domingo, 2 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19252: Blogpoesia (597): "O render da Companhia...", "As carências" e "Magnos retrocessos...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


O render da Companhia...

Hora feliz da rendição.
No Cachil em guerra.
Duzentos presos em liberdade.
Era o fim.
À frente a mata.
Tanta incerteza,
Com o inimigo à espreita
E sem fim à vista.
Tanta hora de medo,
Nervos em franja,
Arriscando a vida.
Não há quem resista.
Até que, um dia,
No segredo dos deuses,
Chega uma LDM,
Com gente fresca.
Para a rendição...
Ó alvoroço!
Foi uma festa.
Pegámos nas trouxas,
Para Catió,
Outro mundo,
Terra com gente.
Cafés e lojas,
Uma igrejinha branca,
Muitas cubatas,
Tantas famílias.
Vivendo a vida.
Parecia o céu...

Berlim, 27 de Novembro de 2016
10h35m
JLMG


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As carências

Nosso motor de propulsão.
Sem elas se ficaria apático e sem sentido.
Duas fontes.
Do corpo e da alma.
A fome a sede.
O calor, a dor e o frio.
Sempre a gritar, até morrerem.
Para muitos, a razão da luta.
Bem piores são as da alma:
A solidão.
A indiferença.
O esquecimento.
A ingratidão.
A injustiça.
Vêm de fora.
Dependem da sorte.
De quem vai connosco.
Não está à mão o seu remédio.
Quantas vezes é inglória a sua luta.
Só uma ideia-força.
Uma crença sólida nos dão paz
E o sentido à vida...

Bar Edeka, em Berlim, 1 de Dezembro de 2018
16h6m
JLMG

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Magnos retrocessos…

Magnos retrocessos na senda da cultura ocidental a partir do século XX.
Quando o homem chegou à lua e passou a velocidade supersónica.
Se ligou a humanidade por emaranhadas redes sociais.
O que se passa aqui chega logo a todo o lado.
Se alcançaram métodos de perscrutar nosso organismo sem verter uma gota de sangue.
E o computador quase ultrapassa o cérebro humano.
E, depois destas maravilhas, o mundo inteiro vive em guerra permanente e sanguinária
E a riqueza deste mundo está nas garras de meia dúzia de famílias.
Enquanto mais de metade da humanidade passa fome de pão e de justiça…

Berlim, 1 de Dezembro de 2018
9h45m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19230: Blogpoesia (596): "Nossa terra, nosso País", "Negra e só nas terras d'África..." e "Sé de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

4 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomes.
Realmente, 'O render da Companhia' é ver imagens de Cachil!!!
Enfim, sair de lá foi sair pra liberdade.
Lá ficaram as aves de vidro, piando ao vento no arame farpado.
Adeus bidon ville da nossa Via Sacra.

Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Só nós que por lá andamos sabemos o que passamos. E para quê? Em duas penadas, dadas por anti-patriotas, foi tudo sepultado no vale do esquecimento. Pela mão d'alguém que calcara a bandeira nacional no chão de Inglaterra...E voltou a calcá-la com a vergonhosa descolonização.
Enfim, tristes páginas da nossa História.

Haja saúde. Um grande abraço e um Bom Natal.
Joaquim Mendes Gomes

Valdemar Silva disse...

Joaquim Mendes Gomes
É verdade, haja saúde e um Bom Natal.

E, sabe-se, que essa das calcadelas da bandeira, foi uma fak news lançada pela PIDE.
Um republicano e maçon pisar a Bandeira Nacional republicana não lembra ao diabo.

Um grande abraço
Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Se tu o afirmas assim tão peremptóriamente eu acredito e fico mais aliviado.

Um grande abraço.
JMendes Gomes