Montanha verde da saudade
Reclino minha cabeça na montanha verde da saudade.
Sorvo a temperança que sobe dos vales.
Me embriago nas delícias da brisa azul
que se solta livre do mar além.
Poiso ao de leve nas boninas coloridas como se fosse libelinha.
Sonho com as estrelas dum céu de Agosto.
Oiço as vozes lancinantes dos estrondos da história longínqua dos tempos.
Me recomponho feliz na paz do mar da consciência.
Ouvindo Händel Largo Orgel & Trompete
https://www.youtube.com/watch?v=eaxEWTJL6kw
Berlim, 8 de Dezembro de 2018
9h29m
JLMG
********************
Não sei para onde ir...
Não sei para onde ir.
Vou para a Feira Popular.
Em qualquer noite do ano,
Um oásis de paz e de alegria.
Universal.
Muita luz. Muita vida a esvoaçar.
Há carrocéis. A roda gigante.
Carrinhos eléctricos.
O poço da morte.
Rostos contentes. Famílias inteiras de braço dado.
Da cidade e de fora.
Passeiam nas ruinhas.
Pipocas e farturas verdes.
Cheiro de sardinhas.
Assadas no carvão.
Restaurantes com fartura.
Vinho da pipa. Cerveja imperial.
Café do Brasil.
Tanta coisa mais...Um não acabar.
Que noitada bem passada!
Tudo foi.
Já não há...
E, porquê?
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 3 de Dezembro de 2018
7h29m
JLMG
********************
Nunca é tarde...
Nunca é tarde para reparar nas coisas belas.
As mais pequeninas. Muito simples.
Estão na borda dos caminhos.
Flores sem nome.
Com libelinhas às cores.
Na casinha branca.
Muito baixinha.
Afitada a azul.
Um terreiro à frente.
Junto à estrada.
Com alegria dentro
e a dona ao sol.
A bordar o linho.
O sorriso puro, só a criança tem.
Um olhar profundo seus olhitos têm.
Que nos fulminam quando a olhamos.
Como ela vai bem.
Tão agasalhada.
Pela mão da mãe.
O esgar da jovem,
como se não fosse nada,
a fazer de conta,
quando um rapaz a mira
e a pareceu gostar.
Aquela fontinha eterna,
Onde nos leva a avó.
Faz o tanque cheio
e ainda rega o campo.
É um encanto vê-la.
O passarito só.
À mesma hora vem.
Canta seu rosário
e se vai embora.
O mendigo velho,
tão bondoso olhar.
Reza uma avé Maria,
quando lhe dão a esmola.
A padeirinha alegre,
com o açafate cheio,
corre a freguesia.
Deixa os seis paezinhos,
sem bater à porta.
A forja acesa,
ao raiar da aurora.
Como ama a vida
o ferreiro alegre.
Ouvem-se as pancadas
sobre o ferro em brasa.
O pedreiro chega
quando vem para casa.
Quem me dera agora
começar de novo.
Tanta coisa bela
Que nos passou ao lado.
Nunca será tarde.
Para saborear a vida.
Basta só querer...
Berlim, 6de Dezembro de 2018
9h25m
JLMG
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19252: Blogpoesia (597): "O render da Companhia...", "As carências" e "Magnos retrocessos...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
2 comentários:
Venho aqui pedir encarecidamente ao camarada J. L. Mendes Gomes que nunca deixe de nos presentear com a sua poesia, que é tão bela que me faz roer de inveja. Os seus poemas e as músicas com que por vezes os acompanham são momentos de beleza que muito aprecio neste blog.
Ao ouvir a versão para órgão e trompete do célebre Largo da ópera "Xerxes", de Georg Friedrich Händel, lembrei-me de uma versão para coro que encontrei há alguns anos no Youtube. Esta outra versão tem uma particularidade: é cantada e tocada por africanos, residentes na cidade de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Apesar de todas as dificuldades que enfrentam nas suas vidas do dia-a-dia, tal como é referido no vídeo, estes homens e mulheres são capazes de realizar um verdadeiro milgare de beleza e de emoção. O vídeo é este: https://www.youtube.com/watch?v=DFgRdexGNgU.
Aproveito para chamar a atenção para a seguinte interpretação do Canon de Pachelbel, feita por crianças pobres de Luanda, num vídeo que também já tem alguns anos: https://www.youtube.com/watch?v=6bM8VaID1zw.
Um abraço
Fernando de Sousa Ribeiro
Fico contente por apreciares minha poesia. Enquanto puder, escreverei. Um Bom Natal. Grande abraço.
Joaquim Gomes
Enviar um comentário