sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P22496: In Memoriam (442): ex-alf mil médico Francisco Pinho da Costa (1937-2022), CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68); oftalmologista, tinha 85 anos, vivia em São João da Madeira


São João da Madeira > 23 de outubro de 2021 > Dois velhos camaradas do tempo de Porto Gole: o alf mil at inf João Crisóstomo, da CCAÇ 1439 (1965/67) e o alf mil médico Francisco Pinho da Costa, do BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68). Foto tirada pela Vilma. (*)

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do médico e meu amigo dr. Joaquim Pinho, especialista em medicina do trabalho, a viver em São da Madeira, e leitor atento do nosso blogue:




Data - segunda, 1/08/2022, 15:07
Assunto - Óbito.

Hoje, em S. João da Madeira, às 16 horas, realiza-se o funeral do médico oftalmologista dr. Francisco Costa

Francisco Costa, de 85 anos, foi alferes miliciano médico na Guiné.

Ab, Joaquim Pinho


2. Hoje, sexta-feira, dei conhecimento a alguns camaradas que conviveram com o dr. Francisco Costa, nomeadamente o dr. Adão Cruz e o João Crisóstomo, sendo do seu tempo no TO da Guiné_

João: uma triste notícia... Vou publicar (**)... Queres acrescentar algo mais ?... 

Estiveste em outubro passado, em São da Madeira, com o dr. Francisco Costa (**)... 

Foi um antigo aluno, e meu amigo, médico do trabalho, o dr. Joaquim Pinho, quem nos deu a notícia, na passada segunda feira. (Obrigado, Joaquim.)

Um abraço, João. Bj para a Vilma. Luis

3. T
exto  de homenagem ao dr. Francisco Costa  (1933-2022), pelo seu colega, camarada e amigo dr. Adão Pinho da Cruz, membro  da nossa Tabanca Grande, poeta e artista plástico, natural de Vale de Cambra.  Foi-nos remetido hoje, 5 ago2022, 11:06, mas já havia sido publicado na página do Facebook do Adão Cruz no passado dia 1:

1 de agosto às 19:39  > Dr. Francisco Costa, Oftalmologista.

Mais um que entrou, como todos iremos entrar, no equilíbrio molecular do Universo. Desta vez, o meu colega e grande amigo Chico Costa, o Chicoso, como eu lhe chamava. 

Fomos colegas e amigos no Colégio de Oliveira de Azeméis, fomos amigos e colegas de curso na Faculdade, fomos colegas de quarto durante três anos, na Praça Guilherme Gomes Fernandes, na Rua Aníbal Cunha, na Travessa Sá Noronha, na Rua Particular de Monsanto, em Paranhos, fomos contemporâneos na guerra da Guiné e sempre nos abraçamos ao longo da vida.

Foi, ao fim e ao cabo, uma profunda mistura de vidas, suficientemente grande para que os meus olhos, hoje, neste triste e último encontro, se humedecessem ao ver-te assim, incapaz, pela primeira vez, de corresponder ao nosso longo e apertado abraço de sempre.

Teu velho amigo Adão.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22657: (De) Caras (180): 55 anos depois, o reencontro ao vivo, em São da João da Madeira, com o ex-alf mil médico Francisco Pinho da Costa (BCAÇ 1888, Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68) (João Crisóstomo, Nova Iorque, de visita a Portugal)

(...) O alferes médico Francisco Pinho da Costa, do BCaç 1888, sediado em Bambadinc em 1965 /66, tem agora 84 anos, com uma memória ainda muito boa, lembrando coisas nos seus pormenores, capacidade que eu há muito perdi substancialmente.

Perante a minha surpresa, uma vez que estivemos na Guiné na mesma altura e ele ter mais sete anos que eu, explicou que isso se deve ao facto de ter adiado o serviço militar várias vezes para que ele
pudesse acabar o seu curso de medicina. Pensei que ele tinha feito o curso de oficial miliciano em Mafra, mas esclareceu-me me "ter sido preparado" em Santarém, uma preparação rápida "ad hoc" (disse ter sido apenas cerca de um mês, se me não engano) ao fim da qual, mesmo sem saber ainda bem o que era e como funcionava uma G3, foi enviado em rendição individual para a Guiné. (...)

Apesar das poucas vezes que estive com ele ( ele apenas esteve na Guiné quatro meses e apenas apareceu algumas vezes na CCaç 1439), lembro-me bem dele, como um indivíduo afável, bem disposto e sempre a querer ajudar no que quer que fosse: mostrei-lhe no computador que propositadamente tinha trazido vários posts do nosso blogue, nomeadamente os post P22258 e P22478. Ele aparece numa foto (...), a do primeiro poste, o P22258, ( da esquerda é o segundo, de óculos, ) por ocasião da visita da Supico Pinto a Porto Gole e reconheceu , parece mais e melhor que eu, a maioria dos que aparecem nessa foto. Outras fotos que lhe mostrei foram para ele momentos de emotiva saudade.

Mas foi a leitura do relatório sobre a operação Gorro que lhe ocasionou ume enxurrada de comentários e detalhes, alguns deles a meu respeito que eu tinha já completamente esquecido mas que me vieram à memória então.

Lembrou que o Capitão Pires o havia mandado para ir nessa "saída ao mato”. Mas, quando ele se preparava para o fazer, alguns elementos da tabanca vieram ter com ele, avisando-o que não fosse. Mas ele não lhes deu ouvidos: o capitão tinha-o mandado ir e portanto ia. Mas que mais tarde os mesmos membros da tabanca que o haviam aconselhado a não sair, voltaram e desta vez com mais insistência o avisavam de que não devia ir pois que iam ser atacados. Que não lhes deu atencão, mas que, perante a insistência deles de que iam ser atacados, resolveu então levar uma G3, como todos os outros.

Lembra-se de ir em pé em cima do “granadeiro” agarrado à “parede da frente "por trás do condutor António Figueiredo, quando a mina explodiu e foi pelos ares. "Foram os maiores minutos da minha vida”…sentiu e ficou consciente do sopro da explosão que o fez ir pelos ares mas que depois parecia nunca mais chegar ao chão”…

E quando de pernas direitas atingiu o chão, percebeu logo que tinha partido uma das pernas, para logo verificar que tinha o calcanhar e tornozelo da outra também estavam partidos. Mas que haviam vários feridos (, pensa ele que eram cerca de oito,) , os que foram com ele pelos ares e as dores eram sofríveis

Com um bocado duma tábua e alguma ajuda que lhe deram ele próprio endireitou e imobilizou a perna partida e começou a ajudar aqueles que precisavam da sua ajuda; lembra-se de ter instruido um indivíduo— pensa ele que era um cabo enfermeiro que estava ferido — a tapar e fechar com os próprios dedos a veia junto ao ouvido, pois este estava a sangrar pelos ouvidos e tinha de ser evacuado imediatamente. Depois de evacuado nunca soube mais dele.

E lembra-se bem de mim: que eu ia ao lado do condutor e que eu ia a dormitar quando a mina rebentou. A mim e ao condutor não nos sucedeu nada, apesar de termos sido lançados pelos ares. Lembra-se que eu o abracei quando vi que ele estava vivo; e lembrou-me dum facto que de todo tinha esquecido até hoje: que lhe disse que eu estava ferido, mas que não sentia dores, mas que — dizia eu, -- o sangue me corria pelas pernas. E logo verificou que o que eu pensava ser sangue a escorrer na perna era apenas o azeite de uma lata de sardinhas… Sucede que eu tinha comigo a ração de combate e um estilhaço qualquer atingiu o meu saco da ração de combate mas a lata de sardinhas salvou-me do pior. E a verdade é que quando ele mencionou isto eu lembrei-me imediata e vivamente de tudo isso. (...)

(**) Último poste da série > 22 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23452: In Memoriam (441): João Moura, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS/BCAV 2922 (Piche, 1970/72) (Hélder Sousa)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João e Adão:

Aqui está a v/ e n/ homenagem ao Francisco Costa... Fazia sentido que ele passasse a integrar a nossa Tabanca Grande a título póstumo, se a famíçia não se opuser, e basta que um de vocês o queira apresentar, acrescentado algo mais. Haverá, por certo, mais fotos dele no CTIG, para além que já pubicámos, da autoria do João. Não era todos os dias que os nossos médicos iam para o mato e eram feridos em combate...

Anónimo disse...

O Dr. Francisco Pinho da Costa, é m ais velho que eu 5 a 6 anos.
A vida tem destas surpresas, fomos vizinhos na Rua Particular de Monsanto, onde vivi entre 1943 e 1963.
Nestes 20 anos, numa rua de poucas casas, não havia prédios, não tinha saída, de certeza que nos conhecemos, mas a idade, ou seja a diferença de idades, em pequeno, torna-se grande.
Não me lembro assim à primeira vista. Esta foto já é de muita idade.
Mesmo depois de mudar de casa, fui residir para perto, uns 100 metros, na Rua de Monsanto.
Também na Rua de Costa e Almeida, aos lados da Ordem dos Médicos, uma quinta enorme, que fica no Jardim de Arca de Água, morou lá a minha irmã, hoje em Lisboa, o meu irmão Jorge, já falecido, e passou por lá também o nosso conhecido Marco Paulo, perto da PSP do Campo Lindo, tudo na freguesia de Paranhos, Porto.

Mesmo sem o conhecer, os meus sentidos pêsames à familia. E paz à sua alma.
Quem sabe se nos encontramos também em Fá Mandinga, por onde passei algumas vezes no período em que estive em Nova Lamego. Set67 a Fev68.

Coincidências da vida!

Há muito pouca gente que morou na Rua Particular de Monsanto, entre eles o Coronel que não me lembro o nome, era o comandante do RE2 em Vale Formoso, e um Capitão, ambos de Engenharia.
Talvez mais tarde me lembre do nome deles.
Por agora é tudo, acho que abri o blogue na hora certa.

Virgilio Teixeira






Valdemar Silva disse...

Sentidos pêsames

Valdemar Queiroz