Angola > Ponte do rio Cuanza (em contrução) > 25 de dezembro de 1973 >
Fotos: © José Álvaro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Conheço o José Álvaro Almeida de Carvalho, da Lourinhã, é meu conterrâneo, cantor, autor de fados (pelo menos uns 26...) e exímio tocador de guitarra.
Quadro técnico superior, com uma larga experiência no setor da metalomecânica pesada, reformado, vive na Praia da Areia Branca. Aos fins de semana, encontramo-nos no VIGIA - Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca. Conversa puxa conversa, vim a saber que tinha também estado na Guiné, em 1963/65, tendo passado por Bissau, Olossato, Catió e Ilha do Como (tendo inclusive participado na Op Tridente, dando apoio de artilharia).
Com os seus 85 anos (n. 1939), tem uma ótima cabeça e é grande contador de histórias. É uma apaixonado pela vida. E tem um riquíssima história de vida, que gosta de partilhar com os outros.
Por outro lado, ele também em comum comigo o conhecimento de Angola, onde viveu e trabalhou. Estava lá quando se deu o 25 de Abril. A sua empresa, a L. Dargent Lda, de que o Zé Álvaro era diretor do departamento de trabalhos exteriores, fez a montagem da superestrutura metálica e cabos de suspensão da ponte na foz do Rio Cuanza em Angola.
A ponte do rio Cuanza (que alguns angolanos grafam como Kwanza), perto da foz, e que servia de ligação entre os antigos distritos (hoje províncias) de Luanda e Bengo, foi construída entre 1970 e 1973. O projeto é do eng. Edgar Cardoso. Fica a 75 km da capital.
Construída em aço e betão, esta ponte também conhecida como a ponte da Barra do Cuanza, tem em 400 metros de tabuleiro com 47 metros de altura, dois vãos externos de 70 metros e outro com 260 metros. O dono da obra na altura era a Junta Autónoma de Estradas de Portugal (JAEP).
O Zé Álvaro viveu, então, com a família (esposa e duas filhas), em Luanda no bairro da Sagrada Família, enquanto decorreu a obra (os trabalhos da empresa foram dados por comcluídos em março de 1974).
Pouco tempo depois do 25 de Abril voltou a Lisboa. Continuou a ir a Angola, sempre que era preciso... Entretanto, conheceu outras empresas, a começar pela Sorefame: é, por isso, um ator e uma testemunha privilegiada das grandezas e misérias da nossa indústria metalomecânica pesada, cujas empresas, muitas delas, se afundaram com o pós-25 de Abril, as mudanças económicas, sociais e políticas operadas, a par da crise financeira, bem como da descolonização e, depois, com a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE), já em1986...
Com Angola, a Guiné, o fado... e a história do trabalho e da indústria, como interesses em comum, temos sempre tema de conversa, enquanto passamos tardes agradáveis na varanda do VIGIA, que é reconhecidaente umas das mais fantásticas para se assistir a um pôr do sol sobre o Atântico: tem uma vista de 180 graus, do cabo Carvoeiro e Berlengas a norte/noroeste, e Santa Cruz, a sul...
2. O que eu não sabia é que o Zé Álvaro também era um talentoso escritor, tendo inclusive já publicado, em 2019, na Chiado Books, um livro autobiográfico ficcionado, o "Livro de C" (710 pp.), disponível em papel e em ebook. É um livro difícil de catalogar, logo à primeira leitura... A editora classificou-o como "não ficção".
O autor cedeu-me uma com cópia digital do manuscrito, que consta de duas partes. Trata-se de uma nova versão, aumentada, revista e melhorada.
O autor é o José Carvalho, o título mantém-se o mesmo, Livro de C. Em formato pdf, está dividido em dois volumes: volume 1 (328 pp) e volume 2 (357 pp.). É um livro com múltiplas narrativas, desfasadas no tempo e no espaço. A separá-las, o autor teve a ideia de inserir fados em formato mp3, e acompanhados com a respetivas letra.
Com Angola, a Guiné, o fado... e a história do trabalho e da indústria, como interesses em comum, temos sempre tema de conversa, enquanto passamos tardes agradáveis na varanda do VIGIA, que é reconhecidaente umas das mais fantásticas para se assistir a um pôr do sol sobre o Atântico: tem uma vista de 180 graus, do cabo Carvoeiro e Berlengas a norte/noroeste, e Santa Cruz, a sul...
2. O que eu não sabia é que o Zé Álvaro também era um talentoso escritor, tendo inclusive já publicado, em 2019, na Chiado Books, um livro autobiográfico ficcionado, o "Livro de C" (710 pp.), disponível em papel e em ebook. É um livro difícil de catalogar, logo à primeira leitura... A editora classificou-o como "não ficção".
O autor cedeu-me uma com cópia digital do manuscrito, que consta de duas partes. Trata-se de uma nova versão, aumentada, revista e melhorada.
O autor é o José Carvalho, o título mantém-se o mesmo, Livro de C. Em formato pdf, está dividido em dois volumes: volume 1 (328 pp) e volume 2 (357 pp.). É um livro com múltiplas narrativas, desfasadas no tempo e no espaço. A separá-las, o autor teve a ideia de inserir fados em formato mp3, e acompanhados com a respetivas letra.
Diz ele: cada volume é "reconstruído com alguns fados gravados, ao longo da vida, aqui inseridos como separadores e ornamento de narrativa". Parte das letras (e algumas músicas) são da sua autoria. Teremos ocasião de voltar a falar deste projeto singular, original, onde há lugar também para as memórias de guerra.
O Zé Álvaro aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande e autorizou-me a reproduzir excertos do seu manuscrito, entretanto, revisto e aumentado. (Não conheço o livro em papel, mas ele vai-se oferecer um exemplar, autografado.)
Falaremos mais, oportunamente, sobre este projeto literário e o autor. C (inicial de Carvalho) era a letra do alfabeto pelo qual o pai, comerciante, o tratava. "Livro de C" tem, pois, um cunho marcadamente autobiográfico. Mas o livro é mais do que isso.
O Zé Álvaro aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande e autorizou-me a reproduzir excertos do seu manuscrito, entretanto, revisto e aumentado. (Não conheço o livro em papel, mas ele vai-se oferecer um exemplar, autografado.)
Falaremos mais, oportunamente, sobre este projeto literário e o autor. C (inicial de Carvalho) era a letra do alfabeto pelo qual o pai, comerciante, o tratava. "Livro de C" tem, pois, um cunho marcadamente autobiográfico. Mas o livro é mais do que isso.
Foto nº 1
Foto nº 2
Guiné > s/l > s/d > c- 1963/65 > Fotos, sem legenda, do ex-alf mil art, José Álvaro Almeida de Carvalho, BCAC, Pel Art obus 8.8, m/943, que esteve 14 meses adido ao BCAÇ 619 (Catió, 1964/66). Em Catió, seguramenyte que conheceu o João Sacôto, da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66).
Fotos: © José Álvaro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotos: © José Álvaro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
3. O José Álvaro Almeida de Carvalho foi alferes miliciano de artilharia, pertenceu ao BAC (1963/65), esteve na Guiné, adido ao BCAÇ 619 (14 meses em Catió). Mas, antes, em Bissau também pertenceu a uma companhia de intervenção, de que comandava um pelotão, operando em Bissau e arredores. Esteve destacado no Olossato, com o seu pelotão de infantaria. (E fez um assalto ao K3!).
Veio originalmente em rendição individual. Quando essa companhia de caçadores, acabou a comissão, o Zé Álvaro ficou no QT, em Bissau, a aguardar nova colocação.
Sei que, nessa altura, também pensou em oferecer-se para os comandos do CTIG, conheceu o Saraiva e o Godinho, do tempo do nosso Virgínio Briote. É possível até que tenham estado juntos, o Briote e o Carvalho.
Mas foi no sul, na região de Tombali, em Catió, como oficial de artilharia do BAC (Bateria de Artilharia de Campanha, obus 8.8 cm m/943) que ganhou a sua cruz de guerra de 3ª classe. (Curiosamente, o seu primo direito, meu conterrâneio, vizinho e amigo de infância, João Patrício, viria a ser colocado em Catió, dez anos depois, como alf mil, CCS/BCAÇ 4510/72, jun72/jul74)(um batalhão que só tinha comando e CCS, não dispunha de subuniddaes operacionais orgânicas).
Cruz de Guerra, 3ª Classe Alferes Miliciano de Artilharia JOSÉ ÁLVARO ALMEIDA DE CARVALHO | BAC | GUINÉ
Transcrição da Portaria publicada na O.E. Nº 15 - 2ª série, de 1965.
Por Portaria de 29 de Maio de 1965:
Condecorado com a Cruz de Guerra de 3ª classe, ao abrigo dos artigos 9º e 10º do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o Alferes Miliciano de Artilharia, José Álvaro Almeida de Carvalho, do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné.
Transcrição do louvor que originou a condecoração. (Publicado na OS nº 42, de 21 de Maio de 1965, do CTIG):
Louvo o Alferes Miliciano de Artilharia, José Álvaro Almeida de Carvalho, da BAC, porque, durante o período de catorze meses em que esteve destacado no Batalhão de Caçadores nº 619, foi sempre um Oficial zeloso, dedicado e muito competente, salientado-se a sua acção, principalmente, no campo operacional, em que foi utilíssimo o apoio, sempre eficaz, que soube dar com o seu pelotão em todas as operações em que interveio, nomeadamente, nas "Tridente", "Broca", "Macaco", "Tornado" e "Remate", contribuindo assim, dentro do seu âmbito, para o prestígio da Arma a que pertence.
Várias vezes se ofereceu para acompanhar o pessoal infante em operações, deslocando-se às zonas de contacto, para assim ver, "in loco", novas posições para as suas bocas de fogo, demonstrando a sua nobreza de carácter, a sua coragem e o desprezo pelo perigo.
Contribuiu imenso e com o seu pessoal, nunca se poupando a esforços, para o aperfeiçoamento dos trabalhos de organização do terreno e defesa do aquartelamento.
Pelas qualidades apontadas, este Oficial tornou-se digno de apreço e estima dos seus superiores e subordinados.
Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo II: Cruz de Guerra (1962-1965). Lisboa, 1991, pág. 475.
4. Finalmente, e embora nos falte uma foto mais atual, e legendas para as fotos do seu álbum (que é diminuto), eu quero apresentar o José Álvaro Carvalho como o grão-tabanqueiro nº 890. É o seu lugar, sentado, à sombra do nosso poilão.
Passa a ser mais um dos n0ssos "veteraníssimos", um dos poucos (com o Mário Dias e o João Sacôto, por exemplo) que participou na Op Tridente (jan / mar 1964).
Vamos ter que nos habituar a tratar por tu...
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25667: Tabanca Grande (559): Carlos Parente, ex.sold at inf, CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada e Quinhamel, 1967/69). vive em Viana do Castelo e senta-se agora à sombra do no nosso poilão, no lugar nº 889
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25667: Tabanca Grande (559): Carlos Parente, ex.sold at inf, CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada e Quinhamel, 1967/69). vive em Viana do Castelo e senta-se agora à sombra do no nosso poilão, no lugar nº 889
6 comentários:
É sempre agradável saber do aumento de tabanqueiros, pois, mais relatos teremos sobre aquele tempo da nossa mártire juventude, as amizades criadas e os maus e bons momentos por lá vividos.
Aquando da operação tridente a CC 414 estava em Catió adstrito ao BCAÇ 356 que foi substituído pelo BCAÇ 619. Talvez este nosso camarada, que merece as boas vindas, se lembre dos ex-oficiais, Capitão Manuel Dias Freixo (falecido) e ex-alferes milicianos médico José Manuel Santos Coelho, Alberto Costa Lobo (falecidos), Marques, Joaquim Teixeira de Sousa e Oswaldo Miguel Sequeira (Caboverdiano).
Um grande abraço.
Tabanqueiro 793.
A língua oficial de Angola é o português, que não tem no seu alfabeto as letras K, W e Y. Este é o argumento usado pelo próprio governo, quando insiste em grafar os topónimos do país sem estas letras, contra a vontade de muitos angolanos. Neste termos, o nome da própria capital de Angola continua a ser grafado Luanda, como antigamente, e não Lwanda. O nome do maior rio de Angola é oficialmente grafado Cuanza e não Kwanza. A grafia Quanza é considerada arcaica. Porém, a grafia da moeda angolana é Kwanza, com K e W por razões pouco claras; é a tal exceção que confirma a regra.
Antes da independência, Angola era considerada uma província (ultramarina) de Portugal e como tal não podia ter "províncias" no seu interior. Ela mesma era uma província. O que Angola tinha era distritos: distrito do Zaire, distrito do Huambo, distrito da Huíla, etc. Após a independência, os antigos distritos passaram a ser chamados províncias, os antigos concelhos e circunscrições passaram a ser chamados municípios e os antigos postos administrativos passaram a ser chamados comunas. Além disso, houve a divisão do antigo distrito de Luanda em duas províncias: a província de Luanda (a cidade e seus vastos arredores) e Bengo (o resto do antigo distrito de Luanda). Em 1970-73, portanto, a agora chamada "província do Bengo" ainda não existia. A região que fica a sul do rio Cuanza, chamada Quissama, fazia também parte do distrito de Luanda. A ponte ligava duas margens de um mesmo distrito, o de Luanda.
Este antigo combatente, José Alvaro, conheceu o "inferno" da barra rio Pobreza, do rio Tombali...mas foi compensado ao conhecer o paraiso sem aspas, na barra do rio Quanza a 60 Klm de Luanda passando pela Samba e Mussulo.
"Era tudo nosso", à vontade à vontadinha, mas acabou.se.
Não há bem que sempre dure, nem mal que ature!
Obrigado, Fernando Ribeira, vou corrigir... Só comecei a ir a Angola (ou mellhor, Luanda) em 2003... E o que aprendi na escola primária, depressa esqueci...
Recapitulando: rio Cuanza; distrito do Bengo... Um candando (sem K). Luis
Este antigo combatente, José Alvaro, conheceu o "inferno" da barra rio Pobreza, do rio Tombali...mas foi compensado ao conhecer o paraiso sem aspas, na barra do rio Quanza a 60 Klm de Luanda passando pela Samba e Mussulo.
"Era tudo nosso", à vontade à vontadinha, mas acabou.se.
Não há bem que sempre dure, nem mal que ature!
Rosinha, para "matares saudades"... É uma reortagem da RRP, de 1971, sobre o início dos trabalhos de construção da ponte sobre o rio Cuanza (sic)... Passou no noticiário nacional, de 9 de janeiro de 1971... São cerca de 3 minutos e meio. É a preto e branco e,infelizmente, sem som... Mas dá para ver alguns aspetos dos trabalhos, sendo angolanos os trabalhadores e operadores das máquinas...
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/construcao-da-ponte-sobre-o-rio-cuanza/
Resumo analítico:
(...) Estrutura em construção; vista dos trabalhos a decorrer no terreno; homens a trabalhar e maquinaria em funcionamento nas margens; vista do rio e da paisagem arborizada nas margens; pormenores da estrutura em construção; vista da estrutura, água do rio, vegetação e maquinaria na margem, a partir de embarcação; homens trabalham; grua transporta lama retirada do terreno onde se encontram os alicerces em construção para a margem; tratores em funcionamento; fundações alagadas; placa e sinal de proibição de acesso a pessoas estranhas ao serviço; inscrição "Ponte Sobre o Rio Cuanza em Construção" em maqueta; pormenores da maqueta da ponte em construção. (...)
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