1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 23 de Maio de 2009:
Caro Vinhal,
Caro Vinhal, hoje remeto-te uma história (não gosto de estória...) diferente em prosa...
Passou-se nos idos anos cinquenta da centúria anterior, período obscurantista em que o nível de iliteracia era absolutamente confrangedor...
Hoje, graças à dona Lurdes e à socrática figura, sustentado nas novas oportunidades, o país está em vias de dar o salto qualitativo largando definitivamente a carruagem fundeira para se tornar ele próprio, a máquina propulsora, o motor cultural europeu, quiçá mesmo mundial...
A revolução cultural socratiana ultrapassará, de longe, a visão do camarada Mao Tsé Tung, primeira figura das que o mundo conheceu a esse nível...
A engenhosa engenharia socratiana para a obtenção domingueira do canudo reluzentemente enquadrado em moldura de talha dourada, qual pergaminho medieval, bem como o não menos custoso e valorizado diploma Varense, igualmente alvo de tratamento especial que as paredes do, por certo, pomposamente decorado (a letra dirá com a careta...) espaço bancário reservado às altas esferas saídas de um balcão de província, são a prova provada da revolução cultural, que se espalhará, qual maná, por esse mundo fora...
Perdoe-se-me esta pequena divagação e retomemos o fio à meada, que é como quem diz, voltemos à cousa que motivou estas linhas...
Pois nesse negro período, havia uma certa apetência, nos meios rurais, pela nobre Arte de Talma...
O caso que ora narro passou-se não em Alguidares de Baixo, como depreciativamente se recorre à expressão sempre que se pretende omitir o local da ocorrência, mas sim em Terras da Maia, dessa Maia de Gonçalo Mendes e, perdoe-se-me a imodéstia, deste vosso escriba de horas mortas...
Os actores, todos eles amadores (porque amavam a representação, na verdadeira acepção da palavra...) quer porque a indumentária era apelativa - as peças reportavam-se sempre a períodos epocais já muito distantes, e óbviamente as roupas tinham um visual manifestamente diferente - quer ainda para alimentar o ego que a subida a um palco sempre aporta, (a luz da ribalta entontece...)
Os próprios estrados das salas de aula tinham esse objectivo de projectar o professor para umpatamar mais elevado, fazendo-o alvo das atenções...
Os actores, dizia, juntavam-se nas noites de sábado, no estabelecimento de barbearia local do Francisco Silva, alcunhado de Rôla...) onde o homem da navalha,também ele actor (normalmente protagonista dada a sua faceta de ter sido o unico a decifrar a "Pedra de Roseta" da "Cartilha Maternal" do grande João de Deus, por forma a aceder à leitura de carreirinha sem quaisquer sobressaltos...) tinha função redobrada...
Assim, o barbeiro Xico era quem tinha o esfalfante trabalho de ler, até à exaustão, todas as falas, todas as deixas, de forma a conseguir que os colegas actores (iletrados) decorassem os seus papéis...
Quando a coisa ficava afinada, aí vinha então o dia da estreia, com pompa e circunstância, até mesmo publicidade em cartazes onde os nomes dos actores eram apostos em letra miuda, à excepção do de Francisco Silva, que surgia num corpo enorme... A sala era a dos Bombeiros Voluntários, que apenas devia a sua existência à necessidade imperiosa de obtenção de fundos para a construção do novo quartel uma vez que o existente era simplesmente exíguo...
A sala não reunia portanto um mínimo de requisitos mas era por uma boa causa...
O guarda-fatos e os cenários eram eles também resultante de trabalho gracioso das gentis meninas da Maia e do pintor maiato, homem dos sete ofícios...
A peça de estreia foi "Inês de Castro" que ilustrava os amores proibidos do Infante D. Pedro (futuro rei D. Pedro I "O Crú" ) e Inês de Castro, aia de D. Constança, esposa do infante...
D. Afonso IV, pressionado pelos validos que o instigavam a matar a amásia de Pedro, pois segundo eles, Inês oriunda de família malquista galega, poderia constituir perigo para a coroa portuguesa acabou por incumbir dessa tarefa, Pêro da Covilhã, Álvaro Gionçalves e Diogo Lopes Pacheco...
Jazia Inês prostrada, em mar de sangue, após os golpes desferidos por Pêro da Covilhã e seus cumplices, rodeada de pajens e cortesãs num carpir contínuo, arrepiante, quando D.Pedro, regressado da caça, irrompendo na sala do crime e perante a evidência do quadro, pergunta:
- Quem matou a INESA ?
Face ao silêncio sepulcral, voltando-se para um dos personagens menores atirou:
- Fala minha besta!
O figurante, de papel secundário, (pajem provavelmente...) esquecido do nome do assassino, ao invés de dizer que fôra Pêro da Covilhã quem desferira a primeira facada no estômago da vítima, balbuciando na sua gaguez, demora uma eternidade (o que leva Pedro a sair de cena...) para desabafar contra a fanfarronice do barbeiro/actor/ensaiador (que aqui fazia de Pedro e de Pêro...) acabaria por dizer:
- Foi, foi, foi o Xico da Róla (alcunha do actor/barbeiro que representava os papéis de Pedro de Pêro) com uma facadela no fole das migas...
Acto contínuo, o dito Pêro/Xico da Róla que deveria estar já a caminho de Castela para aí se refugiar a mando de D. Afonso IV, irrompe na sala dizendo:
- Um momento, um momentinho senhores espectadores que vou só f.... as ventas a um destes analfabetos sacanas f.... da p... que me chamou Xico da Róla... Estes piolhosos são uma autêntica ralé que não conhece a nobre Arte de Talma... Não passam de actores secundários que nem ler sabem... Ando aqui a dar pérolas a porcos dentro e fora do palco...
E foi o bom e o bonito...
O referido Xico começou a contenda mas acabou por ser o bombo da festa...
Ninguém o suportava pelo pedantismo que exibia enquanto barbeiro erudito e protagonista de vários papéis nas varíadíssimas peças de teatro já produzidas.
Apesar do papel importante junto dos homens da terra pois lia o jornal em voz alta, especialmente às segundas-feiras por causa dos relatos do futebol, acabou mesmo assim por ser o alvo da ira de todos, actores e público em geral que aproveitou para molhar a sôpa em tão pedante figura...
Subindo ao palco das suas frustrações, os pagantes não aceitaram ter de ir embora sem terem visto missa amén... mas fundamentalmente não aceitaram o enxovalho.
Alguém fez cair o pano e os gritos e algazarra continuaram até que a Guarda acabaria por fazer o gosto ao cacetete, malhando a torto e a direito...
Os bandos saídos do arame farpado da plateia atamancada não conseguiram digerir os insultos nem calar a ofensa... Pararam a representação e disseram basta ao Xico da Rôla...
Hoje tenho pena que não tenhamos parado nós também, actores forçados no palco do teatro da guerra da Guiné, (nome bonito que os senhores da guerra gostam de utilizar...) para acusarmos os Xicos da Rôla que ali nos colocavam aproveitando eles para serem os protagonistas...
Para os Xicos da Rôla éramos actores secundários, representávamos bandos, mas quem fez o espectáculo da guerra, fomos nós, os andrajosos, com barbas hirsutas e cabelos mal cuidados, cheirando a catinga, porque nos calhou o lado pior da cena, vivendo em tugúrios nojentos,em buracos escavados no chão, como ratos, sem água, sem condições de higiene (as miseráveis que existiam tivemos de ser nós a criá-las ...), sem comida digna desse nome despejada quantas vezes em marmitas sem limpeza eficaz, ENQUANTO os Xicos da Rôla cirandavam perfumados, de óculos Ray-Ban (não fosse o sol forte danificar-lhes as vistas...), de lenço dobrado e colocado com parcimónia, quais pavões ARMANIamente trajados, de penduricalho reluzente ao peito, arquitectando traições à Pátria e a nós próprios que lhes alimentávamos as promoções, longe do perigo e do arame farpado, enxovalando-nos outra vez, agora mais de trinta anos passados...
Pena não termos agido como os amadores da Arte de Talma...
Com a promessa de envio das sextilhas semanais despeço-me com um grande abraço extensivo a toda a tabanca.
Manuel Maia
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4408: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (22): O desvendar do segredo (Manuel Maia)
Vd. primeiro poste da série de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4154: Destas não reza a História (Manuel Maia) (1): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4413: Estórias avulsas (33): Buracos da vida, ou os dias mal vividos (Luís Faria)
1. Mensagem de Luís Faria (*), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 23 de Maio de 2009:
Amigo Vinhal
Ao ler alguns postes passados, Bu…rakos…, Bandos…, arames… e outros, dei por mim a recordar como o espírito criativo conseguia valor acrescentado em dias que não eram senão isso mesmo: uma espécie de Bu…rakos.
Um abraço a todos
Luís Faria
Guerras confidenciais
(de Bando … já se vê !!)
Ao longo da estrada Bula – S. Vicente, a partir do quilómetro três (K3) considerávamos que a zona era já bastante perigosa aumentando essa periculosidade na razão directa do crescendo quilométrico.
As nossas emboscadas nas laterais dessa estrada, a partir de certa altura passaram a ser consideradas rotineiras (não esquecendo que a rotina era inimiga da segurança !) e proporcionavam por vezes situações diferentes, talvez pela originalidade, por certo subjectiva.
A noite
As, por norma, 24 horas que por lá passávamos, chegavam a ser fastidiosas especialmente a noite, dada a incomodidade da cama e a voragem dos borrachões dos mosquitos aos milhões que não se fartavam de beber litros do seu néctar preferido, que muitas vezes martelávamos com álcool, na esperança de que ficassem azoados e trombassem num qualquer embondeiro ou bagabaga, ficando fora de combate, de preferência em coma, quanto mais não fosse, etílico !!
Havia quem nos quilómetros mais baixos e menos perigosos (especialmente Km 2), optasse (à socapa já se vê) pelo uso do célebre e concêntrico lion-brandt de cor verde d(n)a esperança de os afastar e de não atrair uma outra espécie erecta, mais violenta e letal que também nos azucrinava a mioleira demasiadas vezes!
Houve até quem, nestes mesmos quilómetros, talvez por na altura ser mais esclarecido e já defensor acérrimo dos ecossistemas e da preservação em liberdade das faunas, não usasse nenhum dos métodos anteriores e antes - não sendo adepto do trabalho mais pesado – optasse e mandasse de forma amável e bonacheirona, que alisassem o chão e lhe armassem o mosquiteiro que lhe tinham transportado (já não recordo se com ou sem colchão, mas a almofada estava presente), pedindo à plebe que estivesse atenta e não facilitasse, acrescentando um ouçam o que eu digo, não olhem para o que eu faço !! Acordem-me se houver algum problema (!!!), seguido passados uns momentos, de uma ronca destinada a não deixar adormecer as sentinelas, digo eu !
Por vezes, para quem não era adepto das insuficiências nas alternativas anteriores e não sendo viável acrescentar o transporte da cama, se a mente lhe sussurrava melosamente pedido por maior comodidade para o corpo… passava a pasta e abalava com escolta para dossel quartelino ou morancino (?!), quiçá para o aconchego de uma botija natural (?!), regressando no dealbar seguinte, bem disposto e com ar feliz de gozador, pronto e retemperado para uma nova jorna!!
Não faltou quem, se calhar por estar convicto que todo o ser vivo (menos o turra belicoso) tinha direito à vida, liberdade, saúde e alimentação, oferecesse altruisticamente o seu peito desnudado para o pleno saciar das necessidades básicas daquela demoníaca turba voadora !
Por fim havia a maioria não silenciosa assassina que não fugindo, tampouco virava a cara ao perigo de um bom confronto continuado, ora se defendendo ora atacando com golpes de mão mortíferos, que ecoavam rasgando o silêncio da noite guardada pelo cintilar de miríades de luzes estelares.
Com é sabido, o corpo humano tem necessidade de dormir o que, pelo atrás descrito não era uma tarefa assim tão fácil! Atento ao problema, o ecossistema na tentativa de manutenção do seu equilíbrio, quase diariamente e como ajuda, oferecia-nos música Wagneriana executada em palcos aramados mais ou menos próximos que nos permitiam distinguir ou não outros instrumentos para além dos tímbalos que, com o seu rufar de diferentes intensidades, mas sempre audível, controlava o espectáculo de luzes psicadélicas visíveis na noite estrelada, o que proporcionava na verdade um outro espectáculo emotivo e quase surreal .
Elementos do 2.º GCOMB nestas emboscadas. Em primeiro plano o Gomes.
Na boina vêem-se os pionés referentes aos combates tidos, à altura
Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados
O dia
Durante o dia, as coisas passavam-se de modo diferente e havia que lutar contra o tédio, o calor abrasador e a sede, especialmente quando estávamos estacionados e a permanência era mais prolongada sem que contássemos. Algumas vezes o Esquadrão de Cavalaria foi obrigado a levar-nos água, nas suas Panhard. Eram uns bacanos aqueles homens! E tinham um bar… ?!?!
Qualquer minudência servia para gastarmos o tempo, mais ou menos entretidos.
Era o observar das formigas no seu labor contínuo e se preciso, praticar um pouco de sadismo interrompendo-lhe o carreiro de andamento com um risco no chão, o que lhes causava um desnorte tremendo durante minutos! Era interessante e gastava muito tempo, ver o esforço e técnica com que um grupo delas transportava um peso pesado!
Era o observar da macacada, quando por lá apareciam, nas suas brincadeiras, no alarido dos seus falares, nos atravessamentos da estrada de um modo que mais pareciam soldados, dada a maneira como o faziam - primeiro o chefe, que depois de inspeccionar, dava sinal para que o seguissem, de corrida e em fila!
Era ver as circunvoluções dos jagudis omnipresentes e horrorosos que de quando em vez mergulhavam em voo picado sobre qualquer presa finada ou até por vezes (assisti) em mergulho suicida sobre o campo de minas, falhando a refeição e provocando o rebentamento de uma qualquer encrier (mina) que o estraçalhava e ao mesmo tempo tirava o pessoal da modorra em que se encontrava, pondo-o eventualmente a jogar às escondidinhas !
Era apreciar a destreza do subidor de palmeiras no seu trabalho de apanhar o fruto e por vezes, a sua queda auto-executada mas desamparada, causada pelo avistamento de qualquer cobra fatal enrolada no fruto. Quando infelizmente acontecia, prendia a nossa atenção durante bastante tempo observando toda a movimentação humana de ajuda que se desenvolvia ou mesmo até a nossa intervenção.
Era a jogatina com cartas amarfanhadas e sebosas, seguida por norma de discussões em surdina acaloradas e comezinhas, sem nexo e sem consequências que não fossem o atirar com as ditas, de rompante para o chão eventualmente acompanhado de um erudito ide pró que faz filhos …, expressão não vernácula, mas mesmo assim não menos redutora!
Era o plantio de minas-lata para provocar o gáudio e hilaridade do pessoal que assistia de bancada aos esforços de um papalvo crédulo na tentativa de remoção da ameaça, ainda por cima vazia.
Eram as leituras de aerogramas e revistas do coração, raras e atrasadas, seguidas por vezes de falatório de mal dizer e gozatório, consoante os intervenientes. Qualquer parágrafo ou foto podia despoletar extensa retórica pontilhada aqui e ali com belas figuras de estilo que podiam fazer inveja a qualquer estudioso e fazer corar o meu amigo T. Malcriado nado e vivido no Porto!!
Claro que não faltavam as sestas retemperadoras, se possível à sombra, e muito especiais se aconteciam a seguir a uma lauta refeição de lata, aquecida à vela ou na mini fogueira de gravetos, controlada para não dar nas vistas (pois claro ?!) regada com reconfortador nico de água desfrescada !!
Enfim… algumas engenharias e outras, de Bando… (!!!) na comodidade dos ares ventilados!
Luís Faria
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4383: Homenagem ao Serviço de Saúde das nossas Forças Armadas (Luís Faria)
Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4316: Estórias avulsas (32): “A bazuca em rajada” (Helder Sousa)
Amigo Vinhal
Ao ler alguns postes passados, Bu…rakos…, Bandos…, arames… e outros, dei por mim a recordar como o espírito criativo conseguia valor acrescentado em dias que não eram senão isso mesmo: uma espécie de Bu…rakos.
Um abraço a todos
Luís Faria
Guerras confidenciais
(de Bando … já se vê !!)
Ao longo da estrada Bula – S. Vicente, a partir do quilómetro três (K3) considerávamos que a zona era já bastante perigosa aumentando essa periculosidade na razão directa do crescendo quilométrico.
As nossas emboscadas nas laterais dessa estrada, a partir de certa altura passaram a ser consideradas rotineiras (não esquecendo que a rotina era inimiga da segurança !) e proporcionavam por vezes situações diferentes, talvez pela originalidade, por certo subjectiva.
A noite
As, por norma, 24 horas que por lá passávamos, chegavam a ser fastidiosas especialmente a noite, dada a incomodidade da cama e a voragem dos borrachões dos mosquitos aos milhões que não se fartavam de beber litros do seu néctar preferido, que muitas vezes martelávamos com álcool, na esperança de que ficassem azoados e trombassem num qualquer embondeiro ou bagabaga, ficando fora de combate, de preferência em coma, quanto mais não fosse, etílico !!
Havia quem nos quilómetros mais baixos e menos perigosos (especialmente Km 2), optasse (à socapa já se vê) pelo uso do célebre e concêntrico lion-brandt de cor verde d(n)a esperança de os afastar e de não atrair uma outra espécie erecta, mais violenta e letal que também nos azucrinava a mioleira demasiadas vezes!
Houve até quem, nestes mesmos quilómetros, talvez por na altura ser mais esclarecido e já defensor acérrimo dos ecossistemas e da preservação em liberdade das faunas, não usasse nenhum dos métodos anteriores e antes - não sendo adepto do trabalho mais pesado – optasse e mandasse de forma amável e bonacheirona, que alisassem o chão e lhe armassem o mosquiteiro que lhe tinham transportado (já não recordo se com ou sem colchão, mas a almofada estava presente), pedindo à plebe que estivesse atenta e não facilitasse, acrescentando um ouçam o que eu digo, não olhem para o que eu faço !! Acordem-me se houver algum problema (!!!), seguido passados uns momentos, de uma ronca destinada a não deixar adormecer as sentinelas, digo eu !
Por vezes, para quem não era adepto das insuficiências nas alternativas anteriores e não sendo viável acrescentar o transporte da cama, se a mente lhe sussurrava melosamente pedido por maior comodidade para o corpo… passava a pasta e abalava com escolta para dossel quartelino ou morancino (?!), quiçá para o aconchego de uma botija natural (?!), regressando no dealbar seguinte, bem disposto e com ar feliz de gozador, pronto e retemperado para uma nova jorna!!
Não faltou quem, se calhar por estar convicto que todo o ser vivo (menos o turra belicoso) tinha direito à vida, liberdade, saúde e alimentação, oferecesse altruisticamente o seu peito desnudado para o pleno saciar das necessidades básicas daquela demoníaca turba voadora !
Por fim havia a maioria não silenciosa assassina que não fugindo, tampouco virava a cara ao perigo de um bom confronto continuado, ora se defendendo ora atacando com golpes de mão mortíferos, que ecoavam rasgando o silêncio da noite guardada pelo cintilar de miríades de luzes estelares.
Com é sabido, o corpo humano tem necessidade de dormir o que, pelo atrás descrito não era uma tarefa assim tão fácil! Atento ao problema, o ecossistema na tentativa de manutenção do seu equilíbrio, quase diariamente e como ajuda, oferecia-nos música Wagneriana executada em palcos aramados mais ou menos próximos que nos permitiam distinguir ou não outros instrumentos para além dos tímbalos que, com o seu rufar de diferentes intensidades, mas sempre audível, controlava o espectáculo de luzes psicadélicas visíveis na noite estrelada, o que proporcionava na verdade um outro espectáculo emotivo e quase surreal .
Elementos do 2.º GCOMB nestas emboscadas. Em primeiro plano o Gomes.
Na boina vêem-se os pionés referentes aos combates tidos, à altura
Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados
O dia
Durante o dia, as coisas passavam-se de modo diferente e havia que lutar contra o tédio, o calor abrasador e a sede, especialmente quando estávamos estacionados e a permanência era mais prolongada sem que contássemos. Algumas vezes o Esquadrão de Cavalaria foi obrigado a levar-nos água, nas suas Panhard. Eram uns bacanos aqueles homens! E tinham um bar… ?!?!
Qualquer minudência servia para gastarmos o tempo, mais ou menos entretidos.
Era o observar das formigas no seu labor contínuo e se preciso, praticar um pouco de sadismo interrompendo-lhe o carreiro de andamento com um risco no chão, o que lhes causava um desnorte tremendo durante minutos! Era interessante e gastava muito tempo, ver o esforço e técnica com que um grupo delas transportava um peso pesado!
Era o observar da macacada, quando por lá apareciam, nas suas brincadeiras, no alarido dos seus falares, nos atravessamentos da estrada de um modo que mais pareciam soldados, dada a maneira como o faziam - primeiro o chefe, que depois de inspeccionar, dava sinal para que o seguissem, de corrida e em fila!
Era ver as circunvoluções dos jagudis omnipresentes e horrorosos que de quando em vez mergulhavam em voo picado sobre qualquer presa finada ou até por vezes (assisti) em mergulho suicida sobre o campo de minas, falhando a refeição e provocando o rebentamento de uma qualquer encrier (mina) que o estraçalhava e ao mesmo tempo tirava o pessoal da modorra em que se encontrava, pondo-o eventualmente a jogar às escondidinhas !
Era apreciar a destreza do subidor de palmeiras no seu trabalho de apanhar o fruto e por vezes, a sua queda auto-executada mas desamparada, causada pelo avistamento de qualquer cobra fatal enrolada no fruto. Quando infelizmente acontecia, prendia a nossa atenção durante bastante tempo observando toda a movimentação humana de ajuda que se desenvolvia ou mesmo até a nossa intervenção.
Era a jogatina com cartas amarfanhadas e sebosas, seguida por norma de discussões em surdina acaloradas e comezinhas, sem nexo e sem consequências que não fossem o atirar com as ditas, de rompante para o chão eventualmente acompanhado de um erudito ide pró que faz filhos …, expressão não vernácula, mas mesmo assim não menos redutora!
Era o plantio de minas-lata para provocar o gáudio e hilaridade do pessoal que assistia de bancada aos esforços de um papalvo crédulo na tentativa de remoção da ameaça, ainda por cima vazia.
Eram as leituras de aerogramas e revistas do coração, raras e atrasadas, seguidas por vezes de falatório de mal dizer e gozatório, consoante os intervenientes. Qualquer parágrafo ou foto podia despoletar extensa retórica pontilhada aqui e ali com belas figuras de estilo que podiam fazer inveja a qualquer estudioso e fazer corar o meu amigo T. Malcriado nado e vivido no Porto!!
Claro que não faltavam as sestas retemperadoras, se possível à sombra, e muito especiais se aconteciam a seguir a uma lauta refeição de lata, aquecida à vela ou na mini fogueira de gravetos, controlada para não dar nas vistas (pois claro ?!) regada com reconfortador nico de água desfrescada !!
Enfim… algumas engenharias e outras, de Bando… (!!!) na comodidade dos ares ventilados!
Luís Faria
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4383: Homenagem ao Serviço de Saúde das nossas Forças Armadas (Luís Faria)
Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4316: Estórias avulsas (32): “A bazuca em rajada” (Helder Sousa)
Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o furriel Guimarães da CART 2716, nos quinze dias em que passou no aquartelamento do Xitole. Infelizmente é a única fotografia que temos dele no CTIG.E ele também já nos confessou que só tem mais duas... O resto ficou tudo em Bambadinca, em Maio de 1971, quando foi expulso do BART 2917 e do CTIG...
Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservado
1. Escreveu o nosso camarada Abílio Machado, ex-Alf Mil, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)
(...) O Puim. Outro exemplo impressivo. Memória perene. Porque há actos que, por dolorosos, queremos rejeitar, mas pelo exemplo não podemos esquecer. E ficam-nos como um padrão, ou uma tatuagem, ou um ferrete. Recortados no horizonte ou cravados na carne a frio são uma referência ou uma lembrança.
A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha [, possível referência a um comerciante português, que morava na tabanca de Bambadinca,] se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta, pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias.
Os textos, ditos ou escritos, não eram visados pelo lápis azul. O Puim saberia disto? Não vou revelar o que penso, não quero ser inconfidente… E choveram relatórios para Bissau, por certo. Alguém que era regular nas missas.
E chegou o dia 1 de Janeiro – Dia Mundial da Paz. Ainda é ? Era-o em 1971. Ao que me disseram (eu não ia à missa : as minhas missas com o Puim eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora), o Puim falou sobre a Paz.
Viseu > 26 de Abril de 2008 > 2º Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 e unidades adidas(Bambadinca, 1970/72) > O Jorge Cabral,o David Guimarães, o Dr. Marques Vilar (médico psiquiatra), e o Abílio Machado (**).
Foto: © Jorge Cabral (2008). Direitos reservados
Nessa semana, à socapa – houve um silêncio quase opressivo ou é efabulação minha? - aterrou uma DO. Alguém, discreto, fez-me chegar a nova de que algo se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei retirado do quarto.
E levaram-no com eles . Vi-o passar. Parecia mais sereno . Chegou-nos que teria sido mal tratado em Bissau até pela própria Igreja . E que teria sido exilado para a sua terra: haverá coisa pior? Um exílio no próprio chão que o viu nascer?
Ninguém é profeta na sua terra nem fazem milagres os santos que conhecemos. Mais tarde soubemos que estava de facto nos Açores. E que despira o hábito … Mas abraçara outro sacerdócio … A igreja será agora o Hospital de Ponta Delgada" (...)
2. Comentário de L.G.:
O nosso camarada Arsénio Pui, é já membro da nossa Tabanca Grande. Tem diversas histórias para nos contar. Com tempo e vagar. Que ele é, ou a continua a ser, a calma em pessoa.
Enquanto passava uns dias por Lisboa e não regressa à sua terra (em voo previsto para 3ª feira, dia 26), em visita aos filhos (um, estudante de Engenharia, no Instituto Superior Técnico; outro, a frequentar a prestigiada Faculdade de Economia da minha Universidade, a Universidade Nova de Lisboa), o Arsénio Puim (foto à esquerda) falou comigo ao telefone, pelo três vezes, e teve oportunidade de me esclarecer esta história, que de facto está mal contada no nosso blogue...
Ontem, domingo, tive o grato prazer e o privilégio de o abraçar, retomando um contacto de há 39 anos... (que, devo dizer, não era íntimo: eu não ia sequer à missa, tal como o Machado, mas o Machado às vezes ainda dar uma ajudinha ao Puim, tocando o órgão: foi o ex-capelão que mo recordou, ontem; ele, de resto, tem uma boa memória, naturalmente selectiva: lembra-se mais de algumas coisas do que outras...).
Na época, em 1970/71, altura em que convivemos em Bambadinca, ele tinha já dez anos a mais do que nós, e portanto, outra maturidade. Antes de vir para a Guiné, enquanto se formava o batalhão, esteve na Serra do Pilar, na RAP2 - Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia. E aí houve uma função de capelania que o marcou: empilhavam-se os caixões, vindos do ultramar, com os restos mortais de militares naturais do Norte.
Nessa altura, ele terá feito mais de 70 cerimónias religiosas, por todo o Norte, acompanhando os nossos camaradas mortos até à sua última morada. 70 cerimónias religiosas, acompanhando o padre local, as famílias, as comunidades locais... Ainda hoje - confessa - não consegue esquecer essas emoções fortíssimas de dor e de luto, o odor característico dos féretros que vinham, teoricamente, chumbados, hermeticamente fechados, mas alguns apresentavam fissuras, rupturas, e exalavam um cheiro enjoativo...
Como é que chegou a capelão ? Diz-me que foi contra a sua vontade, por ordem do seu bispo, como muito provavelmente acontecia em todas as dioceses... Dado o seu nome à Cúria Castrense, veio parar ao Continente. Na Academia Militar, ali à Gomes Freire, em Lisboa, vai frequentar um curso de um mês e picos para capelães... Se bem percebi, esse curso terá sido no 3º ou 4º trimestre de 1969, e contou com a presença do então Major Capelão Gamboa...
Tirado à sorte, coube-lhe o BART 2917 e a Guiné... Esse curso não foi, contudo, pacífico: pela primeira vez, ao que parece, terá havido contestação do sistema por parte de alguns capelães... E essa contestação era liderada pelos açorianos, entre eles o Arsénio Puim, um homem que de resto, enquanto cidadão e como cristão, nunca escondeu que lutava pela liberdade e pela justiça...
Na Guiné, ele vai recusar usar armas... De facto, não nunca teve G3 distribuída. Quando chegaram a Bissau, e houve distribuição do armamento - no quartel de Brá, ao que parece -, antes da partida em LDG para o Xime, ele estave na fila, como toda a gente, mas, chegada a sua vez, disse delicadamente, ao segundo comandante, que dispensava a arma... nem sequer saberia usá-la...
Perante o insólito desta cena, o major ter-lhe-á perguntado, directamente, se ele não era "testemunha de Jeová" (Recorde-se que eram, na época, perseguidos por serem objectores de consciência). Provocação deliberada ? Piada de caserna ? Brincadeira de mau gosto ?
- Não, meu comandante, sou um padre católico...
A presumível antipatia, pelo capelão, alimentada pelo do 2º comandante do BART 2917 - de resto, um professor da Academia Militar, com tiques prussianos, que nos obrigava a bater a pala, em plena parada de Bambadinca, como se fôssemos vulgares instruendos, a nós, operacionais da CCAÇ 12, já com mais de um ano de velhice, muito sangue, suor e lágrimas na Guiné! - já devia vir de longe, "talvez da primeira homilia, em Viana do Castelo, aquando da formação do batalhão"... (***)
Não, no dia 1 de Janeiro de 1971, não aconteceu nada. Isto é: não houve represálias... Mas haveria mais homilias da paz, e sobretudo a da Abril. Terá sido essa famosa homilia que entornou o copo...
Eu já não já estava na Guiné, tinha regressado a casa em meados de Março de 1971... A CCAÇ 12, agora com novos tugas, periquitos a enquadrar os soldados africanos, juntamente com a subunidade de quadrícula do Xime (CART 2715), tinha feito prisioneiros, no região do Xime, possivelmente na zona do Poindon / Ponta do Inglês, como diz explicitamente o Carlos Rebelo, nos seus versos sobre o Romance do Padre Puim (****). Era população civil, incluindo mulheres e crianças, que viviam sob controlo do PAIGC.
Uma das mulheres tinha acabado de dar à luz, três dias antes da operação. Eram balantas, possivelmente oriundos de Samba Silate, destruída e abandonada no início do guerra. Foram levadas para Bambadinca.
Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservado
1. Escreveu o nosso camarada Abílio Machado, ex-Alf Mil, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)
(...) O Puim. Outro exemplo impressivo. Memória perene. Porque há actos que, por dolorosos, queremos rejeitar, mas pelo exemplo não podemos esquecer. E ficam-nos como um padrão, ou uma tatuagem, ou um ferrete. Recortados no horizonte ou cravados na carne a frio são uma referência ou uma lembrança.
A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha [, possível referência a um comerciante português, que morava na tabanca de Bambadinca,] se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta, pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias.
Os textos, ditos ou escritos, não eram visados pelo lápis azul. O Puim saberia disto? Não vou revelar o que penso, não quero ser inconfidente… E choveram relatórios para Bissau, por certo. Alguém que era regular nas missas.
E chegou o dia 1 de Janeiro – Dia Mundial da Paz. Ainda é ? Era-o em 1971. Ao que me disseram (eu não ia à missa : as minhas missas com o Puim eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora), o Puim falou sobre a Paz.
Viseu > 26 de Abril de 2008 > 2º Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 e unidades adidas(Bambadinca, 1970/72) > O Jorge Cabral,o David Guimarães, o Dr. Marques Vilar (médico psiquiatra), e o Abílio Machado (**).
Foto: © Jorge Cabral (2008). Direitos reservados
Nessa semana, à socapa – houve um silêncio quase opressivo ou é efabulação minha? - aterrou uma DO. Alguém, discreto, fez-me chegar a nova de que algo se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei retirado do quarto.
E levaram-no com eles . Vi-o passar. Parecia mais sereno . Chegou-nos que teria sido mal tratado em Bissau até pela própria Igreja . E que teria sido exilado para a sua terra: haverá coisa pior? Um exílio no próprio chão que o viu nascer?
Ninguém é profeta na sua terra nem fazem milagres os santos que conhecemos. Mais tarde soubemos que estava de facto nos Açores. E que despira o hábito … Mas abraçara outro sacerdócio … A igreja será agora o Hospital de Ponta Delgada" (...)
2. Comentário de L.G.:
O nosso camarada Arsénio Pui, é já membro da nossa Tabanca Grande. Tem diversas histórias para nos contar. Com tempo e vagar. Que ele é, ou a continua a ser, a calma em pessoa.
Enquanto passava uns dias por Lisboa e não regressa à sua terra (em voo previsto para 3ª feira, dia 26), em visita aos filhos (um, estudante de Engenharia, no Instituto Superior Técnico; outro, a frequentar a prestigiada Faculdade de Economia da minha Universidade, a Universidade Nova de Lisboa), o Arsénio Puim (foto à esquerda) falou comigo ao telefone, pelo três vezes, e teve oportunidade de me esclarecer esta história, que de facto está mal contada no nosso blogue...
Ontem, domingo, tive o grato prazer e o privilégio de o abraçar, retomando um contacto de há 39 anos... (que, devo dizer, não era íntimo: eu não ia sequer à missa, tal como o Machado, mas o Machado às vezes ainda dar uma ajudinha ao Puim, tocando o órgão: foi o ex-capelão que mo recordou, ontem; ele, de resto, tem uma boa memória, naturalmente selectiva: lembra-se mais de algumas coisas do que outras...).
Na época, em 1970/71, altura em que convivemos em Bambadinca, ele tinha já dez anos a mais do que nós, e portanto, outra maturidade. Antes de vir para a Guiné, enquanto se formava o batalhão, esteve na Serra do Pilar, na RAP2 - Regimento de Artilharia Pesada 2, em Vila Nova de Gaia. E aí houve uma função de capelania que o marcou: empilhavam-se os caixões, vindos do ultramar, com os restos mortais de militares naturais do Norte.
Nessa altura, ele terá feito mais de 70 cerimónias religiosas, por todo o Norte, acompanhando os nossos camaradas mortos até à sua última morada. 70 cerimónias religiosas, acompanhando o padre local, as famílias, as comunidades locais... Ainda hoje - confessa - não consegue esquecer essas emoções fortíssimas de dor e de luto, o odor característico dos féretros que vinham, teoricamente, chumbados, hermeticamente fechados, mas alguns apresentavam fissuras, rupturas, e exalavam um cheiro enjoativo...
Como é que chegou a capelão ? Diz-me que foi contra a sua vontade, por ordem do seu bispo, como muito provavelmente acontecia em todas as dioceses... Dado o seu nome à Cúria Castrense, veio parar ao Continente. Na Academia Militar, ali à Gomes Freire, em Lisboa, vai frequentar um curso de um mês e picos para capelães... Se bem percebi, esse curso terá sido no 3º ou 4º trimestre de 1969, e contou com a presença do então Major Capelão Gamboa...
Tirado à sorte, coube-lhe o BART 2917 e a Guiné... Esse curso não foi, contudo, pacífico: pela primeira vez, ao que parece, terá havido contestação do sistema por parte de alguns capelães... E essa contestação era liderada pelos açorianos, entre eles o Arsénio Puim, um homem que de resto, enquanto cidadão e como cristão, nunca escondeu que lutava pela liberdade e pela justiça...
Na Guiné, ele vai recusar usar armas... De facto, não nunca teve G3 distribuída. Quando chegaram a Bissau, e houve distribuição do armamento - no quartel de Brá, ao que parece -, antes da partida em LDG para o Xime, ele estave na fila, como toda a gente, mas, chegada a sua vez, disse delicadamente, ao segundo comandante, que dispensava a arma... nem sequer saberia usá-la...
Perante o insólito desta cena, o major ter-lhe-á perguntado, directamente, se ele não era "testemunha de Jeová" (Recorde-se que eram, na época, perseguidos por serem objectores de consciência). Provocação deliberada ? Piada de caserna ? Brincadeira de mau gosto ?
- Não, meu comandante, sou um padre católico...
A presumível antipatia, pelo capelão, alimentada pelo do 2º comandante do BART 2917 - de resto, um professor da Academia Militar, com tiques prussianos, que nos obrigava a bater a pala, em plena parada de Bambadinca, como se fôssemos vulgares instruendos, a nós, operacionais da CCAÇ 12, já com mais de um ano de velhice, muito sangue, suor e lágrimas na Guiné! - já devia vir de longe, "talvez da primeira homilia, em Viana do Castelo, aquando da formação do batalhão"... (***)
Não, no dia 1 de Janeiro de 1971, não aconteceu nada. Isto é: não houve represálias... Mas haveria mais homilias da paz, e sobretudo a da Abril. Terá sido essa famosa homilia que entornou o copo...
Eu já não já estava na Guiné, tinha regressado a casa em meados de Março de 1971... A CCAÇ 12, agora com novos tugas, periquitos a enquadrar os soldados africanos, juntamente com a subunidade de quadrícula do Xime (CART 2715), tinha feito prisioneiros, no região do Xime, possivelmente na zona do Poindon / Ponta do Inglês, como diz explicitamente o Carlos Rebelo, nos seus versos sobre o Romance do Padre Puim (****). Era população civil, incluindo mulheres e crianças, que viviam sob controlo do PAIGC.
Uma das mulheres tinha acabado de dar à luz, três dias antes da operação. Eram balantas, possivelmente oriundos de Samba Silate, destruída e abandonada no início do guerra. Foram levadas para Bambadinca.
O grupo ficou detido numa espécie de galinheiro que havia perto da escola, que continuava a ser dirigida pela Profª Violete que tinha, lá em casa, a viver consigo, um puto, o Alfredo, de 15 anos, que irá mais tarde ser mencionado na ficha da PIDE/DGS do capelão, por alegadamente ser do PAIGC ou possível informador do PAIGC...
Era nesse galinheiro, na ausência de uma verdadeira prisão, que ficavam os prisioneiros, em trânsito para Bafatá, ou para Bissau (tratando-se e guerrilheiros: quanto aos civis, nem sempre era fácil a solução da integração nas tabancas balantas da região - basicamente, Nhabijões, Mero, anta Helena- , havendo crianças já nascidas no mato, e que nos olhavam aterrorizadas, quando o roncar das nossas GMC...).
Bom, resumindo, parece que a CCS do BART 2917 não fornecia comida aos prisioneiros, maioritariamente mulheres e crianças. Ficaram à mercê da caridade da população local, de Bambadinca e Bambadincazinho, entre a qual havia simpatizantes do PAIGC...
O Puim, inteirado da situação, condoei-se daquela gente e começou a visitá-los. Levava leite às crianças. E protestou contra aquela situação de injustiça. Era, de resto, um homem que não se calava, como não se calou quando o ex-furriel ''cmd' Uloma, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, se deixou fotografar, com um cabeça cortada de um prisioneiro, na parada de Bambadinca...
Era nesse galinheiro, na ausência de uma verdadeira prisão, que ficavam os prisioneiros, em trânsito para Bafatá, ou para Bissau (tratando-se e guerrilheiros: quanto aos civis, nem sempre era fácil a solução da integração nas tabancas balantas da região - basicamente, Nhabijões, Mero, anta Helena- , havendo crianças já nascidas no mato, e que nos olhavam aterrorizadas, quando o roncar das nossas GMC...).
Bom, resumindo, parece que a CCS do BART 2917 não fornecia comida aos prisioneiros, maioritariamente mulheres e crianças. Ficaram à mercê da caridade da população local, de Bambadinca e Bambadincazinho, entre a qual havia simpatizantes do PAIGC...
O Puim, inteirado da situação, condoei-se daquela gente e começou a visitá-los. Levava leite às crianças. E protestou contra aquela situação de injustiça. Era, de resto, um homem que não se calava, como não se calou quando o ex-furriel ''cmd' Uloma, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, se deixou fotografar, com um cabeça cortada de um prisioneiro, na parada de Bambadinca...
Perguntou, já não sabe a quem (possivelmente, ao cap Barbosa Henriques, instrutor, ou ao major Leal de Almeida, supervisor) se aquilo era digno de um exército civilizado... Se bem me lembro, esta cena ter-se-á passado em outubro de 1970, depois de uma operação a norte do Enxalé...
Através de um intérprete, um polícia administrativo, as mulheres diziam que o Puim era "manga de bom pessoal", mesmos sem saberem qual era a sua função ou o seu papel naquela guerra... Seria, de resto, difícil explicar-lhe o que era um capelão e para que servia... Para elas, era apenas um tuga bom...
Numa das suas homilias, num domingo de Abril, o Puim abordou este tema, doloroso, para ele... O tratamento dos prisioneiros nem sequer estava de acordo com a política, superiormente definida por Spínola, e consubstanciada no slogan Por uma Guiné Melhor...
Terá sido a partir daqui que ele foi denunciado, possivelmente não já pela primeira vez, e que em maio de 1971 surge uma famigerada "ordem de Bissau" (que ele nunca leu, por não lhe ter sido mostrada) para ele se apresentar no "Vaticano" (as instalações dos capelães militares em Bissau)...
O papel de Bissau (não se sabe por quem era assinado...), com a sua ordem de expulsão, estava nas mãos do 2º comandante do BART 2917, acompanhado para o efeito pelo major de informações e operações... A ordem foi lida pelo 2º comandante, diz-me o Puim...
Nas conversas que tenho tido com ele, ao telefone, o Puim nunca refere a presença de nenhum agente da PIDE/DGS... Afirma categoricamemente que quem passou a revista ao seu quarto (de resto, partilhado pelo Dr. Vilar, o médico, também conhecido pela alcunha O Drácula), quem mexeu nos seus objectos pessoais, na sua mala... e quem confiscou o seu diário, foi o 2º comandante.
Através de um intérprete, um polícia administrativo, as mulheres diziam que o Puim era "manga de bom pessoal", mesmos sem saberem qual era a sua função ou o seu papel naquela guerra... Seria, de resto, difícil explicar-lhe o que era um capelão e para que servia... Para elas, era apenas um tuga bom...
Numa das suas homilias, num domingo de Abril, o Puim abordou este tema, doloroso, para ele... O tratamento dos prisioneiros nem sequer estava de acordo com a política, superiormente definida por Spínola, e consubstanciada no slogan Por uma Guiné Melhor...
Terá sido a partir daqui que ele foi denunciado, possivelmente não já pela primeira vez, e que em maio de 1971 surge uma famigerada "ordem de Bissau" (que ele nunca leu, por não lhe ter sido mostrada) para ele se apresentar no "Vaticano" (as instalações dos capelães militares em Bissau)...
O papel de Bissau (não se sabe por quem era assinado...), com a sua ordem de expulsão, estava nas mãos do 2º comandante do BART 2917, acompanhado para o efeito pelo major de informações e operações... A ordem foi lida pelo 2º comandante, diz-me o Puim...
Nas conversas que tenho tido com ele, ao telefone, o Puim nunca refere a presença de nenhum agente da PIDE/DGS... Afirma categoricamemente que quem passou a revista ao seu quarto (de resto, partilhado pelo Dr. Vilar, o médico, também conhecido pela alcunha O Drácula), quem mexeu nos seus objectos pessoais, na sua mala... e quem confiscou o seu diário, foi o 2º comandante.
De qualquer, a meticulosa e omnipresente PIDE/DGS averbou esta cena no ficha do Puim... O que sugere alguma promiscuidade (de resto, comnhecidaq) entre a PIDE/DGS e a hierarquia militar ...
Admito que a PIDE/DGS (de Bafatá) estivesse por detrás de tudo isto, ou pelo menos acompanhasse o processo do polémico capelão de Bambadinca... Mas como o Puim era um oficial do exército e ainda por cima capelão, graduado em alferes, é natural que Bissau tenha dado ordem para ser a hierarquia militar a encarregar-se do caso... e não armar escândalo. Afinal, os tempos já eram outros... Spínola tinha a PIDE/DGS ao seu serviço, ou pelo menos sobre a sua tutela e protecção.
O Arsénio diz-me que foi sozinho para a aeronave que o esperava, na pista... (Ele queOdetestava andar de Do-27|). Sem escolta. Sem alarido. Sem despedida. Sem lágrimas... Mas com a dor na alma, com revolta, com indignação. Os únicos que assistiram a esta cena, para além dos dois majores do comando do BART 2917, terão sido o Machadinho (o alf mil Abílio Machado) e o sacristão, o 1º cabo Teixeira...
O Puim tinha horror à DO 27... Um dia foi para Mansambo ou Xitole, de DO, com o major Barros e Basto, à frente. Atrás, sentados no chão, ia ele e o sacristão... Vomitou tanto, que ainda hoje se recorda desse horrível dia... Nunca mais quis ir "by air"... Preferia ir nas colunas logísticas, sem arma, protegido discretamente pelos soldados que iam na viatura com ele, como daquela vez em que também foi a Helena e o marido, o alf mil Carlão...
Era pressuposto a Helena fazer uma viagem turística até ao Saltinho (um sítio paradisíaco).. Ficou retida em Mansambo, por que houve uma mina que matou um picador e feriu outro gravemente, numa mina detectada junto à Ponte dos Fulas (e não da ponte de Jaragajá, garante o Puim). Foi uma das vezes em que ele ia passar duas semanas ao Xitole, como costumava fazer periodicamemte, dividindo o seu tempo pelas unidades de quadrícula (além do Xitole, o Xime e Mansambo)... (Prometeu confirmar a data no seu diário, que lhe foi devolvido, mais tarde, já depois do 25 de Abril, com uma única folha rasgada...).
O nosso caplão ainda teve uma semana em Bissau, a aguardar transporte, e outra semana em Lisboa, até ser "recambiado" para os Açores... Em Bissau, foi recebido por uma alta patente militar (que ele não consegue identificar, mas que até teve om ele um comportamento civilizado) bem como pelo seu superior hierárquico, o major capelão Gamboa (se não me engano)... Em contrapartida, os amigos e camaradas de Bambadinca que na altura estavam de passagem em Bissau, fizeram-lhe um jantar de despedida, onde também esteve o 1º sargento Brito, como faz questão de frisar...
Inicialmente, eu não sabia o que se passara depois... Ontem, na casa dos seus filhos, em Lisboa, ali perto da Praça do Chile, ele contou-me o resto... Não falou com o seu bispo, mas voltou a paroquiar na sua Ilha, Santa Maria...
Admito que a PIDE/DGS (de Bafatá) estivesse por detrás de tudo isto, ou pelo menos acompanhasse o processo do polémico capelão de Bambadinca... Mas como o Puim era um oficial do exército e ainda por cima capelão, graduado em alferes, é natural que Bissau tenha dado ordem para ser a hierarquia militar a encarregar-se do caso... e não armar escândalo. Afinal, os tempos já eram outros... Spínola tinha a PIDE/DGS ao seu serviço, ou pelo menos sobre a sua tutela e protecção.
O Arsénio diz-me que foi sozinho para a aeronave que o esperava, na pista... (Ele queOdetestava andar de Do-27|). Sem escolta. Sem alarido. Sem despedida. Sem lágrimas... Mas com a dor na alma, com revolta, com indignação. Os únicos que assistiram a esta cena, para além dos dois majores do comando do BART 2917, terão sido o Machadinho (o alf mil Abílio Machado) e o sacristão, o 1º cabo Teixeira...
O Puim tinha horror à DO 27... Um dia foi para Mansambo ou Xitole, de DO, com o major Barros e Basto, à frente. Atrás, sentados no chão, ia ele e o sacristão... Vomitou tanto, que ainda hoje se recorda desse horrível dia... Nunca mais quis ir "by air"... Preferia ir nas colunas logísticas, sem arma, protegido discretamente pelos soldados que iam na viatura com ele, como daquela vez em que também foi a Helena e o marido, o alf mil Carlão...
Era pressuposto a Helena fazer uma viagem turística até ao Saltinho (um sítio paradisíaco).. Ficou retida em Mansambo, por que houve uma mina que matou um picador e feriu outro gravemente, numa mina detectada junto à Ponte dos Fulas (e não da ponte de Jaragajá, garante o Puim). Foi uma das vezes em que ele ia passar duas semanas ao Xitole, como costumava fazer periodicamemte, dividindo o seu tempo pelas unidades de quadrícula (além do Xitole, o Xime e Mansambo)... (Prometeu confirmar a data no seu diário, que lhe foi devolvido, mais tarde, já depois do 25 de Abril, com uma única folha rasgada...).
O nosso caplão ainda teve uma semana em Bissau, a aguardar transporte, e outra semana em Lisboa, até ser "recambiado" para os Açores... Em Bissau, foi recebido por uma alta patente militar (que ele não consegue identificar, mas que até teve om ele um comportamento civilizado) bem como pelo seu superior hierárquico, o major capelão Gamboa (se não me engano)... Em contrapartida, os amigos e camaradas de Bambadinca que na altura estavam de passagem em Bissau, fizeram-lhe um jantar de despedida, onde também esteve o 1º sargento Brito, como faz questão de frisar...
Inicialmente, eu não sabia o que se passara depois... Ontem, na casa dos seus filhos, em Lisboa, ali perto da Praça do Chile, ele contou-me o resto... Não falou com o seu bispo, mas voltou a paroquiar na sua Ilha, Santa Maria...
Mais tarde, quis fazer a experiência de padre operário, que estava na moda... Decidiu ir para São Miguel tirar o curso de enfermeiro na Escola de Enfermagem... Iria perceber, mais tarde, que as duas funções eram incompatíveis, ser enfermeiro e ser padre... Acabou por se enamorar de uma jovem enfermeira, mais nova, com quem viria a casar, e que é hoje a mãe dos seus dois filhos. O casal passou a viver definitivamente em Ponta Delgada, creio que já depois do 25 de Abril.
Hoje o Puim já está reformado, enquanto a esposa ainda trabalha. Na Iha de Santa Maria, tem a casinha dos pais mas já não tem família. Volta lá no verão, de férias.
Pareceu-me um homem sereno, de bem com a vida, orgulhoso dos seus fllhos, um pai extremoso e dedicado, e ainda hoje com sentido de missão e com os meus valores espirituais e éticos. (Disse que já tinha telefonado ao Leones, que está cego, e que iria encontrar-se com ele, ainda antes de voltar aos Açores; o Leones, cego por uma mina que também matou o Quaresma, era do Xitole, e camarada do Guimarães; está reformado da Caixa Geral de Depósitos ou da Segurança Social, no sei ao certo.)
O Puim quer, por fim, fazer as pazes com um certo passado, na Guiné, ou pelo menos partilhar connosco as memórias, boas e más, daquele tempo. Sê-bem vindo, Arsénio! E desculpa a trapalhada de datas em que te metemos... Estávamos a roubar-te cinco meses de vida... na Guiné! (****)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
(**) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)
(***) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
(****) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )
(...) Foi mais ou menos assim
que se passou com o Puim,
padre daquela fornada
do Vaticano Segundo,
e capelão militar:
criticou a hierarquia
por usar e abusar
dos prisioneiros de guerra,
velhos, mulheres e crianças,
que a tropa em suas andanças
trazia ao aquartelamento (...).
Todos os anos, pela época seca, se faziam incursões às zonas com população sob controlo do PAIGC no triângulo Bambadinca- Xitole - Xime... E era fácil fazer prisioneiros, sobretudo mulheres, crianças e velhos, que não podiam fugir à frente da tropa e que depois eram levados para Bambadinca... Vd. por exemplo, poste da I Série > 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado
(*****) Vd. último poste desta série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)
Hoje o Puim já está reformado, enquanto a esposa ainda trabalha. Na Iha de Santa Maria, tem a casinha dos pais mas já não tem família. Volta lá no verão, de férias.
Pareceu-me um homem sereno, de bem com a vida, orgulhoso dos seus fllhos, um pai extremoso e dedicado, e ainda hoje com sentido de missão e com os meus valores espirituais e éticos. (Disse que já tinha telefonado ao Leones, que está cego, e que iria encontrar-se com ele, ainda antes de voltar aos Açores; o Leones, cego por uma mina que também matou o Quaresma, era do Xitole, e camarada do Guimarães; está reformado da Caixa Geral de Depósitos ou da Segurança Social, no sei ao certo.)
O Puim quer, por fim, fazer as pazes com um certo passado, na Guiné, ou pelo menos partilhar connosco as memórias, boas e más, daquele tempo. Sê-bem vindo, Arsénio! E desculpa a trapalhada de datas em que te metemos... Estávamos a roubar-te cinco meses de vida... na Guiné! (****)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
(**) Vd. poste de 16 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)
(***) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
(****) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )
(...) Foi mais ou menos assim
que se passou com o Puim,
padre daquela fornada
do Vaticano Segundo,
e capelão militar:
criticou a hierarquia
por usar e abusar
dos prisioneiros de guerra,
velhos, mulheres e crianças,
que a tropa em suas andanças
trazia ao aquartelamento (...).
Todos os anos, pela época seca, se faziam incursões às zonas com população sob controlo do PAIGC no triângulo Bambadinca- Xitole - Xime... E era fácil fazer prisioneiros, sobretudo mulheres, crianças e velhos, que não podiam fugir à frente da tropa e que depois eram levados para Bambadinca... Vd. por exemplo, poste da I Série > 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado
(*****) Vd. último poste desta série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)
Guiné 63/74 - P4411: Os Nossos Camaradas Guineenses (9): O que (não) sabemos sobre os comandos africanos (Virgínio Briote)
1. Comentário do Virgínio Briote, ex-Alferes Comando (Brá, 1965/67) (o segundo a contar da esquerda, na foto), e nosso co-editor, ao poste P4409, de hoje (*):
Em relação ao comentário do Luís Graça sobre os Comandos Africanos:
(i) O caso que o Diniz refere sobre o morto, ao lado do qual dormiu, aparece nas memórias do Amadu (**), neste pequeno extracto:
"O soldado Nicolau, numa das primeiras saídas, para montarmos uma emboscada em Sare Aliu, junto à linha da fronteira na área de Bajocunda, foi satisfazer as necessidades e não avisou ninguém. Era uma noite escura e quando regressava para junto do grupo perdeu a orientação e entrou por outro lado da emboscada. Ninguém o reconheceu, nem deu tempo para fazer perguntas."
(ii) Muito haverá a dizer sobre os comandos africanos. Espero que as memórias do Amadu Bailo Djaló tragam alguma luz sobre a utilização das referidas tropas. Do que me foi dado a conhecer até agora, do resultado de horas de conversa, há, de facto, muita coisa para esclarecer.
Algumas questões:
- existem dúvidas sobre a morte de vários cmds africanos, se terão caído em combate ou se essas alturas foram aproveitadas para alguns ajustes de contas;
- parece hoje ser claro que havia rivalidades dentro dos cmds Africanos, nomedamente entre fulas e balantas. As próprias promoções, louvores e medalhas foram alvo de contestação no seio das referidas tropas;
- a op [Mar Verde,] a Conacri foi afectada claramente pelo mau ambiente entre os diferentes grupos de cmds da 1ª CCmds. Do que tenho lido, a motivação estava longe de ser a adequada para uma operação de tal envergadura;
- ao longo do tempo os militares africanos iam ganhando consciência de que a guerra estava a ser transferida cada vez mais para as suas mãos. E não podemos esquecer que muitos deles, tinham familiares a lutarem pelo PAIGC;
- O caso do Januário é elucidativo. Há vários militares que referem ter ouvido o tenente, ainda na [LDG] Montante dizer que desertava logo que pusesse os pés em Conacri. Nenhum dos que o ouviu a defender a deserção, denunciou o facto aos seus comandantes. Deste procedimento podemos tirar as conclusões sobre o empenhamento, ou falta dele, dos cmds africanos.
Em resumo, há muito ainda a saber. E fico esperançado que o Amadu vá saindo do politicamente correcto e conte realmente o que viveu durante esses anos. (***)
vbriote
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2009
Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (17): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)
(**) Vd. poste de
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
(***) Vd último poste desta série > 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
Em relação ao comentário do Luís Graça sobre os Comandos Africanos:
(i) O caso que o Diniz refere sobre o morto, ao lado do qual dormiu, aparece nas memórias do Amadu (**), neste pequeno extracto:
"O soldado Nicolau, numa das primeiras saídas, para montarmos uma emboscada em Sare Aliu, junto à linha da fronteira na área de Bajocunda, foi satisfazer as necessidades e não avisou ninguém. Era uma noite escura e quando regressava para junto do grupo perdeu a orientação e entrou por outro lado da emboscada. Ninguém o reconheceu, nem deu tempo para fazer perguntas."
(ii) Muito haverá a dizer sobre os comandos africanos. Espero que as memórias do Amadu Bailo Djaló tragam alguma luz sobre a utilização das referidas tropas. Do que me foi dado a conhecer até agora, do resultado de horas de conversa, há, de facto, muita coisa para esclarecer.
Algumas questões:
- existem dúvidas sobre a morte de vários cmds africanos, se terão caído em combate ou se essas alturas foram aproveitadas para alguns ajustes de contas;
- parece hoje ser claro que havia rivalidades dentro dos cmds Africanos, nomedamente entre fulas e balantas. As próprias promoções, louvores e medalhas foram alvo de contestação no seio das referidas tropas;
- a op [Mar Verde,] a Conacri foi afectada claramente pelo mau ambiente entre os diferentes grupos de cmds da 1ª CCmds. Do que tenho lido, a motivação estava longe de ser a adequada para uma operação de tal envergadura;
- ao longo do tempo os militares africanos iam ganhando consciência de que a guerra estava a ser transferida cada vez mais para as suas mãos. E não podemos esquecer que muitos deles, tinham familiares a lutarem pelo PAIGC;
- O caso do Januário é elucidativo. Há vários militares que referem ter ouvido o tenente, ainda na [LDG] Montante dizer que desertava logo que pusesse os pés em Conacri. Nenhum dos que o ouviu a defender a deserção, denunciou o facto aos seus comandantes. Deste procedimento podemos tirar as conclusões sobre o empenhamento, ou falta dele, dos cmds africanos.
Em resumo, há muito ainda a saber. E fico esperançado que o Amadu vá saindo do politicamente correcto e conte realmente o que viveu durante esses anos. (***)
vbriote
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2009
Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (17): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)
(**) Vd. poste de
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
(***) Vd último poste desta série > 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )
Lisboa > 24 de Maio de 2009 > O Arsénio Puim, na casa dos seus filhos, estudantes universitários, à conversa com uma antiga paroquiana e amiga do Padre Mário de Oliveira (também conhecido por Padre Mário da Lixa), a Maria Alice Carneiro, esposa do Luís Graça. Durante a guerra colonial, foram seguramente os dois casos mais conhecidos, pelo menos públicos e notórios, de conflito de ruptura, por razões de consciência, de capelães militares com Exército...
Em Maio de 1971, "por volta do 13 de Maio, talvez antes, a 10, 11 ou 12", o Alf Mil Capelão da CCS do BART 2717 (Bambadinca, 1970/72) foi intimado a comparecer em Bissau para receber a guia de marcha, de volta à sua terra, por ter sido considerado uma figura indesejável no CTIG... O seu quarto e os seus objectos pessoais foram revistados, não por agentes da PIDE/DGS, mas por dois oficiais superiores do comando do batalhão.... O seu diário foi, abusiva e ilegalmente confiscado... (É uma história a ser recontada, muito proximamente, aqui no nosso blogue).
Por sua vez, o Padre Mário de Oliveira, da diocese do Porto, foi capelão militar do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69). tendo sido expulso em Março de 1968, menos de cinco depois da sua chegada ao CTIG, uma história já aqui contada, na I série do nosso blogue (*)...
O Puim considera-se duplamente maltrado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa. À data era capelão-mor, no CTIG, o Padre Gamboa, que tinha o posto de major, coordenando e supervisionando todo o trabalho de capelania (Vivia, em instalações próprias, em Bissau, conhecidas por Vaticano). Em Fevereiro de 1971, o Puim ainda tinha participado, em Bolama, num retiro espiritual, com os demais capelães da Guiné, dirigido pelo Major Capelão Gamboa. Houve discussão acesa, foi discutido o papel dos capelães na guerra colonial, a posição da Igreja, etc.
O mais importante é dizer, aqui no nosso blogue, que o nosso camarada Arsénio Puim, com os seus 73 anos, está vivo e recomenda-se. O novo membro da nossa Tabanca Grande, já começou a (re)organizar as suas memórias. Promete publicar algumas notas do seu famoso diário (que lhe foi devolvido pelo Exército a seguir ao 25 de Abril, embora censurado, rasurado e amputado de uma ou mais páginas)...
Tive o grande prazer de o abraçar no domingo à tarde, como prometido... Ele regressa a São Miguel, na 3ª feira. E fez-nos uma sugestão: que um dos próximos convívios da malta de Bambadinca ou do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné seja realizado nos Açores, onde de resto há muitos antigos combatentes que estiveram no CTIG... Também ele, durante muito anos, se recusou a falar do seu tempo da Guiné e só este ano veio, propositadamente, ao 3º convívio da CCS do BART 2917 (**), onde tinha/tem muita gente que o admira(va) e acarinha(va)... Como era o caso do nosso malograo camarada Carlos Rebelo, falecido em 6 do corrente, e que passa a figurar, de pleno direito, a partir de hoje, na lista dos amigos e camaradas da Guiné. Juntamente com o Zé Neto, é o segundo membro do blogue, já falecido (***).
Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Benjamim Durães (ex-Fur Mil, Pel Rec Inf, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72):
Luís, depois de ler a mensagem do Puim no nosso blogue (****), a mesma me fez recordar uns versos feitos pelo ex-Furriel Mil Sapador Carlos Rebelo (falecido no passado dia 6 de Maio), que ele escreveu em 2007 e me entregou para ser lido no 1º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 que se realizou em Setúbal, os quais foram já publicados na revista dos Serviços Sociais da CGD - Caixa Geral de Depósitos.
Assim, e em memória do Carlos Rebelo, aqui transcrevo os versos, intitulado Romance do Padre Puim.
Um Abraço
DURÃES
_____________
ROMANCE DO PADRE PUIM
OU UM EPISÓDIO DA GUERRA COLONIAL
(PARA O PADRE PUIM, ONDE QUER QUE SE ENCONTRE, TANTOS ANOS DEPOIS) (*****)
FOI MAIS OU MENOS ASSIM
QUE SE PASSOU COM PUIM,
PADRE DAQUELA FORNADA
DO VATICANO SEGUNDO
E CAPELÃO MILITAR:
CRITICOU A HIERARQUIA
POR USAR E ABUSAR
DOS PRISIONEIROS DE GUERRA,
VELHOS, MULHERES E CRIANÇAS,
QUE A TROPA EM SUAS ANDANÇAS
TRAZIA AO AQUARTELAMENTO.
PADRE PUIM PREDICAVA
CONTRA O FACTO E APONTAVA
CERTOS ACTOS DESUMANOS
QUE O EXÉRCITO PRATICAVA.
ISTO CAIU MUITO MAL
NO GOTO DE UM GENERAL
QUE PÔS A PIDE EM ACÇÃO:
PUIM FOI NOTIFICADO
E DIGAMOS CONVIDADO
A CALAR-SE, OU ENTÃO…
ENTÃO FOI O QUE ACONTECEU:
PADRE PUIM FOI DETIDO
E DE IMEDIATO TRAZIDO
DESDE O MATO À CAPITAL
PARA FALAR COM O TAL
NO SEU QUARTEL GENERAL.
REAFIRMOU O QUE DISSE
E ATÉ DISSE INDA MAIS:
QUE NÃO GOSTAVA DA GUERRA
E POUCO DE GENERAIS.
E DISSE QUERER SABER
QUAL A RAZÃO DE TER SIDO
DEMITIDO.
AQUI O TAL GENERAL
ESCUSOU-SE A DIZER TAL,
MAS PERANTE A INSISTÊNCIA
E O TOM DE VEEMÊNCIA
DOS PROTESTOS DE PUIM,
RETORQUIU-LHE ASSIM:
- DIGAMOS QUE O SENHOR FOI
CONSIDERADO INDESEJÁVEL
AO C.T.I.G. (1).
PADRE PUIM PERGUNTOU:
- SIM? MAS, PORQUÊ?
AO QUE O GENERAL REPETIU
O QUE ANTES JÁ DISSERA,
E ASSIM,
UMA, OUTRA E OUTRA VEZ.
FICOU À ESPERA PUIM
DA EXPLICAÇÃO QUE NÃO VINHA,
ATÉ QUE DISSE O QUE DISSE:
- SE EU SOU INDESEJÁVEL AO C.T.I.G.,
O C.T.I.G. É INDESEJÁVEL PARA MIM.
BOA TARDE!
VIROU AS COSTAS, SAIU
NUNCA MAIS NINGUÉM O VIU
A FALAR COM GENERAIS
E OUTROS ASSIM QUE TAIS.
EU, QUE FUI SEU AMIGO,
SEI DOS CUIDADOS E DORES,
QUANDO ENTROU NO AVIÃO,
DE REGRESSO AOS AÇORES
DONDE ERA NATURAL,
E ENTÃO UM SIMPLES PADRE,
ANTES DE SER CAPELÃO
NO EXÉRCITO DE PORTUGAL.
(1) Comando Territorial Independente da Guiné
CARLOS REBELO (†)
ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2917
[Revisão / fixação de texto para esta edição no blogue: L.G.]
____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)
Vd. também poste de 27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)
(**) Vd. postes de:
18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4301: In Memoriam (22): Carlos Rebelo, a última batalha (Abilio Machado, ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(****) Vd. poste de 23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)
(*****) Vd. postes anteriores da série Cancioneiro de Bambadinca:
8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3586: Cancioneiro de Bambadinca (3): Mais versos de O Bando, a CCAÇ 12 do Srgt Piça (Tony Levezinho / Gabriel Gonçalves)
7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)
24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)
Em Maio de 1971, "por volta do 13 de Maio, talvez antes, a 10, 11 ou 12", o Alf Mil Capelão da CCS do BART 2717 (Bambadinca, 1970/72) foi intimado a comparecer em Bissau para receber a guia de marcha, de volta à sua terra, por ter sido considerado uma figura indesejável no CTIG... O seu quarto e os seus objectos pessoais foram revistados, não por agentes da PIDE/DGS, mas por dois oficiais superiores do comando do batalhão.... O seu diário foi, abusiva e ilegalmente confiscado... (É uma história a ser recontada, muito proximamente, aqui no nosso blogue).
Por sua vez, o Padre Mário de Oliveira, da diocese do Porto, foi capelão militar do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69). tendo sido expulso em Março de 1968, menos de cinco depois da sua chegada ao CTIG, uma história já aqui contada, na I série do nosso blogue (*)...
O Puim considera-se duplamente maltrado pela instituição militar e pela hierarquia religiosa. À data era capelão-mor, no CTIG, o Padre Gamboa, que tinha o posto de major, coordenando e supervisionando todo o trabalho de capelania (Vivia, em instalações próprias, em Bissau, conhecidas por Vaticano). Em Fevereiro de 1971, o Puim ainda tinha participado, em Bolama, num retiro espiritual, com os demais capelães da Guiné, dirigido pelo Major Capelão Gamboa. Houve discussão acesa, foi discutido o papel dos capelães na guerra colonial, a posição da Igreja, etc.
O mais importante é dizer, aqui no nosso blogue, que o nosso camarada Arsénio Puim, com os seus 73 anos, está vivo e recomenda-se. O novo membro da nossa Tabanca Grande, já começou a (re)organizar as suas memórias. Promete publicar algumas notas do seu famoso diário (que lhe foi devolvido pelo Exército a seguir ao 25 de Abril, embora censurado, rasurado e amputado de uma ou mais páginas)...
Tive o grande prazer de o abraçar no domingo à tarde, como prometido... Ele regressa a São Miguel, na 3ª feira. E fez-nos uma sugestão: que um dos próximos convívios da malta de Bambadinca ou do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné seja realizado nos Açores, onde de resto há muitos antigos combatentes que estiveram no CTIG... Também ele, durante muito anos, se recusou a falar do seu tempo da Guiné e só este ano veio, propositadamente, ao 3º convívio da CCS do BART 2917 (**), onde tinha/tem muita gente que o admira(va) e acarinha(va)... Como era o caso do nosso malograo camarada Carlos Rebelo, falecido em 6 do corrente, e que passa a figurar, de pleno direito, a partir de hoje, na lista dos amigos e camaradas da Guiné. Juntamente com o Zé Neto, é o segundo membro do blogue, já falecido (***).
Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
1. Mensagem do Benjamim Durães (ex-Fur Mil, Pel Rec Inf, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72):
Luís, depois de ler a mensagem do Puim no nosso blogue (****), a mesma me fez recordar uns versos feitos pelo ex-Furriel Mil Sapador Carlos Rebelo (falecido no passado dia 6 de Maio), que ele escreveu em 2007 e me entregou para ser lido no 1º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 que se realizou em Setúbal, os quais foram já publicados na revista dos Serviços Sociais da CGD - Caixa Geral de Depósitos.
Assim, e em memória do Carlos Rebelo, aqui transcrevo os versos, intitulado Romance do Padre Puim.
Um Abraço
DURÃES
_____________
ROMANCE DO PADRE PUIM
OU UM EPISÓDIO DA GUERRA COLONIAL
(PARA O PADRE PUIM, ONDE QUER QUE SE ENCONTRE, TANTOS ANOS DEPOIS) (*****)
FOI MAIS OU MENOS ASSIM
QUE SE PASSOU COM PUIM,
PADRE DAQUELA FORNADA
DO VATICANO SEGUNDO
E CAPELÃO MILITAR:
CRITICOU A HIERARQUIA
POR USAR E ABUSAR
DOS PRISIONEIROS DE GUERRA,
VELHOS, MULHERES E CRIANÇAS,
QUE A TROPA EM SUAS ANDANÇAS
TRAZIA AO AQUARTELAMENTO.
PADRE PUIM PREDICAVA
CONTRA O FACTO E APONTAVA
CERTOS ACTOS DESUMANOS
QUE O EXÉRCITO PRATICAVA.
ISTO CAIU MUITO MAL
NO GOTO DE UM GENERAL
QUE PÔS A PIDE EM ACÇÃO:
PUIM FOI NOTIFICADO
E DIGAMOS CONVIDADO
A CALAR-SE, OU ENTÃO…
ENTÃO FOI O QUE ACONTECEU:
PADRE PUIM FOI DETIDO
E DE IMEDIATO TRAZIDO
DESDE O MATO À CAPITAL
PARA FALAR COM O TAL
NO SEU QUARTEL GENERAL.
REAFIRMOU O QUE DISSE
E ATÉ DISSE INDA MAIS:
QUE NÃO GOSTAVA DA GUERRA
E POUCO DE GENERAIS.
E DISSE QUERER SABER
QUAL A RAZÃO DE TER SIDO
DEMITIDO.
AQUI O TAL GENERAL
ESCUSOU-SE A DIZER TAL,
MAS PERANTE A INSISTÊNCIA
E O TOM DE VEEMÊNCIA
DOS PROTESTOS DE PUIM,
RETORQUIU-LHE ASSIM:
- DIGAMOS QUE O SENHOR FOI
CONSIDERADO INDESEJÁVEL
AO C.T.I.G. (1).
PADRE PUIM PERGUNTOU:
- SIM? MAS, PORQUÊ?
AO QUE O GENERAL REPETIU
O QUE ANTES JÁ DISSERA,
E ASSIM,
UMA, OUTRA E OUTRA VEZ.
FICOU À ESPERA PUIM
DA EXPLICAÇÃO QUE NÃO VINHA,
ATÉ QUE DISSE O QUE DISSE:
- SE EU SOU INDESEJÁVEL AO C.T.I.G.,
O C.T.I.G. É INDESEJÁVEL PARA MIM.
BOA TARDE!
VIROU AS COSTAS, SAIU
NUNCA MAIS NINGUÉM O VIU
A FALAR COM GENERAIS
E OUTROS ASSIM QUE TAIS.
EU, QUE FUI SEU AMIGO,
SEI DOS CUIDADOS E DORES,
QUANDO ENTROU NO AVIÃO,
DE REGRESSO AOS AÇORES
DONDE ERA NATURAL,
E ENTÃO UM SIMPLES PADRE,
ANTES DE SER CAPELÃO
NO EXÉRCITO DE PORTUGAL.
(1) Comando Territorial Independente da Guiné
CARLOS REBELO (†)
ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2917
[Revisão / fixação de texto para esta edição no blogue: L.G.]
____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)
Vd. também poste de 27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)
(**) Vd. postes de:
18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4301: In Memoriam (22): Carlos Rebelo, a última batalha (Abilio Machado, ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(****) Vd. poste de 23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)
(*****) Vd. postes anteriores da série Cancioneiro de Bambadinca:
8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3586: Cancioneiro de Bambadinca (3): Mais versos de O Bando, a CCAÇ 12 do Srgt Piça (Tony Levezinho / Gabriel Gonçalves)
7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)
24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)
domingo, 24 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (18): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)
1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 22 de Maio de 2009:
Caro editores,
Apresento a V. Exas, agora reforçados por um elemento rangerizado, com quase tantos cargos e capacidades, quantas as latas do AB, mais uma estória para o registo da CCaç 2679, a minha Companhia, que nos Leste da Guiné só não se cobriu de glória, porque o IN aproveitou aquele período para folguedos. Façam o favor de dar uma olhada ao texto a ver se merece publicação.
Deslocação a Bajocunda
O ambiente deteriorava-se na tradicionalmente calma região de Pirada e Bajocunda. Dando continuidade às acções desencadeadas perto de Canquelifá, o IN, agora, executava o que parecia um plano sobre as populações fronteiriças sob administração portuguesa. À noite, pontificava o sequestro de populações e bens, e o fogo nas tabancas, que rasgava de luz gritante aqueles horizontes gentios. Ala que se faz tarde. Outra vez o Foxtrot posto a andar na senda dos acontecimentos.
De Piche a Bajocunda foi um extenso dia de viagem, embora a distância rondasse apenas uns oitenta quilómetros. Mas em ambiente de guerra, com as cautelas necessárias para não sermos surpreendidos por alguma acção terrorista, a deslocação era mais lenta. O pessoal apresentava-se com a habitual boa disposição. Parecia até que a guerra era como cavacas. Cautelosos, mas não intimidados. Para além de nós, também os Comandos Africanos iam reforçar a localidade. Para Pirada deslocar-se-ia uma Companhia de Páras e outra de açorianos. Com tanta gente, imaginava eu, que risco poderíamos correr, mesmo considerando a linha de fronteira confinante naqueles territórios? Francamente, já não acreditava no PAIGC, na sua capacidade para nos aterrorizar e molestar. Mas, claro, havia sempre o lado desconhecido das coisas, por isso, cautelas e caldos de galinha, como é sobejamente conhecido, não fariam mal a ninguém.
Lá prerorei sobre os novos riscos a que poderíamos estar sugeitos, que ninguém poderia facilitar nas missões, que tivéssemos muito cuidado com as populações, e a confirmar essas eventualidades de risco, aí estavam os Comandos e os Páras, como nós, a atestar dificuldades antecipadas.
Chegámos tarde, ao fim do dia, e logo deu para ver a grande confusão que reinava em Bajocunda. Os Comandos já estavam instalados, mas a maioria governava-se pela aldeia. Nos abrigos não havia lugar para o Foxtrot, e, na falta de instalações, ali ficaram distribuídos, perto das valas, em excesso de carga quando todos se reuniam. Quanto a mim, face à rebaldaria de camas e colchões de ar que preenchiam os intervalos do chão nos quartos, onde brancos e pretos se espojavam para dormir, tive a sorte de passar pela enfermaria, onde se destacava uma primeira sala com armários-despensa, destinada a primeiros socorros e consultas, e atrás, um amplo quarto, com três camas, cobertas de alvos lençóis, que pareciam engomados e tudo, sala destinada a acolher o pessoal com baixa.
Ninguém se encontrava com baixa, pelo que se tornou evidente o desperdício, e iluminou-se-me a mente quando decidi ali dormir. Surpreendidos, os enfermeiros não ripostaram. Claro, não se esqueçam das prioridades se tivermos alguém ferido ou com doença grave para permanecer na instalação, ainda adverti disposto a só ceder o lugar in-extremis.
As altas patentes locais, eram o Major Comando e o Capitão de Artilharia. Ambos congeminavam as actividades diárias, mas, no geral, era o Capitão que me transmitia as tarefas. Só por duas vezes integrámos forças com a CCA, em acções contra o IN, que não deram em nada, porque nunca lhes adivinhámos o caminho, e porque ele nos evitava. Todas as tardes saíamos, ora a pé, ora em viaturas, dependendo da distância, com missões de detecção e intercepção, colmatada com montagem de emboscada. Ainda durante a noite, se tínhamos abancado perto do aquartelamento, ou pela madrugada, regressávamos a Bajocunda para alimentação e o necessário descanso. Na enfermaria, notei, passou a haver mais cuidado, para eu não acordar. Malta porreira.
Revezávamo-nos, CCA e o Foxtrot, nas zonas a actuar. O terreno revelou-se fácil, plano, com cobertura de savana. Não havia grandes rios, apenas linhas de água. Depois de acordar, ficava à conversa com o pessoal local e os Comandos. Adoptei como poiso um canto da mesa de ping-pong. Era o centro do mundo. De entre os Comandos destacava-se um furriel imenso, felupe, de riso fácil a aguentar as provocações. Um dia referi-lhe que devia tratar-se contra o inchaço, a ver se ficava com um tamanho normal, o que evitaria tanta exposição às balas do IN. Reagiu que não era inchaço, mas músculo, força, e, para que eu não duvidasse, agarrando a camisa, levantou-me do solo
Lá o sosseguei, que sim senhor, era bem constituído, mas eu teria mais uma preocupação em eliminar os inimigos antes que o detectassem a ele. Ríamo-nos.
E havia um tigre em Bajocunda. Na verdade, eu nunca tinha imaginado essa possibilidade, nem que fosse apresentada pelo Chabrol ou o Lelouch, sob a forma de cinema de aventura. Mas deparei com uma cadeira, do tipo cineasta, com doi panos em armação de madeira, que apresentava nas costas a referência ao "Tigre". E sentei-me nela, até me dizerem que a cadeira tinha dono. Ó faz favor. Mas não era o dono, era só para avisar. Muito bem. Apareceu o Tigre, um furriel com ar hollywoodesco, bem abrilhantado, cortês, com uma magnífica cabeça de tigre tatuada nas costas. A primeira diferença entre o Tigre e eu, era a minha cobertura pilosa na superfície das espaldas. Logo, eu nunca poderia ser tigre. Descendo do petacantropus. Não sei se verdade ou não, constava-se que fora mercenário da L.E., mas nunca lhe descortinei marcialidades condizentes, apesar de ter seguido com o Major.
O Major era a serenidade. Introvertido, não procurava o pessoal para qualquer género de conversa. Dir-se-ia estar sob um desígnio superior. Alto, magro e teso, era uma representação marcial perfeita. Quando passava, delicadamente o pessoal cumprimentava-o. Mas era restrito nas aparições públicas. Brincava, por vezes, sob a sombra da árvore, nas traseiras da secretaria, atireando-lhe a faca de mato, procurando um alvo que se evidenciava após o entretém. Uma ocasião estive para pedir-lhe a vez no lançamento da faca, mas adivinhei que ele me ganharia com facilidade. Parco de palavras, impunha-se pela fácil aceitação do poder junto das tropas. Sempre claro e sucinto. Até para impor a disciplina. Assisti ao pedido de cedência do gabinete ao Capitão, para tratar de assunto particular à CCA, que anuiu, naturalmente. Mandou trazer à presença o recalcitrante, e, dentro de portas, sem espectáculo, tratou do assunto, com a preocupação de deixar o compartimento tão arrumado, quanto o recebera. A sua presença inspirava confiança.
Mas a CCA tinha os seus vaidosos. Em primeiro lugar o Ten. Januário, o homem com mais bajudas em território guinéu. Era natural, ainda jovem, boa figura, dinheiro no bolso e muita oportunidade para se deslocar pelo território, granjeou tanto fama de guerreiro, como de engatatão. Vivia feliz, e tinha boas perspectivas. Outro, era o Justo, da minha Companhia no CISMI. À promoção social que a tropa lhe dava, ainda juntava o gosto pela moto em andanças por Bissau que o conduzisse à sedução feminina. Coisas da juventude. Um belo dia, o Januário, na mesa de ping-pong, referiu-me que estava connosco porque lhe pagávamos bem, mas que um dia, teria como preocupação e alvo os cabo-verdianos. Daqui inferi várias coisas. Que admitia a autonomia administrativa do território, e que já representava a corrente geral, quer no PAIGC, quer nos pró-portugueses, que a Guiné era para os guinéus e Cabo Verde para os cabo-verdianos. Que estes juguilavam a ascenção dos guinéus, e para estabelecer a necessária justiça, ele sentiria um chamamento.
Por outro lado, havia o Jamanca, sóbrio, simpático e delicado, com muitas provas dadas, enquanto militar, que o impunham à consideração de todos. Estas as figuras da CCA que melhor retive, apesar do escasso conhecimento geral com que posso referir-me a eles. Em passo de desfile, eram muito bem apresentados e convincentes.
Começaram as chuvas. Uma tarde, a luminosidade do dia desapareceu, substitída por um manto escuro de nuvens que, rapidamente, cobriram a região, anunciadas por trovoada e relâmpagos em aproximação. Em pouco tempo adensou-se a tormenta, e, a umas pingas iniciais, logo o manto revolto de núvens se abriu lançando torrentes de água que se precipitava sobre a terra e as gentes sequiosas. Debaixo do alpendre assisti às manifestações de gaudio provocadas pela chuva generosa. De facto, as crianças corriam e rebolavam na movimentação de águas, que descia a rua do Silva, no sentido da pista para o aquartelamento, onde, à entrada, formava um lagoaçal de água barrenta, que parecia uma piscina, tal o aproveitamento das crianças felizes, qual ritual de agradecimento ao dilúvio. Mas a maior surpresa foi o aparecimento da formiga de asa, milhões que esvoaçavam em grupos, como se tivessem ganho vida com as águas. E outra vez os putos, embora também alguns adultos, procuravam encher sacos daqueles insectos que garantiam o petisco sazonal. Não cheguei a ver como preparavam os voadores, mas era garantidamente um petisco.
Uma tarde, em dois unimogs, desloquei-me na direcção de uma aldeia, para ali permanecermos na vã esperança de surpreendermos uma surtida do IN. Com o cair da noite escura, mais acentuadamente em virtude do céu encoberto, deitei-me no chão da mesquita, uma construção tradicional de adobe com cobertura de colmo. Adormeci, até que a fúria dos elementos me despertou para um espectáculo, que tinha tanto de tenebroso, como de fascinante, uma tempestade equatorial. A minha primeira tempestade, com um grade rebuliço de trovões e relâmpagos, acompanhamento indispensável à chuvada intensa. Um dilúvio com a grandiosidade de Bettohven. Deitei-me de bruços a olhar para o exterior, extasiado pelo espectáculo de luzes, cores e figuras em contra-luz, com o acompanhamento da música estrondosa da trovoada em despique, qual circo fantático proporcionado pela natureza revolta.
Ao fundo, as árvores altas e esbeltas ganhavam cores de prata e rosa, conforme a iluminação constantemente alterada que os relâmpagos proporcionavam. Em grande plano, dois vultos de Foxtrot, envoltos em ponches, sentados no banco corrido de um dos unimogs ali estacionado, imóveis e resistentes, anunciavam-se como figuras em escuro contra o fundo vegetal iluminado.
Quando me dirigia para a enfermaria, a ver se apaziguava o sono, verifiquei que um dos enfermeiros se me dirigia algo agitado, referindo que naquela noite não poderia ali dormir. Perguntei se havia azar. Que sim, um comando tinha sido morto e estava numa das camas. Entrei para ver. Realmente, na cama do meio permanecia o corpo inerte. Curioso perguntei o que tinha acontecido, e explicou-me que durante a emboscada nocturna o militar teria saído da formação para dar vazão a necessidades fisiológicas, e quando retomava a posição fora abatido pelo companheiro do lado. Uma cagada!
Ainda assim perguntei a confirmar se o homem estava morto. Que sim, claro, já estava morto havia um bom bocado, sem dúvida.
- Ó pá, então não há azar, é até um bom companheiro de quarto , na medida em que não ressona. E contra a expectativa, deitei-me na cama ao lado para o sono reparador.
Da nossa actividade em Bajocunda não houve qualquer registo especial, para além do trabalho diário na tentativa de interceptar o IN em alguma volta mais original. No entanto tal não se verificou, sempre andámos por caminhos trocados. Neste período resultaram apenas dois contactos, ambos com a CCA.
Num deles, um grupo que acompanhava o Teixeira estava emboscado num local perto de Copá, quando apareceu um grupo de guerrilheiros a avançar no trilho, mas ainda algo distante. Parecia favas contadas, mas um comando abriu fogo, sabe-se lá porquê, nervoseira, certamente, do que resultou um fogachal inconsequente.
A outra acção foi uma emboscada na ponte, entre Pirada e Tabassi, num local de abrandamento obrigatório para as viaturas, pois a água já passava sobre a pequena ponte. Uma viatura civil que integrava a coluna de reabastecimento, terá caído na zona de morte, do que resultou a morte do condutor e a destruição da camioneta. A reacção dos Comandos foi pronta e eficaz, na medida em que o IN imediatamente abandonou o local, fugindo na direcção da fronteira. Dada a escassez de pessoal, apenas um grupo garantia a escolta, não foi possível desencadear a adequada perseguição.
Em 25 de Junho regressámos a Piche. Já sintia o cheiro a férias.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4298: História da CCAÇ 2679 (17): A última partida e Unimog sublimador (José Manuel Dinis)
Caro editores,
Apresento a V. Exas, agora reforçados por um elemento rangerizado, com quase tantos cargos e capacidades, quantas as latas do AB, mais uma estória para o registo da CCaç 2679, a minha Companhia, que nos Leste da Guiné só não se cobriu de glória, porque o IN aproveitou aquele período para folguedos. Façam o favor de dar uma olhada ao texto a ver se merece publicação.
Deslocação a Bajocunda
O ambiente deteriorava-se na tradicionalmente calma região de Pirada e Bajocunda. Dando continuidade às acções desencadeadas perto de Canquelifá, o IN, agora, executava o que parecia um plano sobre as populações fronteiriças sob administração portuguesa. À noite, pontificava o sequestro de populações e bens, e o fogo nas tabancas, que rasgava de luz gritante aqueles horizontes gentios. Ala que se faz tarde. Outra vez o Foxtrot posto a andar na senda dos acontecimentos.
De Piche a Bajocunda foi um extenso dia de viagem, embora a distância rondasse apenas uns oitenta quilómetros. Mas em ambiente de guerra, com as cautelas necessárias para não sermos surpreendidos por alguma acção terrorista, a deslocação era mais lenta. O pessoal apresentava-se com a habitual boa disposição. Parecia até que a guerra era como cavacas. Cautelosos, mas não intimidados. Para além de nós, também os Comandos Africanos iam reforçar a localidade. Para Pirada deslocar-se-ia uma Companhia de Páras e outra de açorianos. Com tanta gente, imaginava eu, que risco poderíamos correr, mesmo considerando a linha de fronteira confinante naqueles territórios? Francamente, já não acreditava no PAIGC, na sua capacidade para nos aterrorizar e molestar. Mas, claro, havia sempre o lado desconhecido das coisas, por isso, cautelas e caldos de galinha, como é sobejamente conhecido, não fariam mal a ninguém.
Lá prerorei sobre os novos riscos a que poderíamos estar sugeitos, que ninguém poderia facilitar nas missões, que tivéssemos muito cuidado com as populações, e a confirmar essas eventualidades de risco, aí estavam os Comandos e os Páras, como nós, a atestar dificuldades antecipadas.
Chegámos tarde, ao fim do dia, e logo deu para ver a grande confusão que reinava em Bajocunda. Os Comandos já estavam instalados, mas a maioria governava-se pela aldeia. Nos abrigos não havia lugar para o Foxtrot, e, na falta de instalações, ali ficaram distribuídos, perto das valas, em excesso de carga quando todos se reuniam. Quanto a mim, face à rebaldaria de camas e colchões de ar que preenchiam os intervalos do chão nos quartos, onde brancos e pretos se espojavam para dormir, tive a sorte de passar pela enfermaria, onde se destacava uma primeira sala com armários-despensa, destinada a primeiros socorros e consultas, e atrás, um amplo quarto, com três camas, cobertas de alvos lençóis, que pareciam engomados e tudo, sala destinada a acolher o pessoal com baixa.
Ninguém se encontrava com baixa, pelo que se tornou evidente o desperdício, e iluminou-se-me a mente quando decidi ali dormir. Surpreendidos, os enfermeiros não ripostaram. Claro, não se esqueçam das prioridades se tivermos alguém ferido ou com doença grave para permanecer na instalação, ainda adverti disposto a só ceder o lugar in-extremis.
As altas patentes locais, eram o Major Comando e o Capitão de Artilharia. Ambos congeminavam as actividades diárias, mas, no geral, era o Capitão que me transmitia as tarefas. Só por duas vezes integrámos forças com a CCA, em acções contra o IN, que não deram em nada, porque nunca lhes adivinhámos o caminho, e porque ele nos evitava. Todas as tardes saíamos, ora a pé, ora em viaturas, dependendo da distância, com missões de detecção e intercepção, colmatada com montagem de emboscada. Ainda durante a noite, se tínhamos abancado perto do aquartelamento, ou pela madrugada, regressávamos a Bajocunda para alimentação e o necessário descanso. Na enfermaria, notei, passou a haver mais cuidado, para eu não acordar. Malta porreira.
Revezávamo-nos, CCA e o Foxtrot, nas zonas a actuar. O terreno revelou-se fácil, plano, com cobertura de savana. Não havia grandes rios, apenas linhas de água. Depois de acordar, ficava à conversa com o pessoal local e os Comandos. Adoptei como poiso um canto da mesa de ping-pong. Era o centro do mundo. De entre os Comandos destacava-se um furriel imenso, felupe, de riso fácil a aguentar as provocações. Um dia referi-lhe que devia tratar-se contra o inchaço, a ver se ficava com um tamanho normal, o que evitaria tanta exposição às balas do IN. Reagiu que não era inchaço, mas músculo, força, e, para que eu não duvidasse, agarrando a camisa, levantou-me do solo
Lá o sosseguei, que sim senhor, era bem constituído, mas eu teria mais uma preocupação em eliminar os inimigos antes que o detectassem a ele. Ríamo-nos.
E havia um tigre em Bajocunda. Na verdade, eu nunca tinha imaginado essa possibilidade, nem que fosse apresentada pelo Chabrol ou o Lelouch, sob a forma de cinema de aventura. Mas deparei com uma cadeira, do tipo cineasta, com doi panos em armação de madeira, que apresentava nas costas a referência ao "Tigre". E sentei-me nela, até me dizerem que a cadeira tinha dono. Ó faz favor. Mas não era o dono, era só para avisar. Muito bem. Apareceu o Tigre, um furriel com ar hollywoodesco, bem abrilhantado, cortês, com uma magnífica cabeça de tigre tatuada nas costas. A primeira diferença entre o Tigre e eu, era a minha cobertura pilosa na superfície das espaldas. Logo, eu nunca poderia ser tigre. Descendo do petacantropus. Não sei se verdade ou não, constava-se que fora mercenário da L.E., mas nunca lhe descortinei marcialidades condizentes, apesar de ter seguido com o Major.
O Major era a serenidade. Introvertido, não procurava o pessoal para qualquer género de conversa. Dir-se-ia estar sob um desígnio superior. Alto, magro e teso, era uma representação marcial perfeita. Quando passava, delicadamente o pessoal cumprimentava-o. Mas era restrito nas aparições públicas. Brincava, por vezes, sob a sombra da árvore, nas traseiras da secretaria, atireando-lhe a faca de mato, procurando um alvo que se evidenciava após o entretém. Uma ocasião estive para pedir-lhe a vez no lançamento da faca, mas adivinhei que ele me ganharia com facilidade. Parco de palavras, impunha-se pela fácil aceitação do poder junto das tropas. Sempre claro e sucinto. Até para impor a disciplina. Assisti ao pedido de cedência do gabinete ao Capitão, para tratar de assunto particular à CCA, que anuiu, naturalmente. Mandou trazer à presença o recalcitrante, e, dentro de portas, sem espectáculo, tratou do assunto, com a preocupação de deixar o compartimento tão arrumado, quanto o recebera. A sua presença inspirava confiança.
Mas a CCA tinha os seus vaidosos. Em primeiro lugar o Ten. Januário, o homem com mais bajudas em território guinéu. Era natural, ainda jovem, boa figura, dinheiro no bolso e muita oportunidade para se deslocar pelo território, granjeou tanto fama de guerreiro, como de engatatão. Vivia feliz, e tinha boas perspectivas. Outro, era o Justo, da minha Companhia no CISMI. À promoção social que a tropa lhe dava, ainda juntava o gosto pela moto em andanças por Bissau que o conduzisse à sedução feminina. Coisas da juventude. Um belo dia, o Januário, na mesa de ping-pong, referiu-me que estava connosco porque lhe pagávamos bem, mas que um dia, teria como preocupação e alvo os cabo-verdianos. Daqui inferi várias coisas. Que admitia a autonomia administrativa do território, e que já representava a corrente geral, quer no PAIGC, quer nos pró-portugueses, que a Guiné era para os guinéus e Cabo Verde para os cabo-verdianos. Que estes juguilavam a ascenção dos guinéus, e para estabelecer a necessária justiça, ele sentiria um chamamento.
Por outro lado, havia o Jamanca, sóbrio, simpático e delicado, com muitas provas dadas, enquanto militar, que o impunham à consideração de todos. Estas as figuras da CCA que melhor retive, apesar do escasso conhecimento geral com que posso referir-me a eles. Em passo de desfile, eram muito bem apresentados e convincentes.
Começaram as chuvas. Uma tarde, a luminosidade do dia desapareceu, substitída por um manto escuro de nuvens que, rapidamente, cobriram a região, anunciadas por trovoada e relâmpagos em aproximação. Em pouco tempo adensou-se a tormenta, e, a umas pingas iniciais, logo o manto revolto de núvens se abriu lançando torrentes de água que se precipitava sobre a terra e as gentes sequiosas. Debaixo do alpendre assisti às manifestações de gaudio provocadas pela chuva generosa. De facto, as crianças corriam e rebolavam na movimentação de águas, que descia a rua do Silva, no sentido da pista para o aquartelamento, onde, à entrada, formava um lagoaçal de água barrenta, que parecia uma piscina, tal o aproveitamento das crianças felizes, qual ritual de agradecimento ao dilúvio. Mas a maior surpresa foi o aparecimento da formiga de asa, milhões que esvoaçavam em grupos, como se tivessem ganho vida com as águas. E outra vez os putos, embora também alguns adultos, procuravam encher sacos daqueles insectos que garantiam o petisco sazonal. Não cheguei a ver como preparavam os voadores, mas era garantidamente um petisco.
Uma tarde, em dois unimogs, desloquei-me na direcção de uma aldeia, para ali permanecermos na vã esperança de surpreendermos uma surtida do IN. Com o cair da noite escura, mais acentuadamente em virtude do céu encoberto, deitei-me no chão da mesquita, uma construção tradicional de adobe com cobertura de colmo. Adormeci, até que a fúria dos elementos me despertou para um espectáculo, que tinha tanto de tenebroso, como de fascinante, uma tempestade equatorial. A minha primeira tempestade, com um grade rebuliço de trovões e relâmpagos, acompanhamento indispensável à chuvada intensa. Um dilúvio com a grandiosidade de Bettohven. Deitei-me de bruços a olhar para o exterior, extasiado pelo espectáculo de luzes, cores e figuras em contra-luz, com o acompanhamento da música estrondosa da trovoada em despique, qual circo fantático proporcionado pela natureza revolta.
Ao fundo, as árvores altas e esbeltas ganhavam cores de prata e rosa, conforme a iluminação constantemente alterada que os relâmpagos proporcionavam. Em grande plano, dois vultos de Foxtrot, envoltos em ponches, sentados no banco corrido de um dos unimogs ali estacionado, imóveis e resistentes, anunciavam-se como figuras em escuro contra o fundo vegetal iluminado.
Quando me dirigia para a enfermaria, a ver se apaziguava o sono, verifiquei que um dos enfermeiros se me dirigia algo agitado, referindo que naquela noite não poderia ali dormir. Perguntei se havia azar. Que sim, um comando tinha sido morto e estava numa das camas. Entrei para ver. Realmente, na cama do meio permanecia o corpo inerte. Curioso perguntei o que tinha acontecido, e explicou-me que durante a emboscada nocturna o militar teria saído da formação para dar vazão a necessidades fisiológicas, e quando retomava a posição fora abatido pelo companheiro do lado. Uma cagada!
Ainda assim perguntei a confirmar se o homem estava morto. Que sim, claro, já estava morto havia um bom bocado, sem dúvida.
- Ó pá, então não há azar, é até um bom companheiro de quarto , na medida em que não ressona. E contra a expectativa, deitei-me na cama ao lado para o sono reparador.
Da nossa actividade em Bajocunda não houve qualquer registo especial, para além do trabalho diário na tentativa de interceptar o IN em alguma volta mais original. No entanto tal não se verificou, sempre andámos por caminhos trocados. Neste período resultaram apenas dois contactos, ambos com a CCA.
Num deles, um grupo que acompanhava o Teixeira estava emboscado num local perto de Copá, quando apareceu um grupo de guerrilheiros a avançar no trilho, mas ainda algo distante. Parecia favas contadas, mas um comando abriu fogo, sabe-se lá porquê, nervoseira, certamente, do que resultou um fogachal inconsequente.
A outra acção foi uma emboscada na ponte, entre Pirada e Tabassi, num local de abrandamento obrigatório para as viaturas, pois a água já passava sobre a pequena ponte. Uma viatura civil que integrava a coluna de reabastecimento, terá caído na zona de morte, do que resultou a morte do condutor e a destruição da camioneta. A reacção dos Comandos foi pronta e eficaz, na medida em que o IN imediatamente abandonou o local, fugindo na direcção da fronteira. Dada a escassez de pessoal, apenas um grupo garantia a escolta, não foi possível desencadear a adequada perseguição.
Em 25 de Junho regressámos a Piche. Já sintia o cheiro a férias.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4298: História da CCAÇ 2679 (17): A última partida e Unimog sublimador (José Manuel Dinis)
Guiné 63/74 - P4408: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (22): O desvendar do segredo (Manuel Maia)
1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 22 de maio de 2009:
Aqui mando mais duas..
Manuel Maia
Havia necessidade de explicar a Sua Excelência excelentíssima o porquê da contínua permanência dos bandos por trás do arame farpado.
Entendi por bem não o deixar mais tempo na ignorância, e peço desde já desculpa ao resto dos camaradas membros dos famosos bandos, por à sua revelia, ter decidido passar a informação que até agora havíamos mantido sigilosa, mas a veneranda figura interrogava-se continuamente, e antes que tivesse um colapso, avancei com o nosso segredo...
Sei que ireis compreender a razão de fundo deste meu gesto...
Manuel Maia
Nos tempos do guinéu turismo, havia,
piscinas de água quente, morna e fria,
os mimos de quartel apetrechado...
por trás da aramada posição,
ginásio, sauna,tanques de imersão
tratavam do stress acumulado...
Massagem por bajuda torneada
de peito firme e pele acetinada
após cada sessão lá no solário...
Depois da explicação que ora aqui dou,
AB fica a saber porque encontrou,
os bandos no bem-bom do tal farpado...
Manuel Maia
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4397: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (21): Comentando, comentários (Manuel Maia)
Aqui mando mais duas..
Manuel Maia
Havia necessidade de explicar a Sua Excelência excelentíssima o porquê da contínua permanência dos bandos por trás do arame farpado.
Entendi por bem não o deixar mais tempo na ignorância, e peço desde já desculpa ao resto dos camaradas membros dos famosos bandos, por à sua revelia, ter decidido passar a informação que até agora havíamos mantido sigilosa, mas a veneranda figura interrogava-se continuamente, e antes que tivesse um colapso, avancei com o nosso segredo...
Sei que ireis compreender a razão de fundo deste meu gesto...
Manuel Maia
Nos tempos do guinéu turismo, havia,
piscinas de água quente, morna e fria,
os mimos de quartel apetrechado...
por trás da aramada posição,
ginásio, sauna,tanques de imersão
tratavam do stress acumulado...
Massagem por bajuda torneada
de peito firme e pele acetinada
após cada sessão lá no solário...
Depois da explicação que ora aqui dou,
AB fica a saber porque encontrou,
os bandos no bem-bom do tal farpado...
Manuel Maia
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4397: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (21): Comentando, comentários (Manuel Maia)
Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)
1. Mensagem de António G. Matos ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72 (*), com data de 21 de Maio de 2009:
A existência de postes em homenagem às nossas Mulheres-Mães, Mulheres-Namoradas, Mulheres-Mulheres, nunca será suficiente para lhes reconhecer o amor e o valor que lhes dedicámos particularmente numa altura das nossas vidas-não vidas.
Felizmente que escrevo com os dedos pois se neste momento tivesse que dar voz ao que me vai na alma, teria sérias dificuldades em articular as palavras.
Mas, costuma dizer-se que um homem não chora e, talvez por isso, me emocione quando recordo as lágrimas a correr pelas faces do meu Pai ao ver-me partir para a Guiné.
É certo que não foi uma partida tão chocante quanto a de muitos que embarcavam nos barcos e a situação prolongava-se por horas infindas, até que se deixavam de ver os lenços do adeus ...
Eu parti dos Açores, sem familiares por perto e hoje, reconheço, tive pena de mim.
Faltou-me o abraço do Pai e os beijos da Mãe naquele momento terrível de saudade...
Hoje, quer um quer outro, já se despediram e não consigo abstrair-me do sentimento de impotência pelo qual devem ter passado ao verem-se, simultaneamente, privados de dois filhos em missão militar em África.
É por isso que me vejo compelido a abrir um poste aos nossos Homens-Pais, Homens-Irmãos, Homens-Amigos e homenageá-los com garra e sentimento ainda que com a lágrima sexagenária ao canto do olho.
Este blogue é, a par do relato das nossas estórias, um repositório de sentimentos que a circunstância guerra extrapolou e daí que não me repugne publicar as palavras que lhe dirigi quando foi embora e recordá-lo pela falta que me faz.
Pai,
Não é o elogio fúnebre que te quero dedicar, hoje.
Nem é aos presentes que quero dirigir estas palavras.
É a ti que me dirijo emocionado pelo que representaste para mim ao longo deste último meio século.
E representaste tanto!
Tanto, que tenho remorsos em nem sempre ter satisfeito as tuas expectativas! Pelo contrário, tê-las gorado!
Aqui estou a reconhecê-lo e a pedir-te que agora, nesse mundo no qual também acredito, possas finalmente ter a paz psicológica que os últimos anos te tiraram.
Contrariamente ao imaginado nos meus primeiros anos de vida, éramos, ultimamente, parcos em palavras. Para tal contribuiram factores menores perante esta enormidade que é a Morte!
Outros virão, porém, que tentarão melhorar o que nós estragámos.
E aqui te quero deixar o meu testemunho pelo nó emotivo e de grande orgulho que me envolveu a garganta quando ontem, todos os teus netos em manifestações de enternecedor carinho te visitaram no hospital e de todos recebeste uma festa e de alguns brotaram as lágrimas que o amor e a saudade pressentida fizeram transbordar. Eu vi!
Poderia aqui ficar a desenrolar um interminável número de situações pelas quais és recordado carinhosamente pela grande maioria dos presentes. Prefiro, porém, dizer-te que também eu fico com a saudade de uma vida inteira fisicamente perto de ti recheada de bons exemplos e de uma leal entrega à família pela qual e para a qual viveste.
Obrigado Pai.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4379: Blogoterapia (102): Este blogue de que eu gosto! (António Matos)
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)
A existência de postes em homenagem às nossas Mulheres-Mães, Mulheres-Namoradas, Mulheres-Mulheres, nunca será suficiente para lhes reconhecer o amor e o valor que lhes dedicámos particularmente numa altura das nossas vidas-não vidas.
Felizmente que escrevo com os dedos pois se neste momento tivesse que dar voz ao que me vai na alma, teria sérias dificuldades em articular as palavras.
Mas, costuma dizer-se que um homem não chora e, talvez por isso, me emocione quando recordo as lágrimas a correr pelas faces do meu Pai ao ver-me partir para a Guiné.
É certo que não foi uma partida tão chocante quanto a de muitos que embarcavam nos barcos e a situação prolongava-se por horas infindas, até que se deixavam de ver os lenços do adeus ...
Eu parti dos Açores, sem familiares por perto e hoje, reconheço, tive pena de mim.
Faltou-me o abraço do Pai e os beijos da Mãe naquele momento terrível de saudade...
Hoje, quer um quer outro, já se despediram e não consigo abstrair-me do sentimento de impotência pelo qual devem ter passado ao verem-se, simultaneamente, privados de dois filhos em missão militar em África.
É por isso que me vejo compelido a abrir um poste aos nossos Homens-Pais, Homens-Irmãos, Homens-Amigos e homenageá-los com garra e sentimento ainda que com a lágrima sexagenária ao canto do olho.
Este blogue é, a par do relato das nossas estórias, um repositório de sentimentos que a circunstância guerra extrapolou e daí que não me repugne publicar as palavras que lhe dirigi quando foi embora e recordá-lo pela falta que me faz.
Pai,
Não é o elogio fúnebre que te quero dedicar, hoje.
Nem é aos presentes que quero dirigir estas palavras.
É a ti que me dirijo emocionado pelo que representaste para mim ao longo deste último meio século.
E representaste tanto!
Tanto, que tenho remorsos em nem sempre ter satisfeito as tuas expectativas! Pelo contrário, tê-las gorado!
Aqui estou a reconhecê-lo e a pedir-te que agora, nesse mundo no qual também acredito, possas finalmente ter a paz psicológica que os últimos anos te tiraram.
Contrariamente ao imaginado nos meus primeiros anos de vida, éramos, ultimamente, parcos em palavras. Para tal contribuiram factores menores perante esta enormidade que é a Morte!
Outros virão, porém, que tentarão melhorar o que nós estragámos.
E aqui te quero deixar o meu testemunho pelo nó emotivo e de grande orgulho que me envolveu a garganta quando ontem, todos os teus netos em manifestações de enternecedor carinho te visitaram no hospital e de todos recebeste uma festa e de alguns brotaram as lágrimas que o amor e a saudade pressentida fizeram transbordar. Eu vi!
Poderia aqui ficar a desenrolar um interminável número de situações pelas quais és recordado carinhosamente pela grande maioria dos presentes. Prefiro, porém, dizer-te que também eu fico com a saudade de uma vida inteira fisicamente perto de ti recheada de bons exemplos e de uma leal entrega à família pela qual e para a qual viveste.
Obrigado Pai.
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4379: Blogoterapia (102): Este blogue de que eu gosto! (António Matos)
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)
Guiné 63/74 - P4406: Tabanca Grande (147): António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAV 8323, Copá, 1973/74
1. Carta de António Rodrigues, Soldado do BCAV 8323, Copá, com data de 15 de Maio:
Porto, 15 de Maio de 2009
António Rodrigues, Soldado do BCav 8323
Autor de "Memórias de um Soldado – Copá – Guiné-Bissau"
Amigos e camaradas da Guiné.
Como não tenho Internete em casa e possuo poucos conhecimentos das novas tecnologias de informação e comunicação, raramente acompanho o que se passa no blogue Luís Graça, onde se podem ler todos estes textos e opiniões sobre a guerra na Guiné.
Sabendo destas minhas limitações, o meu prezado amigo António Graça de Abreu telefonou-me e fez-me chegar pelo correio o belíssimo texto que escreveu a meu respeito sobre Copá, com data de 7 de Março de 2009 e que colocou no blogue (*).
Avisado, fui espreitar e li o texto do António G. A. mais os oito comentários que se lhe seguiram.
Devo dizer que fiquei muito sensibilizado com todos eles a cujos autores agradeço o trabalho a que se deram, mesmo aqueles que ficaram com dúvidas quanto à veracidade dos factos por mim descritos, o que compreendo e respeito, pois essas pessoas não se encontravam então em Copá e muito menos na Guiné, como era o caso do Mário Fitas que nessa altura já tinha saído da Guiné há cerca de 9 anos e portanto talvez não tenha acompanhado a evolução do armamento que o PAIGC foi adquirindo nos últimos anos da guerra. Por exemplo, os mísseis Strela terra-ar fornecidos pela então União Soviética e que em Abril de 1973 começou a utilizar com os quais derrubou alguns aviões portugueses, o último dos quais (Fiat G 91) foi derrubado no dia 31 de Janeiro de 1974, em Copá, a que eu e os meus camaradas assistimos.
Lembro ainda o que aconteceu em Maio de 1973 em Guileje, no sul e em Guidage, no norte e não posso aqui também esquecer os Heróis nossos vizinhos de Canquelifá que muitas vezes eram flagelados nos mesmos dias e às mesmas horas que nós em Copá, honra lhes seja feita também porque muito sofreram.
Antes de continuar este meu esclarecimento e confirmação dos factos sobre Copá digo que não quero com este texto entrar em polémica ou ferir susceptibilidades seja de quem for, mas continuar a assumir tudo que escrevi sobre Copá.
O Mário Fitas põe aqui uma série de dúvidas e diz que também assaltou acampamentos do PAIGC e o armamento não tinha assim grande diferença. Pois bem, o Mário Fitas sai da Guiné em 1966, estes acontecimentos em Copá passaram-se em 1974, mas tenho todo o gosto em tentar esclarecer as suas dúvidas que são naturais.
Quanto à existência de auto-blindados por parte do PAIGC, aconselho-o a consultar o livro "Quem mandou matar Amílcar Cabral" escrito por José Pedro Castanheira, 3ª. Edição de Junho de 1995, Relógio D’Água Editores, na sua página 152 onde se pode ler que em Dezembro de 1972, um mês antes de morrer, Amílcar Cabral recebeu em Conacri uma visita (um infiltrado da PIDE) a quem mostrou especialmente dois carros blindados chegados recentemente e guardados no quartel guineense de Camp Alpha Yaya, um com lagartas e outro com rodas de borracha como faz notar “Alfa”. No porto estavam ancoradas três vedetas recebidas há pouco tempo.
Ainda no que diz respeito às armas novas que foram sendo fornecidas ao PAIGC, devo dizer que no dia 25 de Abril de 1974, Pirada foi flagelada com foguetões durante três horas e logo depois foi instalada em Pirada uma bateria anti-aérea, porque nessa altura se pensava que em breve seríamos bombardeados por aviões vindos de bases no Senegal.
A verdade é que durante as últimas noites que passámos em Copá, em Janeiro de 1974, fomos sobrevoados duas ou três vezes por uma aeronave que não respondia as nossas transmissões, mas de concreto nunca chegámos a saber de que se tratava.
Quanto ao alferes que é preso e reaparece, devo esclarecer o seguinte:
No dia 7 de Janeiro de 1974, a guarnição de Copá era constituída pelo 4º. Pelotão da 1ª. Companhia do BCav 8323 formado por 27 militares europeus e um pelotão de africanos comandado por um alferes e um furriel brancos, num total de 25 homens.
Esta guarnição estava instalada em 7 abrigos e respectivas trincheiras.
As armas existentes em Copá nessa data eram as nossas G3, uma metralhadora Breda montada num tripé, uma HK 21, um lança granadas foguete, um morteiro 81, um morteiro 60 e granadas de mão.
O poderio de fogo, de meios e julgo que também de homens do PAIGC nessa noite de 7 de Janeiro de 1974 era bastante superior ao nosso. Desconheço a verdadeira razão porque acabaram por se retirar ao fim de uma hora e cinco minutos, mas em minha opinião, e sem me querer armar em herói, julgo que foi devido à nossa forte reacção e termos-lhes causado feridos e mortos, como pudemos confirmar no dia seguinte junto do nosso arame farpado.
No dia 7 de Janeiro, durante a flagelação da tarde com morteiros 120 que durou cinco horas e vinte minutos e o ataque ao destacamento a partir da meia noite, a população de Copá e todos os elementos africanos do respectivo pelotão desertaram e fugiram, muitos deles em direcção do Senegal e o último a fugir foi o Demba, um dos cabos africanos desse pelotão que cerca das 0,30 h, vindo do abrigo do comando e transmissões, ao passar pelo abrigo n.º 7, onde eu me encontrava, nos disse que o alferes já estava preso e nós não tínhamos como confirmar isso pois nesse momento estávamos debaixo de fogo intenso e o nosso abrigo ficava distante, do lado oposto ao do comando. Mas passados poucos minutos, o alferes gritou como era seu hábito, a perguntar se estava tudo vivo e aí percebemos que ele não estava preso nem nunca chegou a estar. E nós estávamos todos bem vivos. Espero que com este esclarecimento não fique qualquer dúvida sobre este ponto.
Relativamente ao morteiro 81 lançar granadas fora do tripé, não foi caso único, tenho conhecimento de várias situações que foram relatadas onde isso aconteceu. Eu também não estava junto do morteiro 81 que em Copá foi uma das nossas principais armas de defesa, porque estava instalado num outro abrigo, o nº. 3, mas acredito no relato do meu camarada artilheiro Francisco Vaz Gonçalves que nos disse que actuou dessa forma para tirar o melhor partido da arma porque a distância a que estava o inimigo era muito curta e ele tinha de fazer fogo com o morteiro quase aprumado.
Se as granadas de morteiro 60 fizeram ou não recuar o blindado, também não posso garantir, mas o que posso afirmar, porque a cena se passa à minha frente é que foi a partir do início da nossa reacção com o morteiro 60 sobre o blindado que o inimigo começou a retirar e a partir daí começa o fim do ataque.
Quanto à luta corpo a corpo, ela não existiu mas eu também não escrevi isso em parte nenhuma do livro, digo sim que a luta era quase corpo a corpo porque alguns dos meus camaradas em certos momentos chegaram a estar a uma distância de 10 a 15 metros do inimigo.
Os jornalistas podem e têm todo o direito de investigarem o que quiserem, mas para contar a verdade terão de falar e informar-se com quem esteve e viveu esses dias de inferno em Copá.
Relativamente à ideia de se publicar uma 2.ª edição do meu livro com o meu nome (porque fui eu que o escrevi e não o Benigno Fernando) agradeço a todos os camaradas que se manifestaram nesse sentido, o que mais uma vez muito me sensibilizou e agradeço tal disponibilidade, mas acho que não vale a pena estar a criar mais polémicas com o livro. De resto, logo na altura da publicação pelo Benigno Fernando, tive oportunidade de o confrontar e de lhe dizer cara a cara que ele se tinha limitado praticamente a copiar o que eu escrevi e lhe forneci.
De qualquer forma, essa publicação pelo Benigno teve pelo menos o condão de ter dado a conhecer estas histórias a muitas mais pessoas, inclusive já cheguei a ver e ouvir ler uma passagem do livro num programa de televisão. Doutro modo, isto teria ficado pelo meu círculo de amigos, mais os camaradas do BCav 8323.
Esperando ter esclarecido algumas dúvidas, aqui deixo um abraço amigo para todos.
António Rodrigues,
ex-combatente em Copá,
18/11/73 a 12/02/74.
2. Comentário de CV:
Está formalmente apresentado à Tertúlia o nosso camarada António Rodrigues, autor moral do livro de Benigno Fernando, "O Princípio do Fim".
O destacamento de Copá, abandonado em meados de Fevereiro de 1974, era um local problemático, onde não havia população e a tropa era constantemente flagelada pelo PAIGC. Ainda hoje se pergunta por que não houve um ataque final e consequente aprisionamento dos militares que compunham a guarnição.
António Rodrigues, descreve, como ninguém, esta situação.
As pessoas podem consultar os postes abaixo indicados para fazerem uma pequena ideia do sofrimento a que foi sujeito aquele pequeno grupo de militares desterrado em Copá.
O António Rodrigues, sempre que queira, pode enviar para o nosso Blogue a descrição das suas memórias correspondentes àqueles conturbados tempos.
__________
Notas dos Editores:
(*) Vd. poste de 7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3995: Os bravos de Copá e um caso de... 'abuso de confiança' (António Graça de Abreu / António Rodrigues)
Sobre Copá, vd. postes de:
11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)
28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda
28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste
Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)
27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)
30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)
13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
Porto, 15 de Maio de 2009
António Rodrigues, Soldado do BCav 8323
Autor de "Memórias de um Soldado – Copá – Guiné-Bissau"
Amigos e camaradas da Guiné.
Como não tenho Internete em casa e possuo poucos conhecimentos das novas tecnologias de informação e comunicação, raramente acompanho o que se passa no blogue Luís Graça, onde se podem ler todos estes textos e opiniões sobre a guerra na Guiné.
Sabendo destas minhas limitações, o meu prezado amigo António Graça de Abreu telefonou-me e fez-me chegar pelo correio o belíssimo texto que escreveu a meu respeito sobre Copá, com data de 7 de Março de 2009 e que colocou no blogue (*).
Avisado, fui espreitar e li o texto do António G. A. mais os oito comentários que se lhe seguiram.
Devo dizer que fiquei muito sensibilizado com todos eles a cujos autores agradeço o trabalho a que se deram, mesmo aqueles que ficaram com dúvidas quanto à veracidade dos factos por mim descritos, o que compreendo e respeito, pois essas pessoas não se encontravam então em Copá e muito menos na Guiné, como era o caso do Mário Fitas que nessa altura já tinha saído da Guiné há cerca de 9 anos e portanto talvez não tenha acompanhado a evolução do armamento que o PAIGC foi adquirindo nos últimos anos da guerra. Por exemplo, os mísseis Strela terra-ar fornecidos pela então União Soviética e que em Abril de 1973 começou a utilizar com os quais derrubou alguns aviões portugueses, o último dos quais (Fiat G 91) foi derrubado no dia 31 de Janeiro de 1974, em Copá, a que eu e os meus camaradas assistimos.
Lembro ainda o que aconteceu em Maio de 1973 em Guileje, no sul e em Guidage, no norte e não posso aqui também esquecer os Heróis nossos vizinhos de Canquelifá que muitas vezes eram flagelados nos mesmos dias e às mesmas horas que nós em Copá, honra lhes seja feita também porque muito sofreram.
Antes de continuar este meu esclarecimento e confirmação dos factos sobre Copá digo que não quero com este texto entrar em polémica ou ferir susceptibilidades seja de quem for, mas continuar a assumir tudo que escrevi sobre Copá.
O Mário Fitas põe aqui uma série de dúvidas e diz que também assaltou acampamentos do PAIGC e o armamento não tinha assim grande diferença. Pois bem, o Mário Fitas sai da Guiné em 1966, estes acontecimentos em Copá passaram-se em 1974, mas tenho todo o gosto em tentar esclarecer as suas dúvidas que são naturais.
Quanto à existência de auto-blindados por parte do PAIGC, aconselho-o a consultar o livro "Quem mandou matar Amílcar Cabral" escrito por José Pedro Castanheira, 3ª. Edição de Junho de 1995, Relógio D’Água Editores, na sua página 152 onde se pode ler que em Dezembro de 1972, um mês antes de morrer, Amílcar Cabral recebeu em Conacri uma visita (um infiltrado da PIDE) a quem mostrou especialmente dois carros blindados chegados recentemente e guardados no quartel guineense de Camp Alpha Yaya, um com lagartas e outro com rodas de borracha como faz notar “Alfa”. No porto estavam ancoradas três vedetas recebidas há pouco tempo.
Ainda no que diz respeito às armas novas que foram sendo fornecidas ao PAIGC, devo dizer que no dia 25 de Abril de 1974, Pirada foi flagelada com foguetões durante três horas e logo depois foi instalada em Pirada uma bateria anti-aérea, porque nessa altura se pensava que em breve seríamos bombardeados por aviões vindos de bases no Senegal.
A verdade é que durante as últimas noites que passámos em Copá, em Janeiro de 1974, fomos sobrevoados duas ou três vezes por uma aeronave que não respondia as nossas transmissões, mas de concreto nunca chegámos a saber de que se tratava.
Quanto ao alferes que é preso e reaparece, devo esclarecer o seguinte:
No dia 7 de Janeiro de 1974, a guarnição de Copá era constituída pelo 4º. Pelotão da 1ª. Companhia do BCav 8323 formado por 27 militares europeus e um pelotão de africanos comandado por um alferes e um furriel brancos, num total de 25 homens.
Esta guarnição estava instalada em 7 abrigos e respectivas trincheiras.
As armas existentes em Copá nessa data eram as nossas G3, uma metralhadora Breda montada num tripé, uma HK 21, um lança granadas foguete, um morteiro 81, um morteiro 60 e granadas de mão.
O poderio de fogo, de meios e julgo que também de homens do PAIGC nessa noite de 7 de Janeiro de 1974 era bastante superior ao nosso. Desconheço a verdadeira razão porque acabaram por se retirar ao fim de uma hora e cinco minutos, mas em minha opinião, e sem me querer armar em herói, julgo que foi devido à nossa forte reacção e termos-lhes causado feridos e mortos, como pudemos confirmar no dia seguinte junto do nosso arame farpado.
No dia 7 de Janeiro, durante a flagelação da tarde com morteiros 120 que durou cinco horas e vinte minutos e o ataque ao destacamento a partir da meia noite, a população de Copá e todos os elementos africanos do respectivo pelotão desertaram e fugiram, muitos deles em direcção do Senegal e o último a fugir foi o Demba, um dos cabos africanos desse pelotão que cerca das 0,30 h, vindo do abrigo do comando e transmissões, ao passar pelo abrigo n.º 7, onde eu me encontrava, nos disse que o alferes já estava preso e nós não tínhamos como confirmar isso pois nesse momento estávamos debaixo de fogo intenso e o nosso abrigo ficava distante, do lado oposto ao do comando. Mas passados poucos minutos, o alferes gritou como era seu hábito, a perguntar se estava tudo vivo e aí percebemos que ele não estava preso nem nunca chegou a estar. E nós estávamos todos bem vivos. Espero que com este esclarecimento não fique qualquer dúvida sobre este ponto.
Relativamente ao morteiro 81 lançar granadas fora do tripé, não foi caso único, tenho conhecimento de várias situações que foram relatadas onde isso aconteceu. Eu também não estava junto do morteiro 81 que em Copá foi uma das nossas principais armas de defesa, porque estava instalado num outro abrigo, o nº. 3, mas acredito no relato do meu camarada artilheiro Francisco Vaz Gonçalves que nos disse que actuou dessa forma para tirar o melhor partido da arma porque a distância a que estava o inimigo era muito curta e ele tinha de fazer fogo com o morteiro quase aprumado.
Se as granadas de morteiro 60 fizeram ou não recuar o blindado, também não posso garantir, mas o que posso afirmar, porque a cena se passa à minha frente é que foi a partir do início da nossa reacção com o morteiro 60 sobre o blindado que o inimigo começou a retirar e a partir daí começa o fim do ataque.
Quanto à luta corpo a corpo, ela não existiu mas eu também não escrevi isso em parte nenhuma do livro, digo sim que a luta era quase corpo a corpo porque alguns dos meus camaradas em certos momentos chegaram a estar a uma distância de 10 a 15 metros do inimigo.
Os jornalistas podem e têm todo o direito de investigarem o que quiserem, mas para contar a verdade terão de falar e informar-se com quem esteve e viveu esses dias de inferno em Copá.
Relativamente à ideia de se publicar uma 2.ª edição do meu livro com o meu nome (porque fui eu que o escrevi e não o Benigno Fernando) agradeço a todos os camaradas que se manifestaram nesse sentido, o que mais uma vez muito me sensibilizou e agradeço tal disponibilidade, mas acho que não vale a pena estar a criar mais polémicas com o livro. De resto, logo na altura da publicação pelo Benigno Fernando, tive oportunidade de o confrontar e de lhe dizer cara a cara que ele se tinha limitado praticamente a copiar o que eu escrevi e lhe forneci.
De qualquer forma, essa publicação pelo Benigno teve pelo menos o condão de ter dado a conhecer estas histórias a muitas mais pessoas, inclusive já cheguei a ver e ouvir ler uma passagem do livro num programa de televisão. Doutro modo, isto teria ficado pelo meu círculo de amigos, mais os camaradas do BCav 8323.
Esperando ter esclarecido algumas dúvidas, aqui deixo um abraço amigo para todos.
António Rodrigues,
ex-combatente em Copá,
18/11/73 a 12/02/74.
2. Comentário de CV:
Está formalmente apresentado à Tertúlia o nosso camarada António Rodrigues, autor moral do livro de Benigno Fernando, "O Princípio do Fim".
O destacamento de Copá, abandonado em meados de Fevereiro de 1974, era um local problemático, onde não havia população e a tropa era constantemente flagelada pelo PAIGC. Ainda hoje se pergunta por que não houve um ataque final e consequente aprisionamento dos militares que compunham a guarnição.
António Rodrigues, descreve, como ninguém, esta situação.
As pessoas podem consultar os postes abaixo indicados para fazerem uma pequena ideia do sofrimento a que foi sujeito aquele pequeno grupo de militares desterrado em Copá.
O António Rodrigues, sempre que queira, pode enviar para o nosso Blogue a descrição das suas memórias correspondentes àqueles conturbados tempos.
__________
Notas dos Editores:
(*) Vd. poste de 7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3995: Os bravos de Copá e um caso de... 'abuso de confiança' (António Graça de Abreu / António Rodrigues)
Sobre Copá, vd. postes de:
11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)
28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda
28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste
Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)
27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)
30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)
13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
Guiné 63/74 - P4405: Em busca de... (75): Contactos de camaradas e familiares de camaradas falecidos da CCAÇ 727 (Cabo Escriturário da CCAÇ 727)
1. Mensagem de 13 de Setembro de 2008 de alguém que não se identifica correctamente:
Companhia de Caçadores 727 (Guiné 64 -66)
Telemóvel 914101833
Outro dia (pp), em casa de uns amigos, observei numa página mantida por Luís Graça, Professor da Universidade Nova de Lisboa, algo que deixou fascinado.
Tratava-se de uma "Pedra" de Campa, onde podia ler-se o nome e o número de um militar que pertenceu à CCAÇ 727, que combateu na Guiné de 1964 a 1966.
Anastácio Vieira Domingos
Soldado 688/64 – Faleceu a 13-12-64
Talhão Militar/Cemitério Municipal(Bissau) Campa 1271
Nos dados relativos a mortos que eu tenho, realmente coincide com o que vi na internet.
Gostaria de saber mais notícias acerca de outros camaradas que tombaram lá na Guiné que pertenciam à CCAÇ 727 e que eu também pertenci, desempenhado as funções de "Escriturário".
Alferes Miliciano – António Angelino Teixeira Xavier
1.º Cabo – 708/64 – Avelino Martins Antunes
1.º Cabo – 707/64 – Leonel Guerreiro Francisco
Soldado – 819/64 – António Joaquim Graça Viegas
Soldado – 749/64 – José Maximiano Duarte
Estes militares juntamente com outros 2 (dois) (que já tenho informações pormenorizadas) tombaram a 30/1/65.
Soldado 775/64 Filipe Rosa Camacho (tombou a 4/7/65)
1.º Cabo 689/64 António Dias Martins (tombou a 8/6/65)
1.º Cabo 691/64 Manuel Gertrudes Guerreiro (tombou a 9/5/66)
Soldado 1270/64 Manuel J.S. Martins (tombou a 11/5/66)
Procuro familiares, ou contactos, dos nomes acima transcritos.
Cabo escritas (CCAÇ 727)
Telm: 914101833
2. Graças a prestimosa colaboração do nosso tertuliano José Marcelino Martins, pudemos elaborar este trabalho àcerca da CCAÇ 727, que se não ajudar o nosso peticionário, pelo menos enriquece os nosso espólio biográfico.
Companhia de Caçadores n.º 727 - Guiné 1964/66
Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do Capitão de Infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos, embarca para a Guiné em 6 de Outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.
Permanece no Sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de Novembro um Pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.
Segue em 5 de Dezembro de 1964 para Nova Lamego, como Unidade de intervenção e reserva do Sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.
Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche. Tomou parte em Operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de Janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também a lamentar sete mortos nas NT.
Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de Fevereiro de 1965.
Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um Pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do Subsector de Canquelifá, criado em 25 de Fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.
Entre 25 de Fevereiro e 20 de Maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de Maio e 22 de Agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.
Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de Agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do Subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.
A 5 de Agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois Pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à Metrópole em 7 de Agosto de 1966
Tombaram em campanha
Por doença (difteria)
08DEZ64 - António Caeiro Combadão, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Évora.
13DEZ64 - António Henriques Oliveira Marques, Fur Mil At Inf.ª, N.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1270.
13DEZ64 - Anastácio Vieira Domingos, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.
No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512 [sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha], é montada por um Pelotão daquela CCaç 727 acantonado [desde 18Nov64] em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:
António Angelino Teixeira Xavier, Alf Mil Inf, N.º 60-I-3064, Comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no Cemitério de Carrazeda de Montenegro.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.
António Joaquim da Graça Viegas, Soldado Atirador, N.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Avelino António Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canâno, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Domingos Moreira Leite, Fur Mil Op Esp, N.º 1714/63, Comandante de Secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.
José Maximiano Duarte, Soldado Atirador, N.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.
José Pires da Cruz, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela Subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:
António Custódio Coelho, 1.º Cabo Apontador de Morteiro, N.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.
António Dias Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.
No domingo 04Jul65, no Subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:
Adelino Castanheira Dias, Soldado Atirador, N.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
Filipe Rosa Camacho, Soldado Atirador, N.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
Francisco João Beirão, 1.º Cabo de Armas Pesadas, N.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:
Mamadu Said Jaló, Soldado Atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1884.
Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:
Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º Cabo Atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.
Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:
Manuel Joaquim de Sousa Martins, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.
Contactos (apenas um localizado):
Virgílio João dos Santos
SETÚBAL
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4399: Em busca de... (74): O caboverdiano Leão Lopes, meu antigo camarada de Bambadinca, BENG 447, 1970/72 (Benjamim Durães)
Companhia de Caçadores 727 (Guiné 64 -66)
Telemóvel 914101833
Outro dia (pp), em casa de uns amigos, observei numa página mantida por Luís Graça, Professor da Universidade Nova de Lisboa, algo que deixou fascinado.
Tratava-se de uma "Pedra" de Campa, onde podia ler-se o nome e o número de um militar que pertenceu à CCAÇ 727, que combateu na Guiné de 1964 a 1966.
Anastácio Vieira Domingos
Soldado 688/64 – Faleceu a 13-12-64
Talhão Militar/Cemitério Municipal(Bissau) Campa 1271
Nos dados relativos a mortos que eu tenho, realmente coincide com o que vi na internet.
Gostaria de saber mais notícias acerca de outros camaradas que tombaram lá na Guiné que pertenciam à CCAÇ 727 e que eu também pertenci, desempenhado as funções de "Escriturário".
Alferes Miliciano – António Angelino Teixeira Xavier
1.º Cabo – 708/64 – Avelino Martins Antunes
1.º Cabo – 707/64 – Leonel Guerreiro Francisco
Soldado – 819/64 – António Joaquim Graça Viegas
Soldado – 749/64 – José Maximiano Duarte
Estes militares juntamente com outros 2 (dois) (que já tenho informações pormenorizadas) tombaram a 30/1/65.
Soldado 775/64 Filipe Rosa Camacho (tombou a 4/7/65)
1.º Cabo 689/64 António Dias Martins (tombou a 8/6/65)
1.º Cabo 691/64 Manuel Gertrudes Guerreiro (tombou a 9/5/66)
Soldado 1270/64 Manuel J.S. Martins (tombou a 11/5/66)
Procuro familiares, ou contactos, dos nomes acima transcritos.
Cabo escritas (CCAÇ 727)
Telm: 914101833
2. Graças a prestimosa colaboração do nosso tertuliano José Marcelino Martins, pudemos elaborar este trabalho àcerca da CCAÇ 727, que se não ajudar o nosso peticionário, pelo menos enriquece os nosso espólio biográfico.
Companhia de Caçadores n.º 727 - Guiné 1964/66
Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do Capitão de Infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos, embarca para a Guiné em 6 de Outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.
Permanece no Sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de Novembro um Pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.
Segue em 5 de Dezembro de 1964 para Nova Lamego, como Unidade de intervenção e reserva do Sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.
Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche. Tomou parte em Operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de Janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também a lamentar sete mortos nas NT.
Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de Fevereiro de 1965.
Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um Pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do Subsector de Canquelifá, criado em 25 de Fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.
Entre 25 de Fevereiro e 20 de Maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de Maio e 22 de Agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.
Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de Agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do Subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.
A 5 de Agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois Pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à Metrópole em 7 de Agosto de 1966
Tombaram em campanha
Por doença (difteria)
08DEZ64 - António Caeiro Combadão, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Évora.
13DEZ64 - António Henriques Oliveira Marques, Fur Mil At Inf.ª, N.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1270.
13DEZ64 - Anastácio Vieira Domingos, Soldado Apontador de Metralhadora, N.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.
No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512 [sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha], é montada por um Pelotão daquela CCaç 727 acantonado [desde 18Nov64] em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:
António Angelino Teixeira Xavier, Alf Mil Inf, N.º 60-I-3064, Comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no Cemitério de Carrazeda de Montenegro.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.
António Joaquim da Graça Viegas, Soldado Atirador, N.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Avelino António Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canâno, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Domingos Moreira Leite, Fur Mil Op Esp, N.º 1714/63, Comandante de Secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.
Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.
José Maximiano Duarte, Soldado Atirador, N.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.
José Pires da Cruz, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné
Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela Subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:
António Custódio Coelho, 1.º Cabo Apontador de Morteiro, N.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.
António Dias Martins, 1.º Cabo Atirador, N.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.
No domingo 04Jul65, no Subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:
Adelino Castanheira Dias, Soldado Atirador, N.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
Filipe Rosa Camacho, Soldado Atirador, N.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
Francisco João Beirão, 1.º Cabo de Armas Pesadas, N.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.
No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:
Mamadu Said Jaló, Soldado Atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1884.
Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:
Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º Cabo Atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.
Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:
Manuel Joaquim de Sousa Martins, Soldado Condutor Auto Rodas, N.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.
Contactos (apenas um localizado):
Virgílio João dos Santos
SETÚBAL
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4399: Em busca de... (74): O caboverdiano Leão Lopes, meu antigo camarada de Bambadinca, BENG 447, 1970/72 (Benjamim Durães)
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