sábado, 3 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20032: Os nossos seres, saberes e lazeres (346): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Primeiro o assombro de regressar a Gand, parece que nunca aqui se tinha estado, o que não é verdade, a cidade aprimorou-se, introduziu arquitetura arrojada no seu casco histórico, recuperou mercados, lavou fachadas, continua a querer rivalizar com Bruxelas, Antuérpia e Bruges, como destino turístico.
Há um dado que impressiona o viandante, é o caráter dinâmico da cidade, foi um potente polo industrial, por isso ficou conhecida como a Manchester do continente, foi palco dos primeiros movimentos socialistas e sindicatos modernos, e se não tivesse tido tanto dinamismo e tanto para oferecer aos forasteiros não teria sido escolhida para a Exposição Universal de 1913.
É bom voltar a Gand, 15 anos depois do último contacto e respirar esta vida garrida e o tanto cuidado na preservação do património.

Um abraço do
Mário


Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (8)

Beja Santos

A próspera Gand medieval e dos tempos modernos teve ousadia para saltar a tempo nos tempos industriais, ficou conhecida como a Manchester do continente, não foi por acaso que chamou a si a Exposição Universal de 1913, uma inesquecível mostra de modernidade e confiança no progresso, revelou-se uma concorrente de Bruxelas e de Antuérpia. Gand sofreu bastante com a ofensiva final dos Aliados, mas soube levantar-se, e se era a cidade que tinha três famosas torres, acrescentou-lhe uma quarta, a Torre dos Livros, é esta a cidade que hoje o viandante percorre, anda para ali amargurado com a escassez do tempo, já percorreu o Castelo do Conde da Flandres, veja-se esta imponência, vai agora para o campanário municipal, dali se desfruta uma impressionante panorâmica, como vamos ver.




Os campanários municipais da Flandres e da França eram o símbolo por excelência da liberdade, poder e prosperidade das cidades, por razões de segurança aqui se instalavam arquivos, a caixa-forte e muitas vezes a prisão. O campanário municipal de Gand é Património da Humanidade por decisão da UNESCO, tem belos carrilhões, nos seus diferentes pisos instala-se maquinaria, relojoaria, e no topo do monumento ondula orgulhoso o dragão de Gand, o emblema da cidade.


Sobe-se à torre e houvesse uma câmara mais eficaz e dar-se-ia ao espetador uma longitude impressionante, paciência, é o que se sabe fazer, mas parece o suficiente para ter vontade de aqui vir.



O que mais alicia quem por aqui deambula é a harmonia das praças, o cuidado na preservação das fachadas, tudo bem articulado, espaçoso, apetece andar de um lado para o outro, fotografar edifício a edifício, caminhar pelas pontes, espreitar os velhos armazéns, o que vendia peixe, cereais ou pão reconverteu-se em estabelecimentos de confeções e decorações.



A Igreja de S. Nicolau é uma joia dos princípios do século XII, e escusado é dizer que não parou no gótico, veja-se a magnificência do barroco, S. Nicolau era o patrono dos comerciantes e dos marítimos, investiram em força na casa do patrono. Tem uma torre de cruzeiro espetacular, acaba por atuar como uma lanterna natural, deixando penetrar os raios de luz diretamente no transepto.



A Igreja impressiona por refletir a vida quotidiana e a prosperidade e dinâmica dos marítimos e comerciantes, as diferentes guildas possuíam as suas capelas, ornavam as paredes, vejam-se esta opulente imagem e a ocupação das naves. É hora de deixar Gand, o viandante sente o amargo de boca, quer rever a Catedral de Saint-Bavon, voltar à Igreja de S. Miguel, conhecer os museus, flanar pelas praças, o tempo está de feição, encolhe os ombros resignado, o melhor é deixar os sonhos em aberto e regressar à estação de caminhos-de-ferro.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20015: Os nossos seres, saberes e lazeres (345): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (7) (Mário Beja Santos)

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