segunda-feira, 29 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20018: Notas de leitura (1203): “Revolução na Guiné”, uma antologia de discursos, conferências, declarações do fundador do PAIGC; edição e tradução de Richard Handyside, 1969 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
É bem agradável sermos surpreendidos por uma oferta de um livro que totalmente desconhecíamos como edição, as publicações mencionadas numa brochura do CESO - Centros de Estudos, Economia e Sociedade, uma relação que se iniciou em 1976 e vem até à atualidade.
Tudo começou com uma viagem de curso do meu amigo José Neto que em Nova Iorque comprou numa livraria de Panteras Negras o livro, e que agora mo ofereceu. Foi um serão cheio de memórias dos tempos em que trabalhamos próximos, depois do 25 de Abril, à saída deu-me este comunicado com data de 13 de Novembro, que espelha os tempos tremendamente difíceis que atravessa a Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário




Textos de Amílcar Cabral numa livraria de Panteras Negras, Harlem, 1972

Beja Santos

Há talvez três anos atrás, andava num passeio matinal numas ruas transversais da Avenida Rio de Janeiro, vejo parar um carro e dele sair o José Neto, que não via há anos. Cumprimentos efusivos e dele vem uma notícia agradável: “Tenho lido o que escreves sobre a Guiné, há uma surpresa para ti, um dia destes telefono-te”. E assim se passaram três anos, até que se acertou na data de um serão para a entrega de surpresas.

E lá fomos seroar na noite de 14 de Novembro. O primeiro presente tinha a ver com a sua viagem de curso, em 1972, à Costa Leste dos Estados Unidos e cidades do Canadá. Em Nova Iorque, meteu-se num autocarro na Broadway e foi até ao Harlem, foi aqui, numa livraria de Panteras Negras que adquiriu “Revolução na Guiné”, edição e tradução de Richard Handyside, 1969. Trata-se de uma antologia de discursos, conferências, declarações do fundador do PAIGC: numa conferência no Cairo, em 1961, caracterizando o colonialismo português e definindo os seus aliados; junto do comité especial das Nações Unidas, em Conacri, 1962, desmontando a nova legislação portuguesa sobre os chamados territórios ultramarinos, revelando as formas de repressão, o número de presos e guineenses mortos pelas tropas portuguesas, salientando as fórmulas de cooperação entre os movimentos de libertação das colónias portuguesas; a declaração de não alinhamento do PAIGC numa conferência no Cairo, em 1964; análise da estrutura social da Guiné, texto muito divulgado sobre o pensamento de Amílcar Cabral, apresentado no Centro Frantz Fanon, Milão, 1964; ponto de situação apresentado numa conferência em Dar-Es-Salaam, em 1965 sobre o trabalho dos movimentos nacionalistas nas colónias portuguesas; algumas das palavras de ordem constantes das diretivas do partido, 1965; estrato da sua célebre comunicação na conferência Tricontinental de Havana, Janeiro de 1966, ficaria conhecida como “a arma da teoria”; a declaração preparada para a OSPAAAL, Dezembro de 1968, contextualizando o desenvolvimento da luta na Guiné-Bissau e suas perspetivas; declarações produzidas em Dakar em Março e Dezembro de 1968, na entrega à Cruz Vermelha de militares portugueses presos pelo PAIGC; exposição sobre problemas práticos e táticas, entrevista para a revista Tricontinental, Setembro de 1968; mensagem para o povo português, declaração na rádio Voz da Liberdade, Cartum, 1969; em direção à vitória final, entrevista concedida durante uma conferência em Cartum, 1969; mensagens de Ano Novo, Janeiro de 1969; em apêndice o programa do PAIGC.

Esta publicação estava associada a uma importante revista da Esquerda norte-americana, a Monthly Review, editada por Paul Sweezy e Harry Magdoff, socialistas independentes.

Nota curiosa: suponho que o guerrilheiro que está à esquerda de Amílcar Cabral é Arafan Mané, muito falado nos últimos tempos no blogue.

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35 anos da história da Guiné-Bissau

O CESO – Centros de Estudos, Economia e Sociedade (ceso.pt), editou em 2015 uma brochura com a relação de todos os projetos da empresa com a Guiné-Bissau entre 1976 e a atualidade. Esses projetos incluíram cursos sobre planeamento, seminários, assistência técnica, estudos de viabilidade, avaliações económicas e financeiras, e algo mais. O rol de publicações é elucidativo em artigos, materiais relacionados com cursos de formação, estudos, análises económicas. Qualquer estudioso da Guiné-Bissau tem tudo a ganhar em conhecer estes materiais.


A crise política atual na Guiné-Bissau

Nos dias que correm, a Guiné-Bissau mantém-se em profunda instabilidade. No passado dia 13 de Dezembro, o Espaço de Concertação Política dos Partidos Democráticos (que congrega o PAIGC, PCD, UM, PUN, PST e MP) produziu um comunicado a repudiar os procedimentos políticos do presidente da República, considera este espaço que o presidente da República se afasta perigosamente da ordem democrática e constitucional do país, avançando com a nomeação do seu governo, o que é uma violação do acordo de Conacri, e escreve-se:
“O espaço manifesta seu profundo repúdio perante a flagrante e persistente violação dos direitos constitucionais, humanos, políticos e sociais, que se consubstanciam no sequestro dos órgãos públicos de comunicação social e na proibição de manifestações públicas. Registe-se a propósito as mais recentes declarações em que o presidente da República assume o poder do uso da força para tudo fazer, incluindo mandar prender, espancar e mesmo matar”.
É um alerta para que a comunidade internacional acompanhe a evolução dos acontecimentos, e o espaço reafirma que aguarda a clarificação sobre o Consenso de Conacri, que se considera a única via alternativa à imediata convocação de eleições.
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Nota do editor

Último poste da série de26 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20013: Notas de leitura (1202): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (16) (Mário Beja Santos)

5 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Panteras negras em Harlem, USA, Amílcar Cabral a entoar a sua música dos amanhãs que jamais cantaram. Mário Beja Santos,o semi-dono deste blogue, louvo-lhe a sua útil capacidade de investigação e, a meu ver, o seu enviesado entendimento. Difícil escrever ou comentar diante de tanta vaidade intelectual.
Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

A Guiné sempre atravessou tempos difíceis, mas agora são catastróficos.Aliás de há uns anos a esta parte.E os do costume só falam e dizem mal dos portugueses.É um bater constante que já chateia e revolta.Até duvido que haja alguma verdade intelectual, mas sobre isso não vou discutir com o Mário Beja Santos, até porque levaria com um exército em cima, como já me aconteceu por não partilhar das suas ideias #dele#.
Carlos Gaspar

Hélder Valério disse...

Uma tristeza, a provocação constante, insistente.
Parece viver de e para isso.
É pá, mata o gaijo!
"Morto o bicho, mata-se a peçonha".

Hélder Sousa

Manuel Luís Lomba disse...

Julgo oportuno lembrar que Amílcar Cabral não chegou a liderar uma nação - enformou e dirigiu um Partido-Estado e armado, plasmou-lhe complexos e, enquanto homem do seu tempo, demonstrou o seu talento ao comando da Guerra da Guiné, não será ganha pela Nação guineense, mas pela Comunidade internacional e pela qualidade do armamento russo. Os exércitos não fazem nações, são as nações que fazem os exércitos. O tempo tem demonstrado à saciedade que a problemática da Guiné não estava nem na colonização nem na cultura portuguesa.
Aparentemente, a Guiné também é paciente do sindroma da corrupção. E se esse seu pecado original foi contraído pelo PAIGC antigo, o novo PAIGC criou oportunidades de salvação. Os seus primeiros-ministros engenheiros Carlos Gomes Júnior e Simões Pereira são empresários de sucesso. Será a causa da sua preterição?

Valdemar Silva disse...

Luis Lomba
A guerra na Guiné terminou sem haver, de facto, vencedores ou perdedores no 'campo de batalha'.
O meu neto, de nacionalidade holandesa, no fim de Curso Secundário apresentou o tema Fim de Curso 'Os jovens portugueses na guerra da Guiné', em que
ela afirmava que a guerra tinha acabado por os portugueses terem dado a independência à população da antiga colónia. Por acaso, o tema de Fim de Curso apresentado foi apurado e elogiada a consulta de época (eu só lhe forneci algumas fotos e estatistas da tropa na guerra 1961-1974) mas não publicado por conter imagens e descrição de cenas de guerra.

Ab.
Valdemar Queiroz