Fotos enviados pelo José Belo. Fonte: Berns Asiatiska (2021), com a devia vénia
1. Texto e fotos enviados pelo José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:
Date: terça, 9/02/2021 à(s) 00:58
Subject: Soto Maior
Date: terça, 9/02/2021 à(s) 00:58
Subject: Soto Maior
José Belo
A tabanca da Lapónia
Filho de um diplomata português da família Soto Maior no Brasil, foi primeiro militar e posteriormente político, membro da Câmara do Reino.
Tanto pelo temperamento como pelo espírito boémico, tornou-se menos "conveniente" tanto para a família como para a alta sociedade portuguesa. Falou-se em aventuras amorosas com senhoras casadas pertencentes a famílias do mais alto nível no Reino. De qualquer modo, foi enviado como embaixador para a convenientemente distante Suécia.
Dispondo a sua família em Portugal de avultados bens, ele depressa se tornou uma figura de referência na boémia da mais alta sociedade sueca da época. Para além da impecável elegância com que sempre vestia, era também célebre pela sua generosidade económica tanto em festas como nos locais mais exclusivos das Noites de Estocolmo. Depressa as meninas da alta sociedade local lhe arranjaram um apelido exclusivo, fazendo um trocadilho de Soto Maior para....."Söta Majorn"....ou seja : "Doce Major " em sueco.
Frequentador assíduo de um dos ainda hoje mais luxuosos e renomados restaurantes de Estocolmo, o Salão Berns, Berns Asiatiska, a sua mesa favorita ainda lá se encontra,agora adornada com elegante placa de prata com as suas referências pessoais.
Como uma das figuras centrais da sociedade local em fins do séc. XIX, acabou por vir a ser ainda hoje recordado nas ementas de restaurantes conhecidos em toda a Suécia que servem o seu, então, prato favorito, "Gös file Soto Maior" (Fileé de perca ou Lúcio, à Soto Maior).
Como elegante modelo do mais exclusivo vestuário da aristocracia inglesa, fazia inveja com a sua infindável coleção das típicas gravatas de 1800, sempre decoradas com alfinetes de peito feitos de jóias célebres pelo seu preço e trabalho de ourivesaria.
Nos numerosos jantares e festas na sua residência particular fazia sempre questão de se ausentar da mesa em cada intervalo dos inúmeros pratos servidos . Fazia-o para então mudar de gravata e respectivo alfinete de peito na busca de surpreender os convidados. Isto sucedia cinco vezes, ou mais, em cada banquete!
O seu temperamento não aceitava atitudes menos correctas e, apesar da sua frágil estatura, com facilidade acabava em duelos.
Cita-se como exemplo um tal Sr. Baker, diplomata inglês, que se referiu de modo menos correcto quanto falava de uma amiga de Soto Maior. O Sr. Baker sobreviveu ao duelo mas.....sem uma orelha!
Acabou por falecer com 81 anos, só, na sua residência de Estocolmo, sem qualquer família ou contactos próximos em Portugal.
J. Belo
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21602: Da Suécia com Saudade (85): A base aérea de Beja e o apoio alemão ao esforço de guerra de Portugal em África (José Belo)
10 comentários:
Bons tempos, em que ainda havia grandes fortunas, de raiz colonial... no Brasil, em São Tomé e Príncipe... Estou-me a lembrar do Marquês de Vale Flor, do Conde Ferreira (1782-1866) (em cuja "escolinha" tirei eu a 4ª classe, bem como o pai e o meu avô...), o Francisco Mantero (1858 - 1928)(dono da Quinta dos Lilases, em Lisboa, hoje Parque das Conchas e dos Lilases, onde eu e outros tínhamos uma tertúlia de caminheiros, às terças feiras, na época pé-covid 19)...
Diz a Wikipedia (não há grandes referências na Net sobre o Soto Maior), o nosso diplomata teria morrido só e arruinado em 1893. (Estamos em plena "Belle Époque"...)
(...) [nas] Cortes Escandinavas (...) entre Copenhaga e Estocolmo, representou Portugal durante cerca de 30 anos. Possuidor de grande fortuna, viveu principescamente, acabando por se arruinar.
Homem de extraordinária elegância, espírito originalíssimo, e possuidor da maior distinção no trato, foi uma figura que marcou em toda a parte e especialmente na Corte da Suécia e Noruega, onde granjeou as maiores amizades nos círculos mais distintos da Aristocracia Sueca, e onde foi o árbitro das elegâncias ao ponto de as lojas anunciarem: gravatas à Sotomaior, charutos à Sotomaior, etc.
A sua casa era um museu de preciosidades artísticas. Afeiçoou-se tanto à vida na Suécia que recusou nomeações para postos diplomáticos de maior importância, para não deixar esse ambiente de grande consideração e amizade que ali soubera criar.
A sua morte foi sentidíssima não só em Portugal como na Suécia, onde, no Cemitério Católico de Estocolmo, lhe foi erigido um mausoléu por iniciativa e a expensas dos seus amigos, tanto Suecos como Portugueses. (...)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_da_Cunha_Sotomaior_Gomes_Ribeiro_de_Azevedo_e_Melo
Portugueses pelo mundo... É sempre bom poder encontrá-los, ... quanto mais não seja para a gente falar de "saudade"... sentimento estranho, contraditório, difícil de definir... E de "estrangeirados"... LG
O nome correto do que no texto chamei de “gravata” deverá ser “plastron”.
Correção surgida em comentário do meu Amigo Joaquim Mexia Alves ao mesmo texto publicado na Tabanca do Centro.
Informação oportuna pela qual lhe estou grato.
Realmente o termo “gravata” só se generalizou no século XX.
O tal “plastron” usado em fins do século XVIII mais não era que um lenço de tecido nobre ,enrolado ao pescoço com elegante nó que caía em cascata sobre o peito.
Era ornamentado por um alfinete de peito geralmente formado por uma jóia.
As histórias como a do Sr.Visconde de Soto Maior mais não são de que um pequeno reflexo da tão multifacetada sociedade portuguesa de então.
Hoje,observadas desde diferentes perspectivas político -sociais poderão ser apreciadas,analisadas,julgadas ou mesmo condenadas.
São no entanto histórias de portugueses espalhados pelo mundo que,a seu modo, deixaram marcas para além das da História com “H” maiúsculo.
Um abraço do J.Belo
Será a simples atração dos contrastes que leva estes portugueses ex...cêntricos a identificar-se (e até a tornar-se "um deles") com outros povos, culturas, territórios ?...
Desconhecia essa história do 1º Visconde Soto Maior, mas há outras, a do Camilio Pessanha / Macau, a do Venceslau Morais / Japão... Sem esquecer o "assuecamento" do nosso cônsul honorário na Lapónia... ou a "sinofilia" do nosso António Graça de Abreu.
Contrariamente ao que se lê na Wikipedia, o Palácio Sotto Mayor, sito no nº 16, da Av Fontes Pereira de Melo não era (nem podia ser) propriedade do nosso visconde de Soto Maior:
Diz a Wikipedia (e nós fomos atrás, embora já tenhamos corrigido): "Foi proprietário do Palácio Sotomaior, às Picoas, na Avenida Fontes Pereira de Melo, em frente ao Teatro Mundial, em Lisboa."
Há aqui uma confusão com outro Sotto Mayor, Cândido Narciso da Cunha Sotto Mayor, também ele "brasileiro" (Valpaços, 1852 - Lisboa, 1935).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_da_Cunha_Sotomaior_Gomes_Ribeiro_de_Azevedo_e_Melo
https://ionline.sapo.pt/artigo/632317/30-de-outubro-de-1935-a-ruidosa-morte-de-c-ndido-sotto-mayor?seccao=Mais_i
Leia-se esta ficha sobre o palácio Sotto Maior, no sítio (oficial) do Património Cultural:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_da_Cunha_Sotomaior_Gomes_Ribeiro_de_Azevedo_e_Melo
Nota Histórico-Artistica
(...) A construção deste edifício de feição eclética, projectado em 1902 pelo arquitecto Ezequiel Bandeira, será ultimada em 1906, já sob a responsabilidade do engenheiro António Rodrigues Nogueira.
Nesta empreitada trabalharam ainda, na definição e decoração do espaço interior, os arquitectos Evaristo Gomes, João António Piloto, o entalhador António Pucce e os pintores Domingos Pinto, Teixeira Bastos, Ordoñez e Ribeiro Júnior.
Trata-se de um imponente edíficio, arquitectado para servir de residência ao abastado banqueiro Cândido da Cunha de Sotto Mayor.
Possui planta composta, estruturada em três corpos de área rectangular, com três andares. Uma escadaria em leque, neo-renascentista conduz para o corpo central, onde, no piso térreo, três portas de moldura rectatangular, separadas por colunas adossadas definem uma gramática repetida nas janelas de sacada do segundo piso. Todavia, a demarcação de espaço entre as janelas é feita através de pilastras coroadas por cariátides (da autoria do escultor José Neto); indiciando assim a presença de um vocabulário classicizante, repetido nos arcos de volta perfeita que encimam, não só estas fenestrações, como as dos corpos laterais, que na sua similitude repetem a mesma linguagem estética. Um torreão no extremo sudeste do edificio, de feição tardo-maneirista, de planta poligonal , sublinha o carácter eclético da construção.(...)
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71260
Os mal entendidos quanto aos ramos da família Soto Maior/brasileira e os Soto Maiores/portugueses.
Recentemente,utilizando as tais “confusões”,brasileiros ligados à cultura e vivendo na Escandinávia,tentaram “apoderar-se” do nosso Soto Maior e das suas “histórias” apresentando-o como brasileiro.
Infelizmente o erro espalhou-se em meios suecos.
Já houve busca de correção por parte portuguesa.
Para além de haver Soto Maior brasileiros e portugueses ,o facto de o pai do nosso Soto Maior ter sido embaixador de Portugal no Brasil,somado ao filho ser português nascido no Brasil e,seguidamente,o filho vir a ser embaixador de Portugal na Suécia .....tudo acaba para criar condições para tais...confusões.
O “dito” favorito de Soto Maior seria qualquer coisa como:
“A vida mais não é que uma loucura
E as loucuras dançam-se “
(La vie c’est une folie, et la folie c’a se dance!)
Um abraço
J.Belo
Caros Luís Graça e José Belo,
Boa tarde.
O apelido "SOTTO MAYOR" que, a partir de meados dos anos cinquenta do século XX, passei a pronunciar com frequência no meio familiar, por residir a uma centena de metros do «PALÁCIO DE SOTTO MAYOR, na Figueira da Foz, onde os meus avós paternos tinham uma moradia, e era utilizada pelos seus netos para passarem as ditas "férias grandes escolares", está associado à família "Sotto Mayor" que o Luís acima refere.
Vejamos, então, um pouco mais da sua "história":
PALÁCIO SOTTO MAYOR – FIGUEIRA DA FOZ
Este palácio foi mandado construir por Joaquim Felisberto da Cunha Sotto-Mayor.
Os terrenos foram adquiridos em agosto de 1900 e a sua construção demorou cerca de 20 anos (1902 a 1922).
Joaquim Sotto-Mayor nasceu a 11 de março de 1845, em Lebução, concelho de Valpaços, e faleceu neste palácio em 23 de abril de 1933. Era filho de José Lino da Cunha Sotto-Mayor, natural de Chaves, e de Ana Lúcia Garcez Palha, natural de Lisboa.
Joaquim Sotto-Mayor foi emigrante no Brasil onde foi dono da grande empresa do Rio de Janeiro, Casa Comercial Sotto-Mayor & Companhia, juntamente com o seu irmão Lino.
Regressa a Portugal em 1886 e reside inicialmente no Porto, onde nasceu a filha Maria del Pilar e depois em Lisboa, onde nasceram a Maria Madalena, o Joaquim, o Alberto, o Vasco e o José.
Mais tarde, pela mão do figueirense Alberto José dos Santos conheceu a Figueira da Foz, onde passou férias várias vezes. Apaixonou-se pela cidade e pela região, tendo adquirido terras no Alto do Viso, entre a Figueira e Buarcos.
Nestes terrenos mandou construir o mais monumental edifício residencial da Figueira da Foz, o Palácio de Sotto Mayor.
O edifício tem cinco pisos e é considerado o “mais belo e sumptuoso edifício da Figueira da Foz”. O projecto, ao estilo dos palacetes franceses, é da autoria do arquiteto gaulês Gaston Landeck.
No seu interior há pinturas de António Ramalho, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes e António Carneiro.
O vitral que ilumina a escadaria nobre é da autoria de Bernard Champigneulle (1896-1984).
Na fachada posterior existe uma galeria e uma escadaria em estilo Luís XVI que dá acesso a um jardim romântico e a uma torre mirante que segue de perto a tipologia da Torre de Belém.
O palácio foi adquirido em 1967 pela Sociedade Figueira Praia e abriu as portas ao público em 1980.
Como curiosidade, refere-se que Joaquim Sotto Mayor era tio de Cândido Narciso da Cunha Sotto Mayor, proprietário do ex-Banco Pinto & Sotto Mayor, fundado em 1914, que mandou construir um palacete na Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, com uma arquitectura idêntica à do palácio da Figueira da Foz.
https://www.facebook.com/imoexpansao.imobiliaria/posts/1219132051554652/
Sem mais,
Um abraço para ambos.
Jorge Araújo.
As conversas são como as cerejas
Os tectos do Palácio Sotto Mayor, na Av. Fontes Pereira de Melo, assim como os do Palácio Foz, nos Restauradores, em Lisboa, foram obra do mestre-estucador Meira e outros estucadores de Afife.
Em criança conheci o sr. Meira, filho do mestre, e em 1995 ainda a neta do mestre com mais de oitenta anos era viva. Em 2016 ainda a sua casa estava de pé avistando-se o celebre cão de guarda feito em estuque empoleirado numa varanda exterior.
Abracelos
Valdemar Queiroz
Na bio de Amália Rodrigues por Vítor Pavão dos Santos, aparece mencionado o Salão Bernscojo o sítio onde Amália se estreou em Estocolmo em 1957. Só agora vejo fotos do espaço.obg
*...Berns como o sítio....
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