segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23919: Facebook... ando (70): A Op Grande Empresa (reocupação do mítico Cantanhez) foi há 50 anos (Victor Tavares, ex-1º cabo ap MG 42, CCP 121/BCP 12, 1972/74)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cumbijã > Proximidades de Caboxanque (?) > Op Grande Empresa (que começou em 11 e 12 de dezembro de 1972) LDM > Imagens do 1º cabo apontador de MG 42, Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12, 

Foto (e legenda): © Victor  Tavares (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Escreveu o Victor Tavares, na sua página do Facebook, em 25 de dezembro de 2022, às 22:48:

Faz hoje 50 anos que a CCP 121 e o BCP 12, estavam envolvidos numa das mais arriscadas e perigosas operações executada nos trez Teatros de Operações em Africa... Operação entregue à responsabilidade do Comandante do BCP 12, Tenente Coronel Paraquedista Araujo e Sá, com dois nomes de código: "Grande Empresa", este dado pelo Comandante-Chefe, e "Tigre Perigoso", pelo BCP 12. Reocupação do Cantanhez, onde participaram outras forças do Exército, da Marinha e da Força Aérea. A mesma teve início a 12 de dezembro de 1972... E no dia de Natal comeu-se a primeira refeição quente. O pão foi substituído por bolachas de água e sal... Outros tempos, outras guerras, que alguns poucos recordam.

2. Comentário do editor LG:

Victor, há natais que nunca mais se esquecem. E menos ainda as guerras por onde andámos.  Em março de 2008 tive ocasião de conhecer o que restava do Cantanhez do teu tempo. Um verdadeiro inferno verde. Deslumbrante mas onde havia marcas de guerra. Tudo nos falavava da guerra que por ali passara, há 40 an0s, mesmo no mais recôndito da floresta onde se escondiam os irãs dos nalus... O silêncio da floresta não conseguia abafar os muitos anos de guerra e as bombas que lá foram largadas, incluindo napalm... A Op Grande Empresa foi um duríssimo golpe para o PAIGC e o orgulho de Amílcar Cabral.  Caía por terra o último dos mitos, o dos dois terços de território libertado... É claro que neste tipo de território, de extensa floresta-galeria, cruzada por míríades de cursos de água, não há áreas controladas nem libertadas... Mas a resposta do PAIGC foi a do costume: fugir para se reagrupar... A resistência das suas tropas foi fraca, não foi capaz sequer de defender a sua população... Mas também é verdade que Spínola estava a gastar os seus últimos cartuchos... E um mês depois Amílcar Cabral seria abatido como um cão pelos seus homens...  

E tudo isto, para quê, Victor? Nada disto valeu a pena, incluindo o sacrifício inútil de milhares de jovens combatentes de ambos os lados, das dezenas de milhares de mulheres, crianças e velhos da população civil, afinal as grandes vítimas do conflito... Nada, de resto, que tirasse o sono ao Amílcar Cabral ou ao Spínola ou ao Marcello Caetano...

Entende isto, Victor, como uma "reflexão de paz natalícia", e que não pretende de modo algum pôr em causa a qualidade excecional da tua subunidade (CCP 121) e da sua unidade (BCP 12) nem muito menos o grande combatente, de corpo inteiro, de grande coragem e estofo moral que tu foste. Aproveito também para fazer a "tua prova de vida"...  Quando publicares coisas do teu facebook que interessem também ao blogue, dá uma apitadela!... Um melhor ano de 2023, para ti e toda a família. Luís.
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4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Victor,vou sabendo de ti através do Paulo Santiago, teu vizinho e, de tempos a tempos, ou mais raramente, do teu Facebook... Aproveitei agora mesmo uma coisa que puseste sobre a Op Grande Empresa... Tens mais fotos ?...Temos poucas referências a estes acontecimentos...que não impediram a batalha dos 3 G... Afinal, a força do PAICG estava lá fora, no Senegal e na Guiné-Conacri... E o Cantanhez era um trige de papel...
Um ano com melhor saúde...

Luis (também estou de molho há 10 dias, sem sair de casa, eu e Alice)

Anónimo disse...

Eu participei na operaçãp Grande Empresa como Alf. Mil. da C.CAÇ. 4540, do capitão Varanda Lucas, tendo ficado em Cadique, com o auxílio dos páras da CCP 121; recordo-me que o Natal de 72 foi passado num buraco, a beber umas bejecas bem geladas, com medo dos turras, mas nesse dia não houve ataque felizmente!Já passaram 50 anos!? Porra! Como envelhecemos!
Albertino Ferreira
Ex-Alf. Mil. Inf.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Albertino, tens fotos desse tempo em Cadique ? O PAIGC afinal foi um tigre de papel...LG

Anónimo disse...

Boa tarde
Infelizmente não tenho fotos de Cadique, apenas uma, com o soldado Vitor, do meu grupo de combate; ali, o PAIGC flagelava o aquartelamento e atacava ao arame frequentes vezes; o que valia era o apoio dos páras; estiveram lá as três companhias do BCP e os comandos africanos passaram lá algumas vezes ; no Cantanhez não era um tigre de papel, noutras zonas talvez. Estivemos lá 9 meses, metidos num buraco, tivemos apenas um morto em combate e vários feridos sem gravidade; dos vários contactos com o IN pode dizer-se que tivemos muita sorte. Tenho é uma fotografia de Nhacra, já depois do 25 de Abril com uma delegação do PAIGC, talvez com o chefe do Morés.
Albertino Ferreira