quinta-feira, 18 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11418: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (13): Resposta nº 23: Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73); resposta nº 24: Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

1. Mensagem do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), respondendo ao nosso questionário (*):

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
- Em 2010.

(2) Como e através de quem ?
- Através dos camaradas Tino Neves e Manuel Resende.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?
- Desde Setembro de 2010.

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ?
- Normalmente, uma a duas vezes por dia.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)
- Desde a minha adesão como membro da Tabanca Grande (cerca de dois anos e meio), já enviei “trabalho” que deu origem a 34 referências. É provável que ainda venha a enviar algo mais.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)
- Sim. Faço parte.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
- Não. Gosto mais do Blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
 - O Blogue é mais abrangente, dá-nos várias perspectivas e a possibilidade de fazer consultas e contar com a colaboração directa de outros camaradas. O Facebook é mais pessoal.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
- O que gosto menos tanto num como noutro caso, são as publicações que por vezes nada têm a ver com a guerra na Guiné (a origem do Blogue), ou quando os comentários se embrenham demasiado na política ou são completamente fora do contexto (acontece mais no Facebook).

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
- Não. Normalmente acedo sem problemas.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
- Representa a oportunidade de reviver um pouco do que foi passar parte da nossa juventude, numa terra distante, longe dos ente-queridos e amigos, em cenários por vezes inimagináveis. A oportunidade de dar a conhecer muito dessa realidade, dos bons e maus momentos, e até de rencontrar camaradas e amigos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?
- Não. Infelizmente não tive essa possibilidade.

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real ?
- Mais uma vez não me vai ser possível.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
- Absolutamente. Ainda há muita gente para aderir à Tabanca Grande e com muitas histórias por contar.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
- Agradecer ao Luís Graça por ter criado este Blogue, e ao Carlos Vinhal nosso editor principal sempre disponível e atento, o que nos permite continuar a “alimentar” o Blogue.
Bem hajam.

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2. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com as suas respostas ao nosso questionário:


(1) Quando é que descobriste o blogue? 
- Em 2006. 

(2) Como e através de quem? 
- O Luís Graça telefonou-me um dia para pedir autorização para reproduzir um artigo meu. Deu-me conta do blogue, então em viragem, a abrir-se, deixara de ser um megafone de confidências íntimas. Mergulhei no blogue, saiu-me logo, à bruta, a imagem da capela de Bambadinca, comovi-me, vi tudo devagar e senti-me cativado. Acertámos almoço na Escola Nacional de Saúde Pública, deu-me uma repentina, comprometi-me a escrever um quase dia-a-dia dos meus 26 meses na Guiné. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando? 
- Entrei logo, sentei-me à mesa, abanquei, resolvi ficar, sem remissão. 

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue? 
- Ou de manhã ou à noite, uma vez. Mas de preferência à noite. Saboreio as imagens antes de deitar, sinto-me bem assim, regresso à terra de eleição, deito-me e durmo como uma pedra cerca de sete horas

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) 
 - Sou escravo do dever, por conta própria atirei-me a uma empreitada alucinante, ando à procura, ou procuro que me chamem a atenção, sobre tudo quanto se escreveu e escreve acerca da Guiné, sempre dos dois lados, a História prefere recolher todas as opiniões dos diferentes quadrantes

(6) Conheces também a nossa página no Facebook? (Tabanca Grande Luís Graça) 
- Não conheço o Facebook. Dizem-me que as pessoas passam lá horas deliciadas, a palrar umas com as outras, a descobrir velhos amigos. Infelizmente, já não sei gerir doutra maneira o meu tempo, o que tenho destino-o à leitura ou a ouvir música. E prefiro fazer amigos novos, é sinal que ainda não estou condenado pela bruxa má do envelhecimento. 

 (7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
- Portanto, só ao blogue. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
 - Acima de tudo, as imagens, dou comigo especado a pensar o que ia na cabeça do fotógrafo e do fotografado. Devemos ser depositários do maior acervo fotográfico daquela guerra. E gosto também de muitas imagens dos tempos de hoje, como é que se pode ser feliz em tanta adversidade? 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
- O que gosto menos no blogue é de textos que nada têm a ver com a Guiné. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
- Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
- O blogue é o meu álbum de família. À cautela, já entreguei ao Luís Graça o meu património daquele tempo, estou absolutamente convicto da minha mortalidade, pode ser que haja ali material para algum estudo. No blogue publiquei livros, no blogue ganhei ânimo para escrever sobre a Guiné, atualmente estou a escrever o roteiro com o camarada Henriques da Silva. O blogue é omnipresente, quando vou à Feira da Ladra, estou sempre a pensar em surpresas. Lá para meados de Maio vou dar umas horas de aulas no Instituto de Estudos Superiores Militares. No intervalo vou até à biblioteca. O ano passado apanhei lá o diário do soldado Cristóvão, do Leonel Barreiros. Este ano será o que Deus quiser. O blogue faz parte do meu coração, é uma segunda pele. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ? 
- Já participei em dois. 

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real ? 
- Não. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 
- Será o último de nós a fechar a porta. Até lá, todos os dias se carregará o blogue. Às vezes penso que os nossos filhos, os nossos camaradas guineenses de maneira alguma aceitarão a perda de fôlego. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
- Transmiti, nos primeiros anos, a sugestão de criarmos uma comissão para analisar formas de angariar fundos, para se apoiar edições; acho que devíamos ser mais intervenientes no domínio filantrópico. Aproveito a circunstância para pedir novamente a todos os confrades que me deem acesso a livros sobre a Guiné, sou de boas contas, devolvo prontamente e nunca danifico livros, sei muito bem o que eles custam a fazer. E aproveito para mandar um abraço a todos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11416: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (12): Respostas nºs 21/22: Juvenal Amado (CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74) e Carlos Pinheiro (Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, Bissau, 1968/70)

Guiné 63/74 - P11417: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (1): Jugudul, onde o PAIGC, em 23/1/1973, provocoiu 6 mortos e destruiu mais de meia centena de moranças



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Foto nº 1 > Jugudul. Reordenamento. [Não sabemos ao certo a data desta imagem, se é antes ou depois do ataque, referido por António Graça de Abreu: em 23 de janeiro de 1973, em que o PAIGC destruiu mais de meia centena de moranças, ataque de resto confirmado pela consultada à história da unidade].



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1872/74) > Jugudul > Foto nº 2 >  s/d > Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.



Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 4 >  s/d > Ruínas da  tabanca, destruída pelo PAIGC.


Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 5 > s/ d Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.




Guiné > Região do Oio (Mansoa) > BCAÇ 4612/72 (1972/74) > Jugudul > Foto nº 82 > Ruínas da tabanca, destruída pelo PAIGC.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados


1. Início da publicação do álbum fotoográfico do Carlos Fraga, o mais recente membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil, numa espécie estágio operacional, antes de ir comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Algumas das fotos do nosso camarada Carlos Fraga já foram aqui publicadas, integradas no álbum fotográfico do Jorge Canhão. Problemas de legendagem têm vindo a ser esclarecidos com o Carlos Fraga que, entretanto, teve a gentileza de nos enviar mais fotos para publicação. Vamos tentar manter a numeração original do seu CD que chegou às mãos do Jorge Canhão e do Agostinho Gaspar, e de que temos uma cópia (parcial, e com numeração diferente). Publicamos hoje imagens da martirizada tabanca de Jugudul.

No seu Diário da Guiné, António Graça de Abreu escreve (Mansoa, 3 de fevereiro de 1973):

(...) "Atravessámos o rio Mansoa de jangada, num lugar chamado João Landim e depois, já não muito longe de Bissau, em Safim, cortámos para a estrada até Mansoa. Três quilómetros antes de Mansoa fica uma aldeia chamada Jugudul onde os guerrilheiros, há dez dias atrás, destruíram cem tabancas acabadas de construir pela NT, destinadas a realojar população. A povoação está num estado miserável, toda a gente fugiu. Isto aconteceu por causa da estrada em construção que começa exactamente no Jugudul, vai até Porto Gole e irá terminar em Bambadinca, uns sessenta quilómetros a leste. As estradas novas, alcatroadas dão sempre problemas, os guerrilheiros tentam obstar à sua construção. "(...).

De acordo com a respetiva história da unidade, o BCAÇ 4612/72, em 28 de novembro de 1972, assumiu a responsabilidade do Setor 4, com a sede em Mansoa,  e abrangendo os subsetores de Mansabá, Mansoa, Jugudul e Porto Gole e, a partir de 29 de outubro de 1973, também o subsetor de Polibaque, então criado para assegurar a protecção e segurança dos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca. Em Jugudul ficou a 2ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72. No regulado de Jugudul viviam, em 1972, cerca de 1500 habitantes, de maioria balanta.

Em janeiro de 1973, há pelo menos notícia de dois ataques violentos a Jugudul (aquartelamento e tabanca), a  10 e depois a 23, a seguir à notícia da morte de Amílcar Cabral. Nesta última flagelação, além de seis mortos, o IN queimou mais de meia centena de moranças do reordenamento, pronto a inaugurar.

Pode ler-se na história do BCAÇ 4612/72 o seguinte:

(i) (...) Em 102250JAN73 GR IN não estimado flagelou o aquartelamento e tabanca de JUGUDUL com MORT 82, RPG e AAUT durante cerca de 10 minutos, tendo causado mortos 03 (02 colaborantes da defesa),  02 feridos ligeiros (01H e 01C) na população e queimado 06 casas. As bases de fogos IN estavam instaladas: MORT 82 e AATU, em MANSOA 416.59, só AAUT em MANSOA 418.57. Simultaneamente flagelou MANSOA com tiros de Canhão S/R, sem consequências, com bases de fogos na região do CUFAR. Ainda conjuntamente com estas flagelações o IN flagelou o destacamento de BRAIA com 02 tiros de MORT.82 da região de MANSOA 5G2." (...)

(ii) (...) "Em 232350JAN73 um grupo IN não estimado mas bastante numeroso flagelou MANSOA e CUSSANÁ sem consequências. Seguidamente iniciou flagelação ao aquartelamento e reordenamento de JUGUDUL, causando 06 mortos (01 colaborante da defesa), 04 feridos graves e 08 feridos ligeiros à população de JUGUDUL, queimando 54 moranças" (...).


2. Sobre as datas destas fotos, o Carlos Fraga acaba de nos dizer o seguinte, por mail:

"Caro Luís: A tabanca do Jugudul foi destruída no ataque de 23/1/73. Tirei as fotos que te mandei dos restos dessa tabanca. As moranças já estavam construídas,  quando lá estive a substituir as que foram destruídas no ataque. Não sei de que data são as fotos. As câmaras [fotográficas] nessa altura não eram digitais pelo que não tenho as datas. Algumas,  como as das operações,  seria fácil se encontrasse a agenda onde marquei todas as operações quando lá estive ou relendo a história da companhia no período em que estive lá,  também me é possível localizar. Mas fotos assim avulsas podem ter sido tiradas em qualquer dia. Abraço. C. Fraga".

´Consultando a história do BCAÇ 46127/72, verifica-se que o novo reordenamento de Jugudul começou a 7 de março de 1973, e que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC... Citem-se excertos, relacionados com o setor de Mansoa e o subsetor de Jugudul,  com informações relevantes da "contra-informação" das NT, dando conta de um crescente mal-estar entre a guerrilha que atuava na região (Morés, Sara-Sarauol...).

(...) "Notícia de 10JAN73 refere que terroristas de IRACUNDA e MORÉS, estão muito descontentes por o PAIGC não ter cumprido as promessas ultimamente feitas, de a guerra terminar DEZ72, terão entrado em desacordo com LAMINE SISSE estando este em dificuldades para dominar os ânimos de alguns mais exaltados.

"CHICO BA, um dos mais descontentes, parece que ao ser chamado ao MORÉS para recomeçar as habituais reuniões, teria dado a entender que está farto de pregar mentiras às populações. Em conversa particular com o informador, CHICO BA mostrou-se arrependido por ter fugido de BISSAU há anos, e comentou, pois hoje estaria bem e ao serviço do PAIGC só AMÍLCAR CABRAL vive bem, não correndo os riscos da vida do mato.

"Acrescentou ainda que MAMADU INDJAI e PASCOAL de IRACUNDA, tendo receio de se apresentarem as autoridades portuguesas, seguiram ou esperam seguir para a fronteira abandonando o PAIGC e tratarem da vida no SENEGAL. Além das promessas não cumpridas outros motivos têm provocado grande descontentamento no IN, tais como falta de alimentos, vestuários e não terem os combatentes o mínimo de conforto.

"CHICO BA terá dito ao informador que até final da época seca [virão] muitos chefes do PAIGC apresentarem-se as autoridades portuguesas, incluindo ele próprio.

"Notícia de 10JAN73 refere ter chegado ao QUEREI, onde foi colocado como Comandante efectivo daquela área, o terrorista BASSANTE, da etnia Balanta, natural de IMBUÉ - ENCHEIA. Desconhece-se a sua procedência segundo a origem. UAGNA TCHUDA e MAMASSALI foram transferidos para a área de BIAMBE.

"(…) Notícia B-2 MA 1 12JAN73 refere que em 06JAN73 SALUM TURÉ, chefe de um grupo dependente da base do SARA, foi ao MORÉS pedir homens para atacar os trabalhos da estrada JUGUDUL/BAMBADINCA. JOSÉ, que estava no MORÉS, foi a SANTAMBATO buscar 01 grupo de 45 elementos. chefiados por LIFNE GUADE. Este grupo seguiu para a região do SARA na noite de 07JAN73, tendo cambado a estrada entre CUTIA e MANSABÁ. Neste grupo 27 elementos estão armados com armas ligeiras.

"(…) Notícia de 15JAN73 refere que nas duas últimas flagelações a JUGUDUL, foram orientadas por INFANDA NABENA este participou directamente no último (10JAN73) e com 30 elementos retirados do seu grupo, actuou na estrada em frente ao reordenamento. Segundo a origem, foram nativos de BINDORO que indicaram àquele terrorista o local onde se encontravam os elementos da auto-defesa de JUGUDUL. Notícia de 15JAN73 refere que em reunião recentemente efectuada no MÓRES, orientada por ANDRÉ PEDRO GOMES e a que teriam assistido vários chefes de grupo, entre os quais MARTINHO DE CARVALHO, UAGNA TCHUDA, MAMASSALI e INFANDA NABENA este apresentou como necessária e muito urgente a captura de FERNANDO INDAFÁ CUBALA, Régulo de JUGUDUL, porque nos últimos tempos tem colaborado activamente com as autoridades portuguesas.

"(…) Notícia de 27JAN73 refere que após o falecimento de AMÍLCAR CABRAL foi emitida em CONAKRY uma directiva assinada pelos elementos preponderantes do PAIGC, mandando incrementar actividade IN em todas as frentes de luta. Notícia refere que na última flagelação contra JUGUDUL pelo grupo IN de INFANDA NABENA auxiliados por um grupo de Comandos sob chefia de IRENEU DO NASCIMENTO LOPES. Na retirada o IN sofreu 04 feridos, provocados por uma granada de Obus.

"(…) Será de prever a intenção do IN de tentar por todos os meios evitar ou no mínimo dificultar a abertura da estrada JUGUDUL /BAMDADINCA, cujo traçado vai colidir com zonas onde têm locais de refúgio. A abertura da estrada facilitará a intervenção das NT na região SARA-SARANOL, onde o IN tem implantado um forte dispositivo militar – CE 199/C/70 - pelo que será de esperar uma forte reacção aos trabalhos de abertura, tendo o IN possibilidades de actuar por emboscadas, flagelações, implantação de engenhos explosivos e até por ataques à frente de trabalhos, não esquecendo as intimidações que as Pop vêm de há muito a ser sujeitas.

"(…) Em 07MAR/73 tem inicio a construção do novo reordenamento do JUGUDUL

"(…) Em 09MAR73 SªEX.ªGENERAL GOVERNADOR desloca-se ao JUGUDUL onde presidiu a cerimónia de graduação do Comandante da CMIL do JUGUDUL COBANA INTCHUDA". (...)


Guiné 63/74 - P11416: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (12): Respostas nºs 21/22: Juvenal Amado (CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74) e Carlos Pinheiro (Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, Bissau, 1968/70)

A. Continuação da respostas ao inquérito por questionário aos nossos leitores (*). Mais duas que nos chegaram:   Juvenal Amado (nº 21) e Carlos Pinheiro (nº 22):

B. Resposta nº 21 > Juvenal Amado [, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; natural de Alcobaça, vive em Fátima]:


Caros camaradas: Porque em certa altura das nossas vidas vestimos uma farda, pegamos em armas e dispusemo-nos a combater por uma coisa que não tínhamos bem a certeza, senti anos mais tarde uma força interior que me levou a escrever uma história real, que se tinha passado comigo há 33 anos na Guiné durante a guerra colonial, quando prestei serviço no Batalhão de Caçadores 3872. (Essa história foi lida na Antena 1 pelo actor Miguel Guilherme no programa Histórias de Vida)

Na altura ainda não fazia ideia do muito já publicado e, em especial pela sua abrangência, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Mas tornou-se imperiosa a necessidade de falar, de tornar publico episódios de uma guerra em que (pensava eu) ninguém falava, que a meu ver carecia de um amplo debate que limpasse reservas e reavivasse a memória coletiva. Pretendia assim contribuir para desmistificar rumores que grassavam na opinião pública, de que nós fomos para lá divertirmo-nos com as bajudas, empanturrarmo-nos de cerveja e de marisco barato em paraísos tropicais.

Começava eu assim: 
- Caro Luís,  se me permites que te trate assim...
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(1) Em 2007 descobri o Blogue quando fiz um pesquisa na Net sobre o local onde prestei serviço militar na Guiné (Galomaro). 

(2) Ao fazer isso,  dei com uma mensagem do Carlos Filipe que foi meu camarada no 3872 e que eu praticamente não conhecia, em que ele exclamava que finalmente os tinha encontrado.

Também ficou na minha cabeça um comentário e a esse respeito escrevi: - Gostei especialmente do comentário que um camarada do Saltinho fez afirmando que estava farto de guardar as costas aos gajos da CCS. Nas companhias operacionais, havia sempre um sentimento estranho em relação ao comando do batalhão, que foi passando à medida que as comissões avançavam.

A titulo de exemplo por causa de umas palavras ditas pelo o nosso comandante, quanto ao empenho operacional de uma das companhias, quando Galomaro foi atacado nessa companhia festejou-se o ataque como quem diz, agora já sabem como é.

E foi assim que me tornei membro.

(3) Sou pois membro do blogue desde Novembro de 2007. [Vd. poste de 1 de janeiro de 2008, P2413]

(4) Vou ao blogue todos os dias, sempre que me seja possível.

(5) Tenho enviado sempre que as recordações me assaltam, sendo cada vez raras na verdade. Tenho pena mas a fonte vai secando, mau grado a minha vontade de manter uma contribuição constante.

(6) Conheço e uso também a página do facebook.

(7) Vou mais vezes ao blogue do que à página Tabanca Grande Luís Graça,  no FB. 

(8) No blogue é como que lê o jornal diário. No FB como não aparecem todos os postes publicados no blogue, leio menos vezes. 

(9) Não tenho criticas a fazer nos dois casos,  antes pelo o contrário, só tenho boas criticas quanto ao trabalho, bem como há imagem dos postes. 

(10) Quanto à lentidão na abertura do blogue, fracamente não sei é lentidão motivado pelo peso das publicações,  se é do meu próprio equipamento. 

(11) O que o blogue representa para mim, dificilmente será substituído por outra publicação do género. O blogue deu-me amizade, calor, motivos de interesse, reencontros, e acima de tudo deu-me autoestima em momentos difíceis. 

(12/13) Já participei em três encontros. Este ano tenho um problema pois a festa do blogue é no dia 8 de Junho e o almoço do meu batalhão é no dia 9. Por isso a alteração da data do encontro do blogue, provoca-me uma situação difícil.


 (14) Quanto à longevidade do blogue é difícil ajuizar. O meu avô,  todos os anos no dia do seu aniversário,  dizia assim:  “se calhar para o ano já cá não estou”. Jjá faleceu há bastante anos, mas andou a dizer a mesma coisa talvez mais de 20. 

Quem sabe?  Têm aparecido outros camaradas, com outras estórias com outras vivências, renovando a assim as caras e isso é benéfico.

No entanto seria bom que os bloguistas mais velhos, com quem o luisgraçaecamaradasdaguiné foi crescendo, não se considerassem dispensáveis, que não se auto excluíssem e continuassem com os seus comentários, as suas achegas, a transmitir calor apoiando e moldando os que começam agora a suas contribuições.

(15) Não tenho críticas quanto à forma, nem quanto ao conteúdo se bem que não goste de tudo, penso que tudo é preciso.
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Resposta nº 22 > Carlos Pinheiro [ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70; vive em Torres Novas]

(1/2) Descobri o blogue há cerca de 4 anos através de conversas com camaradas que também estiveram na Guiné e depois com consultas na net.

(3)  Sou membro da Tabanca há mais de 3 anos. [25 de outubro de 2010]
(4) Vejo o blogue semanalmente e sempre que o Google me alerta.

(5) De inicio mandei vários trabalhos e agora muito mais esporadicamente. Mas comento com frequência trabalhos que vão aparecendo e com os quais posso ter alguma afinidade.

(6) Também conheço a página do facebook, onde vou com menos frequência.

(7) Também conheço e participo no blogue e nos convívios mensais da Tabanca do Centro que também é um grupo muito interessante.

(8/9) Revejo-me mais nos blogues.

(10) Ultimamente não tem sido tão fácil o acesso como já tem sido.

(11) O blogue acima de tudo é um recontar e reavivar a memória e da história, que a nós nos diz muito e só é pena é que os poderes instituídos nunca tenham percebido que em Portugal ainda existem centenas de milhar de antigos combatentes, que sempre se sentiram desprezados pelos vários poderes. Uns porque nos mandaram para lá sem qualquer tipo de condições, a começar pela forma como éramos encaixotados nos porões dos barcos, pela falta de condições nos aquartelamentos, etc, etc. e depois os outros, depois da guerra que, para além de terem feito o monumento em Belém para encher o olho, nada mais fizeram.

(12/13) Já participei nos últimos Encontros Nacionais e espero também participar no encontro deste ano porque acho importante este tipo de convívios onde se reveem camaradas e onde se aviva a memória recontando a história que, passe a imodéstia, mal ou bem, ajudámos a escrever e alguns, muitos, camaradas nossos com o sacrifício da própria vida. É bom encontrarmo-nos de vez em quando.

(14) O blogue, quanto a mim, tem fôlego para continuar só que as histórias por contar começam a rarear porque muito já foi contado. É certo que muitos camaradas nossos,  que ainda não aderiram ao blogue, também o poderiam fazer e decerto teriam muito mais para contar. Penso que estará na mão de cada um de nós trazer mais um camarada para este saudável convívio.

(15)  Criticas já as tenho feito pontualmente e não é agora o momento de estar a inventar nada. Quando é preciso fala-se, debate-se e depois chega-se a um consenso. Quanto a sugestões,  também pouco posso dizer. Preferia agradecer à administração do blogue e aos editores permanentes o trabalho persistente que têm tido ao longo dos anos e isso, para além de agradecer é de louvar.

A terminar, votos de que a família se alargue e que se mantenha coesa e unida.

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Nota do editor:

Últimos  dois postes da série > 


17 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11409: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (10): Respostas de Jorge Cabral, Jorge Picado e Fernando Súcio (18/20)

Guiné 63/74 - P11415: Parabéns a você (564): Raul Brás, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor:

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11393: Parabéns a você (563): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11414: Bom ou mau tempo na bolanha (3): O Tótó e o vinho (Tony Borié)

1. Terceiro episódio da nova série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66) Bom ou mau tempo na bolanha.



O António, mais conhecido pelo nome de “Tótó”, talvez por ter o nariz um pouco grande e achatado, era oriundo do Alentejo. Depois de fazer o exame da quarta classe de instrução primária, veio para os arredores da capital, para um bairro bastante popular, para casa de um tio que tinha uma tasca, que vendia vinho ao copo e sandes de presunto, de queijo, e sardinhas e carapaus fritos de escabeche.

O tio, aos poucos, foi ensinando o sobrinho as manhas do negócio. À noite, depois de fecharem a tasca, na altura de arrumarem as cadeiras para varrerem o chão, em que nalguns sítios até era térreo, ele explicava ao sobrinho, dizendo:
- Ouve lá, oh António, por exemplo, a água serve para fazer vinho de tudo, até de uvas. O presunto das nossas sandes é de puro porco preto, mas na verdade é de porca prenha que já pariu seis vezes e morreu ao parir a sétima vez. O nosso queijo, puro da serra, de ovelhas que pastam na montanha e que só comem carqueija, mas na verdade é de leite de vaca, misturado com batata cozida e moída depois de seca. O peixe que nós vendemos depois de frito, e dizemos que é fresco, apanhado umas horas antes, foi apanhado a semana passada, pois é o resto do mercado, mais barato, e nós fazemos este molho de escabeche que é para lhe tirar o gosto do atrasado, compreendes? Às vezes, se há muita freguesia, e conseguimos vender a travessa toda, fritamos mais, e até é fresco, mas nesse caso aumenta-se o preço.

E terminava, dizendo:
- Aprende António, que a vida não é simples, é complicada, temos que ser mais espertos, para sobreviver, rapaz!

Foi neste ambiente que o António cresceu. Era um bom companheiro e tinha algum “esperto no cabeça” pois a sua posição no aquartelamento era deveras importante, a sua principal tarefa era padeiro, por sinal um bom padeiro, pois trabalhava sob umas condições bastante precárias, mas desempenhava o seu trabalho com uma certa eficiência. Também estava encarregue da distribuição desse precioso líquido, que era o vinho, portanto o “Tótó” era popular no aquartelamento. Trabalhava debaixo das ordens do Sargento da messe e do Arroz com Pão, que era o cabo rancho. Normalmente havia sempre de reserva cinco barris de vinho, pois o Sargento da messe, dizia:
- Pode faltar tudo na vida dos militares, mas vinho tem que haver, nem que vá eu próprio a Portugal, comprá-lo!

Era assim o Sargento da messe, “burro” no dizer de alguns, pois não sabia fazer contas, mas muito boa pessoa no trato e nas atitudes.
Mas vamos continuar com a história, pois o protagonista é o “Tótó”.
Havia um pequeno armazém, podemos chamar-lhe assim, debaixo do mesmo cabanal, onde estava instalada a padaria, armazém este, onde só o “Tótó”, o Sargento da messe e o Arroz com Pão, tinham acesso, e era onde se guardava, entre outras coisas, os barris de vinho, que eram cinco, mas que em determinada altura passaram a seis. Por acaso, o Arroz com Pão reparou na anomalia, também por acaso fez saber ao Sargento da messe, e vão verificar porquê esse engano, pois apesar de ter fama de ser “burro”, sabia contar até cinco, verificando melhor, havia seis barris de vinho novos, todos selados, sinal de que nunca foram abertos, mas não estavam cheios, um, até parecia que estava pouco mais que meio, todos tinham falta de líquido, o que no pensamento do Sargento da messe que era “burro”, até lhe parecia natural, pois dizia que talvez o líquido se tivesse evaporado durante o transporte e mudança de clima. Havia a um canto, em cima de uns troncos de palmeira, um outro barril que estava em uso, com uma torneira de metal, fechada com um cadeado, cuja chave, normalmente o Arroz com Pão trazia consigo, e que facultava ao “Tótó”, na altura das refeições. A partir desse momento, o Sargento da messe disse que se tinha que reduzir para cinco barris cheios e um em uso.

E tinha sido verdade, esses seis barris estavam selados, nunca foram abertos pelo local que deviam de ser, pois o “Tótó”, tinha o seu pequeno negócio de um púcaro do café, quase cheio de vinho e um bocado de pão quente, que podia ser comido simples, ou com alguma manteiga que alguns traziam, que vendia por um mísero “peso”, às vezes mesmo nada, era de graça, só pagava quem tinha “patacão”. Tudo fora de horas, pela noite dentro até madrugada, num canto, atrás da rima da lenha, fora das vistas, onde se guardava os sacos da farinha, que também serviam de assentos, do cabanal da padaria, aos amigos de confiança e já conhecidos, no qual se incluía o grupo do Cifra. Para os estranhos e tropas novas, a padaria àquela hora estava em pleno labor, mas fechada aos militares, e a maneira como fazia acrescentar o número de barris e sempre selados, era simples, removia um arco de ferro ao barril, fazia um buraco, tirava o líquido, tapava o buraco com uma peça redonda de madeira e colocava de novo o arco no seu lugar, ficando tudo impecável, selado sem qualquer vestígio, e deste modo tinha quase sempre um barril a mais, que neste caso era o que estava um pouco mais que meio. Com vinho tirado dos outros barris, que estava sempre em uso, de onde tirava o que dispensava aos amigos, pois à noite, retirava o arco de ferro e colocava uma pequena torneira de madeira no buraco já aberto, virava o barril 300 ao contrário, e era a maneira simples como enchia o púcaro.

Depois da inspecção do Sargento da messe e do Arroz com Pão, que nunca descobriram porque havia seis barris, e quando começou a haver só cinco barris de reserva, o negócio parou, pois o “Tótó”, dizia que era um “taberneiro sério” e tinha um nome a defender, e também desconfiava que depois da inspecção, pelo menos o Arroz com Pão, ficou a saber que havia por ali alguma tramóia, se já não soubesse antes, pois tudo fazia crer que já sabia. Tudo isto aconteceu, para grande desgosto do Cifra e de alguns, mas havia sempre maneira de um modo ou de outro, de não faltar o precioso líquido, fora da sua rede normal de distribuição, pois o vinho, era a alegria da maior parte dos militares, já fazia parte das suas miseráveis vidas, naquele cenário de guerra a que estavam sujeitos.

O “Tótó”, cobrava um mísero “peso”, não era pelo valor, era o vício do negócio que o tio lhe ensinou.

____________

Nota do editor:

Último poste da série de 14 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11391: Bom ou mau tempo na bolanha (2): Regresso a Portugal e matrimónio (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11413: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (12): A morte se fez visita estrondosa

1. Em mensagem do dia 14 de Abril de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima segunda "Carta de Amor e Guerra". 


CARTAS DE AMOR E GUERRA

12 - A Morte se fez visita estrondosa

Quantos de nós, na Guiné, não passámos por dias e dias seguidos sem o “cheiro” da Morte, em que esta parecia ter ido de férias, esquecendo-nos da sua ameaça de regressar ao “trabalho” a qualquer momento? Às vezes até a podíamos sentir a pairar sobre nós, qual abutre sereno e vigilante, à espera de atacar a sua refeição mas, com o correr do tempo e à falta de ataque, o “abutre” chegava a convencer alguns que estava em “greve de fome”.

Fora da área de guerra, nada é diferente a não ser haver a consciência de que a morte andará mais ou muito mais arredia. Pensa-se menos nela, alguns vivem como se ela estivesse “em greve” por tempo indeterminado.

Nas cartas abaixo transcritas vêm à tona os “caprichos” da Morte. Num período de 17 dias, ela atacou nos nossos espaços vivenciais, nos meus e nos da minha namorada*, com resultados inesperados. Nos dela, onde se presumia não haver perigo de maior, as vítimas mortais foram 41 e nos meus, a priori considerados locais de residência da morte, esta só agarrou quatro. E quanto a resultados anímicos, não sei quais os mais duros, se foram os meus por ter perdido alguns amigos e camaradas se os dela, no imediato a lidar com as angustiantes emoções dos familiares dos mortos e depois, durante muito tempo e presencialmente, com as dos feridos graves e suas sequelas físicas, psíquicas e económicas.

*Trabalhava na área jurídica e de contencioso da C.P. Todos os processos subsequentes, relativos a vítimas dos acidentes ferroviários, passavam por aqueles serviços.

Detalhe de cartas: Lisboa (22/12/1965) e Bissorã (6/1/66).


Lisboa, 22-Dez. 1965
(… … …)
(…) sinto hoje uma enorme vontade de viver! Uma imperiosa necessidade de mostrar quanto valho! A vida é uma maravilhosa caixinha de surpresas onde os bons e os maus momentos se alteram com espantosa facilidade.
Ontem, ainda, encontrava-me tão desalentada, melancólica e até revoltada. E contra quem? Incógnita, não sei especificamente. Mas revoltada contra tudo e contra todos, até. Porém hoje sinto uma enorme vontade de viver, de acreditar.
(… … …)
Este fim de ano parece estar a ser manipulado por mãos criminosas, diabólicas, entretidas em espalhar a dor e a angústia por tantos lares onde falta um ente querido que já os não acompanhará na noite de consoada. No passado dia 18, em Vilar de los Álamos, localidade próxima de Salamanca, deu-se um violento embate entre o Sud-Expresso que rodava rumo a Lisboa e um comboio-correio. (…)resultou a morte de 13 portugueses e mais 17 feridos, emigrantes que regressavam da Alemanha e da França.
Ontem, (…) outro desastre (…). Este, na linha de Sintra, entre uma composição eléctrica e um comboio de mercadorias que avançou desordenadamente sobre o primeiro. Do sinistro há a lamentar a morte de 23 passageiros e dezenas de feridos com gravidade. O maquinista do comboio responsável pelo acidente é teu conhecido. É o (…) de Pombal (…).
Nesse mesmo dia, na Praia do Ribatejo, um outro comboio (…) destinado a trazer emigrantes de França e Alemanha, chocou com uma automotora. Felizmente não há mortes a registar, apenas alguns feridos.

Detalhe de “O Triunfo da Morte” de Jan Brueghel, o Jovem, uma cópia com o mesmo nome de um quadro de seu pai, Pieter Brueghel, o Velho.
Biblioteca Nacional de Paris

Esperemos que fique por aqui. O público pagante e muitos dos componentes do grupo administrativo da C.P. não se cansam de terçar armas (…) no sentido de haver uma maior segurança no material (…) e que o pessoal tenha tempo suficiente para descanso e uma habilitação prévia para desempenhar cargos de tão graves responsabilidades. Mas … nada feito. (…).
(…) muito grata pelas amáveis cartas que recebi. Foram logo cinco de uma vez. Que alegria, meu querido!… As tuas palavras são um estímulo, um incentivo precioso para o meu sentido de viver. (…)
(… … …).
Sempre tua, N.



Bissorã, 2 Jan 66
(… … …)
Eu, minha querida, palavra que ando um pouco desorientado. Sou uma contínua pilha de nervos. E eu que era tão calmo! (…) tenho o espírito em tal estado de alerta que a mais pequenina coisa me provoca uma tal irritação que dou por mim, muitas vezes, num sofrimento angustiante (…) a tornar-me ainda mais ciente de quanto a juventude portuguesa está a sofrer em África. (…).
E vejo o futuro tão negro, meu amor… Não no que se refere a nós dois mas ao ambiente em que iremos viver, isto se eu chegar a pisar terras da Europa.
No aspecto militar a coisa vai correndo bem para mim. Mas nesta guerra nada se sabe. A calma de hoje não implica a de amanhã. Se, até agora, isto tem corrido de modo a que um indivíduo menos avisado julgue que afinal o papão não existe, de um momento para o outro o desastre pode acontecer. Não menosprezo o poder dos guerrilheiros (…). Olho para 1966 como o ano crítico de toda a minha vida. Conseguirei ultrapassá-lo? (…).


©Manuel Joaquim

Desculpa, (…), se te aflijo. (…). Não julgues também que isto está de corda no pescoço. Não é tanto assim. Mas o perigo é muito grande.
Minha querida, vai escrevendo frequentes vezes, sim? As tuas cartas são o bálsamo para minorar a angústia que me envolve. Custa-me ver-me, por vezes, tão unido a ti. Faço-te sofrer e corres o risco de sofreres inutilmente. (…).
Cubro-te de beijos, (…). E … confiemos na sorte.
Muitas saudades do teu M.


Bissorã, 6 JAN 66
(… … …)
Tivemos cá hoje a visita de algumas senhoras do Movimento Nacional Feminino, entre elas a presidente da delegação da Guiné e a presidente geral, a srª. Cecília Supico Pinto. Muito amáveis e comunicativas; a sua presença veio animar-nos bastante pois ontem, pelas cinco horas da manhã e durante uma operação que fizemos, caímos numa armadilha dos guerrilheiros e tivemos a “linda” soma de quatro mortos e cinco feridos, dois em estado gravíssimo. Foi o primeiro azar da minha companhia. Parece-me que estava a prever isto. Comuniquei-to no último aerograma que te escrevi [2 de janeiro].
(…). Estava a uns três ou quatro metros [do sítio] da explosão. Com o estrondo fiquei com os ouvidos a zunir durante uns tempos mas saí sem a mínima beliscadura. Mais uma vez a sorte me acompanhou. Um cabo, o 2904, ficou desfeito. Só conseguimos encontrar-lhe a cabeça, a alguma distância! [ver, neste blogue, “P10105: Miserere”]

“S/ título”. © Carbar (Carlos A. T. de Barros, pintor guineense)

Coitados dos soldados. Antes do acontecimento pensavam que isto era um divertimento um bocado perigoso, agora exageram com o medo que os enche.
(…), tem calma. Por isto acontecer não é motivo para desesperarmos. (…). Muitos se hão-de safar e eu hei-de ser um deles. Para ser mais verdadeiro, posso ser um deles. Estes azares não acontecem todos os dias.
Às vezes chego a pensar que seria muito melhor não te contar estas coisas. Mas eu quero, embora causando-te alguma dor, que nunca duvides da verdade com que te escrevo.
(…). Fisicamente, estou óptimo. Psiquicamente, não posso dizer o mesmo. (…). Conheces a minha maneira de pensar, os princípios que defendo, (…). Perante o que está acontecendo já sabes quais as minhas reacções.
(…). Pela tua carta vejo que por aí também se morre, e de que maneira! (…). Soube cá do desastre de Sintra e cheguei a temer pelo teu pai [maquinista da CP, naquela altura em serviço na linha de Sintra].
Até sempre, meu amor. Muitos beijos do teu M.


Vale de Figueira, 11 Janeiro 1966
(… … …)
(…), então, o que se passa!? Ânimo, querido! Nenhum esforço será inútil, verás. (…). Será preciso não desanimar mas desanuviar o espírito, olhar sempre mais alto, convencidos de que valemos muitíssimo mais do que aquilo que, no presente, nos é permitido pôr em acção.
Há tanta coisa que nos espera, (…). Tanta coisa a descobrir e que nos pertencerá. (…). Oh meu querido, reage, teima em viver. (…). Na vida nem tudo são rosas mas também, como é natural, nem tudo são espinhos. (…).
Não voltes, (…), a dizer que sofro inutilmente. Nunca se sofre em vão, estou convicta desta verdade. É no sofrimento que se purifica a alma, que se descobrem as virtudes. E, depois de uma grande dor recompensada, a alegria renasce mais espontânea, mais sincera e pura. E a minha possível dor nesta época será sobremaneira recompensada. Depende de ti. Queres dar-me essa alegria? (…). Eu espero-te. Esperam-te a nossa vida em comum e os nossos sonhos, que se hão-de concretizar.
(… … …)
Corações ao alto! Vamos, meu amor. Nunca me lastimes. Isto te peço, encarecidamente. Nunca o esqueças. Amor paga-se com amor. Isso acontece. Estou contente e satisfeita. Estamos, portanto, quites!
Apetecia-me doidamente abraçar-te, beijar-te muito, muito, (…). (… … …)
Sorri um poucochito mais, meu querido … Um sorriso dos que são obra só tua. Ainda guardo nitidamente o teu último sorriso. Essa impressão jamais se apagará na minha memória. Sabes, quanta confiança essa recordação me incute, quantos sonhos ela me leva a idealizar! … Eu quero que não esqueças esse sorriso … Está bem?
(… … …)
Então ainda não recebeste uma encomenda enviada daqui? Deveria ter chegado no dia 31 próximo passado. Hoje segue também a “Seara Nova” do mês corrente.
Adeus, meu amor
N.

Foto de António Silva Pinheiro, sold. Atir. Inf. (CCaç1419) 


Bissorã, 13Jan66
(… … …)
Pelo último aerograma que te enviei adivinhaste com certeza o meu estado de espírito. É claro que tenho de reagir a estes acontecimentos. Olhá-los como acontecimentos normais desta vida, (…), para que os momentos livres que tenho se não transformem em angústia e martírio contínuos.
(…). Sei que é estúpido andar por aqui a vergar-me à ideia de que posso “desaparecer do mapa”. Tento reagir. Mas cá no fundo uma angústia espessa, concentrada, é um peso contínuo.
As tuas cartas têm um condão extraordinário para me aliviarem. (…) são um autêntico esbanjar de ternura, de confiança, de fé, de lucidez apaziguante, de alegria de viver, de calma. (…).
(… … …)
Isto por cá vai indo. Nada mais aconteceu depois da madrugada do dia 5. Esta guerra é assim. Num dia pode acontecer muita coisa. Depois, podem surgir dias e dias sem nada suceder.
Ontem saiu daqui a Companhia 643. (…). Deve regressar à Metrópole lá para o fim do mês. (…). Se tiveres oportunidade de assistir ao desembarque do Batalhão 645 (a que pertence a Comp. 643) poderás certificar-te do bom aspecto que levam, principalmente a malta da 643, aquela que eu conheço.
Já se safaram. (…). Terei a mesma sorte que eles? (…).
Muitos sacrifícios terei ainda de suportar. Mas a esperança, contigo a meu lado, não me abandona.
(…) Até sempre, minha querida.
M.
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Nota do editor:

Último poste da série de 10 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11369: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (11): Poema

Guiné 63/74 - P11412: Agenda cultural (261): No B.Leza, hoje e amanhã catedral da música guineense em Lisboa: (i) hoje, com Bubacar Djabaté, cantor e tocador de balafon, natural de Tabatô; (ii) amanhã, com o Tabanka Djazz, de Micas Cabral & companhia... A não perder! (A Tabanca Grande apoia a música da Guiné-Bissau!)



1. Programação do B.Leza para a 3ª semana de abril de 2013...Hoje   e amanhã temos música da Guiné-Bissau!...Vd. página no Facebook.

(i) Bubacar Djabaté, músico, cantor e tocador de balafon (xilofone africano), natural de Tabatô - o grande viveiro de músicos da Guiné-Bissau - , vai atuar em Lisboa, no B.Leza,  hoje, 4 feira, por volta das 11h30...

A não perder. [Pode-se ver aqui um vídeo dele, a tocar, há uns meses atrás, em Lisboa, junto ao Castelo de São Jorge, como músico de rua].

(ii) Tabanka Djazz estará em palco amanhã, 5º feira, no mesmo sítio, e por volta da mesma hora.

Diz Luis Bastos no You Tube:

"Tabanka Djazz: surgiram nos finais da década de 1980, são um marco da cultura guineense e  aqui interpretam Nha Corçon (Meu Coração). Como músicos destacam-se Micas Cabral, Juvenal Cabral, Jânio Barbosa, Carlos Barbosa e Dinho Silv. I nicialmente também o grupo contou ainda com: Aguinaldo Pina, José Carlos Cabral e Rui Silva.Destacam-se quatro CD gravados pela banda:  Tabanka (1990), Indimigo (1994), Sperança (1996) e Sintimento (2002).


2. A nossa Tabanca Grande apoia a música da Guiné-Bissau e os seus músicos!!!

Eu vou ver se consigo lá dar um salto, pelo menos hoje... Mas antes passo pelo MUSICBOX LISBOA, ali perto no Cais do Sodré [Rua Nova do Carvalho, nº 24, 1249-002 Lisboa, Portugal, telef. 213 473 188] para ouvir, logo à noite, a partir das 22h00, os Melech Mechaya, que vão  tocar 4 músicas no Club Offbeatz!...Entrada livre! [João Graça, nosso tabanqueiro, faz parte desta banda portuguesa, que está a ter um crescente reconhecimento nacional e internacional].

Quanto ao B. Leza,  a catedral da música africana em Lisboa, fica aqui:

Cais da Ribeira Nova, Armazém B
Lisboa
1200-109 LISBOA

Guiné 63/74 - P11411: Memória dos lugares (230): Olossato dos anos cinquenta (Leopoldo Correia)

1. Na sua mensagem do dia 17 de Março de 2013, o nosso camarada Leopoldo Correia (ex-Fur Mil da CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65), enviou-nos também para publicação, além das fotos de Bafatá, fotos do Olossato do ano de 1959.


Fotos do Olossato em 1959, cedidas por um familiar ligado ao comércio local (Casa Gouveia )





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Nota do editor:

Último poste da série de 16 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11402: Memória dos lugares (229): Bafatá dos anos cinquenta (Leopoldo Correia)

Guiné 63/74 - P11410: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (11): Convite aos membros da nossa Tabanca Grande e demais leitores do blogue






Infografia:  A belíssima e esmerada prenda que nos mandou o Miguel Pessoa... Obrigado, camarada.

© Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


1. Amigos e camaradas que se sentam à sombra do frondoso, mágico, fraterno poilão da Tabanca Grande, e todos os demais leitores do blogue:


Estamos vivos e estamos juntos, é isso que queremos comemorar neste 9º aniversário do nosso blogue. A efeméride, que se celebra a 23 de abril, é apenas um pretexto. Começámos a "blogar" em 23 de abril de 2004, com o poste nº 1, dedicado à(s) nossa(s) saudosa(s) madrinha(s) de guerra...

Sabemos que os tempos que correm são mais de depressão do que de efusão. Mas nós, camaradas, somos velhos combatentes, sobreviventes, resistentes mas também resilientes... Pelo menos aprendemos a não nos deixar abater facilmente...

Está a decorrer um pequeno inquérito por questionário aos membros da Tabanca Grande, podendo também ser respondido pelos "leitores externos" que nos acompanham. Para o caso dos "internos", a sua desejável resposta é também uma forma de "prova de vida"... Há camaradas e amigos de quem não temos tido notícias há muito...

Até à data responderam-nos um quarteirão... Já publicámos 20. O que não é mau, mas queremos ter pelo menos uns 10% de respondentes. A Tabanca Grande tem hoje 611 elementos, inscritos, formalmente. Somos mais 500 do que em 1 de junho de 2006, quando demos início à atual II Série do blogue.

Contamos com a vossa melhor boa vontade, respondendo por estes dias abrileiros e primaveris ao nosso questionário [ver guião abaixo, com 15 perguntas abertas]. 

Um xicoração para todos/as. Luis Graça, em nome da equipa editorial.


PS1 - As respostas serão publicadas com direito a foto... Escusado será dizer que respeitamos a vontade de quem não quiser responder. Os leitores do blogue, não registados formalmente na Tabanca Grande,  também poderão responder a estas questões, no todo ou em parte, com as necessárias adaptações, e desde que devidamente identificados (incluindo foto).

Resposta para: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

PS2 - Ah!, e façam o favor de serem felizes. Como diz o nosso povo, "a felicidade está onde nós a pomos, mas nós nunca a pomos onde nós estamos!"...

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Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? Se não, porquê ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
  _______________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11409: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (10): Respostas de Jorge Cabral, Jorge Picado e Fernando Súcio (18/20)

Guiné 63/74 - P11409: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (10): Respostas de Jorge Cabral, Jorge Picado e Fernando Súcio (18/20)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > "Cinco séculos de história te contemplam!",  terá proclamado o alfero Cabral, perante o anónimo e estupefacto fotógrafo... A foto chegou clandestinamente  à metrópole. E faz parte hoje do precioso álbum fotográfico do Jorge Cabral, advogado e criminalista. (LG)

Foto ©: Jorge Cabral / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


A. Continuação da respostas ao inquérito por questionário aos nossos leitores (*). Três respostas:  Jorge Cabral (nº 18), Jorge Picado (nº 19); e  Fernando Súcio (nº 20).


B. Resposta nº 18 > Jorge Cabral  [ ex-alf mil art, cmdt  do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]

Respondendo,  digo:

Não gosto de muita coisa, mas papo tudo. Todos os dias, logo de manhãzinha.

Conheci o Blogue em Dezembro de 2005 através do Humberto e fiquei Tabanqueiro (por favor, tirem-me o Grã, porque sou pequenino, curto,como diziam os meus Soldados...)

Fui a todos os Encontros. E irei ao próximo. Como, ainda não sei....

Um dia o Blogue acabará. Até mesmo o Alfero não é eterno. Oxalá seja o mais tarde possível. Disseram-me que o Inferno está cheio de Troikas...

Jorge Cabral

PS - Quando tenho dificuldades, dou viagra à máquina. Mata os virus, e dá-me um rápido acesso.


Resposta nº 19: Jorge Picado [, ex-Cap Mil na CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72]

(1) Precisamente no dia 04ABR08.

(2) Tive conhecimento da existência deste Blogue pela leitura de um artigo publicado no então Suplemento Y, do jornal Público, de 04ABR08. Desde logo tive o desejo de aceder ao seu conteúdo, mas ainda não sabia navegar na NET, pois tinha-me iniciado uns dias antes nestas tecnologias, pelo que tive de solicitar a ajuda de familiares.

(3) Assim que me abriram as portas da NET, enviei o meu pedido, considerando-me membro desde o dia 09ABR08.

(4) Normalmente costumava lê-lo diariamente, mas desde uns tempos até hoje não tenho podido fazê-lo com essa regularidade.

(5) Mandei algumas das minhas lembranças bem como fotos e sempre que julgo oportuno vou fazendo os meus comentários.

(6) Não uso essa ferramenta e por isso desconheço a página da Tabanca Grande no Facebook.

(7) Obviamente que só uso o Blogue. Ver resposta anterior.

(8) Das recordações expostas pelos camaradas, sobre a sua vida enquanto "penaram" por aqueles lugares, bem como das respectivas fotos que documentam tais passagens e, quando se referem aos lugares por onde passei, fico longos períodos a contemplá-las, como a querer reviver e accionar os neurónios para ver se me surgem novas recordações.

(9) As guerras de alecrim e manjerona que muitas vezes surgem, quando há opiniões contrárias ao que alguns julgam ser "a verdade posta em causa". Principalmente quando mais parecem reflectir "certos ódios de estimação" contra "certos camaradas". Aliás sei por certas conversas com camaradas que não fazem parte do Blogue que a sua não entrada está relacionada com alguns destes aspectos que consideram negativos.

(10) Nunca senti qualquer dificuldade em aceder ao Blogue.

(11) O Blogue surgiu-me num certo momento doloroso da vida e a minha aderência e envolvimento constituiu uma excelente terapia para superar essa fase, bem como para me libertar emocionalmente desses dois anos passados naquela guerra para onde fui já numa idade um pouco avançada. A partir do momento em que me fui envolvendo, cada vez mais fundo no Blogue, passei a encarar esse passado de uma forma aberta e sem constrangimentos.

(12) Desde o primeiro encontro que houve logo após a minha entrada, o III, que se realizou em 17MAI08, na Quinta do Paúl em Ortigosa, Monte Real, participei em todos.

(13) Ainda não me inscrevi, pois aguardo a concretização de certos condicionalismos que poderão ditar a não comparência. Tenho vontade de estar presente, mas ainda não posso comprometer-me.

(14) Julgo que é ainda muito importante a sua existência. Claro que se torna necessário o aparecimento de novos elementos, pois ainda há muitos camaradas vivos e com boa memória que teriam vivências importantes para transmitir aos vindouros. Pena é que não as deixem escritas para memoria futura.

Abraços a todos
JPicado


Resposta nº 19: Fernando Súcio  [ex-Sold Cond Auto, Pel Mort 4275, Bula, 1972/74]

(1) Descobri o blogue em 2011.

(2) Por informação do Leonel Olhero

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande desde 2012

(4) Visito o blogue diariamente

(5) Gostaria de mandar mais material.

(6) Sim, conheço também a nossa página no facebook.

(7) Vou mais vezes ao facebook

(8) Gosto de tudo o que diz respeito ao blogue.

(9) Gosto dos dois, do blogue e do facebook.

(10) Não tenho dificuldades em aceder ao blogue.

(11) O blogue é muito interessante para mim, tenho orgulho em fazer parte. Gosto da mesma maneira da nossa página do facebook

(12) Sim, participei pela primeiria vez em 2012.

(13) Sim, estarei presente no dia 8 de Junho [, no VIII Encontro Nacional, em Monte Real].

(14) Eu tenho toda a confiança no nosso blogue e tenho a firme certeza que seguimos sempre em frente

(15) Outras críticas, sugestões, comentários: Quero agradecer a todos os coordenadores deste blogue, não esquecendo o seu fundador. Um grande abraço para todos .podem contar sempre comigo .obrigado camaradas .Fernando Súcio.

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11405: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (9): Resposta nº 17: Hélder de Sousa,ex-fur mil de Trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), membro da Tabanca Grande dsde abril de 2007 e nosso colaborador permanente


(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue ?
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?
(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?
(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?
(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. (...)


terça-feira, 16 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11408: Revivendo (Felismina Costa)

Mais um belo trabalho escrito da nossa amiga tertuliana
 Felismina Costa / Felismina Mealha


 Igreja Matriz de Santiago do Cacém
Com a devida vénia à Câmara Municipal de Santiago do Cacém


Revivendo

Longa a Planície entre Santiago do Cacém e Alcácer do Sal!
O dia, já Primaveril, favorecia o abrir das flores que salpicavam o chão por debaixo dos pinheiros e sobreiros.
O amarelo dos tojos e das giestas alegram e suavizam a rusticidade da paisagem.
De quando enquando, o branco sujo dos saramagos, faz-se notar aqui e além, destacando-se no tapete verde, muito bem tecido em toda a extensão observada.
Sob a ponte, o Sado corre turvo, sujo da terra que arrasta consigo na corrente forte. Algumas garças sobrevoam-no elegantemente.
Alguns braços de rio, alagam as zonas baixas, onde o sol quando espreita, se reflete alegremente.
As estevas floridas pareciam árvores de Natal da minha infância, salpicadas de algodão branco que substituía a neve, que raramente ali caia.
As nuvens, na linha do horizonte, desenham uma barra onde em camadas se sobrepõem, que rápidamente crescem desenhando contornos fabulosos.
A planície vai ficando para trás à medida que se aproxima a serra de Grândola, onde o sobreiro é rei.
A noroeste, a serra da Arrábida evidência o castelo altaneiro rodeado pelo desenho extraordinário das nuvens que o ladeiam. Numa linha longitudinal a serra vai crescendo até se despenhar no verde e lindíssimo Oceano que ela segura.
Pelas curvas da serra o silêncio reina. As aves, são ainda poucas as que se mostram. Há um sussurro que os meus ouvidos atentos registam!
O som da terra!
Um som familiar que canta e encanta. Que acalma e exalta, que nos adormece e acorda para a espantosa realidade do milagre de cada dia.
Dentro em breve, toda a terra florescerá em desenhos e cores esplendorosas, e o silêncio agora reinante, será então um entoar de hinos à Mãe Natureza, por ter guardado a semente e a fazer germinar mais uma vez.
Eu sou eternamente grata, por me ser dado observar mais uma vez, o parto magnífico donde emergem as mais belas flores e o pão da vida.
Mas, de novo na cidade, mergulho na correria das gentes apressadas, que convergem para os mesmos locais, na presa de se encontrarem como os filhos que crescem longe de si, fechados numa creche ou entregues a si próprios, sem verem crescer as flores e ouvir o cantar das aves.
E sinto pena!

Felismina mealha
2/4/2013
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Guiné 63/74 - P11407: Agenda cultural (260): Programa da RTP, "A Guerra", composto por 42 episódios, em 4 Temporadas, está a ser exibido às quartas feiras... A série acaba dentro de 4 semanas, com os últimos episódios da IV (e última) Temporada

1.  Da direcção de produção do programa da RTP "A Guerra",  realizado pro Joaquim Furtado recebemos a seguinte informação, para divulgação no blogue:


Para o blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné, envio, julgando corresponder ao pedido, alguns elementos sobre a série, terminando com a sinopse do episódio da próxima quarta-feira [, dia 17 de abril de 2013,`na RTP1, àss 22h48].

Poderei, se esse for o interesse do blogue, enviar semanalmente, as sinopses dos três outros (últimos) episódios.

Obrigado
Joaquim Furtado



1. A RTP 1 está a terminar a exibição da série "A Guerra", composta por 42 episódios. Estão editados em DVD apenas 18, correspondentes à primeira e à segunda temporadas. Houve depois uma terceira temporada (6 episódios), estando agora em exibição os 18 episódios finais. Estão a ser emitidos às quartas-feiras, faltando apresentar quatro (referentes ao período que culmina com o 25 de Abril de 1974).

O próximo episódio, a emitir no dia 17, regista o crescente isolamento internacional de Portugal, na sequência da proclamação unilateral da independência da Guiné, pelo PAIGC. Por outro lado, trata da iniciativa de Jorge Jardim que, em Moçambique e à revelia de Marcello Caetano, abre uma via para o diálogo com a Frelimo, através da Zâmbia. Com o chamado Programa de Lusaka pensa ter encontrado o caminho para o seu projecto onde procura envolver realidades tão distintas como os Grupos Especiais de Paraquedistas e os concursos de misses. Espera contar com figuras como Domingos Arouca, Máximo Dias e Joana Simeão. 

Nomes que aderem ao reformismo de Marcello Caetano no qual acreditam também os setores que organizam o I Congresso dos Combatentes do Ultramar. Uma iniciativa de que se demarcam cerca de 400 oficiais do Quadro Permanente, facto que representou uma primeira atitude de indisciplina colectiva, no âmbito militar. 

Os decretos que regulavam o acesso de milicianos ao Quadro vieram, nos meses seguintes, criar um descontentamento que, gradualmente, se tornou político e conduziu à criação do Movimento das Forças Armadas. 

Já no início de 1974, a morte de uma fazendeira portuguesa, desencadeou uma revolta entre os colonos que acusaram a tropa de inércia perante a FRELIMO. Um factor que contribuiu para a estimular o avanço do movimento militar que culminaria com o 25 de Abril.

2. Apresentação da série, segundo a página oficial da RTP (relativamente à III Temporada):

Joaquim Furtado tem procurado, com esta série documental, descrever o que foi a guerra (nos seus aspectos militares, políticos e sociais) que, entre 1961 e 1974, opôs as forças armadas portuguesas e os movimentos de guerrilha que lutavam pela independência de Angola, de Moçambique e da Guiné, territórios então sob administração portuguesa. Um conflito que os africanos designaram por guerra de libertação nacional, e os portugueses por guerra do Ultramar ou guerra colonial.

O autor assenta a estruturação do trabalho em alguns pilares fundamentais:

 (i) filmes, fotografias e documentação da época (foram consultados de forma exaustiva, os principais acervos disponíveis); 

(ii) entrevistas com os protagonistas do conflito, militares e civis, africanos e portugueses (foram gravados mais de duas centenas de testemunhos); 

(iii) reportagens em lugares especialmente significativos da guerra (com a presença e o encontro entre si de portugueses e africanos, ex-combatentes); 

(iv) “reconstituição” gráfica de alguns dos principais episódios militares que marcaram o conflito.

O recurso a gravações radiofónicas da época permitiu complementar imagens, até aí limitadas na sua expressão.

Do material recolhido resultou a revelação e aprofundamento de muita documentação, tendo havido a preocupação de contextualizar esse material, nomeadamente filmes. Por outro lado, quanto aos testemunhos, o objectivo do projecto foi favorecido pelo facto de terem passado mais de trinta anos sobre o fim do conflito, o que se traduziu numa maior disponibilidade, por parte dos entrevistados, para a abordagem de assuntos traumáticos como os que a guerra envolve.

O autor procura narrar o conflito ao ritmo a que ele se desenrolou, em simultâneo, em Angola, na Guiné e em Moçambique pelo que, cada episódio contempla sempre mais do que um dos territórios. (...)

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