1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 24 de Novembro de 2010:
Boa noite amigo Carlos Vinhal,
Resolvi enviar mais um texto.
Este da minha vivência actual, aqui nos subúrbios da capital, onde há muitos anos resido.
Nas manhãs dos fins de semana, levanto-me e vou até à ribeira das Jardas onde costumo tomar o pequeno almoço, na cafetaria desse espaço, e onde observo o que descrevo.
Garanto-vos, que em dias de sol, e sobretudo nesses dias lindos de Outono, vale a pena descer a Rua Cidade de Paris e ir a procura deste espaço.
Durante algum tempo, estou ali. Depois escrevo, viajo no tempo, regrido... mas sou sempre eu.
Obrigada pela atenção.
Manhãs de Outono
O verde das árvores e da relva, o curso sinuoso da ribeira, e o Sol reflectido nas águas que correm mansas com destino ao mar, são um espectáculo agradável, nesta manhã fresca de Novembro, contudo, soalheira e límpida.
Como sempre, o meu fascínio pela Natureza e o interesse por tudo o que me rodeia, faz com que dê atenção aos pormenores.
Observo que as pessoas que por ali circulam, são na sua maioria, cidadãos já na idade da reforma, mais disponíveis portanto, e que procuram aqui uma forma de ocupar o tempo, convivendo uns com os outros, circulando, porque "circular é viver".
Alguns adolescentes utilizam as pistas existentes e andam de patins, skate e bicicleta.
Calmo e tranquilo, é um lugar excelente para se estar só, ou acompanhado.
Faço muitas vezes o caminho que medeia entre a minha casa e a dita ribeira, na procura do sossego, da tranquilidade, que sempre encontro no meio da Natureza:
À minha volta, as árvores moldadas pela imposição do vento Norte, inclinam-se na posição oposta e parecem vir ao meu encontro, descendo da sua altura e quase roçando a minha cabeça.
Sorrio-lhes.
Acaricio alguns ramos a que chego, e falo com elas do tempo que as faz crescer e tornarem-se robustas, e da sua beleza.
Às vezes, até parece que me sorriem.
Conheço-as, e divido com elas a ternura que tudo me merece.
Lesta, subo e desço o parque linear, procurando manter a forma, e depois faço o caminho ao longo da ribeira, até à antiga Melka.
Observo as espécies cinegéticas que a ribeira abriga, e paro por vezes, encantada e agradecida.
Umas vezes… apetece-me cantar!
Outras… choro saudades.
De qualquer das maneiras, vivo o tempo e o momento.
Vivo… a vida!
Emoldurado pelas barreiras arquitectónicas dos prédios subjacentes, o espaço fica por essa razão, afastado do bulício da cidade, mas dentro dela.
Caminho a sós com os meus pensamentos. Regrido muitas vezes, e vou até ao passado, aos meus tempos de menina.
Ali, permanecem os grandes espaços e a Paz que os envolve.
As pequenas grandes coisas a que me sinto sempre ligada, e que valem, porque me enchem a alma:
O Sol Majestoso do meu Alentejo.
A terra da labuta e da alegria, da juventude onde entoava as canções em voga, e as milhentas lembranças das vozes, das presenças amigas, dos cheiros que ficam para sempre, dos sonhos sonhados!
Muitas vezes são as buzinas dos carros que me trazem à realidade.
Viajo no tempo, mais que no espaço!
Deixo o sonho, percorro o espaço deste tempo real, palpável, visível.
Volto à realidade.
Caminho segura sabendo para onde quero ir.
Adultos, crianças e adolescentes… circulam… falam… brincam!
Sorrio-lhes!
E continuo a caminhar, esperando a realização dos sonhos, que ainda me atrevo a sonhar.
Felismina Costa
Agualva, 23 de Novembro de 2010
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7166: Blogoterapia (163): Recordações da infância (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7260: Blogoterapia (166): Virar as costas sem se despedir (José Eduardo Alves)