domingo, 21 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11440: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (3): Rio Mansoa




Foto nº 42 > Mansoa > 1973 > A antiga ponte sobre o rio Mansoa, destruída.



Foto nº 65 > Mansoa >  1973 > A antiga ponte vista da nova


Foto nº 13 > Mansoa > 1973 >  Rio Mansoa > Canoa nativa



Foto nº 14 > Mansoa > 1973 > As barcaças (ou lá como se chamavam) que faziam a travessia do rio para irmos para Bula. Fomos numa delas. [À distância podem parecer LDM, mas não são].




Foto nº 35 > Mansoa > 1973 > Posto de sentinela junto ao rio




 Foto nº 7 > Mansoa > 1973 > O embarque para Bula. De costas em 1º plano o Cap Salgado Martins, comandante da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1.  Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga, o mais recente membro da nossa Tabanca Grande (nº 611).

Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil,  indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Estas fotos, com a devida legendagem fornecida pelo Carlos Fraga, constam de um CD que chegou ao nosso conhecimento através de dois camaradas da mesma companhia, a 3ª C CAÇ/4612/72, o Agostinho Gaspar e o Jorge Canhão.

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Guiné 63/74 - P11439: Efemérides (123): O Núcleo de Lagoa da Liga dos Combatentes levou a efeito no passado dia 9 de Abril a Comemoração do Dia do Combatente (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2012:

Lagoa, 14 de Abril de 2013.
Como já vem sendo habitual, o Núcleo de Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Lagoa-Algarve, no passado dia 09 de Abril, levou a efeito a Comemoração do Dia do Combatente e em memória da batalha de La Lys, 09/04/1918, foi o dia em que mais Portugueses morreram em menos tempo numa qualquer batalha.


Este ano não houve a pompa e circunstância, como acontecera em anos anteriores e sob o meu ponto de vista, deveu-se a que a Cerimónia fora antecipada para as 9.30h, dado que o Pelotão do RI 1 Tavira também estava escalado para uma outra Cerimónia e a dar-se pelas 11.00, na Cidade de Lagos.

Foto 1 – Aguardando o início da efeméride estão o Porta-estandarte José Júlio Nascimento, Cart 2520, Xime e Quinhamel, Guiné-1969/70; Salvador Matias, CCS do BCaç 2836, Mecula e Tete, Moçambique 1968/70; José David Boto, CCaç 2319, Nantuego, Candulo e Tete e por fim o promotor.

Outros motivos, que podem eventualmente ter influenciado, passam pela realização de outras actividades, nomeadamente, em Portimão, onde foi inaugurada a Delegação do Núcleo Lagoa – Portimão da Liga dos Combatentes; e, também ainda nessa cidade, estando previsto, para breve, ser erigido um Monumento em Homenagem aos Combatentes, naturais desse Concelho.

Foto 2 - Placa colocada na Alameda da Praça da República, em Portimão, assinalando o local onde irá ser erigido o Monumento aos Combatentes naturais desta cidade.

Assim, comparecera em Parada, para prestação de Honras Militares aos Mortos em combate, um Pelotão do Regimento de Infantaria 1 – RI 1 Tavira. Tendo o Comandante sido representado pelo Sr. Major Oliveira.

Foto 3 - Pelotão do RI 1 Tavira, em formatura e no manuseamento de armas na posição de sentido, sob o Comando do 1º Sargento Osório Santos.

Uma Seção da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva, executara os toques de Ordem Militar inerentes ao decorrer da efeméride. Também marcou presença o Agrupamento 511 de Lagoa, do Corpo Nacional de Escutas, sob orientação do Chefe de Grupo Miguel Conduto.

Foto 4 - Colocação de coroas de flores na base do Monumento aos Mortos do Ultramar; em primeiro plano o Presidente do Núcleo Jaime Marreiros, Major Oliveira do RI 1 Tavira e o Presidente da C. M. Lagoa, José Inácio.

Foto 5 - Aquando dos toques a sentido e a silêncio, em honra dos Militares Mortos em Combate; em primeiro plano o Presidente do Núcleo Jaime Marreiros, Major Oliveira do RI 1 Tavira e Presidente da C. M. de Lagoa, José Inácio.

O Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão da Liga dos Combatentes, Jaime Marreiros, tendo dissertado perante as entidades Militares e Civis, ex-Combatentes e os seus Familiares, de onde foi captado o seguinte excerto:

“ (…) Estamos hoje aqui para honrar e louvar não só aqueles que pereceram em La Lys, mas também os filhos desta terra e que têm os seus nomes inscritos neste Monumento em sua homenagem. Algumas das suas famílias estão aqui presentes e a eles eu curvo-me humildemente, prestando-lhes os mais elevados e sinceros cumprimentos. É por eles, também, que estamos aqui, agora.

No momento actual de crise em que o País vive onde os vários e sucessivos governos têm mostrado o mais vil ostracismo aos Combatentes vivos, muitos deles vivendo em precárias condições de vida, não só em dificuldades económicas, mas sobretudo de abandono e abismo social e psicológico.

Podemos afirmar, com algum orgulho, que a Liga dos Combatentes, Associação de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, vem desenvolvendo ações humanitárias de partilha e apoio aos seus sócios mais desfavorecidos. O Núcleo de Lagoa-Portimão com a abertura de uma Delegação em Portimão, encontra-se também agora mais rico no apoio psicológico e social com a abertura de um gabinete médico naquela cidade, onde todos os sócios de qualquer concelho se podem socorrer. Este Núcleo dispõe de protocolos vantajosos para os seus sócios nomeadamente em farmácias, seguros, lazer, saúde, etc.

Esta é a nossa atual missão, não esquecendo o passado que nos honra, viver o presente com partilha e solidariedade, apesar de todas as suas vicissitudes e preparar o futuro dos nossos filhos e netos. Viva os Combatentes…! Viva Portugal…! ”

Para cumprimento do protocolo seguiu-se a deslocação ao Cemitério de Lagoa, tendo a finalidade de aí homenagiar os Combatentes Mortos em Combate e também os que vieram a falecer. Nas suas campas foram colocadas flores para memória futura.

Foto 6 - Momento de observância e sentimento, quando da colocação de flores na campa de um Combatente da Grande Guerra de 1914/18.

Foto 7 – Campa de Firmino Marques, Combatente na Grande Guerra de 1914/18.

Foto 8 – O Vereador da C. M. Lagoa Jaime Botelho, colocando uma flor na campa de Jorge Manuel Andrez, que foi Soldado Pára-quedista.

Foto 9 - A Srª D.ª Maria Santinhos, colocando flores na catacumba do seu irmão Francisco da C. Nunes, foi 2º Sargento, faleceu em combate, Vila Cabral, Moçambique-1971; dando-lhe apoio e em 1º plano Araújo Marcos, CCaç 111, Ambrizete, Angola-1961/63.

Foto 10 – Silva Nunes, Ccaç 2527, Bigene, Guidage, Barro e Ganturé, Guiné 1969/71, colocando uma flor na catatumba de Fernando R. Maló, que foi Soldado Condutor Auto e tendo prestado serviço no BENG 447, Bissau - 1968/69.

Cordiais cumprimentos,
Com um abraço
Arménio Estorninho
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Nota do editor:

Último poste da série de 4 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11343: Efemérides (122): Cerimónia comemorativa do Dia do Combatente e do 4.º Aniversário do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 13 de Abril em Matosinhos (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P11438: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (9): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XVII / XVIII / Fim): Final da comissão em Empada (set 69 / jan 70)



Guiné-Bissau > Viagem de abril de 2005 > Aklgures em Marrocos, a caminho da Guiné-Bissau. O jipe é do António Camilo.



Guiné-Bissau > 2005 > O Zé Teixeira regressa à sua segunda terra... Um homem é também as suas memórias, a memórias dos lugares e do tempo onde viveu, sofreu, amou... O Zé deixou amigos que ele reencontrou trinta e cinco anos depois... Na foto vê-se o António Camilo e o José Teixeira. A foto deve ter sido tirada Xico Allen.


Guiné-Bissau > Região de Quínara >  Empada > 2005 > Antigo abrigo de morteiro construído pela CCAÇ 2381, na fase final da sua comissão (1969/70)

 Fotos: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados


1. Publicamos hoje o resto de O Meu Diário, de José Teixeira (1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/709 (*) [Originalmente publicado, em 18 postes,  na I Série, em 2006]


Empada, 19 de Setembro de 1969

Preciso de desabafar, de me abrir com alguém. Dentro de mim existe uma tremenda confusão. Quero fugir deste ambiente bélico, em que só se pensa na sobrevivência. Em que se mata para não morrer. Em que não se faz nada a não ser estar atento para ouvir uma possível saída de morteiro, que pode ser a nossa desgraça. Em que se parte ao desconhecido numa terra vermelha, estranha, inóspita, que esconde armadilhas fatais.

Sou inocente, nesta guerra que me recuso a fazer. Procuro na solidão e no estudo, melhor na simples leitura, pois não consigo concentrar-me, as forças que me faltam, já que ninguém consegue compreender o meu estado de espírito. Também não encontro ninguém com quem possa conversar estas coisas. Ninharias, dirão.

Em cada dia que passa a confiança em mim mesmo vai-se abaixo enquanto sinto crescer dentro de mim um estado de espírito de revolta contra todos os homens que fomentam as guerras. Queria ir a Bissau fazer história mas não sou capaz.


Empada, 24 de Setembro de 1969

O IN ainda não decidiu deixar-me em paz. No dia 20 à noite apareceram por esta terra. Aliás, no dia dezoito também cá estiveram, mas foi de muito longe. Só notei porque o 81 funcionou, para que não se entusiasmassem. O ataque do dia 20 foi fraco, talvez o mais fraco ataque que sofri até à data e me fez correr para o abrigo. Poucas granadas rebentaram e caíram todas fora do arame. Também utilizaram a costureirinha, mas sem quaisquer efeitos. Também fizeram duas visitas a Buba. Apenas assustaram.

Empada, 16 de Outubro de 1969

Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões s/r, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida.

Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que se as nossas forças saíssem as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou. Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto.

Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão s/recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.




Guiné-Bissau > Região de Quínara  > Empada > 2005 > Restos de abrigos construídos nos antigos quartos dos furréis da CCAÇ 2381, aqui aquartelados em 1969.

 Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados


Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas..

No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas.

Nesta mina havia uma mensagem escrita: "Esta é para Alferes Gonçalves". Infelizmente este furriel (e não alferes) já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.

Há tempos apareceu aqui por Empada um turra. Deu várias informações e foi para Buba integrado no Grupo de fuzas, para fazer de guia. Parece que conseguiu fugir levando uma G3 (1).

Empada, 26 de Outubro de 1969

Vejo-te, nesta manhã radiosa, em que o sol parece sorrir enamorado. A brisa bate de leve no teu rosto, ciumenta do teu olhar. Os pássaros, nos seus chilreios cantam hinos de louvor à tua beleza. Até as pedras da rua se sentem orgulhosas por te servirem de trono.

Eu vejo-te passar através do meu espírito, do meu coração enamorado. Sinto ciúmes de tudo o que te rodeia, de tudo o que amas, pois é amor que me roubas. Quem me dera ter-te a meu lado e de mãos dadas, cabeça erguida, altivos, felizes e confiantes, palmilharmos o caminho da vida . . .

Ontem procedeu-se à rendição do Pelotão estacionado em Buba. Parece que Sector está em brasa. Durante um mês foram atacados sete vezes. Num ataque de tiro ao alvo, meteram nove canhoadas numa parede de caserna . . sem ninguém. Que sorte.

Empada, 16 Novembro de 1969

O Marinho Caixeiro Conceição morreu (2). Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos.

Eram vinte e uma e trinta, quando começou. Utilizaram seis morteiros 82, treze lança roquetes, bazucas, morteiro 60 e, claro, a costureirinhas, algumas com balas tracejantes. Tiveram sorte na pontaria e conseguiram metê-las quase todas dentro do quartel e povoação. Só junto às casernas rebentaram oito granadas. Junto ao arame caíram manga delas.

Além do Conceição,que morreu, ficaram feridos o Açoreano e quatro nativos. Na morança da Fátima (prostituta) caíram duas, mas não houve azar, pois os camaradas que lá estavam já se tinham escapulido.

Foram perseguidos até ao fundo da pista, mas às duas da manhã voltaram, aproximaram-se mesmo do arame junto à pista. Felizmente, desta vez não causaram danos. Se desta vez a pontaria fosse idêntica à do primeiro ataque, teria sido uma catástrofe.

Empada, 21 de Novembro de 1969

É uma família muito simpática. Ela, Bijagó, e ele, Cabo Verdeano. Têm quatro filhos: Marcos, Lucas, Júlia e Victória. Muito trabalhadores, aproveitam o terreno cultivável, na impossibilidade de se dedicarem à pesca, a sua profissão, por medo da guerra.

A Júlia está muito marcada pelo ambiente militar que a rodeia, tem até um filho de branco e creio que foi prostituta, em tempos, em Bissau. Tem três filhos todos de tenra idade e é uma tentação cá para a malta. A sua liberdade de linguagem é um dos factores para que qualquer homem se sinta tentado a persegui-la e receber as suas benesses, por troca de umas moedas. A Victória, essa tem porte digno, alguns de nós já se lançaram ao engate, mas ela troca-lhe as voltas.

Até há pouco tempo, toda esta gente - três homens, três mulheres e cinco crianças - dormiam no mesmo compartimento da morança. Com os ataques seguidos de há dias, o medo aumentou, o que se compreende, pois na mesma noite tiveram de pegar por duas vezes nas crianças e fugir para o abrigo rasgado na terra e coberto com cibes, tendo caído duas granadas muito perto da sua casa.

Na luta pela sobrevivência, decidiram passar a dormir no minúsculo abrigo, pondo lá dois pequenos colchões, tendo como companheiros lagartos, formigas, cobras, etc. Os dois velhos da família, por falta de lugar no abrigo, continuam a dormir na morança.

Um clima muito quente e húmido, a terra muito húmida, uma pequena abertura para entrar, a enorme quantidade de bichos, a urina das crianças, o suor dos corpos... são estas as condições desta família. Quantas famílias, quantas Júlias haverá por esta terra !?



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Emapada > 2005 > O reencontro do Zé Teixeira com o Keba (à esquerda)... À direita, o Xico Allen, com quem o Zé Teixeira viajou em 2005, e que também tinha estado em Empada, embora noutra época (1972/74). De óculos, e vestido de azul, o Braima, que foi ajudante de enfermeiro do Zé Teixeira.

Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.


Empada, 20 de Novembro de 1969

O Kebá (3) aparecia todos os dias na Enfermaria. É o nosso ajudante no tratamentos da população. Trata as pequenas feridas. Elas já sabem:
- Kebá põe mercuro ! - e ele põe.
- Kebá, parte quinino! - e ele vai buscar LM. Vão-se embora todos contentes.

Ao Almoço lá lhe trazemos uma cantina cheia de comida. É a nossa paga. Há dias deixou de aparecer. Estranho, mas como tem duas mulheres e vários filhos no mato, admiti que tivesse ido embora.

Ontem vi-o a carregar barricas de água, da fonte para o jardim do chefe de posto. Perguntei-lhe porque deixou de aparecer e fiquei horrorizado. Estava preso por não pagar o Imposto de Pé Descalço (4).

Vim para o Quartel e a minha revolta fez-me agir. Um quarto de hora depois estava a casa do Chefe de Posto cercada por militares armados de G3 a exigirem a libertação do Kebá.

Safou a situação o nosso capitão que, apercebendo-se dos acontecimentos, dirigiu-se ao local e conseguiu a libertação do homem. Como não desarmámos, pois queríamos que o bandido fosse castigado, foi-nos prometido pela capitão que ia fazer uma exposição a Bissau para que fosse retirado de Empada (5).

Acalmada a situação fiquei à espera do castigo, mas parece que me foi dada razão.


Empada, 26 de Novembro de 1969

Na semana passada os Paras fizeram ronco em Gandembel, no “carreiro da morte” , matando 10 e aprisionando um capitão cubano, ferido com uma rajada no braço.

Este confessou ser de origem cubana e estar na Guiné há cinco anos, mobilizado por Fidel Castro (6). Dirigia-se a Conakry para uma reunião com o comando turra. Cerca de duas horas antes tinha passado no mesmo local o Nino com as rampas de lançamento de mísseis.

Já no Hospital em Bissau, foi visitado e reconhecido pelas senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino. Vivia no Bairro da Ajuda, quase em frente do hospital, com a esposa e três filhos. Foi apanhado na sexta feira e tinha no bolso um bilhete do UDIB da terça feira anterior.

A febre e o fim da Comissão atingiu completamente toda a malta da companhia... Nota-se um grande nervosismo, por sentirem que ainda faltam dois meses (7).

Dizem que é costume o IN atacarem nos últimos tempos de comissão. A nós já nos deram recentemente um morto. Por isso a preocupação é enorme.


Empada, 24 de Dezembro de 1969


É Natal. No ar uma camada de cacimbo que nos dificulta a visão. Ao longe o troar das armas, o ribombar dos canhões, lembram os sinos da paz e, pela sua insistência, recordam-nos que é Natal.

Então, o espírito, o coração, todo o nosso ser, sente o Natal. Não o Natal que vivemos na hora presente, preocupados com a morte que nos espreita pela boca de um canhão, atentos ao menos sinal de perigo, para de arma em posição de rajada fazermos frente ao Inimigo.

Sente-se o Natal de nossas casas, a paz dos nossos lares e sofre-se não propriamente por estarmos em guerra, mas porque nos lembramos dos nossos. O seu Natal, não é Natal, porque falta alguém querido, alguém que sente e vive o Natal e outra maneira, em circunstâncias muito difíceis. Eles nem sonham !


Empada, Ano Novo de 1970


A felicidade é o supremo desejo de todos os homens. A História não é mais que uma longa e louca aventura dos homens à busca da felicidade.

O homem, na ânsia de atingir a felicidade, esmaga o seu irmão. A moral diz-nos que a felicidade se constrói com a vida na medida em que nos mentalizamos da nossa missão como seres humanos, viver a vida em comunidade e agir em conformidade. No entanto esquecem-se rapidamente estes princípios morais. Os governantes, responsáveis pelo bem estar do seu povo, guerreiam, ensanguentam, matam. Destroem para atingiram os seus fins. Alegam que buscam a felicidade para o povo, que é preciso sacrificar uns para que outros vivam felizes, enquanto eles vivem nos seus palácios de egoísmo.

Ah ! esses que se arvoram em condutores do povo, que conduzem as guerras dos seus palácios de vidro, se vivessem no seu sangue, no seu corpo, no seu espírito o que se passa nas frentes de batalha !

Se sentissem o sofrimento de tantos que, num último esforço, se tentam agarrar à vida, no meio de atrozes dores. Se sentissem a dor dos que têm de abandonar tudo o que é seu e fugir, na esperança de escaparem à morte.

Se sentissem a dor daqueles que vêm os seus entes queridos, os seus amigos, ali à sua frente, mortos por uma granada traiçoeira, quando ainda há escassos segundos viviam felizes.

Se sentissem o que é ficar sem uma perna, um braço, ficar inutilizado para a vida e quantas vezes rejeitado pelos seus, como quem deita fora o que já não presta.

Se sentissem o que sente o jovem a quem lhe roubaram os melhores anos da sua vida, a quem atrasaram a sua construção como homem.

O ingrato de tudo isto, é que alegam que se trata de uma causa justa. O Inimigo também afirma que luta por uma causa justa e que esta justifica ao vida e o esforço de todos. De que lado estará Deus, se ambas as frentes lutam por uma causa justa ?

Dizem que estão dentro da razão e mandam os outros para a frente. Eles não vão. Lá longe traçam os planos, jogam com as vidas, indiferentes ao sofrimento. . .

A eterna busca da felicidade . . . Pobre homem cego, que procuras a felicidade e julgas que a consegues, esmagando os outros, servindo-te do teu poder. Esqueces-te que a felicidade, não é mais que a construção de ti mesmo, procurando atingir o HOMEM perfeito.

O Grande drama do homem, é o ser limitado nos seus meios naturais e infinitos nos seus desejos. Procura então, por meios anti-humanos, conseguir os seus desejos. Pobre bocado de terra que esqueceu a sua origem e o final que o espera . . .

Empada, 11 de Janeiro de 1970

Ainda cá estamos e eles continuam por perto. No dia 9 nove, as 22.30 h. vieram dar-nos as boas festas. Roquetes, bazucas e costureirinhas e um quarto de hora debaixo de fogo. Só atingiram a tabanca, queimando algumas moranças. Além do susto houve um ferido nativo que teve de ser evacuado.

[Foi a minha despedida da guerra. Poucos dias depois dei baixa ao hospital e fiquei em Bissau a aguardar o embarque que se concretizou em fins de Abril ].

Brá, 20 de Março de 1970

Continuo em Bissau a aguardar o transporte para junto dos meus. Desde Dezembro que o embarque em sido adiado sucessivamente. Agora dizem-nos, mais uma vez ,que está por dias. Será o retorno à sociedade, o retorno a vida: dentro de mim continua a revolta pelo que vi e vivi, mas também há uma grande vontade de reagir.

  



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1970 > Um militar da CCAÇ 2381, Os Maiorais,  na fase final da sua comissão.

Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.


Leça do Balio, 17 de Fevereiro de 2006

Ao reler o Meu Dário (que não era diário) onde apontei algumas das situações mais marcantes da minha guerra, apetecia-me queimar tudo e recomeçar de novo. Tudo o que escrevi, não foram historinhas para depois (agora) de velho, contar aos netinhos. São factos verdadeiros escritos a quente, para não perderem o “sal” da realidade que o tempo teima em dissolver

Hoje, com as feridas saradas, talvez romanceasse um pouco. Talvez lhe juntasse outros pormenores, que com o calor dos acontecimentos foram posto em secundário. Talvez lhe juntasse outras situações que vivi e não escrevi, umas por desleixo, falta de motivação de momento, ou até por não encontra razões de história. Outras por medos “pidescos” de poder ser apanhado.

Com o tempo e com a ajuda provocatória do Luís Graça e dos camaradas tertulianos as estórias irão surgindo. Mas eu, na Guiné, não vivi e presenciei só e apenas cenas de guerra. Vivi bons e felizes momentos com os camaradas. O termo camarada reflecte amizade criada em tempos de luta, em tempos difíceis, daí o seu valor e a sua aplicação que devemos usar. Geramos amizades inesquecíveis.

Vivi bons e felizes momentos, em sadio convívio com as populações locais e muito aprendi com elas. Costumo dizer que aprendi ali, na Guiné, as primeiras noções do que é viver em democracia.

Mas... As injustiças por essa Guiné que presenciei foram imensas:

(i) Vi Chefes de Posto, a fazerem justiça pelas suas próprias mãos, julgando e condenando ao chicote homens sem direito a defesa, sem processo, sem inquirição, sem confronto;

(ii) Vi Africanos a serem empurrados pela força da baioneta, obrigados a irem viver para sítios que não queriam ( Antotinha), alegando que ali nasceram, ali queriam morrer, sobretudo os mais velhos; quantos fugiram para o IN !?;

(iii) Vi Africanos a serem condenados a prisão por não terem dinheiro para pagar o Imposto do Pé Descalço;

(iv) Vi Gente carregada de frutos que iam vender à loja do branco e saíam desta bêbados e sem tostão, graças à estratégia montada, para deixar lá os miseráveis pesos que lhe davam pelo sacos de coconote;

(v) Vi gente a vender o saco de mancarra a um peso e depois o homem branco da loja vender o mesmo saco por 15 moedas, tendo ainda o desgraçado do produtor de o carregar até ao barco; ele que teve de rasgar a terra, semear, tirar as ervas daninhas, proteger dos animais selvagens e dos pássaros, proteger das investidas do Inimigo;

(vi) Vi e senti quão tão grande era o desprezo que a Mãe Pátria votava aqueles que dizia serem seus filhos iguais aos que do Minho ao Algarve se orgulhavam de serem Portugueses; onde estavam as escolas, a assistência mínima à saúde, o desenvolvimento ?

(vii) Vivi uma guerra que em consciência não queria.

Mas estou aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Zé Teixeira

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 Notas do autor:

(1) A história foi muito mal contada na altura pelos Fuzas. No meu regresso em fim de Comissão vinha também no Niassa um fuza que tinha sofrido um castigo e foi expulso da Guiné. Contou-me este, que o tal Turra não fugiu. Um dos Fuzas tinha perdido a G3 e era preciso justificá-la. Por outro lado as suas informações eram a causa para eventuais futuras acções de combate, com assaltos a bases do IN, o que era sempre arriscado. A solução foi amarrar o gajo e atirá-lo ao rio fazendo-o desaparecer e passando a informação que tinha conseguido fugir.

(2) Vd I Série, poste de 11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca

(3) O Kebá passava o dia na Enfermaria. Não quis ser milícia, o que suponho se devia ao facto de ter 2 mulheres e vários filhos com o IN.

Conversámos várias vezes sobre este assunto. Disse-me que em tempos tinha deixado Empada e ido para o mato, localizou as mulheres e tentou convencê-las a virem com ele, mas estas não quiseram ou não as deixaram vir. Vivia este drama. Quando éramos atacados, ele mesmo dizia que não sabia se as suas mulheres estavam do outro lado.

Quando em 2005 tive o prazer de voltar a Empada, senti uma mão nas costas e alguém a perguntar-me se me lembrava dele. Olhei, o rosto dizia-me alguma coisa, mas o nome, esse, fora-se.
- Sou o Kebá.
Quantas histórias ali foram revividas. Imaginem o resto.

(4) Pelo que vim a saber era um pequeno (grande) imposto que toda a gente tinha de pagar, quer trabalhasse quer não, por isso lhe puseram o nome do Imposto do Pé Descalço.

(5) Tal veio a acontecer uns dias depois, ficando o Capitão na função de Chefe de Posto até à substituição.

(6) Esta não será, com certeza, a verdade (verdadeira) dos factos, mas foi assim que ma contaram. Estou apenas a transcrever o que escrevi na altura. Isso permitirá ajuizar como as mensagens eram passadas e eventualmente os factos deturpados por conveniência ou não.

(7) Na realidade, tivemos que esperar mais cinco meses...
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11398: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (8): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes XV/ XVI): Setembro de 1969... (i) Tragédia (para a 15ª CCmds)... (ii) Condição feminina ('Fermero, ká na tem patacão pra paga, fica ku minha mudjer')

Guiné 63/74 - P11437: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (20): Resposta (nº 36): António Matos, ex-alf mil minas e armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72

1. Resposa do António [Garcia de] Matos,  ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,


Assunto: 9º aniversário do blogue + prova de vida + questionário ao leitor

Caríssimo Luís Graça,

Bons olhos te vejam, bons ouvidos te ouçam e bons postes te bloguem !

Tenho imenso prazer em te dizer que continuo vivo e como tal aqui venho dar a minha prova de vida respondendo ao inquérito (*). Lá vai :


(1/2)  Quando descobri o blogue ? A data ? Não sei responder a essa tão prosaica questão mas, calcula, foi na festa de casamento da filha do camarada Luís Faria ! Nessa altura ele falou-me da existência do blogue e quando regressei a Lisboa tive a curiosidade de ver do que se tratava.... Gostei e fiz a minha "apresentação"...

(3) Foi um período que recordo de grande dinamismo do blogue onde eu tive ocasião de participar activamente durante uma catrefada de tempo com as minhas intervenções. Depois ...

(4)... depois a coisa foi esmorecendo (é usual com o passar dos anos ... ) , foram aparecendo questiúnculas e outras interessantes participações noutros foruns em desfavor do MEU blogue sobre os tempos de guerra

(5) Hoje visito-o muito esporadicamente ... Por isso não tenho participado como gostaria

(6) Conheço o espaço facebookiano.

(7) Pelas razões já abordadas, é tão esporádico ir ao facebook como ao próprio blogue.

(8/9) Sou um grande utilizador do facebook mas acho que o blogue torna-se mais "friendly" [amigável] do que ele.

(10) Não tenho notado [ dificuldades no acesso] ...

(11) Refiro-me ao blogue ( a minha opinião é sustentada na experiência que tive e admito que esteja ultrapassada ); este blogue teve um impacto imenso em mim. Fui dos que vim da Guiné com os meus problemas TODOS resolvidos,  daí que não precisei de catarse para restabelecer os meus índices de integridade, felizmente.

Porém, a constatação do abandono que os combatentes portugueses tiveram face ao carinho, admiração, elogio, gratidão, etc. com que os nossos pares são tratados no estrangeiro, revoltou-me particularmente.  As homenagens, por exemplo, aos americanos, mortos ou vivos, envolvidos no Vietname, continuam a ter aquele efeito demolidor de me pôr o beiço a tremer e as lágrimas a saltarem num sentimento de total solidariedade com eles !

Cá, e porque pertenci ao oficialato do exército português, sou agraciado com 0,40 € por dia !! Sujeito a descontos !! E ainda tenho que ser solidário com uma governança que, numa grande maioria, ainda andava de fraldas naquela altura ...

(12) Não [, nunca participei em encontros anteriores].

(13 )  Não estou a pensar [participar neste].

(14 ) Desculpa, Luís Graça, mas eu acho que o blogue sofre do que tudo na vida sofre : cansaço. Sou
de opinião que deveria ser reinventado pois as potencialidades do acervo que já adquiriu o merece ! O trabalho dos colaboradores mais activos será sempre de elogiar mas, parece-me, com conteúdos esgotados. Digo isto com todo o respeito por quem participa mas se neste momento eu abrir o blogue, não vou ser surpreendido com temas fora dos aniversários, das mortes, das notícias de que vai haver um encontro e ... e ... pouco ou nada mais.

Pedir-me-às alternativas e eu respondo que a tanto não me permite o engenho e a arte ... Isto não pode ser impeditivo de se estudar um voltar de página ! Porque não as histórias de vida de cada um nos 40 anos subsequentes aos da nossa guerra ? Como se processou a reintegração individual ? Como vivem ? De que forma se amarfanham com as recordações do tempo de armas ? Que traumas carregamos ? Não só os físicos mas também os psíquicos !

Que estórias contámos aos nossos filhos ? E aos nossos netos ? E às nossas companheiras ? E aos nossos pais ? Que sabemos nós dos seus sofrimentos por nós ?

Luís Graça, o que acabo de escrever não foi sujeito a qualquer re-leitura. Foi ao correr da pena com o coração nas mãos !

Um abração! António
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Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Se não, porquê ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P11436: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (32): 33.º episódio: Memórias avulsas (14): O desertor

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 9 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS

14 - O DESERTOR

Das duas, uma... ou eu estava a ver mal... ou aquele com as mãos no ar e a "costureirinha" bem à vista, queria entregar-se à CCAÇ 1422.

Aproximava-se vindo do lado do que fora a estrada que ligava ao Olossato, agora desactivada e foi por adrego, que o topei, ao empinar para os gorgomilos, aquele saboroso digestivo oriundo da Scotland acompanhado que estava a ser com umas mancarras acabadas de torrar na chapa, quais pipocas fossem.

Tal com'a mim, outros deram pelo que estava a acontecer e em simultâneo, dirigimo-nos para a porta d'armas, onde por acaso até m'arranhei ao desviar o "cavalo de frisa".

Requerida a urgente presença do enfermeiro chefe, logo este me besuntou e na falta d'álcool, com uma mézinha "distiled, blended e bottled" em Sacavém, que ao que se dizia era feita com água destilada e 1214 (uma espécie de tintura de iodo que tudo fazia sarar, excepto as nódoas da alma) e qu'até se bebia na falta do conhecido Vat 69.

Tínhamos a tiracolo, como sempre colada ao corpo, a prima G3, em posição não ofensiva, mas o que poderia acontecer rápidamente.

Em silêncio desconfiado arguardávamos, mas no entrementes afastei dali alguns camaradas, pois que o "tudo ao molho" poderia tornar-se perigoso e porque até nem sabíamos se não seria essa a intenção inimiga.

A cena parecia-me impossível de acontecer. Normal não era, vir um qualquer irmão Dalton incomodar-nos a horas tais, mas de qualquer forma íamos já antecipando os problemas que costumavam resultar quando se tinham de organizar colunas para levar prisioneiros a Bissau.

O inédito prendia-se com o facto de estarmos a ver em directo, um IN armado e VIVO, considerando que nem na mata se deixavam bispar, aquando nos recepcionavam e só os víramos quando a iniciativa fora nossa.
Por isso houve sempre dificuldade em fazer estatísticas de quantos eram os feridos ou os eliminados.

Mais tarde soube como actuavam para não deixarem rastos e era assim: Constituíam três grupos... um, com as armas com que disparavam mal (em 1965/1966, que depois aperfeiçoaram-se com a ajuda dos cubanos); o 2º grupo tomaria o lugar dos do 1º se atingidos; o 3º, arrastaria os feridos e os que já não diziam nem ai nem ui e também as armas destes.

Daí que a contabilidade saísse quase sempre por excesso e só através da observação dos restos do líquido espesso que circula nas veias e artérias e que por ali ficara ensopando a terra já de si vermelha, só por aí repito, é que os números batiam mais ou menos certos.

Voltando ao desertor: Ia-se apróchegando. Eis senão quando se ouve um tiro lá longe... acordou os nossos sentinelas, tendo um deles, espavorido, gritado:" lá vêm eles"...o furriel de dia, esse por nada deu e continuou a sesta debaixo do embondeiro... e nós vimos o visitante parar... tremer... fugir e recuando para o caminho donde viera, desapareceu. Contaram-nos que foi agredido pelos seus, mostrado como exemplo a não seguir e punido como traidor.

Guiné > Regiãop do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Um prisioneiro do PAIGC.
Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.

(continua)
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Nota do editor:

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11356: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (31): 32.º episódio: Memórias avulsas (13): Como uma canção bem cantada pode ser uma dissuadora arma de guerra

Guiné 63/74 - P11435: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (19): Respostas (nºs 34/35): Rui Santos (ex-Alf Mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65). e António Branco (ex-1.º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, Bachile, 1972/74)


Resposta nº 33> Rui Santos  [ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]

(1) Quando é que descobriste o blogue ? 
Há 5 ou 6 anos

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
Não me lembro.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 
Como recebo este mail, julgo que sim.

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
De tempos a tempos.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ? Uma vez mandei, mas desapareceu.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ? 
Não curto o FB.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 
Não uso o FB.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 
As histórias dos camaradas, fotografias, mapas, documentos.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 
Quando começam as opiniões e peixeirada,

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook?
A última ligação com memórias de há 40 anos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ? 
Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 
Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
Não sei, mas espero que persista; onde estive (Catió), sei que do pelotão de morteiros, do de Daimlers, do de canhões sem recuo, da CSS e da CART, ninguém se manifestou no blogue. Quero dizer que existem milhares de camaradas que não o conhecem, ou conhecendo não se manifestam, tal como eu.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
Ao contrário de outros fóruns, neste nunca cheguei a perceber bem como postar.


Resposta nº 34 >  António Branco [ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74]

 Questionário ao leitor do blogue:

(1) Descobri o blogue em 2009

(2) Através de uma pesquisa no Google sobre a Guiné e a região do Bachile, fui direccionado para o blogue.

(3) Sim, sou membro da Tabanca Grande  desde essa data

(4) Já o fiz diariamente, mas no momento pelo menos visto o blogue duas vezes por semana dou uma espreitadela

(5) Já enviei alguma coisa sobre o Bachile e a  CCAÇ 16, fotos, comentários e testemunhos, resultante do que a minha memória visual o permite, pois não tenho nenhuns elementos escritos que sirvam de apoio.

(6)   Sim, também estou atento ao que lá se divulga,. no Facebook

(7) Vou mais vezes ao Blogue

(8)  O Blogue é mais intuitivo e em meu entender é onde partilhamos as nossas vivências e expressamos melhor os diversos pontos de vista.

(9) O que gosto menos do Blogue ? E do Facebook ? Bom, não gosto quer num lado quer noutro de alguns comentários por vezes depreciativos sobre a forma como alguns se expressam só porque têm pontos de vista diferentes. É importante que todos respeitem as diversas opiniões.

(10)  Sim, já tive. Houve momentos em que foi mais difícil aceder ao Blogue, no entanto penso que neste momento a situação melhorou muito.

(11) O Blogue surgiu-me num momento em que precisei de efectuar um trabalho sobre a minha experiência de vida e na necessidade que tinha em reencontrar alguns dos camaradas com quem partilhei os melhores e os piores momentos de vida.

(12) Não, por razões de vária ordem, ainda não me foi possível em nenhum dos nossos anteriores encontros nacionais.

(13) Quanto ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real...Ainda não é este ano que o farei, mas se a situação melhorar terei muito gosto em marcar presença proximamente.

(14) Claro que tem, continua a ser muito importante para todos nós e seria bom que cada um conseguisse trazer mais alguns dos renitentes a estas coisas, porque quanto mais forem os testemunhos das nossas experiências, mais rica ficará a história de todos nós e a de uma época de um País.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários ... Agradecer ao fundador e aos coordenadores do Blogue, a excelência do trabalho desenvolvido até ao momento, sem o qual não tinha sido possível igualmente o reencontro de muitos,
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de abril de 2013> Guiné 63/74 - P11430: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (18): Resposta nº 32: Henrique Cerqueira & Maria Dulcineia (NI) (Biambe e Bissorã, 1972/74)

Guiné 63/74 - P11434: Bom ou mau tempo na bolanha (4): A odisseia (Tony Borié)

1. Quarto episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), Bom ou mau tempo na bolanha.





Um certo dia, ao cair da tarde, pouco depois do comboio das quatro e meia, o Tó d’Agar, que é como se chama neste texto, de regresso a casa pela estrada principal que levava à vila, depara com um casal que se via aflito para mudar a roda de um carro, cujo pneu tinha furado. Falavam uma linguagem diferente, como se via nos filmes de cowboys. O Tó d’Agar, solicito e vendo o casal em apuros, imediatamente se prontifica a ajudar. Em poucos minutos troca a roda do carro, de seguida, explica:
- A vila é próxima, fica ao sul, lá podem reparar o furo do pneu, naquela casa ali, vive o senhor Jaime barbeiro, boa pessoa, eu vou lá com vocês e podem lavar as mãos e beber água.

O casal, era nem mais nem menos, um diplomata americano, duma cidade do norte de Portugal. Falavam e compreendiam português, pelo menos ele, e na despedida, esse diplomata, muito simpático, deu-lhe um cartão de visita, dizendo-lhe:
- Agradeço imenso a sua ajuda, e estou ao dispor para o ajudar no que for preciso.


À noite, já depois de passar o comboio das dez e meia, no quarto antes de dormir, o To d’Agar conta o sucedido à Margarida. Ambos concordam que era uma boa oportunidade de tentarem emigrar, sair do regime que não mais suportavam, irem para outro país, onde pudessem dar um futuro aos filhos, onde os pobres fossem tratados com mais dignidade, onde não houvesse uma desigualdade tão grande de tratamento entre ricos e pobres, onde se pudesse sobreviver sem encontrar todos os dias pessoas soberbas a olharem, com receio de que não vá algum pobre comer o pão que essas mesmas pessoas soberbas e invejosas, mas com algum dinheiro deixado por alguém, não ganho com o suor do rosto, todos os dias deitam no caixote do lixo.

A ideia ficou a amadurecer no pensamento de ambos, não nessa semana, que havia rega do milho e outros afazeres, mas na seguinte, o Tó d’Agar, não de comboio como gostava, mas na camioneta da carreira, vai a essa cidade no norte, falar a esse diplomata.

Expressa-lhe a vontade de ir como emigrante para os Estados Unidos, a maneira não sabe, mas quer ir desesperadamente, conta-lhe a vontade que tinha de querer ter acesso a trabalho e tratamento com alguma dignidade, explica-lhe a perseguição que sofria, não só pelas polícia do estado, como pelas pessoas com alguma influência no lugar onde vivia. O diplomata escuta-o, pede-lhe todas as informações dele e da Margarida e finalmente diz:
- Como sabes, não sabemos nada a teu respeito, vou informar-me, entretanto, arranja estas certidões, estes documentos, passaporte, caderneta militar e um documento que prove a tua profissão de gráfico. Traz esses documentos e vem ver-me de novo.


O Tó d’Agar veio desanimado, o único documento que arranjaria com facilidade era a comprovação de que era gráfico. Há bastante tempo que descontava para o sindicato, ele mesmo tinha uma carteira do sindicato com a sua fotografia, se fosse ao sindicato na cidade, logo lhe passariam um documento comprovando que era gráfico, disso estava certo. Com alguma dificuldade também arranjaria as certidões, agora passaporte e caderneta militar era impossível, o passaporte era proibido dá-lo aos pobres porque podiam fugir. Muitos seus amigos tentaram ir ao governo civil tirar passaporte e eram corridos pelas escadas abaixo, com a intimidação de que iam avisar a Polícia do Estado e isso o To d’Agar não queria, pois já estava farto de interrogatórios.

O sistema era assim. Não queriam que a mão de obra, ou seja, os humildes trabalhadores, faltasse às empresas dos senhores importantes, em outras palavras, não autorizavam que os pobres deixassem de sustentar os ricos com o seu suor. Alguns, como não conseguiam passaporte, pagavam rios de dinheiro a “passadores” e iam “a salto”, como se dizia, para França e Espanha, muitos morriam nos Pirenéus, abandonados pelos “passadores” e como os companheiros combatentes e não só, talvez ainda se lembrem que o então Cifra era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro.
A caderneta militar, ainda quando se chamava Cifra, e quando entregou os trapos, que eram os restos da farda do ultramar e que teve que pagar vinte e sete escudos e cinquenta centavos, na unidade militar perto de Lisboa, o sargento na despedida, com cara de comandante, diz-lhe:
- Com a especialidade que tiveste na tropa, não podes sair de Portugal durante pelo menos cinco anos.

O Tó d’Agar lembrava-se dessa conversa de despedida.

Já em casa, falando com a Margarida, combinaram: Temos de fazer um pedido a alguém importante, com influência na tropa e no governo civil, alguém que esteja metido no sistema e que queira ajudar-nos, alguém que nos ajude sem exigir quatro vezes mais em troca, como era normal nestes casos, em que as pessoas que pediam favores a alguns senhores com poder, ficavam devedores para o resto da vida, podiam pagar, pagar, que nunca liquidavam a dívida. De contrário, vamos viver aqui o resto da vida, não sairemos da “cepa torta” e da miséria a que nos sujeitam.
Já lá iam mais de quatro anos e ainda não tinha recebido a caderneta militar, o sargento com cara de comandante, tinha toda a razão.

O Setúbal, sportinguista ferrenho, vinha todos os anos ao norte com a família ver o Sporting jogar com o Porto, ficavam em casa do Tó d’Agar, correspondiam-se por carta pelo menos duas vezes ao ano. O Tó d’Agar escreve-lhe um postal, pedindo-lhe se descobria lá por Lisboa, se o nosso comandante ainda era vivo e onde estava colocado. A resposta demorou uma semana e tal, era comandante de uma certa polícia na capital. O To d’Agar, desta vez vai no comboio das seis e meia até à cidade, tomando de seguida o comboio da linha do norte que o levaria à capital, vai à fala com o comandante, ficam pasmados a olhar um para o outro e abraçam-se. O comandante, pergunta-lhe:
- Então oh Cifra, em que problema, em que conflito, te meteste agora, para me vires ver? Não me vais dizer que é por causa das fotografias?

Riram, os dois.

O To d’Agar, explica-lhe toda a situação. Quer um passaporte para ele e para a Margarida e a caderneta militar, quer ir com a mulher para os Estados Unidos.
O comandante olha muito sério para ele e diz-lhe:
- Só se as melhores fotografias forem só para o meu arquivo.

Riram, de novo.

Ficaram à conversa uns minutos e o comandante faz uns tantos telefonemas. Entretanto, para ajudar a passar o tempo, beberam dois copos de Vat-69, servidos pelo comandante. O telefone toca, o comandante atende, fala com voz de comandante durante uns minutos e desliga. Vira-se para o To d’Agar, e diz com cara de satisfação:
- Tens cá uma sorte, és um felizardo. Podes ir levantar a tua caderneta militar ao quartel da cidade, a partir da semana que vem, pois vai ser enviada para lá por estes dias. Quanto aos passaportes, diriges-te pela manhã ao governo civil, falas com este personagem dizendo que vais da minha parte, pois já está avisado e vais trazê-los no mesmo dia. Combinado, oh Cifra, e mais uma coisa, não vás para os Estados Unidos, vender fotografias da guerra.

Estas últimas palavras, foram ditas com ar de alegria. Abraçaram-se, e despediram-se.


Tudo aconteceu, como o comandante disse: “Tens cá uma sorte, és um felizardo”.
Algumas semanas depois o Tó d’Agar tinha passaporte para ele e para a Margarida, assim como a caderneta militar nas mãos. Foi de novo falar com o bondoso diplomata, que entretanto já tinha todas as informações a respeito do Tó d’Agar e da Margarida. Ambos eram pessoas honestas e trabalhadoras, embora o diplomata, e o Tó d’Agar nunca soube porquê, a esse respeito lhe fizesse jurar que não se ia meter no futuro em assuntos de política, o que o To d’Agar erguendo a mão direita aberta, jurou. Entregou-lhe os documentos que tinham sido pedidos, incluindo uma comprovação do sindicato em conforme era gráfico. O diplomata, analisou-os e tirou fotocópias, apontou vários números, por fim explicou:
- Está tudo em ordem, o processo vai decorrer e no futuro vamos necessitar de mais documentos, mas serão simples e não vai haver qualquer complicação, praticamente vai ser aprovada a tua ida como emigrante para os Estados Unidos, precisavam lá de pessoas novas, honestas e trabalhadoras, toma lá este livro, que contém a história do país para onde vais emigrar, tem algumas palavras que tens que aprender, aprende, pois quero começar a falar contigo no idioma que lá falamos.

No ano seguinte nasceu um filho de ambos, um grande rapaz, sendo a Margarida, assistida durante toda a sua gravidez por um médico jovem, amigo de infância do Tó d’Agar, acabado de sair da Universidade. Filho de família modesta que compreendia a situação das pessoas com menos recursos, que eram os pobres e com ideias muito parecidas com as que o Tó d’Agar tinha nessa altura da sua vida, pois também teve complicações com a polícia do estado durante o seu tempo de estudante.

A ordem da embaixada, com autorização de visto e restantes papeis de embarque, vem no final desse mesmo ano.

O To d’Agar, lembrou mais uma vez o comandante: “Tens cá uma sorte, és um felizardo”.
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Nota do editor:

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11414: Bom ou mau tempo na bolanha (3): O Tótó e o vinho (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11433: Álbum fotográfico do Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Binar, Teixeira Pinto, Mansoa, 1963/74) (1): Bafatá nos finais dos anos 50 (ainda hoje lá tem familiares ligados ao comércio)


Foto nº 241 > Guiné >  Bafatá >  c. 1958/59 >  Armazém da Casa Gouveia: manga de amendoim…


Foto nº 242 > Guiné >  Bafatá > 1958 >  Equipa do SCB [Sporting Clube de Bafatá]


Foto nº 243 >  Guiné >  Bafatá  >  c. 1958/59 >  Empregados da Casa Gouveia no armazém




Foto nº 244 > Guiné  >  Bafatá >  1957 >  Jónác na S. C. Ultramarina




Foto nº 245 > Guiné >  Bafatá >  c. 1958/59 > Bombas da gasolina da Casa Barbosa



Foto nº 246 >  Guiné > ; Bafatá >  1959 >  Helder Barbosa




Foto nº 247 > Guiné >  Bafatá > 1958 > Rua Principal de Bafatá




Foto nº 248  >  Guiné > Bafatá  >  c. 1958/59 >   Bajudas em frente ao S. C. Bafatá




Foto nº 249 >  Guiné > Bafatá >  1959 >  Piscina de Farim


Fotos (e legendas): © Leopoldo Correia (2013)  Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O Leopoldo Correia (ex-fur mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65), enviou-nos "mais fotos de outros tempos, Bafatá 1958/59" (sic).

Presumimos que o álbum seja do mesmo familiar seu, que trabalhou na Casa Gouveia, em Bafatá. de que já publicámos dois postes (umsobnre Bafatá e outro sobre o Olossato).

São uma preciosidade: ajudam-nos muito a reconstituir a época anterior à guerra colonial... As fotos falam por si. Os anos 50 são de relativo progresso económico e social na colónia... Particularmente deliciosa é, para mim, a foto da piscina de Farim (nº 249): há uma dúzia de nadadores e umas dezenas de mirones locais ao longo do muro... Era também uma época em que se viajava, com segurança, por toda a Guiné: ia-se facilmente de Bafatá a Farim para dar um mergulho na piscina (então um luxo e uma novidade)... Além disso, Bafatá era um importante vila comercial, com várias casas importantes como a Casa Gouveia e a Casa Ultramarina. Ainda vi velhos camiões como o da foto nº 241 (pu parecidos) fazerem colunas logísticas de Bambadinca ao Saltinho, em 1969...Alguns não voltaram...

Obrigado, mais uma vez, ao nosso camarada e ao seu familiar, que ele não identifica.

Recorde-se aqui alguns factos da história de vida do Leopoldo:

(i) Nasceu em Lisboa em 14/3/1941;

(ii) Por motivos de saúde e pela situação do após guerra, a família transfere-se para Estarreja, terra natal do pai;

(iii) Lá crescei e se fez gente, como ele próprio nos diz... Tirou o Curso Industrial de Electricidade na Escola Industrial do Infante D. Henrique, no Porto;

(iv) O curso deu-lhe a a oportunidade de entrar na CNE - Companhia Nacional de Eletricidade, criada em 1947, na sequência da aprovação do plano de eletrificação do país (hoje REN);

(v) Em 1963 é incorporado no Curso de Sargentos Milicianos, passando por Mafra e Tavira;
(vi) Seguiu para a Guiné em Outubro do mesmo ano;

(vii) Fez parte da CART 564 que na Guiné, como companhia independente, teve um ano os seus militares espalhados por diversas zonas;

(viii) Pela sua parte, esteve em Nhacra, Binar, Teixeira Pinto, Mansoa;

(ix) Regressou em 1965; [e tenho ideia, por uma conversa telefónica, que ainda viveu e trabalhou em Angola antes da independência;]

(x) Ainda hoje tem familiares ligados ao comércio em Bafatá;

(xi) Está reformado da EDP;

(xii) Vive em Águas Santas, Maia.