domingo, 28 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20016: Blogpoesia (630): "Veleidades...", "Quero lá saber..." e "Minha praia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Veleidades...

Frutos dum sonho, ficamos carentes de sonhos.
Por isso, sonhamos.
O que temos e não temos.
Insaciáveis.
Já não chega o que há.
A ilusão nos seduz.
Sofremos.
Se tarda ou não vem.
Quanto mais longe pior.
Gastamos o presente com a incerteza dum futuro.
Um apelo em nós, ninguém sabe donde vem.
E, depois, ainda não é o que se quer.
Por certo que há melhor...

Bar "Castelão" em Mafra, 22 de Julho de 2019
11h14m
Jlmg

********************

Quero lá saber...

O que importa é o meu cantinho bem arrumado.
Que eu esteja bem e os meus.
Cada um se arranje como bem puder.

Parece impossível. Mas é verdade.
É assim que pensa e age a maior parte da gente que anda a nosso lado.
Egoísmo total.

A idolatria da modernidade arrastou-nos para esta pobreza.
Perdeu-se o valor do humanismo.

Somos seres, por natureza, solidários, interdependentes.
Precisamos todos uns dos outros.
Cada um tem seus talentos.
E quem o tem faz muito melhor que o que o não tem.
Se forem postos ao serviço nosso e dos outros, assim se alcança a maior riqueza.
A melhor condição, instituída naturalmente, para se viver bem.
Que há de melhor que saber que na hora em que se precisa, há quem acuda sem cobrar.

Quem se afasta desta linha fica muito mais pobre.
Não é o dinheiro que nos torna verdadeiramente ricos.

Mafra, 25 de Julho de 2019
17h20m
Jlmg

********************

Minha praia

Não tem areia a minha praia.
Só pedras, algas e penedias.
Suas ondas albas me embalam.
Que frescura se desprende.
Tem o perfume das maresias.
Não sei viver sem ela.
É um deserto quando me afasto.
Uma loucura boa quando volto.
É verde a minha praia, cor da esperança.
Cheira a algas e sabe a sal.
Lá ao fundo, há um castelo.
Dormem nele as gaivotas.
Depois do dia à beira-mar.

Ouvindo Dvořák - The Water Goblin
Bar Castelão em Mafra, 26 de Julho de 2019
9h11m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de21 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20000: Blogpoesia (629): "Papel almaço", "A voz..." e "A ajuda...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro amigo poeta

Como habitualmente, costumo ler os teus poemas.
Também como habitualmente, pouco ou nada comento sobre eles.
E também como habitualemente, ainda, explico que isso se deve à minha pouca sensibilidade para comentar poesia, que gosto bastante da forma como os poetas descobrem palavras, frases, "imagens" para expressar os seus pensamentos e/ou opiniões. Aprecio também o estilo "conto" já que nesse caso é preciso arte para, em forma de economia de palavras, começar, desenvolver e terminar (ou pelo menos apontar uma conclusão) uma história.

Nestes teus três poemas de hoje "vejo" o seguinte:
No primeiro, a confissão de que foram muitos os sonhos, que a maior parte deles se esfumou, mas a esperança que nem tudo esteja perdido para sempre e que melhores dias poderão (e deverão, digo eu) vir.
No segundo, lamentas o egoísmo que invadiu as nossas vivências. É justo o teu lamento quando referes o "egoísmo total". Também quando escreves "A idolatria da modernidade arrastou-nos para esta pobreza. Perdeu-se o valor do humanismo." Mas também dizes que "Somos seres, por natureza, solidários, interdependentes. Precisamos todos uns dos outros." Ora bem, não sei se somos isso "por natureza" ou se foi por "necessidade" desenvolvida ao longo de séculos. Sei que agora o desenvolvimento do individualismo, do egoísmo, não me parece "coisa natural" mas sim induzida para melhor se obter este efeito de falta de solidariedade e para mais facilmente podermos ser (como sociedade) dominados e manipulados.
No terceiro.... fiquei a saber que tens uma praia que não é praia. É mais uma "ideia de praia". Calculo que a maresia e as ondas te transportem para melhores lugares, certamente "mentais" mas essa é a beleza da imaginação.

E pronto, por hoje já comentei.
Não prometo que o volte a fazer tão cedo. Prometo apenas que continuarei a ler.

Abraço
Hélder Sousa

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Um comentário de mestre. Sabes bem dizer o que pensas e sentes. Bom intérprete porque tens sensibilidade...

Um grande abraço
Joaquim

Jose Martins Rodrígues disse...

Caro camarada Gomes.
Costumo ler,sem comentar, os teus "poemas".
Mas hoje, em particular no "Quero lá saber" passas-te uma mensagem que tanta falta faz nestes dias carregados de seres humanos que só olham para o seu umbigo.
Obrigado camarada.
José Rodrigues

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Caro José Rodrigues

Ainda bem que me lês. Mesmo sem comentar é bom saber.
Pois, a minha mensagem é essa mesmo.
Um abraço
Joaquim Gomes