terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21600: Blogpoesia (708): Prosema "Novembro neste ano de pandemia" (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Inf Op Esp)

Vista de Torre de Moncorvo - Foto: Caravan Concierge / Google Maps, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 30 de Novembro de 2020, trazendo ao Blogue um "prosema":



PROSEMA – NOVEMBRO NESTE ANO DE PANDEMIA


Em Novembro correm as brisas nas serras mas não correm os homens cheios de vazios olhando o futuro sem futuro vazios de sonhos vazios de esperança.

Gritos para deuses desconhecidos sem gritar oh, deixai-nos lançar gritos, ao menos gritos que ajudem a viver.

E nem o vento liberta sons nem a chuva parece acertar nos telhados nem os gatos espreitam à nossa porta…

Terão medo, adivinharão a tristeza dos que lhes lançam a comida em pratinhos na rua, é assim na minha rua os gatos vivem nos quintais e vêm desconfiados comer à porta.

Vêm os homens vazios de memórias e atravessam a praça, descrentes.

Somos amigos e inimigos não navegamos nos sonhos das distâncias nem sonhamos com mares e montanhas…

Estamos vazios no recolhimento e na poesia que inventamos e nas garças que nos olham nos rios da nossa infância…

Estamos aqui sem olharmos os mortos nem saber os seus nomes só os números que nos lançam como bombardas.

Vens vazio, amigo, só trazes o teu carinho e as cerejas de Junho o vinho malvasia e as castanhas da serra que colheste neste último Outubro.

Vens vazio, amigo, só trazes o teu cuidado e pedaços de pressa ali à porta e um olhar metido nos meus olhos marejados.

Vens vazio, amigo, só trazes o amor... e não trazes a Vila contigo. Trazes a ânsia dos rostos e nem damos conta das crianças e mulheres e homens que estão na ilha grega de Lesbos…

Onde está o nosso tempo o tempo de passearmos pela nossa Vila?

E eu só posso dar-te alguma



Poesia do Jorge de Sena e da Sofia e do Rogério…
Paulo Cordeiro Salgado
Novembro de 2020

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21592: Blogpoesia (707): "Hecatombe de estrelas", "A Criação" e "A sobriedade dos gestos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Muito bem, belo o texto poético feito a várias mãos... para dizer em voz alta contra as muralhas que nos sitiam...

Mas não podemos perder a direção da luz ao fundo do túnel, mesmo que a gente ainda não a veja...Como diria o poeta Goethe, temos de ver com os olhos de sentir e sentir com as mãos de olhar... Boa noite,Moncorvo!... Luís