quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21602: Da Suécia com Saudade (85): A base aérea de Beja e o apoio alemão ao esforço de guerra de Portugal em África (José Belo)



José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada, 
1968/70); cap inf ref, jurista,  autor da série "Da Suécia com Saudade;  vive na Suécia 
há mais de 4 décadas; régulo da Tabanca da Lapónia; tem 180 referências no nosso blogue: 


1. Mensagem de José Belo:

Date: terça, 10/11/2020 à(s) 01:39
Subject: A base aérea de Beja e o apoio alemão

A localizacão estratégica da planície alentejana, longe de um possível teatro de guerra, foi decisiva para a instalação de uma estrutura militar de grandes dimensões que deveria funcionar como plataforma entre a Europa e os Estados Unidos no caso de uma ofensiva militar soviética sobre a Alemanha.

A instalação desta base teve papel preponderante no auxílio alemão a Portugal, destacando-se o fornecimento de equipamentos militares,sem os quais seria muito difícil a Portugal enfrentar as guerras em África. "garantindo ao mesmo tempo o tratamento em hospitais alemães de militares portugueses gravemente feridos em combate!.

Quando foi conhecido o teor do acordo entre os dois países de imediato surgiram críticas por parte dos governos africanos, obrigando o governo alemäo a "prestar mais atençã à sua posicäo externa de solidariedade com os justos anseios dos povos africanos".

A partir de 1964 assistiu-se a um progressivo arrefecimento nas relacöes luso-alemãs,  designadamente no campo militar, com reflexos na utilização prevista para a base de Beja.

Dá-se ento uma alteraÇÃo no conceito estratégico de defesa da NATO.

A obtenção de paridade nuclear entre as duas superpotências em 1966 relegava para segundo plano a rede de apoio logístico na retaguarda que tinha sido concebido para Beja.  (Será detalhe interessante o facto de o governo espanhol só autorizar a passagem de aeronaves alemãs pelo seu espaco aéreo com destino a Beja desde que os pedidos fossem solicitados com uma semana de antecedência e "caso a caso").

Foi programado alojar em Beja 5.250 cidadãos da RFA [República Federal Allemã],entre militares,funcionários,e respectivas famílias.

Näo era possível antecipar do ponto de vista humano as consequências resultantes deste súbito acréscimo de população estrangeira com um "nível de vida e culturalmente superior ao da grande maioria dos residentes da cidade".

Esperavam-se profundas transformações na ordem sócio-económica local.

E, quase espelhando problemas com as bajudas-lavadeiras na Guiné..., uma das preocupações residia no relacionamento dos militares estrangeiros com as... mulheres de Beja!

A comissäo luso-alemã que presidia à instalação do projeto militar, reclamava um código de conduta que "deveria servir de guia aos forasteiros quanto aos costumes locais". Principalmente quanto às relações com as mulheres, pois "seriam mais susceptíveis de causar conflitos com a população masculina". (G'anda alentejanos!)

As famílias abastadas de Beja foram confrontadas com o alastramento do "fenómeno militar alemão".
Não estavam a conseguir garantir a continuidade do "pessoal para servicos domésticos do sexo feminino a que habitualmente se dá a designação de...criadas de servir". (E o ditador lá voltou a "meter água" junto dos seus amigos do latifúndio. )

Os alemães ofereciam um salário mensal de 1.500 escudos que contrastava com os 300 escudos pagos pelas famílias abastadas.[em 1965, equivaleriam, a preços de hoje a cerca de 590 euros, e 118 euros, respectivamente, ou seja, os alemãs pagavam cinco vezes mais].

Por outro lado as instalacöes destinadas ao pessoal alemäo "näo deveriam incluir instalações para as criadas de servir." Estas exigências locais, entre outras, foram recusadas.

Em 1966 chegou à Base o primeiro contingente militar alemäo. Ali se mantiveram até 1993.

A estrutura militar que os alemães ergueram em Beja estava preparada para receber aeronaves de grande porte.

A própria NASA selecionou a pista como alternativa de aterragem para o Space Shuttle. Foram pistas classificadas como as de maior extensão a nível europeu.

Com uma área de mais de 800 hectares, tem condições para receber aeronaves de grande porte para além de 60 aviões tipo C-130 e mais de 300 aviões F-16.

Esta capacidade de acolher grandes meios aéreos é de importäncia extrema como base de retaguarda.
Concluídas muitas décadas desde o arranque de um projecto dimensionado para fazer face a um determinado contexto geoestratégico, cresceram as dificuldades com a manutencäo desta estrutura de grande dimensão pelos elevados custos envolvidos.

As restrições orcamentais impostas pelo governo reduziram a actividade militar na FAP e vieram a reflectir-se na manutenção e funcionamento desta Base.

Mas, e à distância no tempo, talvez seja melhor concentrarmo-nos no sério problema então surgido com as...criadas de servir!

Adaptação / condensação: J. Belo

Fontes: "Folha de S. Paulo", jornal "Público", Ana Mónica Fonseca, historiadora ("Política Externa Portuguesa/Dez anos de relaçöes luso-alemäs 1958-1968").
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de novembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21524: Da Suécia com Saudade (84): Ainda as “anedotas” do outro lado da “Cortina de Ferro”: recordações da Deutsche Demokratische Republik (José Belo)

14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

José Belo, o soldadp que faz a guerra não sabe,não tem consciência de que muitas vezes, quase sempre,é apenas um peão de brega (, para usar a terminologia da "festa brava", agoar também caída em desgraça...). Ou nem isso pior do que isso: é sempre carne para canhão, a primeira grande vítima dos "senhores da guerra"...

Confesso que desconhecia a relação imediata entre todas estas coisas da nossa história recente, a base aérea de Beja, a estratégia da NATO, o papel da Alemanha,a guerra fria... e a nossa "guerrazinha"...

Dizes: "A instalação desta base teve papel preponderante no auxílio alemão a Portugal, destacando-se o fornecimento de equipamentos militares,sem os quais seria muito difícil a Portugal enfrentar as guerras em África, garantindo ao mesmo tempo o tratamento em hospitais alemães de militares portugueses gravemente feridos em combate!"...

Não temos abordado isto no nosso blogue, com o devido informacional e documental, e acho que nos interessa aprofundar: o fornecimento de equipamento militar moderno de origem alemão (RFA) (caso da G3 e do Fiat G-91), para além do apoio político e diplomático "mais discreto", a par do tratamento dos nossos feridos politraumatizados num hospital em Hamburgo... Temos falado do apoio sul-africano, mas não de alguns dos nossos aliados da NATO, nomeadamente a Alemanha e a França.

Sim, não estou a imaginar a guerra da Guiné, sem o Fiat G-91 nem a G3... Ou o helicóptero Alouette II e III, ou a Panhard, estes material francês... (Só há dias soube que a Panhard foi desenhada para combater na guerra da Argélia...).

Salazar soube tirar partido da "guerra fria" para se manter no poder, no pós-II Guerra Mundial, mas tudo isto tem um preço... A cedência da Baje de Base tinha/teve um preço...

Zé, obrigado pela tua informação e reflexão... Afinal, não era só a Suécia a meter o bedelho na Guiné, apoiando o seu "peão de brega", o PAIGC do Amílcar Cabral.... A Alemanha (e a NATO) também fizeram de nós "peões de brega"... "Não há almoços grátis", dizia o nosso ex-primeiro ministro e PR, Cavaco Silva...

As "razões de Estado" mudam com os regimes: combatemos a Alemanha,aspirante a potência colonial, na I Guerra Mundial, não só na Flandres, como em Angola e Moçambique...

Anónimo disse...

Não se deve esquecer a Base Militar Francesa nos Açores,menos famosa por quase “à sombra” da mais importante Base Norte-Americana.

Base de Santa Cruz das Flores.
Estação de Telemedidas,infraestrutura militar destinada ao rastreio de mísseis balísticos.
Esta Base foi desmantelada em 1933.

Segundo o Jornal Açoriano Oriental:
Construíram a pista do aeroporto local.
Investiram nas redes viárias e elétricas da ilha.
Construíram uma barragem.
E,não menos, um Hospital com bloque operatório,partos,análises clínicas e dentista.

Chegaram a lá viver 300 militares e famílias francesas,dando emprego bem remunerado a jardineiros,mecânicos,electricistas,empregadas domésticas,etc.

A tal “Potência Colonial” colonizada por portas traseiras.
Americanos,Alemães,Franceses, vieram trazer às zonas envolventes das suas bases militares infra-estruturas económicas ,sanitárias e sociais não ao alcance (ou seria interesse?) do governo da ditadura.

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

Curiosidades sobre a Base de Beja e a "ajuda" alemã na guerra da Guiné.
O soldado Adulo Jaló do meu Pelotão, CART11, devido a uma emboscada (1967) enquanto milícia, foi evacuado/tratado a ferimentos graves na cabeça num hospital alemão em Hamburgo. Em 1969 apresentou-se em Contuboel para instrução e posterior incorporação na CART11.
Em Vila Nova de Milfontes, com a construção da Ponte nos finais dos anos 70 e o desenvolvimento turístico no início dos anos 80, por proximidade de Beja, foram os alemãs os primeiros turistas estrangeiros a aparecer por lá. Inicialmente foram uns hippies com as frauen a lançarem a moda do monokini e do semkini, dizia-se que eram toxicodependentes em tratamento a custas do estado alemão, que alguns se fixaram e criaram negócios na restauração e actividades turísticas.
E tudo isto deu para esquecer o torpedeamento ao navio de Carvalho Araújo e as mortes de soldados portugueses em Moçambique e na Flandres, feito pelos alemãs. Mas tudo tem a ver com as mãos dos intervenientes, já que com o aperto de mão ao Fidel de Castro quando esteve na cidade do Porto foi um 'não se devia sequer autorizar a entrada no nosso país'.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Manuel Luís Lomba disse...

Naquele tempo, dizia-se e escrevia-se que a função da base aérea de Beja era a de treino da FA alemã, dados fenómenos ecológicos emergidos na natureza e na sociedade alemã, caracterizados pela emergência de movimentos afins. Os peixes deixaram os seus rios e os passarinhos deixaram de cantar (os alemães são muito sensíveis aos irracionais, desproporcionalmente aos racionais...).
Em 1976, tive ocasião de assistir a uma grande festa em Leverkusen: tinha sido avistado o primeiro salmão a subir o Reno, consequência das ETAR´s das águas sujas das indústrias pesadas Krupp, etc e das químicas Bayer, etc.
Nos 40 anos em que andei à caça pelo Alentejo e até este post do J. Belo, vi manobras dos "Tornado?" alemães a partir da base de Beja - não raro assustavam as perdizes! - convencido da sua existência pela semelhança do território alentejano com as planícies alemãs e dos seus vizinhos do leste.
No tocante à ajuda de material de guerra, a Alemanha era tradicionalmente o nosso principal fornecedor de armamento militar. Para a guerra do Ultramar apenas nos terá fornecido as avionetas Dornier, intermediado a nossa compra da patente da G3 à Checoeslováquia e da venda dos FIAT G 91 pela África do Sul.

Anónimo disse...

Se os alemães “apenas” nos forneceram tão pouco ......o governo da ditadura vendeu a Base de Beja a preço de... ciganos.

E tantos de nós a julgarem que o ditador era um verdadeiro “chico esperto”.
Enfim,sempre a aprender com .....historiadores.

Um abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o Fiat G-91, pode ler-se na Wikipedia... (Não consta que a África do Sul tivesse esta aeronave...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fiat_G.91

(...) O FIAT G-91 foi um caça-bombardeiro leve, vencedor de uma competição da NATO, com o objectivo de encontrar um avião de ataque ligeiro, barato, com baixo custo de manutenção, capacidade para operar a partir de pistas curtas e rudimentares e capaz de boas performances e desempenho.

Foi introduzido e operado pela Aeronautica Militare Italiana, posteriormente pela Deutsche Luftwaffe da Alemanha e Força Aérea Portuguesa, ao serviço da qual efectuou missões de combate, na denominada Guerra Colonial Portuguesa.

(...) A Alemanha operou um total de 460 aeronaves Fiat G.91R3 / R4 e T/3, das quais 294 foram de construção doméstica e as restantes de fabrico Italiano, nas quais se incluem 50 Fiat G.91R4 destinados à`Turquia e à Grécia, mas por ambos os países recusados, deste conjunto de 50 aeronaves 40 foram transferidas para a FAP em 1966. A Alemanha retirou o seu último Fiat em 1982. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Demos a palavra a que tem estudado, com seriedade e rigor, estas questões, neste caso a história dos Fiat G-91 da nosssa FAP... Refiro-me ao investigador José Matos, que é também membro da nossa Tabanca Grande:

SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2020
Guiné 61/74 - P20965: FAP (116): O último ano do Fiat G-91 - II (e última) Parte (José Matos)


... Leiam-se alguns excertos do poste:


(...) Em busca de novos Fiat

Em Dezembro de 1973, a Força Aérea recebe informações de que a Luftwaffe pretende desactivar durante o ano de 1974, 50 a 60 jactos Fiat G.91 R/3 com uma média de 1800 a 2000 horas de voo havendo interesse da parte portuguesa em comprar alguns destes caças para reforçar a frota da FAP.[46]

O problema é que o Governo de Bona não pretende vender os aviões a qualquer país estrangeiro, com o receio que o destino final seja sempre Portugal. A venda de armas a Portugal é um tema politicamente sensível na Alemanha, desde que o G.91 do Tenente-Coronel Almeida Brito apareceu nos jornais alemães como sendo de origem germânica, o que gerou críticas contra o Governo. [47]

Desta forma, torna-se impossível a compra dos aviões na Alemanha. O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), General Tello Polleri, ainda tenta explorar, junto de Espanha, a possibilidade destes aviões serem comprados pelas Construcciones Aeronáutica S.A (CASA), para depois serem vendidos a Portugal, mas sem sucesso.[48]

Ao mesmo tempo, o Governo português tem em curso negociações para a compra de caças Mirage em França, mas o negócio esbarra na intransigência francesa de não permitir que os Mirage sejam usados na Guiné ou em Cabo Verde, uma exigência que dificulta um acordo entre Paris e Lisboa. [49]

A falta de novos Fiat preocupa a Força Aérea e a 3ª Repartição do EMFA produz, em Fevereiro de 1974, um estudo sintético sobre o problema em que considera que, face ao número de aviões existentes (31 unidades) e tendo em conta a depreciação da frota por acidentes e acção do inimigo, a FAP precisa de mais 25 aviões e 28 motores que deviam ser adquiridos nos dois anos seguintes.

Na altura, a ZACVG dispunha de 11 caças, a 3ª Região Aérea em Moçambique de 16 e a BA5 de 4, embora estivesse previsto o reforço da 3ª RA com mais 4 jactos, ficando Monte Real sem qualquer avião para treino operacional.[50] (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Este poste do José Matos é ainda mais esclarecedor sobre o nosso fornecedor de Fiat G-91 que vieram substituir, em 1966, o F-86F nos céus da Guiné:

2 DE FEVEREIRO DE 2018
Guiné 61/74 - P18278: José Matos: O F-86F Sabre em combate no CTIG: da Op Atlas em agosto de 1961 ao seu regresso a Portugal, por pressão do "amigo americano" e sua substituição, em 1966, pelo nosso familiar Fiat G-91, cedido pelo "amigo alemão" (Artigo original publicado na prestigiada Revista Militar, nº 2584, maio de 2017)


Excerto do poste:

(...) Em busca de uma alternativa

Para compensar a falta dos Sabre, o ministro propunha várias medidas alternativas. Uma delas era reforçar o dispositivo na Guiné com aviões T-6 e alguns PV2 provenientes de Angola, a outra, era procurar rapidamente no mercado mais aviões F-86 e, caso isso não fosse possível, transferir alguns F-84 de Angola para a Guiné.

Neste sentido, escreve ao Comandante-Chefe de Angola, dando conta da decisão do ministério de transferir para a Guiné os aviões F-84 de reforço em Angola. A decisão do ministro é analisada no comando da 2ª Região Aérea em Luanda, que emite um parecer desfavorável quanto a um possível envio de caças F-84 para a Guiné (31).

Em alternativa, o Governo Português tenta comprar um lote de caças canadianos F-86 Sabre 6 ao serviço da Luftwaffe, mas o negócio é vetado pelo Canadá por influência dos EUA (32). Perante a recusa canadiana, a Alemanha Ocidental oferece então um lote de caças Fiat G.91 R/4, que se revelaram mais adequados ao tipo de guerra subversiva que se desenrolava em África (33).

Contudo, a retirada dos F-86 reflectiu-se no rendimento dos meios aéreos em Bissalanca. Enquanto, em 1964, se registaram 13 820 horas de voo no AB2, esse número decresceu para 13 417 horas, em 1965 (34). A falta só seria compensada em 1966, com a chegada dos primeiros Fiat G.91 à Guiné. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...


As fontes consultadas, na Net, para apontam a cedência dos Fiat G-91, pela Alemanha, em 1965, como contrapartida da Base Aérea de Beja:

https://military.wikia.org/wiki/Fiat_G.91

(...) In 1965, as the scale of fighting increased, Portugal attempted to purchase 100 surplus Canadian built Sabre Mk 6s from West Germany, but instead, it was offered 40 G.91R/4s,[19] which had originally been built for Greece and Turkey and which differed from the rest of the Luftwaffe G.91s sufficiently to create maintenance problems in exchange for allowing Germany to build and use an airbase at Beja in Portugal for training.[18][20]

G.91s arrived in Portuguese Guinea in 1966, equipping Esquadra 121 Tigres based at Bissau, and being used for reconnaissance and close support with rockets, napalm and bombs against PAIGC rebels.[21] When the PAIGC started to be supplied with Soviet-made Strela 2 (NATO designation SA-7 Grail) MANPADS in early 1973, these immediately became a threat to Portuguese air superiority. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o nosso armamento, tipologia e origem, recomenda-se a leitura do o excelente artigo constante do sítio:

Universidade de Coimbra > Centro de Documentaçao 25 de Abril > Guerra Colonial - Armamento dos Portugueses


http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1671

Alguns excertos:

(...) O armamento e equipamento do Exército português no início da década de 60 decorria de três períodos distintos:

- material adquirido no final da década de 30, perante a situação criada pela Guerra Civil espanhola e pelo início da Segunda Guerra Mundial e essencialmente de origem alemã (espingardas Mauser, metralhadoras ligeiras Dreyse e Borsig, obuses de 10,5 cm) e italiana (metralhadoras Breda, obuses de 7,5 cm). Os calibres eram os dos países de Eixo, nomeadamente o 7,92 mm (ou 7,9) das armas ligeiras;

- material recebido durante a II Guerra Mundial, sobretudo de contrapartidas da utilização dos Açores. Era principalmente pesado (obuses de 8,8 cm e 14 cm, peças de 11,4 cm, peças AA de 4 e 9,4 cm). Os calibres eram essencialmente ingleses;

- material recebido após a entrada na NATO e destinado essencialmente à 3ªDivisão (canhões sem recuo de 57 mm, 75 mm e 106 mm, metralhadoras de 12,7 mm, morteiros de 60 mm, 81 mm e 107 mm, viaturas blindadas e carros de combate). (...)


(...) Conclusões:

- A primeira conclusão a que se pode chegar é que o armamento ligeiro existente em 1961 estava obsoleto: as espingardas eram de repetição, de calibre ultrapassado, as metralhadoras, do mesmo calibre, datavam da II Guerra Mundial e o material mais moderno estava, por regra, submetido aos acordos NATO quanto ao seu emprego. Paralelamente, este último não era adequado para a guerra de guerrilhas: peso elevado, excesso de potência, armamento pesado vocacionado para a luta anticarro e antiaérea, munições não apropriadas. Consequentemente, o material enviado para o ultramar era o mais antiquado, inclusive anterior à II Guerra Mundial;

- O eclodir da guerra, se não apanhou o Exército completamente desprevenido, apanhou-o mal equipado; e a situação política internacional complicou ainda mais a obtenção, agora urgentíssima, de armamento que, a bem dizer, já estava vulgarizado – e até ultrapassado – noutros exércitos europeus. Para isso, houve que recorrer aos fornecedores acessíveis e improvisar a nível interno;

- É de salientar o esforço feito pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) ao conseguir, em meses, a produção de componentes de G-3, e em pouco mais de um ano a arma completa; bem como a produção da HK-21 em 15 meses, com todos os problemas de transferência de tecnologia, aquisição de maquinaria, preparação de pessoal; (...)

Valdemar Silva disse...

Assim até dá gosto, qual confinamento qual carapuça.
Ainda ontem, houve caçadas às perdizes no Alentejo por gente do norte. Carago, não fora os "Tornados?" alemães até as comiam. E não venham os covidestatísticos com aquela de os alentejanos infectados e tal e coisa o norte ser a região com mais infectados. Treta da boa.

Nos mais de 30 anos de banhista do sudoeste alentejano, também levei com uns vvrrrrrrrrrruummm
dos jactos de Beja que assustavam os banhistas e levantavam as toalhas para as frauen di sich sonner. A caça era outra.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

ESTRANGEIROS E AFINS...

Devido a ter um tio Padre que exerceu em Pias e posteriormente em Sines permitiu-me conhecer relativamente bem a realidade local.
Os militares alemães e respetivas famílias que viveram em Beja nunca se integraram na sociedade local porque nunca quiseram.
Quanto às ditas "criadas de servir" pagavam acima da média, é verdade, julgo que o próprio RDM alemão a isso obrigava.
Apareceram na costa vicentina muitos alemães e não só, na década de sessenta, a grande maioria eram "maconheiros, hipyes, e afins.." não se sabendo muito bem qual era o seu sustento, havendo muitas versões qual delas a mais "estranbólica" , que nisto a imaginação do alentejano é muito fértil.
Também co-existiam alemães altamente qualificados devido à construção do complexo industrial da área de Sines sendo a maioria engenheiros.

Um dia em Porto Covo, que não era como hoje, estando o meu tio a celebrar missa na pequena capela com as portas abertas e consequentemente virado para a rua, apareceu uma "alemona" mesmo... mesmo.. mas mesmo muita booo... que resolveu tomar banho na fonte em frente, toda "descascada" para delicia dos meus olhos.
Como não era e não sou religioso, estava à porta e assisti então aos gestos desesperados do meu tio que abrindo e fechando os braços me pedia para fechar a porta, o que eu fiz com gosto.

A "alemona" continuou nas calmas a lavar-se e quando terminou foi à sua vida.

AB
C.Martins

Valdemar Silva disse...

C. Martins
Deveria ter sido só visto essa da "alemona" a tomar banho na fonte em frente da Capela de Porto Covo. Nos anos 70/80 era o lava pés da malta que vinha da praia.
Por essa altura o Forte do Pessegueiro estava cheio dessa rapaziada que até tinham destruído o estrado/ponte de acesso sul ao interior. Só no fim dos anos 80 é que a GNR desocupou todo o Forte, que entrou em obras de conservação dos estragos acumulados ao longo dos anos apenas restando quatro pequenas canhoeiras de bronze? dos velhos tempos da ocupação militar. Os canhões ainda lá estavam em 2002.
O dito fontenário fica no centro da Praça Marquês de Pombal, que ainda mantêm o traçado e as primitivas casas baixas caiadas de branco com barras azuis e portas vermelhas, e a torna umas das mais belas Praças de Portugal.
Bons tempos.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caros amigos,
Se me permitem, nos Açores, não podemos esquecer a primeira base nos Açores, o aeroporto de Santa Maria que, com a saída dos americanos para a Base das Lajes, passou a ser o portal aéreo internacional entre a Europa e as Américas. Muitas vezes esquecidas ficam as companhias de cabos submarinos sediadas na Horta e anteriores ao conflito da WWII.
As ilhas de Santa Maria, Terceira, Horta e Flores, economicamente e socialmente, beneficiaram grandemente com todos estes contractos internacionais. Numa região que pouco trabalho produzia para além da agricultura e pesca, a vinda dessas bases foi um autêntico maná. Para além disso, os salários eram superiores aos praticados do mercado local e consequente poder de compra. As bases empregavam muita gente, sobretudo a americana nas Lajes da Terceira, e isso permitiu que pessoas de outras ilhas ali tentassem a sua sorte. Todo esse processo libertou terreno que passou para aqueles que até aí pouco ou nada tinham. Tudo isso contribuí para uma melhoria do bem-estar geral das populações.
Num aparte,
Gostei de ler este artigo e o envolvimento da base de Beja, que tive o prazer de visitar na minha última passagem por aquela cidade. Lá estava um avião da SATA a caminho da sucata. Mas o que mais me chamou a atenção foi o bairro alemão cedido à cidade. Segundo as informações que recebi no local, os alemães deram-se ao luxo de arranjar, pintar e sanear o bairro antes de o entregarem. Quando assim é, apenas resta um bem hajam.
Abraço transatlântico.
José Câmara