Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > Rio Campa > 22 de fevereiro de 1971 > "10 segundos antes da emboscada. O 4º pelotão da CART 3332 abrigou -se na mata à direita onde estava postado,
Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Bombardeamento matinal, após uma noite dramática, entre nevoeiro, pó e fumo, à posição Foulamory (Guiné Conacri)
Guiné > Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Os obuses, no regresso. O cenário é o da emboscada no dia anterior
Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 24 de fevereiro de 1971 > "Regresso dos guerreiros a casa (Piche). Empoeirados e tristes e com sede de vingança. A missão 'soube' a derrota"
Fotos do alferes at art Jorge Carneiro PInto, CART 3332 (1970/72). Legendas: Eduardo Lopes. Reproduzidas aqui com a devida vénia....
Vamos reproduzir, em parte, com a devida vénia e as necessárias adaptações, o seu dramático e emocionante relato desta operação, que decorreu no subsetor de Piche, junto à fronteira, de 22 a 24 de fevereiro de 1971.
Fica também aqui, além do nosso agradecimento, o convite para o Eduardo Lopes (bem como o Jorge Carneiro Pinto autor das preciosas fotos acima editadas e reproduzidas) integrar a nossa Tabanca Grande, onde tenos camaradas de todos os períodos da guerra (, de 1961 a 1974), dos três ramos das Forças Armadas e que passaram por todas as regiões e setores do TO da Guiné.
Operação Mabecos, segunda feira, 22 de fevereiro de 1971
Ordem de operações nº 1, de 21 de fevereiro de 1971;
(...) Mas ia ser um dia muito negro e amargo, para estes bravos guerreiros. Nesse dia, depois de ir para o mato, incorporado no 1º Gr Comb / CART 3332 numa manobra de despiste, integrada nos planos da operação Mabecos, regressei e almocei. Já na caserna pequena, (CSS da CART 3332 ) junto à piscina, ouvi rebentamentos dentro do aquartelamento. Com outros camaradas, saltei para a vala e, só depois deste impulso e ouvindo gritos e pessoas a correr, é que admiti que era de facto um acidente.
Conforme o previsto, rumaram ao objectivo. Já próximos, os "piras" do 3º Gr Comb / CART 3332 passam para a testa da coluna. E são vislumbrados à distância negros fardados. Uma consulta rápida para saber se ali havia segurança das nossa tropa..., e não havia... Há que flanquear a progressão das tropas. Em contínuo e, mal entrados no mato, o IN tenta o assalto. Abre-se a emboscada,que de inesperada e traiçoeira e olhos nos olhos, é sufocante e tremenda. Há que se posicionar fazendo um recuo para se entrincheirar.
(...) Metralha intensa e violenta. Explosões que surpreendem, com fumo e pó que cegam .Tentativa de avanço do IN. Os "piras" do 3º Gr Comb / CART 3332, defendem, ripostando, como podem a posição.Uma White cai numa cova e fica imobilizada: a metralhadora encrava. A segunda White fica inoperacional, sem ter dado um tiro. Há Unimogues semidestruídos. Feridos: alguns, com gravidade.
25 de outubro de 2011 às 16:32
Oá, camarada(s). Um abraço, porque estou comovido. Domingos Robalo, ex Furriel Miliciano Nº 192618/68, do GAC7 / Bissau.
Domingos: também acabei por ficar comovido com o seu relato que estimo e, agradeço, e que pelo seu conteúdo é subsídio de muito valor para o conhecimento total da Operação e enriquecimento da nossa história e notoriedade do nosso Blogue.
Participei na Operação Mabecos de maneira diferente.Como trms na operacionalidade, passei duas ou três vezes integrado em acções pela Pista de Aviação e, ali, do lado esquerdo, no Campo de Futebol,lá estavam alinhadas as 9 bocas de fogo. No dia da Operação Mabecos fui escalado para saída às 6:00 (+/-). e não deixei de referenciar a imponência das peças alinhadas,e, lá segui em direcção ao Rio Corubal com o 1º grupo de Comb. da CART 3332, à zona de Sutocó para que, capinando uma área considerável de mato e árvores, intuisse o IN que seria dali a base de fogos.
Tive a coragem de estar presente quando chegaram as viaturas e nas três mortalhas de ponches camuflados, não consegui verter uma lágrima, a raiva e o desejo de vingança não deixaram. Mais tarde fui beber (não era meu hábito), perdi as estribeiras, ainda andei à pancada sem razão. Passou - me. Nunca mais bebi whisky ou outras bebidas alcoólicas até ao fim da comissão, e como trms sempre que sa+ia para o mato, além da pistola, levava a G3, dois pares de cartucheiras, 4 granadas, faca do mato, o respectivo Racal, e rações de combate se fosse caso de Operação. Voltamos a ter uma emboscada fatal, mas não estive lá. Será hoje, dia 26 de Outubro, motivo de uma nova edição, aqui no nosso Blogue.
Estou- lhe particularmente grato por se ter apresentado e, pelo oportuno artigo para a nossa história que muito me sensibilizou, levando-me de volta a Fevereiro de 1971.
Bem Haja. Disponha do blogue sempre que desejar. Grande abraço.
Saudações Artilheiras (...)
[Revisão / adaptação / fixação de texto para efeitos de edição no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: LG]
Fica também aqui, além do nosso agradecimento, o convite para o Eduardo Lopes (bem como o Jorge Carneiro Pinto autor das preciosas fotos acima editadas e reproduzidas) integrar a nossa Tabanca Grande, onde tenos camaradas de todos os períodos da guerra (, de 1961 a 1974), dos três ramos das Forças Armadas e que passaram por todas as regiões e setores do TO da Guiné.
"A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 > Guiné : Operação Mabecos, 22 de fevereiro de 1971
Ordem de operações nº 1, de 21 de fevereiro de 1971;
Composição das forças:
(i) 1º, 2º, 3º e 4º P el / CART 3332.
(ii) 3º e 4º Pel / /CCAV 2749 / BCAV 2922).
(iii) Duas secções de milícias da CM 249;
(iv) Uma secção de milícias da CM 246, com Morteiro 60, e 30 granadas;
(v) Uma secção Morteiro 81, 30 granadas;
(vi) Artilharia Pesada: 4 peças 11,4 com 160 Granadas, 2 Obus 14, com 100, 3 Obus 14 com 120 ;
(vii) duas WHITE PEL/REC 2.
Objectivo:
Posicionar - se próximo da fronteira, Rio Campa, Junto ao Corubal, e bombardear posições IN na região de Foulamory (Guiné Conacri).
Desenrolar da operação:
Desenrolar da operação:
(...) Mas ia ser um dia muito negro e amargo, para estes bravos guerreiros. Nesse dia, depois de ir para o mato, incorporado no 1º Gr Comb / CART 3332 numa manobra de despiste, integrada nos planos da operação Mabecos, regressei e almocei. Já na caserna pequena, (CSS da CART 3332 ) junto à piscina, ouvi rebentamentos dentro do aquartelamento. Com outros camaradas, saltei para a vala e, só depois deste impulso e ouvindo gritos e pessoas a correr, é que admiti que era de facto um acidente.
Aproximei - me da caserna onde já estavam vários camaradas a prestar socorro e, por entre fumo, gritos e destruição, reparei à entrada, no chão... uma bota com um pé calçado com parte da perna, Um camarada ensanguentado e esbaforido, sai para o exterior sem uma perna. No interior, havia gritos de dor e vultos tombados.
Enfermeiros e outros que ali se encontravam pediram me para retirar, e assim fiz. Saí dali consternado com o cenário, e como se deve imaginar completamente destroçado com a "derrota" e, sofrimento daquelas vitimas, do 4º Pelotão da Companhia de Cavalaria 2749 (BCAV 2922). Este, estava nesse dia, destacado para participar na Operação Mabecos. . O seu comandante, alferes at acv . Luís Alberto Andrade, estava impossibilitado de chefiar, em virtude de uma lesão num joelho, substitui-oo o furriel at cav Carlos Alberto Carvalho, que havia saído da caserna segundos antes, após distribuir rações de combate e saber da operacionalidade da força...Sorte?!. As "sortes" e o azar estavam lançados.
(...) A Operação Mabecos que tinha começado de manhã às 6:00. Ia ser executada mesmo já atrasada na hora prevista. A força pôs -se em movimento (...)
(...) A Operação Mabecos que tinha começado de manhã às 6:00. Ia ser executada mesmo já atrasada na hora prevista. A força pôs -se em movimento (...)
Conforme o previsto, rumaram ao objectivo. Já próximos, os "piras" do 3º Gr Comb / CART 3332 passam para a testa da coluna. E são vislumbrados à distância negros fardados. Uma consulta rápida para saber se ali havia segurança das nossa tropa..., e não havia... Há que flanquear a progressão das tropas. Em contínuo e, mal entrados no mato, o IN tenta o assalto. Abre-se a emboscada,que de inesperada e traiçoeira e olhos nos olhos, é sufocante e tremenda. Há que se posicionar fazendo um recuo para se entrincheirar.
(...) Metralha intensa e violenta. Explosões que surpreendem, com fumo e pó que cegam .Tentativa de avanço do IN. Os "piras" do 3º Gr Comb / CART 3332, defendem, ripostando, como podem a posição.Uma White cai numa cova e fica imobilizada: a metralhadora encrava. A segunda White fica inoperacional, sem ter dado um tiro. Há Unimogues semidestruídos. Feridos: alguns, com gravidade.
O resto da força tinha ficado fora da linha de fogo. A 1ª secção do 3º Gr Comb já havia pago a factura: 3 mortos e um capturado em virtude da execução do flanqueamento. Anoitecia. O inimigo não abrandava a intensidade do fogo. Os nossos homens ripostavam.
Entretanto os homens da Artilharia Pesada desengatam as peças de obus das Berlliets e de imediato fazem tiro directo, sobre as copas das árvores em direcção à posição inimiga. E silenciam - na, com mais munições.
A noite vai ser terrivelmente dramática. O inimigo, "manhoso", vai se aproximar, silencioso, para não ser alvejado. Vai ter oportunidade de assaltar e vandalizar os corpos feridos e, já mortos, do 1º Cabo Costa e dos soldados: Mota e Araújo. Os obuses batem a zona mais próxima com tiro tenso... No terreno os combatentes em trincheiras feitas com as mãos e facas do mato não dormem.
A manhã que tarda, sabe a poeira, pólvora, e a uma sensação estranha, que só quem viveu a guerra olhos nos olhos, sente. Para todos, era a segunda vez em menos de 15 dias. E ainda havia a lamentável e, dolorosa surpresa. Ninguém sabia, a já contada aqui.... Morte dos nossos 3 heróis e o desaparecimento do 1º Cabo Fortunato. Surpresos, não queriam acreditar.Na acção de recuo posicional e, porque já de noite, não fora dada a falta destes elementos. Assim, era de espanto e derrota o semblante "negro"dos nossos heróis periquitos que juravam vingança....
Relato de 1º Cabo trms inf Eduardo Lopes, CART 3332 (Guiné, 1970/72)
Oá, camarada(s).
3. Resposta do editor e administrador do blogue, Eduardo Lopes, em 26/10/2011
Domingos: também acabei por ficar comovido com o seu relato que estimo e, agradeço, e que pelo seu conteúdo é subsídio de muito valor para o conhecimento total da Operação e enriquecimento da nossa história e notoriedade do nosso Blogue.
Participei na Operação Mabecos de maneira diferente.Como trms na operacionalidade, passei duas ou três vezes integrado em acções pela Pista de Aviação e, ali, do lado esquerdo, no Campo de Futebol,lá estavam alinhadas as 9 bocas de fogo. No dia da Operação Mabecos fui escalado para saída às 6:00 (+/-). e não deixei de referenciar a imponência das peças alinhadas,e, lá segui em direcção ao Rio Corubal com o 1º grupo de Comb. da CART 3332, à zona de Sutocó para que, capinando uma área considerável de mato e árvores, intuisse o IN que seria dali a base de fogos.
Regressamos ao aquartelamento pelo meio-dia, extenuados, com a missão cumprida.Para mim as acções para esse dia estavam realizadas. Uma escala de quase 12 operadores de rádio quase que que me garantia esse direito.
Mas era um dia de raiva, já contado na história que, emotivamente, acima escrevi.
Ainda no aquartelamento,aquando dos rebentamentos,ficamos apreensivos e ansiosos,fui até ao posto de rádio. onde os operadores "lutavam" contra a electricidade estática que nos deixou sem comunicação.
Pela noite adentro eram os bombardeamentos dos vossos obuses que nos iam contando as horas à espera do início do dia, para depois, que já com boas condições de sinal, afinal, sabermos que havia três baixas: Cabo,Costa e os Sold. Arújo e Simplício (este natural de Atei, Mondim de Basto, por quem tinha um grande amizade). Que somadas com a três da CCAV 2749 e o desaparecimento do Fortunato, tornavam a manhã radiosa de sol num inferno negro.
Tive a coragem de estar presente quando chegaram as viaturas e nas três mortalhas de ponches camuflados, não consegui verter uma lágrima, a raiva e o desejo de vingança não deixaram. Mais tarde fui beber (não era meu hábito), perdi as estribeiras, ainda andei à pancada sem razão. Passou - me. Nunca mais bebi whisky ou outras bebidas alcoólicas até ao fim da comissão, e como trms sempre que sa+ia para o mato, além da pistola, levava a G3, dois pares de cartucheiras, 4 granadas, faca do mato, o respectivo Racal, e rações de combate se fosse caso de Operação. Voltamos a ter uma emboscada fatal, mas não estive lá. Será hoje, dia 26 de Outubro, motivo de uma nova edição, aqui no nosso Blogue.
Estou- lhe particularmente grato por se ter apresentado e, pelo oportuno artigo para a nossa história que muito me sensibilizou, levando-me de volta a Fevereiro de 1971.
Bem Haja. Disponha do blogue sempre que desejar. Grande abraço.
Saudações Artilheiras (...)
[Revisão / adaptação / fixação de texto para efeitos de edição no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: LG]
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 17 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20357: Blogues da nossa blogosfera (114): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (30): Palavras e poesia
Último poste da série > 17 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20357: Blogues da nossa blogosfera (114): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (30): Palavras e poesia
6 comentários:
Cherno Balde
21 nov 2019 16:57
Caro Luis,
O Gen. Spínola compreendeu e bem a ineficacia deste tipo de operações herdadas das guerras de pacificação no séc. XX e acho que depois eram as tropas de elite, muito ligeiras, rapidas e disciplinadas que eram lançadas, muitas vezes, na retaguarda das posições IN com o apoio da aviação, as famosas Allouettes III.
No entanto, o aparecimento dos Strelas, também, viria a modificar o cenário idealizado por este e depois começaram os bloqueios dos aquartelamentos situados perto da linha das fronteiras que ditaria o seu abandono e o fim da Guerra.
Sempre que leio estes relatos inéditos da Guerra na Guiné, constato e fico estupefacto pela coragem dos homens do PAIGC, esses guerrilheiros esfarrapados, mal alimentados e pés descalços (como costuma dizer o teu Tozé - A. Costa Pereira), apesar do respeito que tinha dos nossos soldados do Exército Portugués .
A menção que muitas vezes se faz dos nacionalistas Cubanos parece-me ser quase sempre exagerada, pois eles eram muito poucos e num ambiente que não era o deles, um pouco à semelhança dos nossos metropolitanos.
Abraços fraternos,
Cherno AB
Quem idealizou este tipo de operação foi um autentico imbecil.
A artilharia empregue nesta situação e a necessária deslocação dos obuses e peças anulava o efeito surpresa,ainda com a agravante na limitação no número de granadas, porque a função principal da artilharia é a saturação de zona a neutralizar.
Também era necessário ter um I.O.L. que neste caso poderia ser feito por tropa especial infiltrada em T.O. IN.
Porque não foi empregue a força aérea ?
Quem disse que os guerrilheiros do P.A.I.G. não tinham valor !!! Caro Cherno. A maioria tinham.
Normalmente confundiam-se Cabo-verdianos com cubanos.
AB
C.Martins
Meus caros amigos
O que o C Martins diz entendo como um reforço daquilo que desde a primeira vez que abordei este assunto me pareceu o cerne da questão: alguém se esqueceu de fazer uma "fita de tempos" para que as peças de artilharia pudessem chegar ao mesmo tempo a Piche e não que "fossem chegando",
Uma má planificação, ou então houve "falhas de percurso".
O resultado soubemos depois.... 3 mortos antes da operação pelo rebentamento da tal basuca na caserna, mais um número elevado de feridos, uns graves e a maioria ligeiros mas que colocaram a moral em baixo; 3 mortos na emboscada, 1 "apanhado à mão" e mais uns quantos feridos e toda a frustração e raiva nos "sobreviventes".
Outros tempos...
Hélder Sosua
Cherno, até um inimigo mortal do PAIGC como o comandante Alpoim Calvão fez, uns anos antes de morrer, o elogio do combatente guineense que alinhou nas fileiras do movimento nacionalista criado e liderado pelo Amílcar Cabral.
Enfrentar uma força como esta, na Ação Mabecos, 300 homens armados, 9 bocas de fogo, 20 viaturas, centenas de granadas, mais de um quilómetro de comprimento, toneladas de ferro e aço... era obra!.. Era preciso audácia, sangue frio, coragem, inteligência...
Como na evolução da vida animal, na terra, e parafraseando Charles Darwin, não foi o mais forte nem o mais inteligente que triunfou..., mas sim o que soube adaptar-se às mudanças... Foi o caso da nossa espécie, o "homo sapiens sapiens"...(Não sei é se vamos chegar longe, com as dramáticas mudanças que estão a acontecer, climatéricas, ambientais, demográficas, sociais, políticas, tecnológicas... Podemos estar à beira de uma nova era de barbárie...).
Spínola percebeu isso, mas não tinha "cobertura política" em Lisboa...nem muito menos o ambiente externo, internacional, lhe era favorável...
Foi pena a Guiné Bissau não ter tido um Nelson Mandela... Amílcar Cabral optou por uma via, a da "violência revolucionária", de que a Guiné-Bissau, a África, e todos nós, estamos a pagar a factura... Veja-se a tremenda tragédia que foi a "segunda guerra da independência" de Angola... Tenho pena que o Portugal de Salazar / Caetano tenha optado, mal, pela força das armas, para esmagar as reivindicações nacionalistas... A história teria sido escrita de outra maneira, e a Guiné hoje era um dos países mais prósperos e felizes de África... Compare-se com Cabo Verde, que foi poupado à guerra... embora as ilhas tivessem uma reserva de "capital humano" que a Guiné não tinha... mas que podia vir a ter se tivesse havido um período de transição pacífica... Mas esse cenário não era compatível com uma ditadura em Portugal...
Amílcar Cabral e Nelson Mandela serão homens de idêntico talento político, mas de diferente molde de mentalidade.
Amílcar era auto-didacta em marxismo, daí ter sujeitado e conduzido os bissau-guineenses pela violência armada, ao passo que Nelson era social-democrata, pragmático e condutor de via pacífica. Parafraseando o sábio e pragmático padre António Vieira, a substância de ambos era idêntica, a diferença esta nos moldes. Entrou num e saiu um guerreiro, que acabou à moda de "quem com ferros mata, com ferros morre", entrou noutro e saiu um bem-aventurado, que acabou na bem-aventurança.
O governador de Portugal na Guiné (Melo e Alvim) não foi pelo caminho de meter meter Cabral atrás das grades, e, não obstante o governo do "apartheid" da África do Sul ter catrafilado Mandela no cárcere, ao fim de 27 anos ele saiu dele com a mesma mentalidade com que entrara - a via pacífica - e conduziu a transformação da África do Sul, sem a intromissão dos regimes americano, russo, chinês, cubano, etc.
O General António de Spínola teria antecipado o "Mandelismo" na Guiné, se a sua a "Operação Mar Verde" a Conacri não tivesse falhado a captura de Amílcar Cabral, para o "obrigar" a trabalhar com ele?
A história é feita de factos e não de "ses". Se a Guiné-Bissau deverá ao seu consulado e à malta militar portuguesa muito do seu desenvolvimento, o seu longo período de "estado falhado" terá também o seu contributo.
A exemplo dos falhanços dos nossos antepassados, pós-Descobrimentos, ele falhou o lance de Conacri, falhou o engajamento de Nino Vieira e das FARP, após o assassinato de Amílcar Cabral e falhou como "barriga de aluguer" ao Movimento dos Capitães-MFA.
Abr.
Manuel Luís Lomba
Caros amigos Luis Graça e M. L. Lomba,
Estou muito grato por essas excelentes lições de história, de facto, o melhor que se pode encontrar neste Blogue da TG. Ao que parece, os antigos combatentes metropolitanos também devem ter saido de moldes diferentes, mesmo se a substância é a mesma. Há aqueles que falam e a narrativa da história parece tão clara, tão transparente que alimenta o nosso coração de alegria e a cabeça de sabedoria, mas depois aparecem outros com discursos tão azedos e putrefactos que parecem ter saido de um escuro pantano tropical, parado no tempo.
Um grande abraço aos dois.
Enviar um comentário