quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23772: Fauna e flora (20): crime contra a natureza: mortos, por envenenamento, em 2020, segundo a revista "Science", mais de dois milhares de jagudis (Necrosyrtes monachus) na Guiné-Bissau (José Belo, Suécia)



Jugudé (cr) | Necrosyrtes monachus | Jagudi (pt) | Abutre-de-capuz (pt)  | Hooded vulture (en) | Comprimento  70 cm | Envergadura  176 cm.


Bem conhecido da maior parte das pessoas, é fácil observá-lo em cidades e tabancas, frequentemente em pequenas lixeiras, matadouros e portos onde se alimenta de desperdícios
deixados pelo Homem e de animais mortos. 

O seu papel ecológico na natureza e nas cidades é essencial, ajudando a eliminar doenças e parasitas. Escasso no sudeste e no sul do país. Embora ainda seja abundante na Guiné-Bissau, está muito ameaçado de extinção em toda a África.

Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 36. Ilustração de PF - Pedro Fernandes) (Com a devida vénia...)


Segundo o portal Bird Life International, "suspeita-se que esta espécie esteja atualmente a sofrer uma redução populacional extremamente rápida devido ao envenenamento indiscriminado, tráfico para efeitos de medicina tradicional, caça para alimentação, perseguição e eletrocussão, bem como a perda e degradação do habitat".  Estima.se que 
as taxas globais recentes de redução excedam 80% durante o período atual e futuro de três gerações. O o é, portanto, avaliado como "Criticamente Ameaçado"  população estimada: 131 mil. Área de criação e residência: 22,5 milhões de km2.


1. Mensagem de José Belo, o mais "internacional" dos membros da Tabanca Grande (vive entre a Lapónia sueca, a Suécia e os EUA, Florida, Key West);

Data - sábado, 29/10, 19:45 

Assunto - Os Jagudis de uma saudosa….Guiné

Em Outubro de 2020 foram mortos na Guiné-Bissau mais de 2000 “jagudis”, abutres da espécie Necrosyrtes Monachus (abutres de capuz).

Foi, segundo a revista Science, o envenenamento mais letal de abutres em todo o mundo.

Os abutres terão sido envenenados propositadamente para remover as suas cabeças, asas, unhas e patas para uso em práticas de feitiçaria em diversos países da África Ocidental.

Este envenenamento foi comprovado pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.

Ainda, e segundo a revista Science,  desapareceram na África Ocidental entre 60 a 70% destas aves.

A Guiné-Bissau alberga mais de 1/5 da população mundial destas aves, sendo um dos mais importantes países para a conservação desta espécie a nível mundial.

Como muitos recordarão, os “jagudis” com os seus voos circulares eram imagem quotidiana no céu da Guiné aquando do feliz (!) tempo colonial.

Na sua função essencial para os humanos e ecossistemas eliminavam grande parte do lixo orgânico nas cidades e vilas do país evitando a proliferação de doenças.

As multas aplicadas pela Administração Colonial quanto ao abatimento destas aves eram elevadas no contexto económico da época.



Um par de jagudis, "pormíscuos e exibicionistas, naturalizados americanos". Imagem fornecida pelo autor, cortesia de "The Guardian" e "CNN" (on line).

Em 2022 a espécie está longe de uma recuperação significativa.

Será que alguns exemplares artificialmente (!) introduzidos na exótica fauna da tão hospitaleira Flórida irão conseguir restabelecer um equilíbrio populacional destas aves?

Tendo vindo a demonstrar uma acentuada capacidade de adaptação a um certo tipo de decadência local (bem característico de, por exemplo, Key West) estão a tornar-se em inesperados e promíscuos... exibicionistas!

As maravilhas da natureza na sua luta pela sobrevivência nunca deixam de surpreender.

Um abraço do JBelo
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22987: Fauna e flora (19): O grou-coroado ou "ganga" (em crioulo), uma ave que "matou a malvada" a alguns de nós, em tempo da guerra... Está agora ameaçada de extinção.

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Zé Belo... Mesmo dois anos depois, um gajo fica indignado com a estupidez (e a cupidez) do mundo...

A notícia doi dada pela Lusa, na altura

DN | Lusa, 17 de outubro de 2020

Investigadores confirmam envenenamento com inseticida de mais de 2 mil abutres na Guiné-Bissau

Um grupo internacional de investigadores e de proteção das espécies confirmou que mais de 2 mil abutres foram mortos com inseticida na Guiné-Bissau com objetivos comerciais

https://www.dn.pt/vida-e-futuro/investigadores-confirmam-envenenamento-com-inseticida-de-mais-de-2-mil-abutres-na-guine-bissau-12932490.html

(...) Em comunicado enviado à Lusa, o grupo afirma que aquele evento foi o mais "letal envenenamento intencional de abutres do mundo". Segundo o grupo, que denunciou a situação, numa carta divulgada sexta-feira na revista Science, foram mortos mais de 2 mil abutres da espécie Necrosyrtes monachus (abutre de capuz), uma espécie em perigo de extinção, que consta da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.

"Os abutres terão sido envenenados propositadamente para remover as suas cabeças para alimentar o comércio ilegal destinado à utilização de várias partes do seu corpo (cabeças, asas, unhas e patas) em práticas de feitiçaria em diversos países da África Ocidental", pode ler-se no comunicado.

Mohamed Henriques, luso-guineense doutorando do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e primeiro autor do artigo, disse que "centenas de cadáveres destes abutres encontravam-se sem cabeça, empilhados e intencionalmente escondidos sob arbustos". (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há uma outra notícia da Lusa mais antiga... A página no Facebook "Guiné-Bissaau on line" reproduz em 21 de abril de 2020 o seguinte sobre este assunto, em que a agência Lusa cita a Fundação de Conservação do Abutre:

https://www.facebook.com/bissau.online/posts/1600098576811379/

Fundação denuncia envenenamento de mais de 2.000 abutres na Guiné-Bissau

A Fundação de Conservação do Abutre denunciou hoje o envenenamento de mais de 2.000 abutres na Guiné-Bissau para serem alegadamente utilizados em cerimónias tradicionais relacionadas com a estabilidade política do país.

"A Guiné-Bissau tornou um cemitério de abutres encapuzados nos últimos dois meses, com uma situação sem precedentes com registo de um mínimo de 1.600 abutres mortos, podendo ser mais, o que causou um golpe devastador na conservação daquela espécie em vias de extinção", refere, em comunicado, a Fundação de Conservação do Abutre.

Segundo o comunicado, as primeiras mortes foram detetadas há dois meses e as investigações feitas no terreno determinaram que os abutres foram "mortos deliberadamente com o uso de iscas envenenadas".

"Relatos de testemunhas corroboram que os abutres foram envenenados intencionalmente, usando iscas de veneno colocadas à volta das aldeias para que as partes do abutre pudessem ser recolhidas para uso baseado em crenças, com pedidos relacionados com a instabilidade política do país", salienta o comunicado.

A fundação precisa também que em algumas zonas do continente africano as comunidades acreditam que as cabeças de abutre trazem boa sorte ou poderes especiais.

"Na Guiné-Bissau, pelo menos 200 dos abutres envenenados foram encontrados sem cabeça", salienta, acrescentando que há também relatos de um aumento da procura de partes do corpo do animal por países vizinhos.

A fundação salienta que as autoridades guineenses organizaram duas missões de campo, uma em março e outra este mês, mas são "necessárias ações adicionais para evitar futuras mortes".
A maior parte dos abutres mortos foram detetados nas cidades de Bambadinca, Bafatá e Gabu, onde foram confirmadas 1.603 mortes de abutres.

"No entanto, é impossível determinar os números exatos, pois apenas uma área limitada foi cuidadosamente pesquisada e muitas carcaças provavelmente foram perdidas ou rapidamente eliminadas pela população local", refere a organização, salientando que acreditam que mais de 2.000 abutres foram mortos.

A fundação salienta também que a Guiné-Bissau tem uma das mais populações mais saudáveis de abutres encapuzados de África.

"Algumas estimativas sugerem que o país possui mais de um quinto da população global de abutres encapuzados do continente, mas eventos desta escala terão efeitos adversos nas espécies nacionais, mas também regionais, na população da África Ocidental", disse o diretor da Fundação de Conservação de Abutres, José Tavares, citado no comunicado.
As carcaças dos abutres envenenados foram, entretanto, enviadas para a Universidade de Lisboa, que ajudará a confirmar a causa da morte.

//Lusa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A VCF - Vulture Conservation Foundation tem sede na Suiça, Zurique

https://4vultures.org/

"The Vulture Conservation Foundation is the world’s leading wildlife organisation solely dedicated to protecting, conserving and restoring Europe’s four species of vulture. With decades of experience of vulture conservation we have significant expertise in; captive breeding vultures for conservation, reintroducing vultures into areas where they have disappeared, tackling the threats vultures face and monitoring and tracking birds in the wild."

Valdemar Silva disse...

Abutres, os perus do mato, como muitos soldados metropolitanos lhes chamavam.
O primeiro contacto com os abutres na Guiné foi logo no segundo dia, em Bissau, sentado na esplanada do Solmar, ver os abutres poisados no telhado do Mercado que ficava quase em frente.
Depois, no mato eram vistos frequentemente.
Não sei distinguir, pelo nome científico, os vários abutres com algumas diferenças, principalmente no bico e na cabeça, que são pela razão da necessidade/utilidade.
Parece que os primeiros abutres a localizar um animal morto no mato, não se sabe por visão ou olfato, são uns abutres pequenos e bico pouco forte que vão rodeando a carcaça e comendo o mais fácil de sacar. Se for a carcaça de um grande animal, depois aparecem os abutres de maior envergadura com fortes bicos para abrir a grossa pele e no fim aparecem os abutres de cabeça e pescoço limpo para meterem a cabeça dentro da carcaça. Estes com bicos especiais também limpam a carne mais rija entre os ossos e até os partem. Os grandes inimigos dos abutres são as hienas que lhes sacam a comida que também precisam de jantar.
Assisti um Nova Lamego a um espetáculo com abutres e falcões (?)quando matamos a "Chica" para um grande almoço de ensopado de cabrita. As árvores estavam cheias de abutres e os cozinheiros iam abrindo e atirando fora as tripas para os abutres e apareciam os falcões que em voa picado lhes sacavam a almoço. E foi assim todo o tempo da matança.
Os extraordinários condores-dos-Andes, embora não sejam abutres, são primos, conseguem detectar carcaças a 5000 metros de altitude.
Também já vi abutres por cá, para os lados de Marvão a caminho do posto fronteiriço da Portela, mas muita rapaziada foi na Guiné que viu abutres pela primeira vez.
Sempre houve abutres e sempre foram utilizados pelos curandeiros para as tretas/curas de doenças. Então há mais doenças ou nascem menos abutres para a olhas vistos se notar a sua extinção?

Tomara eu, que a pena de abutre com cerca de 50cm que trouxe Guiné me tratasse da saúde.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz