Safim, Abril de 1974 - Lendo o jornal República
1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 5 de Fevereiro de 2022:
Amigos e camaradas,
Apesar de muito importantes, as fotografias não dizem tudo sobre nós. Esta mensagem e a fotografia anexa pretende recordar um período da nossa História que eu vivi intensamente.
A fotografia que vos trago hoje é de um membro da Delegação do MFA de 22 anos de idade da CCaç 4541/72, nos balneários do Quartel de Safim a ler o Jornal República.
Fundado em 15 de Janeiro de 1911, o jornal República, foi um Jornal da Oposição moderada ao Governo do Estado Novo e como muitas outras instituições e pessoas deste País não resistiu ao vendaval do PREC.
Na minha opinião, as duas datas mais importantes antes e depois do PREC são o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, por isso dou muita importância às Comemorações do 25 de Abril de 74 porque pôs fim ao Estado Novo e à Guerra Colonial e também dou muita importância às comemorações do 25 de Novembro de 75, porque sem esta data, continuaríamos seguramente a não ter, a democracia, nem o País que ainda temos hoje.
É no entanto necessário falar do que aconteceu entre estas duas datas, isto é - a 5.ª Divisão do MFA e o PREC-, para percebermos como chegámos ao 25 de Novembro de 1975.
Em 17 de Junho de 1974 é publicado na Guiné o Boletim Informativo n.º 2 do MFA na Guiné, em formato A3 que refere nomeadamente na sua pág. 4, cito - Constituição de uma Repartição de Relações Públicas e Acção Psicológica (espécie de 5.ª Repartição) a funcionar ao nível do EMGFA, - que mais tarde se assumiu na Metrópole em 9 de Setembro desse mesmo ano como - 5.ª Divisão do MFA .
Neste documento começam as minhas reservas com a orientação política do MFA na Guiné, que depois irão aumentar durante o período do PREC.
Ler o Jornal República, era comungar daquilo que no Jornal se escrevia, e acompanhar os seus problemas internos durante o PREC e em particular no Verão Quente de 1975, serviu para reforçar as minhas convicções.
Quando finalmente no dia 25 de Novembro de 1975, o Ten. Cor. Ramalho Eanes e o Maj. Jaime Neves puseram novamente o País nos eixos, foi com alívio verificar, que afinal não estava sozinho naquela barricada.
De facto até o Director, a equipa redactorial e colaboradores do Jornal República, nomes que não vou divulgar, nem emitir qualquer comentário, mas que estavam nessa barricada.
Foi necessário esperar 46 anos para receber a triste notícia dum Senhor, rijo mas moderado, o "Velho" Gen. Ramalho Eanes, ex-Presidente da República com apenas alguns "gatos pintados" e aquela coragem, à chuva a dar o exemplo, nas comemorações do último 25 de Novembro.
Foi uma comemoração desvalorizada e apagada, para dar um sinal político ao País, que as coisas tinham mudado e que eles é que mandam. Que mais disseram esses Senhores que mandam nisto tudo? Disseram apenas que o 25 de Novembro é uma data que divide os Portugueses. E é verdade, visto que do lado desses Portugueses, já só falta o casamento, porque a união de facto, há muito que já existe.
Luís de Camões tinha razão, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (...). Será que a próxima data a deixar de ser comemorada, seja o 25 de Abril?
Quando damos tudo por garantido, não damos valor aos melhores, não respeitamos os mais velhos, não defendemos os nossos heróis e procuramos apagar a História, afastamo-nos da razão. Quem sabe se não existe agora mais um problema, à procura de uma solução!
Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur. Mil. At. Inf.
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Nota do editor
Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23184: (In)citações (203): Nós, os fulas e os nossos (mal-)entendidos. a propósito da expressão "(lavadeira) para todo o serviço" (Cherno Baldé / Mário Miguéis)
5 comentários:
Victor Costa
Vamos comemorar o 25 de Abril, o de Novembro ainda faltam oito meses.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Amigo Valdemar, não sabia que gostavas tanto do 25Nov, até o queres comemorar no dia de Natal.
Estás bem?
Abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Há uma coisa que me intriga: são várias as pessoas e vários os motivos ou argumentos dessas pessoas, que passam muitas vezes a referir o 25 de Novembro como o contraponto ao 25 de Abril.
Não serão poucas as vezes que também colocam essas datas em "oposição", ou seja, o que se deve realmente valorizar, incensar, glorificar, é o 25 de Novembro e não o 25 de Abril, essa data "abominável".
Mas acho que não se dão conta, com o afã de "puxarem a brasa à sua sardinha", de que sem o 25 de Abril não haveria 25 de Novembro!
Portanto, o que há de real mudança de estado de coisas é mesmo o 25 de Abril e é essa data que deve ser comemorada.
Claro que não deve haver "apropriações", não deve haver "pais dos acontecimentos", embora também se saiba que muitos foram os que de algum modo contribuíram para esses acontecimentos e que muitos "acomodados" apareceram na 11ª hora.
Mas isso é típico e não deve constituir motivo de admiração.
Hélder Sousa
Meu caro Carlos Vinhal
Por vezes, parece, que é pecado dizer 25 de Abril e em vez de se benzer e dizer que deus me perdoe dizem ... e o 25 de Novembro.
Cada um tem os seus pecados. Eu não tenho pecados, já estou é com dificuldade em contar pelos. dedos.
Viva o 25 de Abril
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Viva o 25 de Abril Valdemar!!!
Como diz o Hélder Sousa, sem 25 de Abril não havia 25 de Novembro, nem teria havido a posterior tentativa de golpe.
Saúde da boa para ti e todos os camaradas companheiros
Eduardo Estrela
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