sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7532: Facebook...ando (5): Natal de 1971 entre os felupes: Delfim Rodrigues (ex-1º Cabo Enf, CCAV 3366, Susana e Varela, 1971/73)



Foto reproduzida, com a devida vénia, da página do Facebook do nosso camarigo Delfim Rodrigues, que em em 27 de Outubro de 2007 se apresentou nestes termos à nossa Tabanca Grande


(...) "Chamo-me Delfim Rodrigues e fui 1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem na CCAV 3366 do BCAV 3846 que esteve em Suzana e Varela em 1971/73.

Amanhã vou estar na estreia do filme "As duas faces da guerra" (1) na Culturgest pois consegui que me comprassem um bilhete.

Apesar de não ter ainda pedido a minha entrada na Tertúlia, gostaria de vos conhecer pois estarei sozinho deslocando-me de Coimbra onde moro.

Gostaria de entrar para a tertúlia, mas ainda não tenho as fotos digitalizadas, se me aceitarem, enviá-las-ei mais tarde!

 
1.º Cabo Aux de Enfermagem
CCAV 3366/BCAV 3846
Delfim Rodrigues
 (...)



O Delfim, que conviveu com o povo felupe (e esteve nomeadamente destacado em Varela, com o Pel Caç Nat 60) tal como o nosso camarigo Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms da mesma companhia, a CCAV 3366 (que já nos deixou aqui notáveis páginas sobre a etnografia dos felupes), o Defim Rodrigues, dizia,  disponibilizou na sua página do Facebook mais de 130 fotos do seu álfum fotográfico do tempo das Guiné (1971/3), de qualidade  desigual, incluindo estas três, da  famosa Praia de Varela, nas águas do Atântico duas das quais com putos, nas rochas na mariscagem como na minha terra ("apanha de lagostas", diz a legenda, mas devem ser camarões ou lagostins, já que as lagostas preferem andar em bicha de pirilau no fundo do mar...). Mas o nosso querido Pepito, que tem lá casa de praia desde os anos 50 do Séc. passado, deve saber melhor do que eu completar a legenda do Delfim (a quem estamos gatos por estas fotos... prometidas há 3 anos!).




Fotos: © Delfim Rodrigues (2010). Todos os  direitos reservados. (Imagens editadas e reproduzidas por L.G., com a devida vénia...)
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Nota de L.G.:

Último poste da série 

29 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7522: Facebook...ando (4): O nosso camarigo Francisco Palma, em Canquelifá (CCAV 2748, 1970/72)

Guiné 63/74 - P7531: (Ex)citações (123): Há os camaradas, os amigos, os camarigos... (José Manuel Dinis / Luís Graça)


Um aprendiz de sniper na floresta de Candoz...

Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados.



O temo sniper, abaixo utilizado pelo Zé Dinis, só pode ser entendido em sentido figurado, claro está... É uma liberdade literária, que corre no entanto o risco ser mal interpretada... Mas esses são os eternmos problemas da comunicação humana...

O nosso o blogue é público e é de... borla (embora tenha custos directos, indirectos e ocultos,  é bom que se saiba)... Ninguém paga um tostão para ler, escrever ou comentar o blogue... Nem que fzaer que fazer parte dsa Tabanca Grande... Todos, "os de fora e os de dentro",  têm o direito de manifestar, com elegância e civilidade, as suas diferenças, preferências e divergências, contar as suas memórias, cultivar os seus afectos, a respeito da Guerra da Guiné, no período grosso modo que vai de 1961 a 1974... Só não há lugar aqui para os ódios de estimação... E julgo que ninguém, no blogue, cultiva ódios de estimação...e muito menos resolve a tiro... as diferenças de opinião ou de interpretação dos factos.

O meu apelo para 2011 só pode ser este: Camaradas, amigos, camaridos, leitores, visitantes (regulares ou ocasiaonais) deste espaço da blogosfera,  vamos ser mais mais tolerantes, cordatos, imaginativos, criativos e sobretudo mais participativos... Mas também, meus queridos editores, conselheiros, colaboradores, autores e comentadores, vamos ter que ser mais inflexíveis, em 2011,  no que diz respeito ao... respeito das nossas regras de convívio... Vamos evitar expressões, palavras ou termos que podem ser ser mal interpretados... Sniper, por exemplo, pode ser uma delas... De preferência ponha-nas em itálico, ou usem-nas com pontinhos, quando usarem a linguagem de caserna: f... ou p... ou c... (É que queremos que os nossos netos e bisnetos nos leiam...).

Em 23 de Abril de 2011, o nosso blogue fará 7 anos.  Obrigados aos amigos e amigas, bem como aos ex-camaradas de armas que nos felicitaram, por estes dias, não tanto pela obra feita, como sobretudo pela multiplicação das tabancas por este país, como a de Matosinhos, por exemplo, aqui no Norte, e sobretudo pela oportunidade, através do blogue e de múltiplas iniciativas (dos múltiplos blogues, páginas na Net e no Facebook) para,  ao alcance de um clique ou à distância de um braço, à mesa de um restaurante ou de uma esplanada, podermos (re)unir-nos, (re)conhecer-nos, (re)encontrar-nos,  sermos solidários uns com os outros e com o povo da Guiné-Bissau, identificar a peça do puzzle do que faltava na nossa memória, confirmar a data da emboscada em que perdemos o nosso melhor amigo,  partilhar a foto da bajuda que suavizou a nossa solidão, ajudar a fazer ou aliviar o luto (patológico) que ainda atinge milhares de famílias que perderam os seus entes queridos na guerra do ultramar, revisitar a aldeia  onde reforçámos a autodefesa e fomos recebidos com o melhor que os aldeões nos tinham para dar, o bu...rako  onde onde estivemos enterrados (como tupeiras ou ratos), o sítio onde demos e levámos manga de porrada, enfim reler com outros olhos os aerogramas e cartas que (não) mandávamos para casa, as notas que escrevemos nos nossos pequenos diários, os trilhos onde deixámos sangue, suor e lágrimas, as minas que pisámos, que levantámos, que nos estropiaram... mas também os momentos de festa, de amizade, de camaradagem, de camarigagem, como dizemos agora (o termo é do Joaquim Mexia Alves), e ainda os momentos, de  loucura, de bravata, de coragem, de aprendizagem, de nobreza, de humanidade...

O blogue foi feito para unir pontas, desatar nó, construir pontes, cambar rios, e também valorizar o grande sacrifício humano (e  respeitar a sua memória) de toda uma geração, a nossa que combateu, um lado e mas também do outro...

Confesso que nem sempre tem sido fácil... Não é fácil esquecer, não é fácil perdoar, não é fácil expor em público os sentimentos mais íntimos que ainda hoje estão associados àquela terra e àquela guerra... Mas tenhamos algum orgulho num blogue que consegue, a maior parte das vezes, unir muitas pessoas da nossa geração, independentemente do que eram e do que são...

É um blogue que é  (ou pretende ser)  contra o pensamento único, e que não está ao serviço de ninguém, a não ser dos combatentes que fizeram a guerra e das vítimas que a sofreram... Não sei, caros leitores,  quando o blogue acaba (fisicamente...), a guerra,  essa,  vai acabando à medida que formos morrendo de um lado e do outro... Este ano, por exemplo, foram sete os camaradas que nos deixaram... Sem eles, a nossa Tabanca Grande ficou mais pobre e mais triste...

Recorde-se, por outro lado, alguns números do nosso bogue:  em finais de Maio de 2006 (fim da I Série, e abertura do actual blogue, ou II Série), mal ultrapassávamos as vinte e tal mil visitas e a centena de membros registados (na altura usávamos  o termo tertulianos)... No ano a seguir, em Outubro de 2007, chegámos às 400 mil visitas, e às 800 mil em Outubro de 2008... O milhão de visualizações foi atingido em Fevereiro de 2009, o 1,4 milhões em Dezembro de 2009 e os 1,7 milhões em Maio de 2010, quando pusemos o contador Bravenet


Estamos a agora a caminho das 2,3 visualizações de páginas... Somos 464 "tabanqueiros" registados, não conseguimos chegar à meta dos 500, mas lá chegaremos, sem pressas... São números que valem o que valem... Simpáticos, sem dúvida, mas  que em contrapartida nos criam a todos nós, editores, colaboradores, apoiantes, autores, leitores... uma acrescida responsabilidade.  Há muita gente que nos lê e que todos os dias espera mais e melhor... Como fundador, administrador e editor de um blogue (que é feito a muitas mãos), não posso nem devo ser juiz em causa própria: atrever-me-ia, no entanto, a dizer que devemos ter uma pontinha de orgulho também pela obra feita e sobretudo pela cultura de tolerância e de convivialidade que temos vindo a construir...


Espero que continuemos a  ser, ontem, hoje e amanhã, sobretudo leais e frontais uns com os outros, na diversidade que é também a nossa riqueza: é, de resto,  a lealdade e a frontalidade, o que se espera de um camarada, é o que que se exige de um amigo, e por mais razão ainda é o que define verdadeiramente um camarigo... Lealdade não é unanimismo, nem seguidisimo, nem hipocrisia; e frontalidade é assertividade, é sermos capazes de falar para os outros,  olhos nos olhos, sem recurso à picardia, difamação, insulto ou insinuação...(LG).




1. Mensagem pré-natalícia do nosso camarigo José Manuel Matos Dinis, com data que o para o caso já não interessa, porque passou a ser intemporal:

Olá juventude, boa noite!

Ligo o computador e leio estas mensagens. Antes do mais, quero agradecer-vos a confiança que em mim depositam, e espero continuar a merecer. Hoje de manhã fiz um comentário sobre o que me parece ser o busílis. Se me permitem, vou passar adiante sobre o texto original do Eduardo, a resposta do Vasco, as preocupações do Torcato e do Zé Brás.

Acredito que terá havido erros, quer de transmissão, quer de recepção. Mas não posso dissociá-los de algumas intervenções mais ou menos acutilantes que têm preenchido linhas e páginas do blogue. Eu também sou emotivo. Provavelmente, já me excedi e terei suscitado algumas reticências da vossa parte, que terão tido a gentileza de não retrucar. Quero dizer-vos que essas minhas atitudes terão resultado de algum cansaço. Cansaço de provocações. Lá está, o efeito da escrita!

Também sei que, em qualquer grupo, há diferentes personalidades, uns mais tranquilos, outros mais exaltados; uns que guardam o seu saber, outros que se espalham em aleivosias; uns coerentes, outros incoerentes, enfim, reunidos num caleidoscópio que oferece oportunidade para narrarmos e falarmos de experiências e aprendermos ou colhermos informações sobre a Guiné.

Não vou pelos heroísmos, que alguns relatam com maior ou menor sobriedade, mas refiro-me aos vedetismos e às tricas. Por isso, no tal comentário, propunha alguma contenção e cuidado no discurso escrito. Temos entre nós um camarada que se farta de apresentar trabalho, e adoptou uma posição de quase outsider, provavelmente para não alimentar polémicas. E tem-se aguentado. Já pensei adoptar a mesma atitude, acabar a história da minha CCaç e arrumar as botas até alguma inspiração. Mas é-me difícil, pois grangeei amizades entre os participantes e, com mais ou menos discernimento tenho-me aguentado.

De facto, temos que distinguir no blogue, aqueles que dão um contributo positivo pelas suas intervenções, ora pela qualidade literária, ora pela riqueza argumentada, ou pela qualidade da investigação e interesse colectivo da informação transmitida, até pelo humor ou pelo sentimento aglutinadores. Felizmente, que temos entre nós gente de qualidade, apesar do diferentes pontos de vista. O pior são os snipers.

Para estes, proponho-vos que os deixemos intervir, mesmo quando nos criticam, sem responder a provocações, porque trata-se de gente que gosta, por um lado, da polémica pela polémica; por outro, de se sentirem acarinhados pelo elogio. 

Concluí que não dá para reflectirem sobre os seus comportamentos e provocações. Mas, em sociedade temos que conviver, e aprendemos a evitar quem nos desagrada. Façamos o esforço de não fazermos ataques pessoais, porque, pela experiência, só podem redundar em cansaço.

Não sei se transmiti alguma ideia aproveitável, mas faço seguir o texto sem o reler. Sejam indulgentes comigo.

Abraços fraternos
JD

Guiné 63/74 - P7530: Memórias de outros tempos (6): Passados mais de 42 anos (Jorge Teixeira - Portojo)

1. O nosso Camarada Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, enviou-nos em 30 de Dezembro de 2010, a seguinte mensagem:
 

Caros camarigos,
Entre baixas e férias, resolvi dirigir-me aos três por ser mais seguro, melhor, segura, a possível publicação do texto e foto abaixo.
Então cá vai:

Catió, meados de Maio de 1968.
Era eu um periquito ainda só de penugem, quando conheci, acabado de chegar de férias, o Silva da CART 1689, já sagui velho.
Passados mais de 42 anos, encontramo-nos aqui na Tabanca e temos trocado desde então uns mimos escritos.
Tínhamos mais ou menos aprazado um encontro para um futuro breve.
Pedi-lhe para quando isso acontecesse, trazer um letreiro com o nome para o reconhecer.
Mas sem mais nem menos, o Silva apareceu ontem na Tabanca de Matosinhos, onde no final do repasto, um camarada me chamou (por causa de Catió) e apresentou-nos. Olá como vais, mas nada de reconhecer o Silva, até que uma chispa saltou.
E pronto, mais um reencontro, à custa das Tabancas.

Aqui fica a foto comemorativa, superiormente obtida pelo Luís Graça.

Então aqui vai juntamente um abraço para todo o pessoal e desejos de Bom Ano.
Jorge (Portojo)
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de 18 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6422: Memórias de outros tempos (5): O Básico que queria fazer um ronco (Jorge Teixeira / Portojo)

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7529: Blogpoesia (99): Formigas bagabaga; mosquitos; caranguejos; porcos formigueiros... (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 25 de Dezembro de 2010:

Carlos,
Aqui vai mais um grupo de sextilhas(oito) subordinadas ao tema acima referenciado.
Se as entenderes como editáveis, força.

abraço
manuelmaia


Formigas bagabaga; mosquitos; caranguejos; porcos formigueiros...

Formiga branca, térmite, salalé,
chamada bagabaga na Guiné,
de nome igual, "produz" monte de terra...
Solidifica o dito com saliva,
que ajuda o tropa em hora aflitiva
escudo protector naquela guerra...

Maldito era o mosquito sugador
de sangue e de doença transmissor
mau grado a bem cuidada protecção...
Com cachecol e luvas malha/lã,
um gorro de Balanta/Bissorã
pensando estar seguro, vi que não...

Inchaço/vermelhão foi resultado
após perfuração no emalhado
que a fêmea mosquiteira produziu...
Enorme era a coceira então sentida,
espalhado foi "veneno" que à partida,
vacina protectora lá impediu...

As pinças caranguejo/azulado,
denominadas bocas são achado,
p`ras petisqueiras Dugal e Fatim...
Ao preço de mijona uva de cor,
a que uns chamam jaqué, outros primor,
com geladinha loira são festim...

Ao fim da tarde, já com menos sol,
a congregar interesses, futebol,
a malta vai mantendo o bom moral...
São jogos intergrupos que acicatam,
as picardias sãs mas que não matam
a união Terrível em geral...

Em noite escura/breu, eu dei por mim,
saindo lá do Dugal p`ra Fatim,
por Dias e mais quatro acompanhado...
A meio do trajecto, eis que atravessa,
na frente de Unimog enorme peça,
deixando o condutor atarantado...

Francisco disparou, em movimento,
de seis acertou cinquenta por cento,
no peito, na barriga e no traseiro...
Refeitos da surpresa, procuramos
o animal ferido e encontramos,
agonizante porco formigueiro...

Dois dias durou dito em patuscada,
com carne, uma cozida outra grelhada,
de qualidade ao nível das melhores...
"Barriga de misérias" foi tirada,
com febra de manhã e p`la noitada,
rojões às refeições ditas maiores...
__________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P7523: Blogpoesia (98): Cafal-Balanta antes de aramar (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7528: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (9): O dia no Xitole e o regresso a Finete


1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2010:

Malta,
Espero que quem tenha vivido no Xitole venha participar na descodificação das imagens captadas neste dia. Até agora não se encontrou nada tão bem conservado.
O Xitole merecia um projecto da recuperação, em nome da memória de todos nós que ali combatemos. Vamos ver se a ideia pega.

Um abraço do
Mário



Operação Tangomau (9)

Beja Santos

O dia no Xitole e o regresso a Finete

1. O Tangomau levanta-se cedo, a sua preocupação é contemplar o nascer e o capitular do dia, captar as cambiantes de luz, ouvir as vozes dos humanos e as sonoridades da fauna, impressionar-se com aquela bola de fogo que desaparece no horizonte como avião bombardeiro incendiado a despenhar-se na grande e maciça floresta. O dia de hoje era suposto prolongar o de ontem, continuar-se no Cuor. É indispensável espiolhar Finete, falhar com o chefe de tabanca, mesmo que pareça surrealista perguntar-lhe se ele cede terreno para que o anarca Jorge Cabral ali construa uma casa. E para que as peripécias ganhem sumo, pedir orçamento a quem de direito, não basta fazer contas a tijolos de adobe, chapa zincada, ripas de cibe para o travejamento, divisórias para os quartos, cozinha e casa de banho, há que pensar que o glorioso antigo comandante do Pel Caç Nat 63 terá uma cozinha, pisará lajedo, é admissível o conforto de um gerador. Por ora nada mais, quanto a Finete. Mas há Madina de Gabiel, Sansão, Maná e Canturé. Afinal, o Tangomau rende-se ao que o homem grande Fodé Dahaba decidiu, vai-se ao Xitole. Antes, fazem-se compras para o Bairro Joli e acolhem-se surpresas. A primeira, é receber a visita da família de Quebá Soncó, o primogénito do régulo Malã Soncó. Faustosas, apresentam-se Nhali Cassamá e Bantã Aiderá, Nhali estava na bolanha quando o Tangomau visitou Missirá. Fanta, a outra mulher de Quebá, está em Bissau. Falou-se do passado e das amarguras do presente. Nhali sabe que o filho Bacari telefona regularmente de Saragoça para o Tangomau, Nhali pede um presente muito especial ao filho, um telemóvel, toda a gente já tem telemóvel menos ela…

Bantã à esquerda, Nhali à direita, à porta da casa de Fodé Dahaba. Enquanto fomos ao Xitole, elas passaram o dia com Aidjá. Não podiam adivinhar que no dia seguinte o Tangomau iria aparecer de motocicleta em Missirá, vindo de Canturé e Maná. Passou de raspão em Canturé, haverá depois uma visita com pompa e circunstância, ali ia morrendo numa mina anticarro e Canturé é local muito belo, um quase obrigatório ponto de passagem para ir para Mato de Cão ou Finete.


2. Sai-se do Bambadincazinho e o Tangomau teve a vaga reminiscência das colunas de abastecimento ao Xitole. No interior do carro de combate cresce uma gritaria infernal, a comitiva de antigos combatentes rememora episódios de idas ao Cossé e ao Xitole. O importante é que depois de Samba Juli se vai em direcção a Cambessé, ali Dauda Seidi preparou a recepção. Lamentavelmente, perderam-se as duas imagens do evento, uma delas com a família do Dauda, chefe de tabanca e homens grandes.

O que mais impressiona em Dauda Seidi é que parece que o envelhecimento estar centrado nas linhas acentuadas do rosto e no esbranquiçado da barba. O resto, é o mesmo Dauda de há 40 anos, bastou dizer-lhe: “Não te mexas!”, Ei-lo hirto com a sua majestade natural. Parece que com os reis disfarçados de povo é sempre assim.


3. De Cambessé, o carro de combate dirigiu-se para Sinchã Indjai, a tabaca de Albino Amadu Baldé. Chegou o momento de um desabafo muito íntimo: o Tangomau deve-lhe muito, era ele que fazia a gestão efectiva do pelotão de milícias de Missirá. Possui uma comunicação fluída, é um português com as sílabas descascadas, sem nenhum travo do crioulo. Sempre possuiu um olhar místico, de quem regularmente fala com Deus. Era pragmático, jovial, tinha sido professor e educado por missionários. O Tangomau chorou convulsivamente quando se apercebeu da vida miserável que ele leva e a discrição com que esconde os revezes da vida. Levou-lhe livros e escreveu mesmo uma dedicatória muito especial: “Ao Albino, um irmão do coração, da solidariedade de Missirá, a minha dívida não tem fim e a admiração é inesgotável”. Como é habitual nestes eventos, primeiro saúdam-se os homens grandes e a autoridade, a seguir os camaradas reúnem-se com o anfitrião. Inevitavelmente, Fodé discursou, Mamadu Djau pôs-se a seu lado. Albino olha-nos como se estivesse estado todos estes anos à espera de uma justa reparação ou da minha visita.

“Sabia que me trazias livros, mesmo com muita dificuldade, encontro nas leituras o meu alimento preferido. Arranja maneira de me mandar mais livros. Eu prometo escrever-te. Desculpa se te pedir ajuda, tudo é muito difícil, não tenho mais ninguém a quem pedir ajuda”. À despedida, o Tangomau beijou-lhe a testa e ele respondeu: “Domingo vou passar o dia contigo, meu irmão”.


4. É um prazer inexcedível conversar com Albino Amadu Baldé. Ele tem sempre resposta para tudo o que intriga o Tangomau. Do género: “Quando eu digo mãezinha, estou a falar da irmã da mãe que me pariu”; “Está descansado, hei-de descobrir os dois Ieró Djaló, vivem muito longe, vou mandar mensagem”; “Pode-se escrever que o régulo de Taibatá era Carfala Baldé, confirmo que Cherno Baldé era o comandante do pelotão de Demba Taco e o comandante da milícia de Amedalai Mamadu Baldé, todos já morreram”; “Sim, Abás Jamanca era sargento das milícias de Finete, depois da guerra foi viver para Galomaro, desapareceu, tens de ver que depois da guerra procurámos reconstruir as nossas vidas, fomos para as tabancas das mulheres ou dos irmãos, ali tínhamos paz e não fomos perseguidos”.

O Tangomau pediu ao Albino que se pusesse de pé, há que confessar que ao menos se devia ter esperado que Fodé Dahaba tirasse a mão do olho, paciência, salva-se a espontaneidade do momento. Este é um dilecto amigo martirizado, o Tangomau já suspira por domingo, têm tanta coisa para conversar…


5. A próxima etapa é o Xitole. Preparem-se, aqui não se estragou nem uma só fotografia. O que se lamenta é que o guia não identificou claramente todas as instalações visitadas. Ao que parece, o que a imagem regista terá sido uma instalação do comando. Dignidade não lhe falta. O que o Tangomau logo recordou, assim que pôs os pés em terra, foi o ritual da coluna vinda de Bambadinca a chegar ao Xitole, a cabeça da coluna logo se posicionava para o regresso e este edifício foi rapidamente relembrado.

O que o Tangomau mais gosta é o haver na edificação qualquer coisa na casa portuguesa. Mas também qualquer coisa que a memória gravou das vezes que se foi ao Xitole. Só faltou gritar: “O nosso capitão está aí?”.


6. Mas a mágoa vem logo a seguir, não há direito de não aproveitar este espaço, de o habitar, o Tangomau circula por um Xitole fantasma, parece que ficaram ali algumas almas do outro mundo que condenaram estes edifícios à indiferença mortal.

Terá sido caserna? Arrecadação? Ao menos aqueles que viveram no Xitole venham a terreiro e identifiquem a função deste espaço que fazia parte do destacamento. O incrível é que o edifício está telhado, mesmo vazio e sem préstimo aparente. Andava o Tangomau a deambular quando chegou uma motoreta com uma autoridade local. A conversa foi cómica, a autoridade nada sabia sobre o local, parece que o Xitole está à espera que tudo isto apodreça.


7. Súbito, Calilo Dahaba grita: “Velho, parece que está aqui uma daquelas coisas que andas à procura!”. Temos finalmente sinal de vida, uma inscrição da CCaç 1551. Isto facilita as coisas. Quem pertenceu à CCaç 1551 que se apresente e fale, as imagens vão dar vida e cor às suas memórias. Do lado do visitante, ponto final.

Foi um trolha que, à semelhança dos construtores das catedrais da Idade Média, deixou este sinal incisivo para a posteridade, à entrada de uma porta. Não se encontrará no Xitole outra marca parecida.


8. Prossegue a deambulação, mais um edifício do quartel. O guia é categórico: “Não sei para que servia, mas que era do quartel era”. O Tangomau está confiante, em breve vão aparecer comentários esclarecedores, talvez o comandante de companhia aqui desse despacho, nunca se sabe.

Fica-se com a ideia que há presença humana neste Xitole do passado, alguém se aproveita deste arvoredo frondoso. Há até mesmo a secreta esperança de que o Xitole poderá vir a ser recuperado, exibido como um quartel da guerra que mudou a vida a dois países. Vestígios não faltam e o Xitole já existia, já tinha importância muito antes da guerra.


9. Terá sido um refeitório, houve mesmo quem dissesse que a cozinha estava ao lado, o guia mostrou os restos de um abrigo, a pouca distância. Quem viveu no Xitole tem um imperativo de nos ajudar, a interpretar este vestígio arqueológico, o edifício já se esboroou, o desaparecimento total é uma questão de anos… ou de meses.

A Natureza é uma entidade superior, os edifícios demolem-se, apodrecem, as árvores crescem, imparáveis. Mamadu Djau comentava que era mesmo um refeitório e havia uma cozinha, o Tangomau aquiesceu.


10. Não é de mais insistir que os itinerários estão alterados, o que aqui se vê é a entrada de Canturé, hoje Gã-Turé. Neste sombreado explodiu uma mina que fez várias vítimas, uma delas mortal. Mamadu Djau reconstituiu para todos os presentes o que se tinha passado no final daquele dia 16 de Outubro de 1969. Quem vê estas fotografias não pode imaginar o tanto sofrimento havido. O Tangomau só se lembrava de Cherno Suane, que aqui desapareceu e ressurgiu. E rezou por Manuel Guerreiro Jorge, as fotografias não revelam o som dos gritos dos moribundos.

A explosão da mina anticarro deu-se exactamente no canto direito do querentim, a vedação típica feita com os caniçais. O fundo é um belo arvoredo, é uma avenida de poilões que vai até Finete. Mais bonito, mais esplendoroso, só a entrada do Enxalé, onde o Tangomau irá amanhã, antes de ir conhecer em tempo de paz Cabuca, Madina e Belel.

Perderam-se as imagens do regresso a FInete, o Tangomau di-lo abertamente, com o coração contrito. O que se perdeu: a ladeira de Finete para Canturé, com Malandim à esquerda; o registo da nova tabanca e a conversa com o actual chefe de Tabanca; a casa do Sr. Biloche, um dinâmico empreendedor e conhecido construtor civil a quem se pediu orçamento logo que o chefe de tabanca de Finete garantiu que oferecia o terreno para a casa do Jorge Cabral. Pois ficas a saber, meu estimado anarca, que a tua casinha em adobe, com uma boa cobertura de cibe e chapa zincada, as paredes interiores todas cimentadas, o chão ladrilhado, uma cozinha e uma casa de banho, pelo menos 4 janelas bem rasgadas, a porta da rua e a porta para a horta, é qualquer coisa como 5 mil euros. Depois, tens que contar com o gerador, o equipamento de cozinha e o da casa de banho, põe mais 2 ou 3 mil euros. Obviamente, tens que pensar no transporte, na governanta, na dama de companhia e no guarda-nocturno. É bem possível que vivas ali muito mais barato do que em Lisboa, com vista desafogada, a 70 quilómetros de Bafatá e a 2 horas de Bissau. O ideal é que vás escolher o terreno, marcas a data da viagem, o Sr. Biloche explicar-te-á tudo ao pormenor…


11. E assim se regressou a Bambadinca. Chegaram mais visitas, vou fotografar Califo Djau, da secção de Bacari Soncó. Ele recordou ao Tangomau um pormenor: trouxe uma carta que o coronel Mamadu Jaquité, de Madina, lhe deixara em Canturé, a anunciar que o iria matar. Curiosa é a coincidência, esteve hoje no local em que o carrasco esteve quase a praticar a execução. Calilo Dahaba apresentou ao Tangomau Lânsana Sori, um jovem da Guiné Conacri que tem motoreta e se oferece para o levar a Madina e a Belel, amanhã. Fodé Dahaba está furioso, esta independência do Tangomau é quase intolerável. Anoitece, chegou a hora de regressar ao Bairro Joli, os anfitriões querem saber sempre ao detalhe como se passou o dia. O Tangomau está excitado, Madina é o grande mito não revelado dos lugares míticos. A grande aventura está prestes a acontecer, é só uma questão de horas. E pela primeira vez na sua vida, o Tangomau vai atravessar a savana numa motocicleta.

Obrigado por teres vindo, Califo Djau. Obrigado por me teres lembrado o bilhete do coronel Mamadu Jaquité. Já tinha deixado outro bilhete na fonte de Cancumba, dizendo algo como isto: “Meu grande alferes de merda, andas a desinquietar a vida do nosso povo, vou tratar de ti. Se voltares vivo para a tua Pátria, será grande vergonha para mim. Prepara-te para o castigo. Nem Deus te salva. O meu nome é Mamadu Jaquité, fica sabendo”. O Tangomau apresentou-se no Cumeré, cerca de 20 anos depois. E fizeram uma festa, depois de se ter contado a história daqueles bilhetes: “Sr. Coronel, venho cumprimentá-lo, eu sou o alferes de merda, o de Missirá, não me matou, mas fez-nos sofrer muito. Agora venho abraça-lo”.

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
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Nota do editor

Vd. último poste da série de 27 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7511: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (8): O primeiro dia no Cuor (continuação)

Guiné 63/74 - P7527: Blogoterapia (171): Caminante no hay camino (José Brás)

1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 29 de Dezembro de 2010:

Desculpa Carlos, se te envio isto a ti.
Por um lado porque me dá isso prazer e por outro porque não vejo outro... caminho

Abraço e força para 2011
José Brás


"CAMINANTE NO HAY CAMINO"

Cego sou
...e surdo
porque passas tão perto
e não te oiço
nem vejo
fazendo o teu caminho
no poema de Machado
prolongamento
apenas
de ti próprio


Está a terminar o meu segundo ano de Blogue e como em todos os caminhos, mesmo os que abro todos os dias, caminhando como no poema, dois horizontes posso alcançar com estes olhos que deus me deu, um, real porque feito já, em folga ou duro andar, certo e concreto mas irrepetível (um rio não corre duas vezes no mesmo lugar), e outro adivinhado apenas por entre a aparência do que me mostra em frente, incerto no por fazer ainda, pouco seguro de cumprir desígnios e sonhos, mas exaltante nas suas possibilidades de andarilho e de futuro.

Dizem que importante não é a chegada mas o caminho que se faz para a alcançar. Não estando totalmente de acordo com o dito (talvez a penas de avançada idade), entendo muito bem a quem o diz e, durante anos, acho, foi o que senti e esbravejei, arriscando o pêlo tantas vezes em futilidades.

Falando do meu andar aqui na Tabanca Grande, aceitando sem dificuldades que algumas vezes fui um pouco além do que devia e, digo-o sem complexos nem renúncias, além mesmo do que eu próprio acho que podia, ainda assim, fecho as contas e acho saldo positivo.

Nas polémicas que mantive, algumas vezes sem que o antagonista sequer perceba, foi comigo próprio que me engalfinhei. Com um outro eu que todos temos e que, se não morreu, frequentemente se põe em causa, nas dúvidas, nos (des)entendimentos, na necessidade da zaragata que todos temos também nesta imperfeita humanidade, feita à imagem de deus, diz-se, caminhando no seu fim, mas dele sempre muito distante.

Naturalmente que não acabaram aqui tais diferenças nem esta minha forma de as expressar, apenas porque 2010 deu o berro e já mal respira na eminência do 2011.

Quem leu o que escrevi, sabe que a par essa quase truculência de palavra e de disputa, se equivale a um outro esforço sempre afirmado, não apenas de aceitação das diferenças mas mesmo da fundamental necessidade delas na harmonia quase telúrica da perenidade do mundo e dos viventes.

Bastas vezes tenho teimado nessa vertente do nosso convívio, recolhendo nisso a compreensão dos comentários recebidos na volta do correio, não apenas porque somos uma comunidade larga mas fechada, mas porque nela ache que devemos estar como no mundo que nos pariu e nos levará um dia.

Por mim, acho que sempre reagi apenas em situações extremas, contra afirmações que nos negam este cristianismo de que somos portadores, na abrangência do olhar sobre o mundo e sobre as gentes que nele sonham e trabalham, por vias diferentes buscando a felicidade que vislumbram e a que se julgam com direito só porque nasceram, a liberdade, a autonomia como seres individuais, comparsas de grupos em terras próprias onde nasceram e esperam que seja sua.

A dignidade de cada homem é a única propriedade verdadeira que tem de defender, a par do próprio direito à vida e ao sonho.

E neste modo de pensar, hão-de perdoar-me, julgo que é muito pouco importante se perdemos uma batalha ou até uma guerra, face à grandiosidade desse olhar divino sobre a história do caminhar do homem global.

E por pensar assim, pouco tempo perco com o relato esmiuçado das circunstâncias do combate, da valentia de cada combatente, esteja ele num ou no outro lado da peleja, da vitória ou derrota episódica.

Por exemplo.

Não sou insensível às qualidades individuais dos nomes grandes dos navegadores que nos levaram daqui aos confins do mundo por entre dificuldades e sacrifícios quase inumanos. Acho mesmo que sem eles não teríamos na nossa história essa saga gloriosamente exemplar e o fantástico contributo de que nos orgulhamos ter dado ao mundo para que a civilização pudesse dar um salto em frente.

Contudo, vejo isso mais como um feito de um povo que, cercado em determinadas circunstâncias, se abalançou à tarefa e à função gloriosa, cumprindo um desígnio qualquer que era indispensável para que a história pudesse avançar.

Outro exemplo.

Leio hoje um magnífico e dorido relato do camarigo Jero sobre minas e mortes e dessa escrita, pedindo já desculpa de o fazer, mesmo que sem intenção negativa, separo uma parte que cito:

«...Meio-dia e trinta.
..............................................................................

Embora paralisados momentaneamente pela surpresa os nossos homens têm uma reacção fortíssima que faz calar em poucos momentos o inimigo.
............................................................................................................

Quantas vezes nos sucedeu isso na Guiné? Quantas vezes demonstrámos superioridade militar perante o adversário que nos confrontava mas dessa vitória retirámos apenas, verdadeiramente significativo no plano do humano, desgosto e dor?

E ainda assim, desgosto e dor, sabendo que tiveram milhares de portugueses ao perseguirem um fim de que mal sabiam em naus-caravelas, por tempestades e hostilidades, mas de que hoje podemos dizer como Fernando Pessoa "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

E é nessa fenda entre a grande e a pequena alma que me encho de preocupação, entendendo eu que foi muito grande quando partimos, descobrimos, ocupámos, desbravámos, maltratámos também, mas fizemos avançar o mundo em tempo certo da história, e foi pequena quando noutro tempo, forçámos a história, inventando conceitos e direitos que nessa altura já estorvavam o bom caminhar do mundo.

2011, visto daqui, com três ou quatro dias para chegar, não nos parece grande coisa.

Contudo, quem sabe não venha a ser, nessa perspectiva do poema de Machado, ou nessa "filosofia" do verdadeiro significado do caminho, escavando, terraplanando e compactando avenidas ou vielas que nos levem a um futuro novo e merecedor dos quase mil anos de idade que ostentamos.

No blogue, a quem tenho de agradecer esta possibilidade de conviver na dinâmica que sempre dá forma a grupos de gente que se junta por afinidades gerais e separa nas diferenças, espero continuar a acertar e a errar, na presunção de que mesmo de adversários circunstanciais, terei o abraço de camaradagem que também lhes reservo sempre, para além das palavras.

A todos, coragem e força para aceitar e enfrentar o novo ano.

Ao Luís, ao Carlos, ao Magalhães Ribeiro, ao Briote e tantos que fazem andar isto e garantir a sua qualidade, o meu agradecimento maior.

José Brás
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 23 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7493: (Ex)citações (122): Palavras e Balas (José Brás)

Vd. último poste da série de 26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7505: Blogoterapia (170): A Casa da Praia (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P7526: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (27): Votos de Feliz Ano Novo... e mais umas coisitas (Vítor Junqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), com data de 29 de Dezembro de 2010:


Votos de feliz Ano Novo… e mais umas coisitas.

E a páginas tantas, neste quase final de ano, um vago imperativo de consciência impôs-se. No mínimo teria que dirigir um olá, simples e fraterno, aos amigos que possuo nesta Tabanca. Em especial, aos camaradas ex-combatentes que envolvo num caloroso abraço virtual. E a todos quantos quiseram sublinhar a sua consideração e amizade enviando-me os seus votos de Boas Festas.

Acabámos de celebrar mais um Natal. Para a maioria de nós, civilizacionalmente cristãos, esta é uma quadra festiva, a mais aguardada do ano dizem alguns. Muito “complexa” direi eu, dada a amálgama de sentimentos que em nós desperta. Por isso, as pessoas da minha geração chegam a achá-la pesada. Foram-se a excitação incontida da meninice e as alegrias da juventude. Agora a saudade aguilhoa. Como num filme, recordo outros Natais bem mais felizes; diante dos meus olhos passa uma multidão de rostos de pessoas que fizeram parte da minha vida ou de simples conhecidos. À frente vem o do meu pai que não voltarei a ver, a lembrar-me a efemeridade da vida.

Em compensação, estamos mais serenos e felizes pelo simples facto de nos ter sido concedida a graça de passarmos estes dias com a família e amigos, longe da cadeira de rodas ou de uma cama de hospital. Para aqueles que nesta época foram traídos por periclitante saúde, particularmente os nossos camaradas de guerras passadas, elevo o meu pensamento numa súplica sincera, fazendo votos de um de um breve regresso ao activo.

Por mim, que me iludo pensando que ainda estou para as curvas, este foi mais um Bom Natal. Acredito que ninguém foge às suas origens e as minhas estão no mundo rural. A bicharada e as plantas são a minha paixão, a minha família é a aldeia que viu nascer os meus antepassados e onde vivo. Por isso, Natal também é tradição, convivialidade, festa. E a lembrar-mo não faltou o reboliço causado pela criançada (filhos e netos) aqui em casa!

Mas, camaradas, algo de muito estranho se passa comigo. Parece-me que estou a metamorfosear e já estranho o animal prestes a escapulir-se da minha casca. Aquela serenidade dos mais antigos a que me referi, por mim desconhecida há apenas uns anitos, parece estar a dar lugar a uma espécie de amolecimento. Amoleci e prontos, tenho que me conformar! Por exemplo, dou comigo a apreciar a minha solitude (e não solidão!), talvez mais preocupado com as coisas da alma, comovo-me até à lagrimita com certa passagem do livro ou cena de filme, coisa que me faria sentir embaraçado quando era mais novo. A tragédia alheia traz-me desconforto, passei a contribuir para campanhas de recolha de alimentos (e outras) quando no passado respondia irritado às meninas que me estendiam o saco “… e os meus impostos, para que servem?”. Mas, por outro lado, sinto-me um traste por achar que não sou suficientemente solidário.

Também estou cada vez mais inclinado a concordar que na gestão de conflitos a arte da punhada está em desuso. Contudo, não fico feliz quando constato que na nossa comunidade (Blog) há palavras que são atiradas como se fossem zarabatanas. É mau, só pode dar cu de boi. Estas beliscadelas não raramente desencadeiam vetos, invocação de direitos de resposta, acusações de censura, mal-estar mais ou menos contagioso. É verdade que quando entrei para o “Luís Graça e Camaradas” pela mão do Sousa de Castro - nunca me canso de referi-lo -, blogar era muito mais simples e despretensioso, um pouco naif, atrevo-me a dizê-lo. Com o tempo ocorreu uma espécie de profissionalização e o Blog atingiu um nível demasiado elevado (sem ironia!) para muitos de nós, número de que eu próprio não me excluo. Apareceu gente de altíssima craveira, tanto do ponto de vista académico como das fontes a que tem acesso. Munida com documentação inquestionável e vasta bibliografia, dixit e… fez-se luz! Porém, todo o êxito tem o seu preço.

Interrogo-me se tanta erudição não poderá ter conduzido a uma certa retracção de alguns participantes de antanho que tanto aprecio e tenho visto menos por aqui. Eu gosto do formato actual embora tenha as minhas preferências. Os textos que mais me interessam são aqueles que suscitam resmas de comentários, por oposição aos que passam aparentemente despercebidos, pese o seu valor e extensão. Não tenho dúvidas de que em muitos casos, a cotação de um post depende tanto do seu valor intrínseco como da qualidade dos comentadores. Eis a razão da minha preferência.

No vertente caso de sucesso, a certa altura, o Boss não teve outro remédio senão arrear (parcialmente) a giga e pedir a colaboração de três excelentes oficiais às ordens, o MR, CV e VB que se tornaram seus co-editores. Desde então, pelo menos que eu o saiba, não tem havido reclamações quanto a extravio de material, atrasos na respectiva publicação ou acusações de atribuição de prioridade em função de favoritismo ideológico. Sábados, domingos, feriados, pontes e períodos de férias não significam folga para os editores e julgo que não se passou um único dia sem que material novo desse à estampa. Sempre acompanhado de elucidativas notas sobre o autor e respectiva produção no Blog. Foram milhares de páginas de texto e quase outras tantas de fotografias primorosamente revistas e editadas, muitas vezes com links para outros trabalhos. Sem esquecer o tratamento dos comentários suscitados, como é óbvio nem sempre do agrado dos respectivos autores! Ora tudo isto tem dado muito trabalho como está à vista. Para fruição de todos nós e remunerado a leite de pato. Devemos-lhes respeito e gratidão e torna-se necessário manifestá-lo claramente e não ficar pelas encolhas. Da minha parte segue uma referência bem simples, à minha moda: Obrigado, rapazes!

Na minha relação com “Luís Graça e Camaradas”, tenho privilegiado o canal CêVê. Por três ordens de razão, sendo a primeira a empatia, a segunda porque militou numa Companhia que se não era irmã da minha, era no mínimo sua prima e a terceira, porque essa unidade comandada por outro amigo, o Jorge Picado, connosco combateu a mesma guerra e pisou o mesmo terreno. Então para o Carlitos Vinhal (Carlos, perdoa-me a familiaridade!), aqui vai uma receita que poderá ajudá-lo a pôr na ordem os exaltados que lhe causam azia. Trata-se de um pó muito eficaz, como se segue.

Numa vibrante manhã de Primavera, dois amigos passeavam pelo campo. De repente um deles desata a espirrar que nem um bode. Perante a inquietação do parceiro, esclarece ranhoso e lacrimejante:

- Sabes, pá, isto é por causa do pó.

- ???

- Sim, meu. O pó dos fenos. Sou alérgico. Mas há outros, como o pó da casa, o pó de talco, o pó de arroz que também …

- Olha, e o pó caralho, conheces?

Eu não acho, tenho a certeza de que em certas ocasiões é o melhor remédio!

Para todos os amigos, ou camarigos como diz o Mexia Alves, aqui vai este lugar-comum carregado de afecto:

Abaixo a crise, abaixo as guerras e Feliz Ano Novo com muita saúde para todos.

VJ
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Notas do editor

(*) Vd. último poste de 25 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7498: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (16): Um receita energética para os entrevados, by-passados, disrítmicos ou algo incapacitados tabanqueiros... (Vítor Junqueira)

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7524: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (26): Ano Velho, Ano Novo (Joaquim Mexia Alves)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7525: Notas de leitura (181): Tempestade em Bissau, Ano 1970, de Mário Gonçalves Ferreira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Dezembro de 2010:

Queridos amigos,
Que eu saiba, é o primeiro médico a afoitar-se nas incursões literárias da guerra da Guiné. Não é uma grande lançada em África mas dá para saudar as reconstituições de atmosferas e vivências militares.

O autor centra-se em Tolentino Menezes, o que certamente o fascina é mostrar como nestes períodos de mudança o ser humano defende-se ignorando o que vê à volta. Depois morre e não pode participar na tempestade…

Um abraço do
Mário


Tempestade em Bissau (ano 1970)

Beja Santos

Mário Gonçalves Ferreira, cardiologista, nascido em 1937, foi médico do BART 2917, em Bambadinca. Iniciou a sua actividade literária com o romance “Tempestade em Bissau (ano 1970)”, Pallium Editora, 2007.

Sem nunca iludir que se trata de pura ficção, o autor faz desfilar, com jocosidade e uma acidez temperada personagens da vida civil e militar que todos conhecemos na atmosfera da guerra: a pesporrência e a vacuidade de alguns discursos: a chegada e a partida de tropas no mítico cais do Pidjiquiti; a encenação da vida dos funcionários coloniais, as suas cumplicidades e o seu quadro de ambições; a vivência dos oficiais e suas famílias em Bissau… recorrendo a um discurso retórico e a uma efabulação grotesca, fazendo irradiar a acção à volta do obscuro Tolentino de Sá e Menezes, o autor risca os traços mais pronunciados do drama desse funcionário colonial que vai perdendo referentes e se ausenta da realidade da evolução de uma guerra onde ele não encontra lógica nem adaptação.

Tolentino nasceu em Goa, veio cedo para Bissau, tomou posse do lugar de 3º escriturário do Tribunal Civil. Aprendeu a curvar a cerviz, a fechar os olhos a mais ou menos graves ilegalidades, apaixonou-se pela lavadeira Famatá Sanhá, dessa relação irão aparecer André e Lamine Sanhá Menezes. A irmã de Famatá imiscui-se na vida de Tolentino, vai crescer uma relação conjugal triangular. 

Chega a guerra, alterou-se a pacatez daquele pequenino cosmopolitismo, progressivamente vamos assistindo a divisões ideológicas, à consciencialização das asperezas daquela guerra. André até vai a Bambadinca visitar membros da família e conhece um primo guerrilheiro que o impressiona com a sua determinação. A saúde de Tolentino deteriora-se, assolado pela diabetes. André partirá para a guerrilha, Tolentino para a metrópole, vai fazer exames, é submetido a tratamentos rigorosos. 

O autor engrossa a escrita colocando episódios bélicos, assistimos até ao Natal do soldado e ao envio de saudações para as famílias em Portugal. Um certo alferes Gonçalves envia uma carta para a namorada e depois vai a Fá Mandinga encomendar uma peça de ourivesaria. O artesão disse-lhe: “O que eu tenho de mais valioso é esta peça de prata fina que tem incrustada uma moeda de oiro. Mas para a trabalhar a uma semana e usar o saber de muitos anos de uma experiência acumulada”. 

A viagem de regresso vai culminar numa tragédia, o Unimog pisará uma mina, o condutor e o jovem alferes morrerão. E sobre o alferes Gonçalves fica escrito: “Tinha um lenço atado à volta do coto que restava da sua perna esquerda. E no bolso foi encontrado um colar feito de prata fina, com uma medalha em filigrana onde estava incrustada uma moeda de oiro que tinha, em relevo, as seguintes gravações: Victoria D: G: Britannia R: Reg: F: D:, com a efigie da rainha; na outra face ostentava, também em relevo, a imagem de um cavaleiro a matar um dragão e uma data: 1884; e, por baixo, artisticamente desenhado, um nome: Lena.”. 

Tolentino adoece gravemente em Lisboa, aqui vai falecer. Na celebração das exéquias na catedral de Bissau uma tempestade sacode Bissau.

O que sobressai do relato é o pendor para exibir as misérias do mundo e a incapacidade de fazer a leitura das mudanças à nossa volta. As descrições de Mário G. Ferreira são pouco lisonjeiras para as individualidades do regime, para os militares em Bissau, para os esteios administrativos guineenses. É uma mordacidade que não se dissimula. É uma tempestade que muitos recusam ver. A prosa é barroca, a linguagem privilegia o obnóxio, o discurso espalhafatoso, os guerrilheiros heróicos e ingénuos. Vamos ficar à espera da continuidade literária deste médico de Bambadinca que tomou gosto pela escrita.
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Notas do Editor:

(*) Vd. último poste de 28 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7514: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (6): Dia 24 de Novembro de 2010

Vd. último poste da série de 25 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7501: Notas de leitura (180): Poemas, de Vasco Cabral (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7524: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (26): Ano Velho, Ano Novo (Joaquim Mexia Alves)


1. O nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, enviou em 22 de Dezembro de 2010 a seguinte mensagem de Ano Novo:

ANO VELHO, ANO NOVO

Meus camarigos

É fim de ano e começo de um Novo Ano, logicamente.

Olho para a nossa Tabanca Grande, leio-a, e… já não sei o que dizer!

Este fim de ano foi um “não acabar” de respostas e contra respostas, de polémicas e quezílias, a maior parte, (que me desculpem os intervenientes), sem grande sentido.

Multiplicam-se as “picardias”, os ditos “encapotados”, os “desditos” disfarçados, que acabam num ambiente de cortar à faca.

Claro que eu, (e quem sou eu para querer alguma coisa), não queria uma Tabanca, onde todos sentados à volta do poilão, fossem acenando afirmativamente com a cabeça, quando alguém diz alguma coisa de sua justiça.

Mas queria que, sentados na mesma Tabanca à volta do tal poilão, fossemos capazes de acordar, quando é caso de acordar e de discordar, quando é caso de discordar, mas tudo com principio, meio e fim, e sobretudo, que este fim fosse sempre o de melhorar, construir, unir, em vez de piorar, demolir e dividir, pois para isso chegam bem alguns “out siders” que por aqui passam de quando em vez, tentado lançar a cizânia.

Posto isto, começo logo por humildemente pedir desculpa por todas as vezes que me deixei levar pela irritação em vez do bom senso e respondi a alguém com mais pedras na mão, do que com a colher de pedreiro, para assim construir alguma coisa de útil e bom para todos nós.

É que, meus camarigos, volto a repetir, a nossa desunião é a fraqueza das nossas exigências à Nação, sobretudo para aqueles de entre nós que ainda hoje sofrem diariamente na pele, e na bolsa, os tempos passados na Guiné.

E existem verdadeiramente razões para estas picardias que muitas vezes roçam o insulto fácil?

Não, eu acho que não!

Há razões para discordarmos em certos assuntos, sem dúvida!

Mas muito mais do que aquilo que nos divide, é aquilo que nos une.

A verdade é que a união acontece muito mais na adversidade, do que na facilidade, e de adversidade nós somos peritos.

Eu sou da direita e tu és da esquerda, (o que quer que isso seja), com certeza, mas na Guiné defendemo-nos uns aos outros sem cuidarmos de saber o que éramos ou não, politicamente.

Muitas vezes, meus camarigos, interpretamos as palavras escritas pelos outros à nossa maneira, sem fazermos um esforço para percebermos se é isso mesmo que o outro quer dizer, apenas para termos argumentos para contestarmos e abrirmos polémica, onde ela provavelmente não existia.

E volta e meia, meus camarigos, há comentários e textos de uma tal densidade de conceitos e trocadilhos, que só com um dicionário ao lado é possível entender e mesmo assim, corremos o risco de não alcançarmos o que nos queriam dizer.

Somos nós “obrigados” a gostarmos todos uns dos outros por igual?
Guiné 63/74 - P7521: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (25): a nossa Sra. Dra. Cátia Félix

Claro que não, pois cada um tem o seu feitio, as suas ideias, que são sempre melhor recebidas por aqueles que têm o mesmo feitio e as ideias semelhantes.

Agora o que temos é de nos respeitarmos uns aos outros exactamente como gostamos de ser respeitados, e por isso mesmo devemos medir as palavras que escrevemos, que, se para alguns não constituem qualquer problema, para outros podem ser consideradas insultuosas.

Sobretudo quando “fulanizamos”, “pessoalizamos”, os nossos comentários críticos e utilizamos expressões que sabemos bem no nosso íntimo, vão magoar o outro, porque nos aproveitamos de algumas das suas “particularidades”.

E depois… depois apresentamos uma “carinha laroca”, inocentinha, como a dizer:
Quem, eu? Caramba eu não disse nada de mais, nem de ofensivo!

Com isto que aqui escrevo, volto a repetir, que não quero uma Tabanca unânime no pensamento e na prática, mas gostaria de estar numa Tabanca unida na diversidade e construtora de algo bom para nós, (sobretudo aqueles que ainda sofrem), e também que pudesse mostrar aos historiadores, (alguns deles entre aspas), que a história da guerra não é aquela que eles querem ou idealizam, mas aquela que nós fizemos.

Não quero uma “paz podre”, mas sim uma paz activa que se vá fazendo todos os dias nas diferenças e nas parecenças, e sobretudo na camarigagem que nos une por tudo o que passámos e ainda vemos alguns de nós passarem.

Para isto, contem comigo!

Aproveito para lembrar neste momento todos aqueles camarigos que durante este ano partiram desta vida.
Que Deus os receba no seu eterno descanso.

E com todo este paleio quero desejar a todos um Ano Novo cheio das maiores venturas para cada um e suas famílias, ou como dizíamos tantos de nós na Guiné nas mensagens de Natal, um Ano Novo cheio “das maiores propriedades”!

Um abraço forte, camarigo, para todos e para cada um individualmente, lembrando os nossos editores que aturaram durante este ano todas as nossas manias, irritações, tristezas e alegrias.

Monte Real, 29 de Dezembro de 2010
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
29 de dezembro de 2010 >

Guiné 63/74 - P7523: Blogpoesia (98): Cafal-Balanta antes de aramar (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  25 de Dezembro de 2010:

Carlos,
Hoje estou produtivo.

Aqui vão mais quatro referentes a Cafal-Balanta, o tal resort onde vivíamos "refustelados" escondidos atrás do arame farpado, segundo a douta opinião do homem do ar condicionado e pose de Rambo, coleccionador de medalhas ganhas por outros, conhecido por anota bruno, militar de subida honra e lhaneza de carácter, incapaz de cometer o mais pequeno atropelo...

Claro que nos três ou quatro primeiros dias, (antes de conseguirmos aramar) não nos escondíamos, antes convivíamos com o IN numa amizade digna de encómios, fazendo inclusive alguns pic-nics como é do conhecimento geral dos camarigos.

Foi lá que fizemos, eu e os camarigos que partilhavam o resort que tive oportunidade de vos mostrar em tempos, que acabaria por merecer a especial atenção do nosso primeiro Pinto de Sousa, bem como de Severiano o então ministro português nascido guinéu e uma pleiade de homens do risco de reconhecida qualidade internacional onde destaco Sisa Vieira, Alcino Soutinho,Tomás Taveira entre outros.

Sem o pretender, estava a incidir de novo a vossa atenção nesse trabalho arquitectónico que já conheceis, e minha não era a intenção.

Voltemos pois às sextilhas...


Manuel Maia nos bons velhos tempos em que usufruia das melhores condições do Resort de Cafal-Balanta, tendo ainda direito a remuneração 


Cafal-Balanta antes de aramar

Machado à mão direita o tronco corta,
pancada após pancada, n`árvore morta,
espreita de um buraco verde cobra...
Um salto à rectaguarda é instintivo,
ao ver sair dali ser repulsivo,
que em rota de fugida faz manobra...

Mais rápido que o vento, camarada,
na dita então desfere catanada,
que dividiu ali ofídeo em dois...
O p`rigo da picada era mortal,
segundo se dizia por Cafal,
e confirmado algum tempo depois...

Chegados aos buracos de Cafal,
sem protecção d`arame, o pessoal,
dormir não conseguia face ao medo...
Terceiro dia, creio, surge então,
farpado para a delimitação,
alívio no gatilho faz o dedo...

Mui duro foi derrube com machado,
o meio, remedeio, ali usado
p`ra abate dos suportes p`ro arame...
Cafal tem moto-serra sem usança,
é inútil procurar na vizinhança,
demora ajuda o IN, vil infame...
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7515: Blogpoesia (97): Guiné... diferenças (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7522: Facebook...ando (4): O nosso camarigo Francisco Palma, em Canquelifá (CCAV 2748, 1970/72)




Foto do Mural do Facebook da página do nosso camarigo Francisco Palma



Francisco Palma, ex-Sold Cond Auto da CCAV 2748 (1970/72), camarigo: explica lá ao pessoal da Tabana Grande e demais leitores do nosso blogue, o melhor que souberes e puderes.  o que fazia esta aeronave (bimotor) da Air Senegal que "no dia 1 de Janeiro de 1972 aterrou em Canquelifá , com uma série de Suecas (e Suecos) a bordo"... Acrescemtas tu (ou alguém que comentou a foto) que, "depois do susto inicial foi um alvoroço naquele aquartelamento que não fazem ideia (que o diga o Fur Mil At Cav, Melo e Castro .... e não só")... Julgo que ainda não contaste esta história no blogue... 






Nesta foto, também,da sua página do Facebook, vemos o Francisco a convidar-nos a beber a um cervejinha à Porta da Mercearia do Pais (Caboverdiano)...O Francisco Palma, residente em São João do Estoril, Cascais, ex-condutor auto, é hoje DFA, com mais de 30% de deficiência, em consequência de uma mina A/C, accionada em Abril de 1972. É membro da nossa Tabanca Grande desde Novembro de 2007. Também faz parte dos nossos amigos do Facebook.


Fotos: © Francisco Palma (2010). Todos os direitos reservados (Editadas e reproduzidas por L.G. com a devida vénia...)

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Nota de L.G.

Último poste desta série > 14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7433: Facebook...ando (3): Uma dramática ida de Buba a Gandembel (Raul Brás, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 2381, Buba, 1968/70)

Guiné 63/74 - P7521: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (25): a nossa Sra. Dra. Cátia Félix


1. Da nossa amiga Cátia Félix (com o novo visual para 2011, !"que te fica tão bem, querida Kat"... camaradas, mais respeitinho, Sra. Dra. Cátia Félix!)
  

Olá, Luís.


Vi agora o post no blog e fiquei muito comovida(*). Já deixei um comentário :) eheh
Vou enviar-lhe em anexo uma foto minha, pois penso que ainda não enviei assim nenhuma toda catita :)

Beijinhos e tenha um optimo final de ano e um excelente começo do novo ano.


Cátia Félix

Nota de L.G.:


(*) vd. poste de 27 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7510: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (22): Cátix Félix, a nossa futura farmacêutica, e nossa menina de ouro, amiga de Cidália Nunes, viúva do nosso malogrado camarada António Ferreira, morto no Quirafo


(...) Oh Luís,  agora quem ficou comovida fui eu :)
Conhecer-vos foi das melhores coisas que me podia ter acontecido e, claro que não me esqueci de nenhum de vocês neste dia tão especial.
Neste momento estou embrenhada nos meus estudos pois vou ter os meus últimos exames. Em Fevereiro vou começar a estagiar :) Mal possa vou começar a enviar as minhas fitas para que o máximo de camaradas assinem, mas depois combino melhor com vocês. Em Maio prometo que envio uma foto minha com a minha cartola roxa, pois sei que os meus guerreiros vão ficar muito orgulhosos da pequena :) Beijinhos enormes e entrem com o pé direito no novo ano (...)