terça-feira, 24 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21577: Consultório militar do José Martins (55): Loures e a Guerra Peninsular (Parte II)


Em mensagem do dia 22 de Novembro de 2020, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dedica o seu "Consultório" ao Concelho de Loures e à Guerra Peninsular. Publica-se hoje a segunda e última parte.








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Nota do editor

Poste anterior de 23 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21573: Consultório militar do José Martins (54): Loures e a Guerra Peninsular (Parte I)

7 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Muito bom. Aqui está uma narrativa irrepreensível e factual sobre as Invasões Francesas, em geral, e as Linhas de Torres, em particular. Parabéns ao autor.

Muitas das fortificações das Linhas de Torres já não existem ou estão em muito mau estado. Porém, algumas ainda têm muito que ver e podem ser visitadas, como é o caso do Forte do Alqueidão, a cerca de 5 km, ou nem tanto, de Sobral de Monte Agraço.

Em Montachique, praticamente já não resta nada. Umas imponentes ruínas que lá existem não têm nada a ver com as Linhas de Torres, ao contrário do que muita gente julga, antes serão ruínas de uma importante casa rural, segundo me disseram. A verdadeira fortificação estaria praticamente debruçada sobre a atual autoestrada A8, bem no alto do basáltico Cabeço de Montachique.

Em Alhandra existe um monumento comemorativo da vitória sobre os franceses sobranceiro à vila e à cimenteira, onde se destaca uma alta coluna encimada por uma estátua de Hércules, que é feia como os trovões.

Valdemar Silva disse...

Martins
Tiveste uma excelente ideia, com a publicação destas "Invasões Francesas-Guerra Peninsular".
Interessante o pormenor dos nomes completos dos vários intervenientes, e gostei principalmente não teres entrado na fabulação, no popularucho ou no devia ter sido assim.
Podias ter escrito que a "Bíblia dos Jerónimos" foi roubada por Junot para oferecer à sua mulher e muito mais tarde Portugal conseguiu reaver o famoso livro.
Podias ter explicado, para não haver confusões, que as ruínas de Montachique, referidas por Fernando Ribeiro, nada tem a ver com as Invasões Francesas, mas tão só se tratar das ruínas de um Sanatório Albergue, mandado construir em 1918 pelo conhecido comerciante e politico republicado Francisco de Almeida Grandella, que por falta de verba não foi concluído e assim perdura ao longo dos anos.
Podias ter contado a história do terrível Manet, que muito sangue fez correr com a brutalidade tratamento dos prisioneiros, que até nasceu o celebre dito de quem foi mal tratado e morto dizer-se: coitado foi pró "maneta".
E também podias ter contado a origem dos olhos azuis das saloias da região de Torres Vedras.
Parabéns.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Manuel Luís Lomba disse...

Ocasião para debitar uma das minhas heresias contrárias aos compêndios de História.

No meu entender, as Invasões francesas não foram três - foram cinco! Uma da autoria do Directório (poder revolucionário da França) e quatro napoleónicas. Todas com uma causa comum: a fidelidade canina de Portugal à "aliança perpétua" com a Inglaterra, celebrada em 16 de Junho de 1373.

A primeira foi a "Guerra das Laranjas", de represália à nossa participação na "Guerra do Roussilhão".

Tivemos a Espanha como parceira da coligação da guerra contra a França revolucionária, ela traiu-nos, passou-se para aliado da França, esta forneceu-lhe tropas para guarnecer a sua fronteira alentejana, de cautela ao eventual auxílio da Inglaterra, via Sines, e,sub-empreitou-lhe essa invasão invasão alentejana, que roubou as laranjas e os gados de Évora, mas reterá até hoje a entrega de Olivença, em ressarcimento do calote pregado, a França nunca lhe pagou a respectiva factura...

A segunda foi napoleónica, também em parceria com a Espanha, que entrou por Valença, foi ocupando as cidades minhotas e foi assentar arraiais no forte de S. João da Foz do Douro, pacificamente, enquanto Junot entrava por Almeida, Lisboa era objectivo, a missão era a captura da família real, para a obrigar a resignar e a proclamá-lo rei de Portugal, suserano do imperador de França!

Junot ficou a "ver navios" da família real em retirada para o Brasil, os ingleses já andavam por cá, deram-lhe batalha, mas resolveram invasão expeditamente: a Royal Navy deu-lhes boleia e aos seus saques para a sua terra. Só da diocese de Braga a Royal Navy estivou 14 carroças de ouro e pratas (algumas peças foram pilhadas na minha terra)!

A terceira invasão seria do género "guerra relâmpago", planeada e comandada pelo próprio Napoleão, teve de confiar o seu comando a Soult, obrigado a regressar a Versalhes, para se confrontar um problema conjugal com a imperatriz Josefine, de que resultará o seu divórcio.

Impedida de entrar pelo litoral norte - os ocupantes espanhóis (galegos na sua maioria) "obedeciam mas não cumpriam", "estavam feitos" com os portugueses -, a invasão de Soult teve de entrar e fazer o caminho de Trás os Montes até ao Porto, sempre a contas com combates militares e acções de guerrilha popular da Resistência portuguesa, enquanto os ingleses, em desembarques sucessivos, o primeiro na praia de Lavos (F. da Foz), vieram surpreendê-lo no Porto, estava a mesa posta para o seu almoço mas foi Wesllesley ou Wellington que o comeu, e, de derrota em derrota, flagelada por homens, mulheres, crianças e velhos, a sua invasão conseguirá retirar pela ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão, em Montalegre, só parando em Lugo, Espanha.

A quarta invasão foi a do vitorioso marechal Massena, sofreu a primeira e grande derrota no Buçaco, fez uma progressão de "terra queimada", foi esbarrar nas Linhas de Torres, Napoleão não lhe mandou reforços, foi ferido em combate, retirou a sua invasão para a Espanha,e Wellington com a malta portuguesa, reforçada com malta espanhola, foi na sua peugada e consumou-lhe-lhe a derrota em Fuentes de Oñoro, Albuera.

A quinta invasão foi curta, durante menos de um mês ocupou o território vilas e cidades entre Almeida e Castelo Branco, comandada pelo general Marmont, que rendera Massena, demitido por Napoleão.

Terei sido convincente, no referido às mais duas invasões francesas?

Abr.
Manuel Luís Lomba





















Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Martins, obrigado pelo carinho, saber e rigor que pões nos teus trabalhos de divulgação da nossa história militar... Já agora, não sei se tens estatísticas sobre as vítimas, de um lado e do outro... É sempre difícil de contabilizar. Portugal teria cerca de 3 milhões de habitantes. As perdas humanas, diretas e indiretas, foram brutais... Parece que o nº de desertores também terá sido excecionalente alto: há quem fale em 1 (desertor) por cada 2 (efetivos)...

Já agora, e umam vez estamos a celebrar os 200 anos da revolução liberal...não podemos nem devemos esquecer a guerra civil de 1822-1834, umas das mais brutais que tivemos na nossa história... Um dia destes publico um texto sobre esta(s) efeméride(s)...

Em pela pandemia de Covid.19, estas histórias ajudam-nos a exorcizar os nossos fantasmas... Boa noite. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando Ribeiro, essas estranhas ruínas de Montachique são de um sanatório, trabalho de arquitecto e obra de benemerência que não chegou ao fim, nem serviu ao fim a que se destinava... Seria o sanatório Grandella...

http://www.terrasdeportugal.pt/sanatorio-albergaria-grandella

Fernando Ribeiro disse...

Caros Valdemar e Luís,

Obrigado pelo esclarecimento a respeito das "ruínas" de Montachique. Realmente, elas pareciam-me um tanto estranhas como ruínas. Sempre a aprender.


Caro Valdemar,

O "Maneta" que tudo roubava era o general Loison, a quem faltava um braço. Está aqui uma biografia dele: https://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Henri_Loison.

Os olhos azuis das saloias de Torres Vedras e tudo à volta dever-se-á, sobretudo, à fixação de povoadores francos na região após a conquista de Lisboa aos mouros. A Lourinhã, por exemplo, foi doada por D. Afonso Henriques a um cavaleiro franco que fizera parte do grupo de cruzados que o auxiliou na conquista de Lisboa e que é conhecido como D. Jordão (certamente o aportuguesamento de Jourdain): http://www.cm-lourinha.pt/historia. A fixação de populações francas na região é ainda hoje testemunhada pela existência de localidades com nomes tais como Vila Verde dos Francos e A-dos-Francos.


A quem ler estas linhas,

O forte do Alqueidão, nas proximidades de Sobral de Monte Agraço, tem uma grande importância histórica, mas não passa de uma fortificação com pouco valor artístico ou cultural. Ora existe em Sobral de Monte Agraço um monumento que é uma verdadeira joia da transição do manuelino para o renascentista (tal como o mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa), que é a igreja de S. Quintino. Recomendo, muito fortemente, uma visita urgente a esta igreja maravilhosa, implantada no coração da terra saloia. Para aguçar a curiosidade, aqui vão algumas imagens: https://www.tripadvisor.pt/Attraction_Review-g1455326-d9875177-Reviews-Church_of_Santo_Quintino-Sobral_de_Monte_Agraco_Lisbon_District_Central_Portugal.html.

Fernando Ribeiro disse...

Caros Valdemar e Luís,

Obrigado pelo esclarecimento a respeito das "ruínas" de Montachique. Realmente, elas pareciam-me um tanto estranhas como ruínas. Sempre a aprender.


Caro Valdemar,

O "Maneta" que tudo roubava era o general Loison, a quem faltava um braço. Está aqui uma biografia dele: https://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Henri_Loison.

Os olhos azuis das saloias de Torres Vedras e tudo à volta dever-se-ão, sobretudo, à fixação de povoadores francos na região após a conquista de Lisboa aos mouros. A Lourinhã, por exemplo, foi doada por D. Afonso Henriques a um cavaleiro franco que fizera parte do grupo de cruzados que o auxiliou na conquista de Lisboa e que é conhecido como D. Jordão (certamente o aportuguesamento de Jourdain): http://www.cm-lourinha.pt/historia. Este e outros cavaleiros francos terão mandado vir gente de França, para ajudar ao povoamento dos seus novos domínios em Portugal. A fixação de populações francas na região é ainda hoje testemunhada pela existência de localidades com nomes tais como Vila Verde dos Francos e A-dos-Francos.


A quem ler estas linhas,

O forte do Alqueidão, nas proximidades de Sobral de Monte Agraço, tem uma grande importância histórica, mas não é a única edificação de interesse existente na zona. Há na vizinhança imediata de Sobral de Monte Agraço um monumento que é uma verdadeira joia do séc. XVI, que é a igreja de São Quintino. Recomendo, muito fortemente, uma visita urgente a esta igreja maravilhosa, implantada no coração da terra saloia. Para aguçar a curiosidade, aqui vão algumas imagens: https://www.tripadvisor.pt/Attraction/_Review-g1455326-d9875177-Reviews-Church/_of/_Santo/_Quintino-Sobral/_de/_Monte/_Agraco/_Lisbon/_District/_Central/_Portugal.html.