domingo, 28 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21117; Da Suécia com saudade (73): A raposa, as uvas e... o vírus (José Belo)

1. Mensagem do José Belo [, régulo da Tabanca da Lapónia, a mais setentrional das tabancas da Tabanca Grande]:

Date: domingo, 28/06/2020 à(s) 14:05
Subject: A raposa, as uvas, e.....o vírus.

Um certo tipo de jornalismo cria e espalha notícias menos corretas nos seus fundamentos. (Como diz o nosso António Aleixo, "P'ra mentira ser segura,/ E atingir profundidade, / Tem que trazer á mistura, / Qualquer coisa de verdade...)

Um bom exemplo são as notícias relacionadas com a excessiva mortandade, por Covid-19,  entre os mais idosos na Suécia.

Sendo esta mortandade um facto incontroverso há que analisar cuidadosamente as razões do mesmo.
Como em muitos outros países ocidentais,  os casos mortais provocados pelo vírus entre os idosos vivendo em lares foi muitíssimo superior  ao dos idosos vivendo nas suas habitações particulares.

Na Suécia, onde a longevidade é das mais elevadas a nível mundial, os lares para idosos são inúmeros e enormes.

Sabe-se hoje terem sido as razões do contágio, e consequente mortalidade, o facto de muitos dos empregados estarem contaminados pelo vírus antes de o mesmo ter tido resultados significativos na sociedade envolvente.

Daí os resultados predominantes deste grupo etário no topo das estatísticas e subsequentes números finais. 

Ao contrário de muitos outros países, o responsável pelo combate à pandemia na Suécia é uma Instituição Estatal de Saúde, independente (!) do Governo e respondendo unicamente perante o Parlamento.

Facto "conveniente" tanto para os políticos governamentais, como para a oposição, que deste modo podem "lavar as mãos " das decisões tomadas por este Departamento Estatal independente e, principalmente, das consequências das mesmas.

Alguns grupos de conhecidos cientistas suecos, médicos, jornalistasm e outros intervenientes sociais têm vindo a pressionar o Governo quanto a uma intervenção nas decisões do Departamento, mas até hoje sem resultados.

Não tendo havido qualquer tipo de "confinamento " obrigatório da população,  todas as recomendações tem sido...recomendações!

As fortíssimas tradições locais quanto a liberdades individuais,transparência governamental, confiança,e sentido de responsabilidade perante o interesse comum estão ligadas a esta atitude...muito incompreensível em sociedades não escandinavas.

Teatros, cinemas, restaurantes, bares, discotecas, centros comerciais, infantários e escolas, todos continuam a funcionar normalmente, procurando respeitar as regras do distanciamento entre indivíduos. (Mesmo que em alguns casos sejam evidentes as dificuldades quanto a um distanciamento  efectivo.)

Deste modo a generalidade da economia tem sido muito menos afectada, podendo o país usar as avultadas reservas económicas existentes em suporte das actividades industriais e sociais mais importantes.

Segundo os últimos testes efectuados em Estocolmo julga-se que entre 17% a 20% da população local terá desenvolvido anti-corpos quanto ao vírus.

São números sempre passíveis de discussão quanto a uma não suficiência.

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sei se há uma certa "suecofobia" por parte de alguns "tugas", em contraponto a uma certa "lusofobia" por parte de alguns suecos...

Mas se as houver, estas fobias como todas as outras são filhas da ignorância que nunca adjetivo como santa... Ignorância (ostensiva, intencional, má), arrogância, estupidez e prepotèncias são 4 coisas que eu abomino nos seres humanos...

Aquele abraço para o luso-lapão J. Belo.

LG

Anónimo disse...

Caríssimo J.Belo

Essa própria autoridade de saúde já reconheceu que provavelmente meteu a "pata na possa"

O facto é que sendo a sociedade sueca das mais desenvolvidas do mundo e fazendo uma comparação com Portugal que tem sensivelmente a mesma população, tem tido 6 vezes mais letalidade do que Portugal, nomeadamente da população idosa. Enfim são opções !!!!

Aproveito para denunciar a esperteza saloia da maioria das nações não revelarem a realidade com a vizinha Espanha a ser a campeã, de repente passou de centenas de mortes diárias para zero ou quase ...dizem que estão a rever os números !!!!..."espertitos" nuestros hermanos.

AB

C.Martins

Anónimo disse...

PS
RECTIFICO...."PATA NA POÇA"

C.Martins

JB disse...

No caso sueco tem ainda maior importância a comparação estatística com os países com quem tem fronteiras,Dinamarca,Noruega e Finlândia.
Em todos eles,usando outros métodos de combate à pandemia, os números de mortos resultantes da mesma são (não muito mas muitíssimo!)inferiores aos suecos.
Até este momento os responsáveis suecos têm recusado todas as críticas, argumentando sempre ser esta estratégia a mais adequada para enfrentar um vírus que provavelmente vai continuar a existir entre nós por um longo prazo no futuro.
As sociedades terão que aprender a viver o mais normalmente possível com ele,e não menos, as economias nacionais (com tudo o que isso implique).
O exemplo continuamente usado : “Não é um sprint mas sim uma maratona!”
Isto tendo principalmente em conta os recursos humanos, e sua resistência a longo prazo,no fundamental sector hospitalar.

Um ab.
J.Belo


ManuelLluís Lomba disse...

A articulista Clara Ferreira Alves escreveu no "Expresso" que a "mania" dos suecos (tradições e formas de vida, dizes muito bem) das liberdades e responsabilidades individuais redundou na vitória do Convi-19 sobre a sociedade sueca, dizimando os velhotes dos seus lares e provocando a debandada de 2/3 dos seus cuidadores (debandar não é desertar).
Nós por cá, com a ajuda pedagógica dos teus posts, vamos tomando conhecimento da maneira de ser e de estar dos escandinavos (como luso-lapão, na douta afirmação do Luís Graça, conhecerás também a maneira de ser das escandinavas...) e, não obstante a nossa qualidade de malandros do sul, partilhamos com eles o nosso saber: fiai-vos no Parlamento, como legislador, mas não vos fieis nele, para executivo.
Mas em verdade e em verdade vos digo: Por cá a AR legisla e o Governo executa - mas os velhotes são a maioria das baixas da guerra com o Convid-19.
Os veteranos da guerra da Guiné que continuem a cuidar-se!
Abr.
Manuel Luís Lomba

JB disse...

Caro Manuel Luís Lomba

Aproveito a oportunidade dada pelo comentário para mais uma das minhas “ajudas pedagógicas”...como sempre “ad Cátedra” entre-renas.

Ao mergulhar em tais pedagogias analíticas, e se não for levado a mal,substituo o termo “malandros do Sul”,também referido no comentário,pelo termo....”Machos Ibéricos”.
Obviamente não por simples fantasias temperamentais mas antes por conferir uma marcante profundidade geográfica tão importante nas relações culturais da Europa de hoje.

“A maneira de ser das escandinavas?”

A resposta é bem simples: MUITO DADAS! MUITO DADAS!

Fontes documentais:
A)Uma licença de casamento com uma indígena.
B)Mais de 40 anos de intercâmbios culturais (chamemos-lhe assim a bem da moral) com indígenas...quanto basta.

Um abraço do J.Belo

Manuel Luís Lomba disse...

À laia de contraditório,essa de machos ibéricos, sim, desde que não nos nos incluam na classe do Rocinante do D. Quixote de La Mancha...
Prossigo as "provocações" culturais com uma anedota, aprendida na caserna de Tavira.
Eram dois amigos: um, mulherengo e dado aos copos; outro, comedido e abstinente. Partiram para o além, o primeiro foi para o inferno, o outro foi para céu, aquele passaria a sofrer as suas penas e este tomaria o seu assento etéreo. No outro mundo, os bem-aventurados gozam da livre circulação, este resolveu ir confortar o amigo ao inferno e encontrou na cama, entre um garrafão de tinto e uma sueca nua.
- Eh, meu, isso é que o inferno? Levas a mesma vida da Terra!
- Um inferno e dos grandes! O garrafão está todo furado e a sueca é como se não tivesse furo furo nenhum...
Abr.
Manuel Luís Lomba

JB disse...

Pois....

Estão verdes!

Um ,como sempre, mui respeitoso abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Antes de mais somos todos seres humanos, depois europeus e depois suecos e portugueses... Nestas ocasiões pandémicas, em que a morte, a doença, o sofrimento e o infortúnio batem à porta de todos nós, seria indecoroso e contraproducente e portanto lamentável fazer comparações entre países, povos, culturas, idiossincrasias, sistemas políticos, sistema de saúde...

A pandemia de COVID-19 não é um campeonato de futebol ou um concurso da Eurovisão!... É uma tragédia!...

Estou no Norte do país e já oiço, entre o povo, comentários jocosos, infelizes, de mau gosto, sobre "os malandros dos mouros que gozavam connosco, quando o COVID estava aqui em força, e agora são eles que estão apanhar com ele"...

Nesta altura precisamos da solidariedade de todos: todos, da China à Guiné-Bissau, da Suécia aos EUA, do Norte ao Sul... somos grupos de risco. Naturalmemte, temos o direito de nos protegermo-nos, e o dever de proteger os outros... É essa mensagem que importa passar!

A Direção Geral de Saúde terá tido, inicialmente, a infeliz ideia de comparar "regiões": ao princípio, o Norte destacava-se em número de casos e de mortos... Estas coisas nunca são inocentes...Ninguém gosta de falar mal na fotografia... Mas as organizações internacionais fazem o mesmo, como é o caso da OMA, da ECDC, etc., ao fazerem "rankings" de paises...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Claro que cada país gosta de saudar e publicitar os seus "sucessos" (, da redução da taxa de mortalidade infantil ao PIB per capita...), mas tende a esconder os "azares", os "falhanços", os "erros", os "deslizes", as "mazelas"...