2018].
Esta palavra em blogues Ver mais
... Cabo Quarteleiro, António Joaquim de Castro... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
...João Rito Marques (1º cabo quarteleiro , ou Manutenção de Material;... Em Luís Graça & Camaradas da Guiné
"quarteleiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/quarteleiro [consultado em 29-11-2018].
II. Esta é uma das dezenas de "histórias da CCAÇ 2533", constante da brochura, editada pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, com fotografias).
Já aqui foram reproduzidas essas histórias no nosso blogue com a devida autorização do editor e autores, a partir de um ficheiro em formato pdf que nos chegou às mãos por intermédio do Luís Nascimento. Recorde-se que a CCAÇ 2533, companhia independente, esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).
Hoje, para ilustrar a figura (e as agruras do) "quarteleiro", fomos repescar o texto da autoria do ex-1º cabo Silva, o "arrecadação" (sic), que foi destacado da "ferrugem" para exercer "ad hoc" as funções de responsável da arrecação de material ... [Parece que era prática corrente, no CTIG, ir-se buscar um CAR - Condutor Auto Rodas, para exercer essas funções: um 1º cabo e, nalguns casos, também um soldado, para o auxiliar; pelo menos, foi a solução encontrada, por exemplo, pelas subunidades de quadrícula do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), as CCAÇ 2404, 2405 e 2406.]
A designação mais corrente era "quarteleiro", mas também podemos encontrar no nosso blogue expressões equivalentes: "fiel da arrecadação", "1º cabo de manutenção de material"... Não sabemos se havia uma especialidade própria... Em geral, a função era ocupada por um 1º cabo, podendo haver um soldado "auxiliar de quarteleiro".
É um texto, delicioso pelo humor e a ironia... Para poder embarcar para a metrópole, e regressar a casa, o Silva, o "responsável máximo" do material, teve de pagar do seu magro bolso o valor de 15 cantis que faltavam no inventário final (pp. 107-108). (**)
Memórias de um cabo quarteleiro
Todos sabem que eu fui nomeado para cabo quarteleiro da [CCAÇ] 2530.
Já em Chaves as coisas, para a minha parte, não estavam a correr muito de feição, pois algo me dizia que iria ter problemas de relacionamento com alguns superiores.
Eu já tinha 13 meses de vida militar e, portanto, não era um novato. Mas fui sempre um otimista. Como quarteleira, era responsável por grande parte do material operacional, desde armas a colchões…
Quando chegámos a Viana do Castelo, foi-me perguntado por uma mala que continha munições, e da qual eu desconhecia totalmente. Indagados os meus superiores, chegou-se à conclusão que ela tinha ficado em Chaves e, portanto, era necessário ir buscá-la.
E lá fui eu, já não me recordo com quem mais, até Chaves e, depois de uma viagem atribulada, lá conseguimos regressar a altas horas da madrugada à capital do Minho.
No embarque e durante a viagem no “Niassa”, nada mais de anormal ocorreu. Chegados a Canjambari, lá me foram atribuídas as minhas responsabilidades, sempre debaixo das ordens de um sargento "trabalhador" e de um 1º sargento muito “atencioso”.
Tudo foi rolando com maior ou menor esforço até à altura de haver necessidade de se fazer um balanço, essencialmente dos cantis: faltavam quinze no stock!
Aqui foi a altura da porca torcer o rabo. Fez-se uma reunião na parada e vistoria às casernas, para pesquisar onde pudesse ter sido escondido esse precioso instrumento. Mas, depois de todo este aparato, nada foi detetado.
E, pronto, nesse dia voltou tudo ao normal, tudo ou quase tudo, pois eu como responsável máximo (, eu digo máximo pois abaixo de mim estavam o 1º e o 2º sargentos,) daquilo que tinha sido distribuído a todos os operacionais, tive como prémio ir um mês para o "mato" e, no final desse mês, fui deslocado para a "ferrugem", local de onde eu tinha sido deslocado em comissão de serviço.
Interessante foi quando fui escalado para fazer a minha primeira coluna. O nosso furriel foi ao meu lado para me dar o "consentimento". Foi lindo para mim esse dia de liberdade operacional.
Até irmos para Bissau, as coisas correram maravilhosamente bem. A equipa [de CAR] era muito boa: O Figueiras, o Alentejano, o Bigodes, o Duarte (ou o Rebenta-Minas), o Carneiro, o Nogueira,o Avelino, o Maurício… Deixei propositadamente para último o furriel Conceição [, furriel miliciano mecânico auto Nuno Mário Borges da Conceição].
Chegados a Bissau, fui confrontado com a necessidade do pagamento dos valores dos cantis desaparecidos. Ainda hoje me vem à memória a desculpa que tive de inventar para o meu Pai me mandar o dinheiro através de Carta de Valor Declarado para eu poder embarcar.
Enfim, coisas da nossa vida de militares.
1º Cabo Silva, Arrecadação
[transcrição em word, fixação e revisão de texto: LG; o 1º cabo Silva deve ser o 1º cabo condutor auto rodas (CAR) Joaquim Franscisco Santos Silva, de acordo com a relação nominal do pessoal da CCAÇ 2535]
___________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19241: Em bom português nos entendemos (18): "Chabéu" e não "xabéu"... (= fruto, dendê, e prato de peixe ou carne confeccionado com óleo de palma)
(**) Vd. poste de 29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...
(***) Seleção de postes com referências ao "quarteleiro":
11 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17958: Tabanca Grande (451): António Joaquim de Castro Oliveira, ex-1.º Cabo Quarteleiro da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), 760.º Tabanqueiro
29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...
5 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13463: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIX: A guerra dos colchões em que também esteve envolvido o Carlos Simôes, ex-fur mil op esp
13 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10665: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (2): Ainda a morte do Lajeosa, o nosso quarteleiro, vítima de tuberculose pulmonar
4 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10619: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (1): A morte do quarteleiro
10 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5799: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (30): Força Carlos
A designação mais corrente era "quarteleiro", mas também podemos encontrar no nosso blogue expressões equivalentes: "fiel da arrecadação", "1º cabo de manutenção de material"... Não sabemos se havia uma especialidade própria... Em geral, a função era ocupada por um 1º cabo, podendo haver um soldado "auxiliar de quarteleiro".
É um texto, delicioso pelo humor e a ironia... Para poder embarcar para a metrópole, e regressar a casa, o Silva, o "responsável máximo" do material, teve de pagar do seu magro bolso o valor de 15 cantis que faltavam no inventário final (pp. 107-108). (**)
Memórias de um cabo quarteleiro
Todos sabem que eu fui nomeado para cabo quarteleiro da [CCAÇ] 2530.
Já em Chaves as coisas, para a minha parte, não estavam a correr muito de feição, pois algo me dizia que iria ter problemas de relacionamento com alguns superiores.
Eu já tinha 13 meses de vida militar e, portanto, não era um novato. Mas fui sempre um otimista. Como quarteleira, era responsável por grande parte do material operacional, desde armas a colchões…
Quando chegámos a Viana do Castelo, foi-me perguntado por uma mala que continha munições, e da qual eu desconhecia totalmente. Indagados os meus superiores, chegou-se à conclusão que ela tinha ficado em Chaves e, portanto, era necessário ir buscá-la.
E lá fui eu, já não me recordo com quem mais, até Chaves e, depois de uma viagem atribulada, lá conseguimos regressar a altas horas da madrugada à capital do Minho.
No embarque e durante a viagem no “Niassa”, nada mais de anormal ocorreu. Chegados a Canjambari, lá me foram atribuídas as minhas responsabilidades, sempre debaixo das ordens de um sargento "trabalhador" e de um 1º sargento muito “atencioso”.
Tudo foi rolando com maior ou menor esforço até à altura de haver necessidade de se fazer um balanço, essencialmente dos cantis: faltavam quinze no stock!
Aqui foi a altura da porca torcer o rabo. Fez-se uma reunião na parada e vistoria às casernas, para pesquisar onde pudesse ter sido escondido esse precioso instrumento. Mas, depois de todo este aparato, nada foi detetado.
E, pronto, nesse dia voltou tudo ao normal, tudo ou quase tudo, pois eu como responsável máximo (, eu digo máximo pois abaixo de mim estavam o 1º e o 2º sargentos,) daquilo que tinha sido distribuído a todos os operacionais, tive como prémio ir um mês para o "mato" e, no final desse mês, fui deslocado para a "ferrugem", local de onde eu tinha sido deslocado em comissão de serviço.
Interessante foi quando fui escalado para fazer a minha primeira coluna. O nosso furriel foi ao meu lado para me dar o "consentimento". Foi lindo para mim esse dia de liberdade operacional.
Até irmos para Bissau, as coisas correram maravilhosamente bem. A equipa [de CAR] era muito boa: O Figueiras, o Alentejano, o Bigodes, o Duarte (ou o Rebenta-Minas), o Carneiro, o Nogueira,o Avelino, o Maurício… Deixei propositadamente para último o furriel Conceição [, furriel miliciano mecânico auto Nuno Mário Borges da Conceição].
Chegados a Bissau, fui confrontado com a necessidade do pagamento dos valores dos cantis desaparecidos. Ainda hoje me vem à memória a desculpa que tive de inventar para o meu Pai me mandar o dinheiro através de Carta de Valor Declarado para eu poder embarcar.
Enfim, coisas da nossa vida de militares.
1º Cabo Silva, Arrecadação
[transcrição em word, fixação e revisão de texto: LG; o 1º cabo Silva deve ser o 1º cabo condutor auto rodas (CAR) Joaquim Franscisco Santos Silva, de acordo com a relação nominal do pessoal da CCAÇ 2535]
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19241: Em bom português nos entendemos (18): "Chabéu" e não "xabéu"... (= fruto, dendê, e prato de peixe ou carne confeccionado com óleo de palma)
(**) Vd. poste de 29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...
(***) Seleção de postes com referências ao "quarteleiro":
11 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17958: Tabanca Grande (451): António Joaquim de Castro Oliveira, ex-1.º Cabo Quarteleiro da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), 760.º Tabanqueiro
29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...
13 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10665: Prosas & versos de Ricardo Almeida, ex-1º cabo da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71) (2): Ainda a morte do Lajeosa, o nosso quarteleiro, vítima de tuberculose pulmonar
10 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5799: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (30): Força Carlos
1 comentário:
... Noutros casos, as vítimas foram outros que não os quarteleirod... Histórias com colchões roubados, trocados, perdidos, desparacidos... deve havê-las em todas as companhias... Era mais fácil fazer um auto de ruina de um arma, desaparecida no mato, ou de granadas (de morteiro, de bazuca...) do que um colchão em falta no inventário...
Coisas da tropa!... LG
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