Guiné > Região do Oio > Mapa de Farim (1954) > Escala de 1/50 mil > Posição de Morocunda, bairro de Farim.
Guiné- Bissau > Região de Oio > Farim > Março de 2008 > Cádi ou Cati, uma sobrevivente dos trágicos acontecimentos de 1 de novembro de 1965. O António Paulo Bastos conheceu-a, ma Missão Católica, na altura da sua 3ª viagem à Guiné-Bissau.
Excerto de relatório sobre o período de 1 a 30 de novembro de 1965, inserido na história do BART 733, Bissau e Farim, 1964/66). Cortesia do nosso camarada e grã-tabanquerio António Paulo Bastos,
ex-1º Cabo do Pelotão de Caçadores 953 (Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66) (*).
1. Ainda está envolta em controvérsia a responsabilidade material e moral dos trágicos acontecimentos de 1 de novembro de 1965, em Morocunda [e não Morucunda...], nas imediações de Farim (**), aqui relatados em primeira mão pelo António Bastos, em 2009, em 3 postes (*) mas já referidos antes pelo Virgínio Briote (***)...
Só conhecemos a versão da PIDE e do BART 733, atribuindo a responsabilidade do atentado a "elementos subversivos"... Tanto quanto sabemos, o PAIGC nunca reivindicou a autoria deste horrendo atentado, que teve um balanço trágico, segundo o documento acima reproduzido: 27 mortos e 70 feridos graves, além de feridos ligeiros, entre a população civil; um ferido grave, entre as NT.
Só conhecemos a versão da PIDE e do BART 733, atribuindo a responsabilidade do atentado a "elementos subversivos"... Tanto quanto sabemos, o PAIGC nunca reivindicou a autoria deste horrendo atentado, que teve um balanço trágico, segundo o documento acima reproduzido: 27 mortos e 70 feridos graves, além de feridos ligeiros, entre a população civil; um ferido grave, entre as NT.
CARNIFICINA EM FARIM
1 de Novembro de 1965
Camaradas,
No passado dia 1 [de novembro de 2009] completaram-se 44 anos, sobre um ataque que me marcou profundamente. Tenho duas fotos de uma das sobreviventes e lembrei-me de enviar para serem publicadas no blogue.
Tudo aconteceu em Farim, resultante do rebentamento de um engenho explosivo, em pleno batuque na tabanca do Bairro da Morocunda.
Eram 21h30, quando um elemento da milícia lançou um fornilho (uma granada embebida em pregos, lâminas e bocados de ferros), para o meio do pessoal presente.
27 mortos e 70 feridos graves, uma deles era uma senhora que podem ver nas fotos e que, nessa altura, era ainda uma criança de 10 anos. Chama-se Cáti, mora atualmente em Farim e, em março de 2008, fui encontrá-la numa festa na Missão Católica em homenagem a um grupo de turistas “tugas”, que por ali passaram 2 dias.
Como tudo aconteceu: eu pertencia ao Pelotão Caçadores 953 e estava nesse dia de passagem por Farim, a caminho de Canjambari. No momento da explosão, eu estava junto à porta da caserna do pelotão de morteiros. Logo de seguida, começaram a passar viaturas com corpos em cima, a caminho das enfermarias civil e militar.
O engenho, duas granadas reforçadas com explosivos, pregos e lâminas, foi lançado para o meio do batuque onde era suposto estar muita tropa, o que não aconteceu, porque se tinha feito uma operação e o pessoal estava ainda a descansar.
Pela primeira vez na Guiné um Dakota levantou de noite para proceder à evacuação dos feridos.
No dia seguinte já se encontravam presos na 1.ª Companhia de Caçadores em Nema (Farim), 60 indivíduos entre eles: Pedro Mendes Fernandes, Bernardo da Cunha, Raul Teixeira Barbosa, José Maria Jonet, Dionísio Dias Monteiro, Pedro Tertuliano, Dionísio da Silva Pires (este empregado dos CTT) e muitos mais, todos empregados das repartições públicas e casas comerciais.
As prisões foram feitas pelo agente da Pide, de nome Prodízio e militares da CCS do BART 733. (...)
(...) No relatório falam de um agente da PIDE. O seu nome era Prodísio (nunca mais me esqueci) e, em conversa com a Cáti (ou Cádi, não me lembro exactamente), ela confirmou-me que, depois de recuperada dos graves ferimentos que sofreu, regressou a Farim, tendo sido empregada na casa dele.
(...) Nota da historiadora: Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar, afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.
Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).
1 de Novembro de 1965
Camaradas,
No passado dia 1 [de novembro de 2009] completaram-se 44 anos, sobre um ataque que me marcou profundamente. Tenho duas fotos de uma das sobreviventes e lembrei-me de enviar para serem publicadas no blogue.
Tudo aconteceu em Farim, resultante do rebentamento de um engenho explosivo, em pleno batuque na tabanca do Bairro da Morocunda.
Eram 21h30, quando um elemento da milícia lançou um fornilho (uma granada embebida em pregos, lâminas e bocados de ferros), para o meio do pessoal presente.
27 mortos e 70 feridos graves, uma deles era uma senhora que podem ver nas fotos e que, nessa altura, era ainda uma criança de 10 anos. Chama-se Cáti, mora atualmente em Farim e, em março de 2008, fui encontrá-la numa festa na Missão Católica em homenagem a um grupo de turistas “tugas”, que por ali passaram 2 dias.
Como tudo aconteceu: eu pertencia ao Pelotão Caçadores 953 e estava nesse dia de passagem por Farim, a caminho de Canjambari. No momento da explosão, eu estava junto à porta da caserna do pelotão de morteiros. Logo de seguida, começaram a passar viaturas com corpos em cima, a caminho das enfermarias civil e militar.
A maioria das vítimas eram crianças e, entre elas, estava a Cáti. Foi chamado um Dakota e recorreu-se à iluminação da pista de aterragem, com os faróis das viaturas, para se evacuar aquela gente toda.
Agora, passados estes anos, fui encontrar uma das sobreviventes e, como não podia deixar de ser, estivemos a falar do assunto, tendo ela permitido que eu obtivesse as 2 fotos do seu cicatrizado corpo. (...)
Agora, passados estes anos, fui encontrar uma das sobreviventes e, como não podia deixar de ser, estivemos a falar do assunto, tendo ela permitido que eu obtivesse as 2 fotos do seu cicatrizado corpo. (...)
(ii) Poste P7205, de 1 de novembro de 2010:
(...) Neste fatídico Dia 1 de novembro de 1965, pelas 21:30, horas estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari, quando se dá um rebentamento no Bairro da Morocunda em Farim que causou a morte a 27 pessoas, 70 feridos graves e vários ligeiros, todos civis. As NT sofreram 1 ferido grave e um ligeiro.
(...) Neste fatídico Dia 1 de novembro de 1965, pelas 21:30, horas estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari, quando se dá um rebentamento no Bairro da Morocunda em Farim que causou a morte a 27 pessoas, 70 feridos graves e vários ligeiros, todos civis. As NT sofreram 1 ferido grave e um ligeiro.
O engenho, duas granadas reforçadas com explosivos, pregos e lâminas, foi lançado para o meio do batuque onde era suposto estar muita tropa, o que não aconteceu, porque se tinha feito uma operação e o pessoal estava ainda a descansar.
Pela primeira vez na Guiné um Dakota levantou de noite para proceder à evacuação dos feridos.
No dia seguinte já se encontravam presos na 1.ª Companhia de Caçadores em Nema (Farim), 60 indivíduos entre eles: Pedro Mendes Fernandes, Bernardo da Cunha, Raul Teixeira Barbosa, José Maria Jonet, Dionísio Dias Monteiro, Pedro Tertuliano, Dionísio da Silva Pires (este empregado dos CTT) e muitos mais, todos empregados das repartições públicas e casas comerciais.
As prisões foram feitas pelo agente da Pide, de nome Prodízio e militares da CCS do BART 733. (...)
(...) No relatório falam de um agente da PIDE. O seu nome era Prodísio (nunca mais me esqueci) e, em conversa com a Cáti (ou Cádi, não me lembro exactamente), ela confirmou-me que, depois de recuperada dos graves ferimentos que sofreu, regressou a Farim, tendo sido empregada na casa dele.
No mês de narço de 2008, ao passear com a Cáti em Farim, ela disse-me onde tinha morado o tal PIDE e onde trabalhava.
Sobre relatórios, tenho em meu poder, ainda, os do BART 733 e do BCAV 490, pois foram os batalhões onde estive adido. (...)
Em 2007, o Virgínio Briote já se te tinha referido a este ato de terrorismo, citando o testemunho de um preso político entrevistado pela historiógrafa Dalila Cabrita Mateus (**): Pedro Pinto Pereira, nascido em Bissau, em 1926, preso e desterrado para São Nicolau, Angola (1966-1969), libertado no tempo do Spínola. Será mais tarde preso depois da independência da Guiné-Bissau, acusado de colaboracionismo.
O Virgínio Briote também estava lá nessa altura, em Farim (***)
______________
(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente,
(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a certeza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população? Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965. (...)
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
3 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5203: Efemérides (30): 1 de Novembro de 1965 - Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
4 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (32): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
(***) Vd. poste de 18 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. "Memórias do Colonialismo e da Guerra", de Dalila Cabrita Mateus (Virgínio Briote)
1 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7205: Efemérides (54): O fatídico dia 1 de Novembro de 1965 (António Bastos)
(**) Último poste da série > 19 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16317: Controvérsias (132): Quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto... A morte do comandante Mamadu Cassamá,e as viaturas blindadas, em Copá, em 7/1/1974 (confrontando duas versões, a do guineense Bobo Keita, "o comandante dos tanques anfíbios" e a do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera)
(***) Vd. poste de 18 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. "Memórias do Colonialismo e da Guerra", de Dalila Cabrita Mateus (Virgínio Briote)
(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a certeza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população? Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965. (...)
(...) Nota da historiadora: Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar, afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.
Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).
(****) Vd. poste de 6 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14975: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IX Parte): Mais dois lugares è mesa; Bomba em Farim e Rumo a Barro
14 comentários:
Caros amigos,
Um pouco de história e etnografia da guiné e/ou da Senegambia:
Morcunda, Morocunda ou Moricunda é a designação em mandinga, do Bairro ou localidade (assentamento) de mandingas de confissão muçulmana, assim como Fulacunda significa assentamento de Fulas, na mesma lingua. Estas terminologias teriam sua origem no império de Kaabu ou Gabu, em meados do sec. XIX, com o aparecimento das guerras de Djihad e dos primeiros reinos teocraticos fundados por Marabus fulas e Saracolés no territorio do actual Senegal, Mali e Guiné-Conakri.
O prefixo Moro ou Mori faz referência aquele que deixou a religião tradicional dos Soninquês (idólatras) e se converteu a religião dos Mouros ou Maures (Mauritanos e Marroquinos) e aprendeu alguns versículos coránicos e sua escrita em Árabe.
Cunda, como se pode notar nos topónimos de muitas aldeias da Guiné, significa localidade ou habitação em Mandinga.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Realmente, este relatório do BART 733 (História da Unidade ??) que deveria ter sido redigido, pelos pormenores quase policiais do acontecimento e com os nomes dos implicados, muitos dias depois para ser 'gémeo' ou 'encomenda' com o da PIDE.
Com a prisão dos implicados, que na sua maioria parecem ser cabo-verdianos e até foi apanhado o autor e o dinheiro para pagamento do atentado, faz lembrar o célebre incêndio do Reichstag (Berlim), em Fev/1933, e o que a seguir aconteceu.
Parece, não tenho a certeza, já ter lido que teria sido alguém da NT quem atirou as granadas para acabar com o batuque para poderem dormir/descansar depois de um dia de operações de combate.
Seria interessante haver alguns depoimentos/opiniões sobre este trágico atentado, para não haver dúvidas sobre o que verdadeiramente aconteceu.
Valdemar Queiroz
Valdemar, os Viriamus, e as baixas de Cassange e os Pidgiquitis foram todos denunciados, e até em geral ampliados e desmultiplicados, não só pelo IN como pelos amigos do IN, tais como missionários e afins, como por nós próprios que não estavamos preparados para guardar segredos militares e somos tagarelas, sem falar no "nosso" pessoal especializado radicado em Argel para denunciar qualquer suspeita de massacre.
Valdemar, em Angola a Unita e as facções do MPLA, usavam granadas e morteiros para derrubar cubatas de capim, de sanzalas que não alinhassem com eles.
Não "iam a bem iam a mal"
Vimos no leste e sueste de Angola.
Valdemar, houve doidos varridos, dos nossos, capazes de tudo, mas esses davam logo nas vistas.
Não vamos por aí Valdemar, era preciso uma subtileza que nos ultrapassa.
O Prodísio não é nome de (a)gente. Temos que concordar.. com o Rosinha. LG
OK, Rosinha
Mas cá pra nós, o 'tóto' autor do trágico atentado confessou tudo titim por titim, como tudo foi organizado, o nome, morada, profissão de todos os outros implicados, só não sabia a idade ao certo, que os 14.000$00 que lhe pagaram era para fazer um grande cruzeiro às Caraíbas e sim senhor foi ele que pegou fogo à água do chafariz.
Evidentemente que estou a ironizar, mas que havia gente com grande subtileza nas ultrapassagens havia, pudera nem respeitavam os sinais de trânsito.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Olá Camaradas
Circula pela Net uma lista com os nomes dos agentes da PIDE.
Pode ser que o tal Prodísio lá venha e com a uma identificação mais completa.
Também houve um atentado semelhante em Ganturé, por volta de 1967 que um camarada nosso já descreveu. O "modus operandi" é o mesmo: duas granadas defensivas para o meio do batuque.
Aceito, como técnica de terror, o ataque a quem hesita ou não "colabora", mas, na guerra subversiva, sempre achei e continuo a achar ineficaz e contraproducente por não conseguir captar a população. É uma técnica do invasor. Digo eu...
Não estava lá, por isso não sei "justificar" uma captura em massa de homens e mulheres sobre a acusação de terem permitido ou incentivado o atentado. A menos que já houvesse "forte suspeita"...
"Ganda Olho" aquela de terem prendido o autor!
Em que é que se fundamentaram para ter tal certeza?
É natural que os funcionários - quase todos cabo-verdeanos - da Casa Gouveia, pertencessem ao PAIGC. Os dois de Mansabá assumiram-se como tal, em 1974, assim como o libanês que por ali vivia "lançado" com uma "cantina". Enfim, a "resistência" tinha a sua rede que nós negligenciávamos. Se calhar devíamos ter desconfiado mais...
Por exemplo: no Xime talvez umas rondas musculadas à tabanca se justificassem...
Um Ab.
António J. P. Costa
Olá Camaradas
O agente da PIDE de que falámos acima é:
José Pais Pisoeiro
Agente de 1.º classe - Angola
Filho de José Pais Pisoeiro e Hortênsia de Jesus´
Natural da Freguesia de Rio de Moinhos, Concelho de Sátão
Nascido a 10OUT930
Solteiro
(Elementos referentes a 1975)
Pisoeiro é o que pisoa e pi·so·ar - Conjugar
(pisão + -ar)
verbo transitivo
é bater (o pano) com o pisão. = APISOAR
"pisoar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/pisoar [consultado em 08-09-2019].
Um Ab. e bom Dromingo
António J. P. Costa
Caros amigos,
A lista das pessoas presas na sequência do atentado em Farim, actos premeditados e que se repetiram em outras localidades, com o objectivo claro de afastar e isolar os elementos Crioulos e Caboverdianos do resto da população, tendo em atenção as profissões que exerciam e o nivel de formação de base implícito mostra-nos, se necessário fosse, porque é que o país estava despido de quadros preparados e capazes de assegurar o funcionamento da administração após a independência, o que, aliado a intolerância, falta de visão e avidez dos Paigecistas levaria inevitávelmente o país ao estado que conhecemos, pois um país não pode organizar-se como deve ser se não tiver elites, lideranças esclarecidas e capazes. Não é crível que pudesse haver uma rede tão densa de subversivos só numa cidade e em 1965.
Ao contrário do A. Rosinha e outros, penso tratar-se de um acto planeado de dentro, talvez sem pensar nas consequências que depois teve e aproveitaram para uma limpeza geral de tudo e de todos, pois nem os alfaiates e sapateiros escaparam da purga.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Na altura encontrava-me em Nova Lamego em "consulta externa" e na messe dizia-se os dois fornilhos foram mandados lançar por dois comerciantes brancos, que a tropa os liquidou e até se dizia o nome dum sargento do QP que rachou um deles com o machado da sua loja.
Ab.
Manuel Luís Lomba
Olá Camaradas
Fornilhos? De acordo com o manual de minas e armadilhas e há vários de entre nós que infelizmente o conhecem, fornilho é uma carga explosiva enterrada que é detonada por vários modos quando é julgado "oportuno". Se bem li tudo se passou com duas granadas de mão defensivas reforçadas com explosivos acoplados e peças metálicas que reforçariam o poder letal pela projecção de estilhaços...
Estou confuso. Fornilhos pressupõe que a área onde o batuque ia ter lugar foi dotada de duas cargas explosivas que alguém depois detonaria, por comando à distância. (qual e como ninguém explica). Ou terão sido as tais granadas reforçadas que foram atiradas para o meio da assistência?
Fico admirado com a perspicácia e eficácia de um único agente da "prestigiosa" (ou havia mais) que permitiu a captura de tantos militantes e simpatizantes do PAIGC.
Para onde foram enviados? Qual o resultado das suas declarações?
Ter´havido mais resultados positivos obtidos pela PIDE naquele local? Como e por quem? (informadores e/ou agentes).´
Um Ab.
António J. P. Costa
Caro camarada Pereira da Costa,
O Relatório fala claramente num engenho de arremesso composto por duas granadas reforçadas com duas cargas explosivas (TNT?) e objectos metálicos. O nosso amigo Manuel Luís Lomba é que utiliza o termo fornilho, ao que sei muito menos utilizado na Guiné, comparado com Moçambique, onde era o pão nosso de cada dia. Nos tempos em que andei por Mansabá e arredores (ABR70/FEV72) nunca ouvi que tivesse rebentado por ali algo do género.
Só me atrevo a aprovar a tua descrição de fornilho - quem sou eu? - porque se falava disso em Minas e Armadilhas, e eu fiz uma pós graduação no XXXIII Curso, ministrado entre fins de Outubro e início de Dezembro de 1969 na EPE.
Alfa Bravo
Carlos Vinhal
Olá Camarada
Fiz o Curso de Sapadores das Armas que incluía Minas e Armadilhas na fase final em MAR-JUL69.
e tenho a cadeira de OT da AM. A definição de fornilho é aquela que dei e, em caso de dúvida, é consultar o Manual que a BibEx tem. Eu ofereci para lá o meu, mas já lá havia outros.
De qualquer maneira é uma imprecisão de linguagem que não deve desviar-nos do caso em análise.
Foi um atentado. Uma forma de terrorismo sistemático que ainda hoje se pratica, embora sem resultados práticos a não ser a barbaridade exercida sobre as populações. Creio que a ideia é obrigar as populações a aceitarem e a colaborarem com o autor ou organização responsável pelo atentado. Numa primeira fase, se calhar resulta, mas depois...
Um Ab.
António J. P. Costa
Realmente, do Relatório deste trágico atentado tiram-se conclusões interessantes.
'..... De salientar o facto da maioria dos presos serem civilizados, servindo-se das suas actividades normais para propagar a subversão no meio da população nativa'
Na baixa lisboeta, a policia à paisana prende os carteiristas só em flagrante, quando estes gamam carteiras a incautos turistas dentro do eléctrico 28.
No caso do atentado, sabendo-se haver 'propagadores subversivos' teria havido indicações de só poderem ser presos em flagrante? …...e lá se arranjou um 'tóto' para arremessar as granadas e morrer aquela gente toda
Valdemar Queiroz
Foram provadas as acusações contra Júlio Lopes Pereira ? Foi levado a julgamento ?... Não teve tempo, morreu ou foi morto em novembro de 1965...
A tragédia tem perseguida esta família... Em 2012, foi a sua filha que desapareceu "misteriosamente" em Angola...
Veja-se aqui a notícia da DW:
(...) "Em julho de 2012, a jornalista bissau-guineense Ana Emília Pereira, mais conhecida por Milocas Pereira, foi dada como desaparecida em Luanda.
Os familiares acreditam que o seu desaparecimento tenha motivações politicas, já que Milocas Pereira era frequentemente convidada pela imprensa angolana a comentar as crises político-militares na Guiné Bissau, sobretudo aquando do golpe de Estado contra o governo de Carlos Gomes Júnior (12 de abril de 2012). Golpe que culminou com a retirada das tropas da MISSANG (Missão militar angolana na Guiné-Bissau).
Um mês antes do seu misterioso desaparecimento, a jornalista que lecionava jornalismo na Universidade Independente de Angola, foi agredida por desconhecidos e, na sequência dessa agressão, teria manifestado a algumas pessoas que lhe são próximas a sua intenção de deixar Angola, país onde tinha fixado residência desde 2004." (...)
https://www.dw.com/pt-002/mist%C3%A9rio-em-torno-do-desaparecimento-em-angola-de-milocas-pereira-mant%C3%A9m-se/a-19388750
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