1. Mensagem do nosso camarada Mário
Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 15 de Outubro de 2014:
Caros Camaradas e Amigos
Como vai a Tabanca Grande?
O meu filho está a enviar este Anexo visto não me ser possível, por enquanto, ir ao computador.
- Vai Presidir à Mesa o Presidente da Direcção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), Comendador José Eduardo Gaspar Arruda
- A Apresentação do Livro vai ser feita pela Professora Ermelinda Caetano
- Mário Vitorino Gaspar como Autor do Livro.
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar
Nota: Não tenho acompanhado o Blogue, a vista esquerda está um pouco turva.
Existiram algumas Sondagens? Gosto sempre de participar, nem que seja através de mensagens via telemóvel.
Se existe alguma Sondagem em curso digam-me.
Embora o conheçam aqui vai o meu contacto: 93 621 42 84
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13740: Agenda cultural (341): Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13747: Notas de leitura (642): “Libertação Nacional - Manual Político do P.A.I.G.C.”, com intervenções de Amílcar Cabral, Edições Maria da Fonte, 1974 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2014:
Queridos amigos,
É um manual político altamente esclarecedor.
O pensamento de Amílcar Cabral é omnipresente, não há aqui uma linha de qualquer outro dirigente do PAIGC. Percebe-se como todos os colaboradores guineenses com os portugueses iam ser perseguidos ou destruídos, está taxativamente escrito; a pequena burguesia teria que fazer uma escolha decisiva: pôr-se ao lado do PAIGC e ganhar consciência revolucionária ou suicidar-se como classe; matraqueia-se, a propósito e a despropósito, a unidade da Guiné com Cabo Verde; o pendor socialista não é iludido, pelo contrário, é vangloriado.
Não se pode fazer a história da formação ideológica do PAIGC sem ler este manual, entre outras coisas dá para perceber que fora do pensamento de Amílcar Cabral havia o deserto de ideias.
Um abraço do
Mário
Manual político do PAIGC
Beja Santos
Em julho de 1974, as Edições Maria da Fonte davam à estampa o primeiro volume do manual político do PAIGC, documento do maior relevo nesta estrutura ideológica, já que era apresentado como de grande utilidade para os comissários políticos e para os quadros do Partido no seu trabalho junto das massas. Para que não houvesse margem para equívocos, é também esclarecido que a maior parte do documento se baseava em intervenções de Amílcar Cabral. O manual era apresentado sob a forma de perguntas e respostas, avançava-se com elementos de caráter económico quanto à economia da Guiné e Cabo Verde, explicava-se como funcionava a economia portuguesa e como esta, então, citamos, “está sob o domínio dos monopólios e de baixo da mão de ferro da grande burguesia nacional portuguesa, cujos interesses se identificam com o fascismo e o colonialismo”. A grande consigna para este manual, e aqui cita-se Amílcar Cabral, é a de “exigir aos responsáveis do Partido que se dediquem seriamente ao estudo, que se interessam pelas coisas e problemas da vida e da luta no seu aspeto fundamental, essencial, e não apenas nas suas aparências; devemos obrigar cada responsável a melhorar, dia a dia, os seus conhecimentos, a sua cultura, a sua formação política, convencer cada um de que ninguém pode saber sem aprender e que a pessoa mais ignorante é aquela que sabe sem ter aprendido”.
Este manual político ensinava muita coisa: a natureza da sua direção política; a sorte que estava destinada aos colaboradores dos colonialistas; a opção radical que cabe à burguesia guineense; a essência da luta de libertação nacional; a unidade da Guiné e Cabo Verde; a atitude do PAIGC face à unidade africana; do ponto de vista militar, como encarava o PAIGC a libertação de Cabo Verde, etc., etc.
Primeiro, o PAIGC é o instrumento de transformação da sociedade, para expulsar o colonialismo e para construir o progresso do país. A centralização política é indispensável. “É a direção do Partido que comanda verdadeiramente as coisas e, a cada nível, há uma direção estreitamente ligada ao nível superior”.
Segundo, há um número considerável de chefes, sobretudo da etnia fula, que se colocaram ao lado dos portugueses. Quando Amílcar Cabral afirma que aqueles que passam para o lado do inimigo, colaborando com os colonialistas portugueses, se destroem, quer dizer que eles deixam de ser gente do nosso povo, eles passam também a ser nossos inimigos e que os consideramos como colonialistas. E deixa-se um aviso seríssimo: “O destino dos colonialistas é serem destruídos na nossa terra. O mesmo acontecerá com aqueles que sendo africanos e gente do nosso povo resolveram trair os interesses do nosso povo. Não há qualquer dúvida de que uns e outros serão completamente destruídos”.
Terceiro, a pequena burguesia aceita impregnar-se do sentido revolucionário ou suicidar-se-á. Em Havana, Cabral procurara reformular a tese da classe revolucionária atendendo aos países que não dispunham de classe operária: “Os factos demonstraram que o único setor capaz de ter consciência da realidade da dominação imperialista e de dirigir o aparelho de Estado herdado dessa dominação é a pequena burguesia do país. A situação colonial, que não admite o desenvolvimento de uma burguesia autóctone e na qual as massas populares não atingem, em geral, o grau necessário de consciência política, antes do desencadeamento do fenómeno da libertação nacional, oferece à pequena burguesia a oportunidade histórica de dirigir a luta contra a dominação estrangeira. Para manter o poder que a libertação nacional põe nas suas mãos, a pequena burguesia só tem um caminho: deixar agir livremente as suas tendências naturais de emburguesamento e ligar-se necessariamente ao capital imperialista. Ora, tudo isto corresponde à situação neocolonial, isto é, à traição dos objetivos da libertação nacional. Para não trair estes objetivos, a pequena burguesia só tem um caminho: reforçar a sua consciência revolucionária. A pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de se suicidar como classe para ressuscitar como trabalhador revolucionário”.
Quarto, por que razão nos devemos preparar para uma luta popular de longa duração? O manual respondia que a luta podia terminar depois de amanhã, talvez no próximo ano, daqui a 4 ou 5 anos. E Cabral responde: “O que nós garantimos é que vamos dar golpes mais duros, mais mortais aos portugueses. Temos homens para o fazer, temos e teremos material para o fazer”.
Quinto, a essencialidade de se conhecer a realidade histórica do povo guineense e cabo-verdiano. O manual trata estes dois povos indistintamente como um país e o nosso povo. O sucesso da luta decorria do profundo conhecimento da realidade histórica (política, sociocultural e económica) do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde. Para Cabral Guiné e Cabo Verde era a união histórica incontornável. O PAIGC tinha uma única direção para a Guiné e Cabo Verde. Mas a luta do PAIGC aposta também na destruição das outras colónias portuguesas e na colaboração com os povos africanos, asiáticos e latino-americanos que lutam contra o colonialismo.
Sexto, do ponto de vista militar, como encara o PAIGC a libertação do conjunto das ilhas de Cabo Verde? Cabral insistia em que a luta em Cabo Verde e na Guiné estava intimamente ligada, dizendo que as ilhas de Cabo Verde tinham sido povoadas por escravos levados até lá pelos portugueses. E alertava: “Desde há muito que estamos ligados pela história e pelo sangue. É imperioso evitar que os portugueses explorem a separação que há entre a Guiné e Cabo Verde”.
Sétimo, em que princípio se baseia a aceitação da ajuda daqueles que se dispõem a ajudar-nos? Cabral responde: “A nossa ética de ajuda é a seguinte: recebemos a ajuda de qualquer um que deseje dá-la. Esperamos que cada qual que deseje ajudar-nos dê aquilo que puder dar. Não admitimos condições à ajuda que recebemos. A contrapartida à ajuda que nos dão é a garantia que damos de utilizar essa ajuda o melhor possível, com a maior eficácia, para a libertação do nosso povo”.
Oitavo, por que é que os países socialistas são os aliados naturais do PAIGC? Cabral, por tática ou convicção refere a revolução socialista e os acontecimentos da II Guerra Mundial, considerando que o mundo tinha definitivamente mudado de face porque surgira o campo socialista. É um texto apologético destacando a União Soviética. Cabral observa que não há nenhum país socialista no mundo que mantenha qualquer espécie de sistema colonial. É por isso que estes países socialistas são os aliados seguros dos povos em luta pela sua total liberdade.
Nono, questionam-se as possibilidades de desenvolvimento económico da Guiné e Cabo Verde. Mais uma vez e sempre Cabral responde falando das grandes possibilidades económicas da Guiné: mancarra, óleo de palma, curtumes, madeiras, borracha, pecuária, arroz, frutas, pesca, caça e turismo; quanto a Cabo Verde, refere a indústria da pesca, as culturas agrícolas como o milho, o feijão e a mandioca, as potencialidades em lacticínios, etc.
O manual é ainda mais extenso, fala do Biafra, das razões que impediam Portugal de fazer neocolonialismo, da unidade nos movimentos de libertação das colónias portuguesas, etc., etc.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13727: Notas de leitura (641): “Para um conhecimento do teatro africano”, por Carlos Vaz, Ulmeiro, 1978 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É um manual político altamente esclarecedor.
O pensamento de Amílcar Cabral é omnipresente, não há aqui uma linha de qualquer outro dirigente do PAIGC. Percebe-se como todos os colaboradores guineenses com os portugueses iam ser perseguidos ou destruídos, está taxativamente escrito; a pequena burguesia teria que fazer uma escolha decisiva: pôr-se ao lado do PAIGC e ganhar consciência revolucionária ou suicidar-se como classe; matraqueia-se, a propósito e a despropósito, a unidade da Guiné com Cabo Verde; o pendor socialista não é iludido, pelo contrário, é vangloriado.
Não se pode fazer a história da formação ideológica do PAIGC sem ler este manual, entre outras coisas dá para perceber que fora do pensamento de Amílcar Cabral havia o deserto de ideias.
Um abraço do
Mário
Manual político do PAIGC
Beja Santos
Em julho de 1974, as Edições Maria da Fonte davam à estampa o primeiro volume do manual político do PAIGC, documento do maior relevo nesta estrutura ideológica, já que era apresentado como de grande utilidade para os comissários políticos e para os quadros do Partido no seu trabalho junto das massas. Para que não houvesse margem para equívocos, é também esclarecido que a maior parte do documento se baseava em intervenções de Amílcar Cabral. O manual era apresentado sob a forma de perguntas e respostas, avançava-se com elementos de caráter económico quanto à economia da Guiné e Cabo Verde, explicava-se como funcionava a economia portuguesa e como esta, então, citamos, “está sob o domínio dos monopólios e de baixo da mão de ferro da grande burguesia nacional portuguesa, cujos interesses se identificam com o fascismo e o colonialismo”. A grande consigna para este manual, e aqui cita-se Amílcar Cabral, é a de “exigir aos responsáveis do Partido que se dediquem seriamente ao estudo, que se interessam pelas coisas e problemas da vida e da luta no seu aspeto fundamental, essencial, e não apenas nas suas aparências; devemos obrigar cada responsável a melhorar, dia a dia, os seus conhecimentos, a sua cultura, a sua formação política, convencer cada um de que ninguém pode saber sem aprender e que a pessoa mais ignorante é aquela que sabe sem ter aprendido”.
Este manual político ensinava muita coisa: a natureza da sua direção política; a sorte que estava destinada aos colaboradores dos colonialistas; a opção radical que cabe à burguesia guineense; a essência da luta de libertação nacional; a unidade da Guiné e Cabo Verde; a atitude do PAIGC face à unidade africana; do ponto de vista militar, como encarava o PAIGC a libertação de Cabo Verde, etc., etc.
Primeiro, o PAIGC é o instrumento de transformação da sociedade, para expulsar o colonialismo e para construir o progresso do país. A centralização política é indispensável. “É a direção do Partido que comanda verdadeiramente as coisas e, a cada nível, há uma direção estreitamente ligada ao nível superior”.
Segundo, há um número considerável de chefes, sobretudo da etnia fula, que se colocaram ao lado dos portugueses. Quando Amílcar Cabral afirma que aqueles que passam para o lado do inimigo, colaborando com os colonialistas portugueses, se destroem, quer dizer que eles deixam de ser gente do nosso povo, eles passam também a ser nossos inimigos e que os consideramos como colonialistas. E deixa-se um aviso seríssimo: “O destino dos colonialistas é serem destruídos na nossa terra. O mesmo acontecerá com aqueles que sendo africanos e gente do nosso povo resolveram trair os interesses do nosso povo. Não há qualquer dúvida de que uns e outros serão completamente destruídos”.
Terceiro, a pequena burguesia aceita impregnar-se do sentido revolucionário ou suicidar-se-á. Em Havana, Cabral procurara reformular a tese da classe revolucionária atendendo aos países que não dispunham de classe operária: “Os factos demonstraram que o único setor capaz de ter consciência da realidade da dominação imperialista e de dirigir o aparelho de Estado herdado dessa dominação é a pequena burguesia do país. A situação colonial, que não admite o desenvolvimento de uma burguesia autóctone e na qual as massas populares não atingem, em geral, o grau necessário de consciência política, antes do desencadeamento do fenómeno da libertação nacional, oferece à pequena burguesia a oportunidade histórica de dirigir a luta contra a dominação estrangeira. Para manter o poder que a libertação nacional põe nas suas mãos, a pequena burguesia só tem um caminho: deixar agir livremente as suas tendências naturais de emburguesamento e ligar-se necessariamente ao capital imperialista. Ora, tudo isto corresponde à situação neocolonial, isto é, à traição dos objetivos da libertação nacional. Para não trair estes objetivos, a pequena burguesia só tem um caminho: reforçar a sua consciência revolucionária. A pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de se suicidar como classe para ressuscitar como trabalhador revolucionário”.
Quarto, por que razão nos devemos preparar para uma luta popular de longa duração? O manual respondia que a luta podia terminar depois de amanhã, talvez no próximo ano, daqui a 4 ou 5 anos. E Cabral responde: “O que nós garantimos é que vamos dar golpes mais duros, mais mortais aos portugueses. Temos homens para o fazer, temos e teremos material para o fazer”.
Quinto, a essencialidade de se conhecer a realidade histórica do povo guineense e cabo-verdiano. O manual trata estes dois povos indistintamente como um país e o nosso povo. O sucesso da luta decorria do profundo conhecimento da realidade histórica (política, sociocultural e económica) do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde. Para Cabral Guiné e Cabo Verde era a união histórica incontornável. O PAIGC tinha uma única direção para a Guiné e Cabo Verde. Mas a luta do PAIGC aposta também na destruição das outras colónias portuguesas e na colaboração com os povos africanos, asiáticos e latino-americanos que lutam contra o colonialismo.
Sexto, do ponto de vista militar, como encara o PAIGC a libertação do conjunto das ilhas de Cabo Verde? Cabral insistia em que a luta em Cabo Verde e na Guiné estava intimamente ligada, dizendo que as ilhas de Cabo Verde tinham sido povoadas por escravos levados até lá pelos portugueses. E alertava: “Desde há muito que estamos ligados pela história e pelo sangue. É imperioso evitar que os portugueses explorem a separação que há entre a Guiné e Cabo Verde”.
Sétimo, em que princípio se baseia a aceitação da ajuda daqueles que se dispõem a ajudar-nos? Cabral responde: “A nossa ética de ajuda é a seguinte: recebemos a ajuda de qualquer um que deseje dá-la. Esperamos que cada qual que deseje ajudar-nos dê aquilo que puder dar. Não admitimos condições à ajuda que recebemos. A contrapartida à ajuda que nos dão é a garantia que damos de utilizar essa ajuda o melhor possível, com a maior eficácia, para a libertação do nosso povo”.
Oitavo, por que é que os países socialistas são os aliados naturais do PAIGC? Cabral, por tática ou convicção refere a revolução socialista e os acontecimentos da II Guerra Mundial, considerando que o mundo tinha definitivamente mudado de face porque surgira o campo socialista. É um texto apologético destacando a União Soviética. Cabral observa que não há nenhum país socialista no mundo que mantenha qualquer espécie de sistema colonial. É por isso que estes países socialistas são os aliados seguros dos povos em luta pela sua total liberdade.
Nono, questionam-se as possibilidades de desenvolvimento económico da Guiné e Cabo Verde. Mais uma vez e sempre Cabral responde falando das grandes possibilidades económicas da Guiné: mancarra, óleo de palma, curtumes, madeiras, borracha, pecuária, arroz, frutas, pesca, caça e turismo; quanto a Cabo Verde, refere a indústria da pesca, as culturas agrícolas como o milho, o feijão e a mandioca, as potencialidades em lacticínios, etc.
O manual é ainda mais extenso, fala do Biafra, das razões que impediam Portugal de fazer neocolonialismo, da unidade nos movimentos de libertação das colónias portuguesas, etc., etc.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13727: Notas de leitura (641): “Para um conhecimento do teatro africano”, por Carlos Vaz, Ulmeiro, 1978 (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13746: Os nossos médicos (82): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças às campanhas de vacinação obrigatórias
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Camdamã > 1969 > Fotos Falantes III > Os meninos de Candamã... Um aspecto da tabanca em autodefesa de Candamã. O 2º Gr Comb, comandado pelo alf mil Torcato Mendonça, vindo de Mansambo, foi destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Gr Comb do Torcato Mendonça voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em Outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional...
Foto: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
Alf mil med Rui Vieira Coelho. Foto de Juvenal Amado |
Na população africana além da malária, tinham inúmeras disenterias amebianas por inquinação da água pela Entamoeba Histolitica.
As desidratações nas crianças eram assustadoras dada a evolução rápida para estados críticos e era fundamental fazer a reposição forçada de líquidos e electrólitos . Gastávamos soros em grande quantidade principalmente polielectrolitico e glicosado a 5 por cento.
O sarampo era outro flagelo epidémico que levava à morte muitas crianças com pneumonias pós-sarampo, mas bastava uma Penicilina de 400000 U.I intra-muscular para afastar qualquer infecção em corpos virgens de antibióticos e portanto sem qualquer resistência a este tipo de medicamentos.
Por vezes apareciam indígenas mordidos por cobras a quem lhes era imediatamente ministrado soro-antiofidico da África Ocidental,que fazia parte do arsenal farmacêutico militar.
A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças ás campanhas de vacinação obrigatórias que foram implantadas como na metrópole.
Hoje em dia os números voltaram a ser assustadores:
(i) mortalidade infantil: 20 por cento das crianças morrem antes de atingirem os cinco anos de idade;
(ii) mortalidade materna uma morte por cada 30 partos;
(iii) Indicador do PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]: 173 lugar em 184 países; (como é isto possível???)
(iv) Esperança de vida: 50 anos. (Verdadeiramente confrangedor!!!!) (**)
Enviado do meu iPad
(Continua)
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Notas do editor:
(*) Úlrtimo poste da série > 17 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!
(*) Úlrtimo poste da série > 17 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!
(**) Vd aqui o perfil da Guiné-Bissau, de acordo com a OMS (texto em inglês, mas também disponível em francês, espanhol... e russo)
Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!
Uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72),
Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
1. Lancei ontem o seguinte desafio ao Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto à direita, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]
Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis
2. Resposta, imediata, passadas umas horas:
Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10
Assunto: Doenças no TO Da Guiné
Caro Luis
Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.
Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro, na CCS do Batalhão, e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos, Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim; e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.
E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.
Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas, respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.
A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.
Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.
Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .
Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.
Na região leste da Guiné, o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs
Rui: Vou fazer-te um desafio, descrever a farmácia militar de Galomaro (que devia ser igual à de Bambadinca e de tantas outras)... Quais eram os medicamentos essenciais de que tu dispunhas para acudir a uma doença aguda ou uma emergência médica... Por outro lado, havia a ação médica junto da população, os comprimidos LM, etc.
Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis
2. Resposta, imediata, passadas umas horas:
Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10
Assunto: Doenças no TO Da Guiné
Caro Luis
Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.
Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro, na CCS do Batalhão, e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos, Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim; e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.
E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.
Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas, respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.
A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.
Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.
Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .
Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.
Na região leste da Guiné, o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs
Enviado do meu iPad
(Continua)
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Nota do editor:
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Guiné 63/734 - P13744: Fotos à procura de... uma legenda (39A): Um poço à beira da estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970... Esta foto do Valdemar Queiroz faz-me recordar o caso de um furriel que na zona de Madina, em certa ocasião, vencido pela sede, oferecia sete contos (!) por um copo de água!... (Domingos Gonçalves, ex-alf mil, CCAÇ 1546, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)
Guiné > Zona leste > Estrada Nova Lamego- Bafatá > Maio de 1970 > CART 11 (1969/70) > Um poço de água...à beira da estrada. "Iagu sabi", diz o fur mil Valdemar Queiroz...
Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
1. A foto é do Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva][, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)...
Um dos comentários que recebemos, com data de 13 do corrente, é do Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) [, foto atual à esquerda]:
Prezado Luiz Graça
Votos de saúde. Sobre a água refiro:
A água é, e sempre foi, um bem precioso. Regra geral não lhe damos o valor que tem. Só quando a sede nos visita, e a não temos, é que sabemos, ou lhe damos, o valor, que tem.
Quem esteve na Guiné, nas companhias operacionais, e andou pelo mato, dificilmente
não lhe sentiu a falta.
Recordo o caso de um furriel que na zona de Madina certa ocasião, vencido pela sede, oferecia seis, ou sete mil escudos (sete contos!) por um copo de água. Mas, naquela circunstância, não havia água para ninguém.
Recordo-me, também, de em certa manhã, ver soldados a mitigar a sede chupando das folhas do capim as minúsculas gotas de orvalho formadas durante a ténue frescura da noite.
Penso que, mais ou menos, na Guiné alguma vez todos lhe sentimos a falta.
Se recordar é viver, a lembrança desses dias distantes, é saudável, e ajuda a compreender melhor a vida.
Um braço amigo
Domingos Gonçalves
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13722: Fotos à procura de... uma legenda (38): Estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970: Fomos à água... Água das Pedras ou da Bolanha ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]
Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...
Foto: © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
1. Resposta, a um comentário de LG. (*), enviada pelo Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]
Data: 16 de Outubro de 2014 às 01:30
Assunto: Desidratação
Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina, ás quintas e domingo,para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.
Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual.
Enfim, boatos que corriam em surdina entre os operacionais e que prejudicavam o desempenho da operacionalidade dos grupos de combate, das companhias e dos Batalhões .
A Maria Turra na emissão da Rádio do PAIGC utilizava por vezes o prejuízo que acarretava a toma de determinados medicamentos pelos nossos militares, explorando psicologicamente o temor fazendo com que os boatos se tornassem realidade tentando agravar a saúde psicológica e física das nossas forças. A contra-informação era uma realidade e uma arma poderosa da guerrilha também a ser explorada.
A pressão sobre os profissionais de saúde era grande e por vezes a desconfiança era a má conselheira, fazendo no meu caso pessoal com que tomasse os comprimidos na frente do pessoal na altura das refeições, para anular os boatos que pudessem persistir.
Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate.
O meu Gin Tónico pela manhã tinha o efeito de, além de me sedentar, desentupir a gorja e também como medicamento visto a água tónica ter Quinino, outro anti-palúdico.
Pela noite depois do jantar lá vinha o wisky com água Perrier, para acompanhar um bom bate papo no alpendre da messe de oficiais fazendo correr o tempo até chegar o grupo de combate que diariamente saía para patrulhamento. Só depois de ter a certeza que todos tinham chegado bem, é que eu me recolhia para dormir depressa, pois acordava sempre pelas 6 horas da manhã, seco como as palhas á espera de um novo Gin para me restaurar a esperança de que esse dia seria muito melhor que o anterior.
Um abraço do Rui Vieira Coelho
Enviado do meu iPad
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13741: Os nossos médicos (79) Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (11): A água, a água da bolanha de Galomaro, a água de Lisboa, as pastilhas de sal, a cerveja, o uísque, o gin tónico, as bajudas... e os operacionais que nos guardavam as costas
Comentário de Luís Graça:
Meu caro Rui:
(...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...
Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...
Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...
A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...
Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)
(...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...
Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...
Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...
A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...
Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)
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quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13742: (Ex)citações (239): "Desenrascanço" (António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)
1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,. enviou-nos a seguinte mensagem.
Caro Magalhães, se entenderes que este desabafo escrito ao correr da pena e sem qualquer pesquisa mas em resposta ao desafio do Luís Graça ao qual preferi "fazer uma declaração de voto" `perante a cruzinha que pus na sondagem, então publica se o restante corpo editorial concordar.
Abraços para todos os tabanqueiros em geral e em particular para vocês, homens que aguentam o blog de pé!
Camaradas,
Há já muito tempo que não participo no blog do Luís Graça ainda que, de quando em vez, ou o procure ou ele (blog) esbarre em mim e me desperte a natural curiosidade.
Hoje foi uma dessas vezes e o tema "desenrascanço" na sondagem de opiniões sobre a sua existência, mereceu uma reflexão da minha parte.
Perdi já uma certa dinâmica no manuseamento deste blog e não procurei muito.
Limitei-me a seguir uma referência e dei de imediato com um post meu onde, explicitamente, escrevo sobre essa nossa "nobre capacidade" ...
Passados todos estes anos e arrefecidos os ímpetos mais aguerridos que nos fizeram falar sob a influência do "ressaibiamento" de quem passara todo aquele tempo na defesa de interesses que salvaguardavam os dos políticos mas que se esqueciam literalmente dos que buliam com a vida das pessoas (falo das populações, claro), passado todos esses anos, dizia, aqui estou a corroborar o que na altura escrevi e a constatar que os homens do poder não aprenderam nada com a história pois continuam com o mesmo paradigma do quero-posso-e-mando deixando por esse mundo fora um rasto de destruição física e social que em nada faz prever algo de bom para as próximas dezenas de décadas ...
Costuma dizer-se que o povo é inteligente e não se deixa enganar mas eu tenho opinião diferente.
O povo (até porque as maiorias se comportam como carneiros) não goza desse epíteto e a prova provada aí está! Após anos de (des)governação vêm as eleições e, como que por milagre, a intoxicação intelectual revolve as mentalidades e o povo volta a votar nos mesmos !!
Muitas vezes com a desculpa de que os outros não podem fazer melhor ... Mal por mal, aguentemos os que já cá estão, dizem ....
Claro que, com o tempo e com a força das armas, vão emergindo novos "mentores", concebidos à luz daquela velha máxima de que, no reino dos cegos, o cego dum só olho é rei !
É o desenrascanço na sua fase plena !
Conclusão: o desenrascanço que nos diversos TO e que no da Guiné em particular se estabeleceu desde o 1º momento, é indiscutível pois aparece em consequência das incompetências superiores .
Li alguns artigos de autores que estudaram e tentaram fazer comparações (níveis de resiliência dos soldados à má nutrição, às condições de habitabilidade e fundamentalmente ao tempo de missão) entre a guerra na Guiné e no Vietname e foram conclusivos ao afirmarem que só o povo português aceitaria e suportaria tais condições quase sempre com um sorriso nos lábios, umas apalpadelas nas mulheres que os combatiam e com as quais, quantas vezes!, viriam a procriar e até a casar, não se apercebendo de quão infame era a sua situação.
Enfim, desenrascavam-se !
Depois vinham as dotações militares e aí era um fartar vilanagem !!!
Pelotões que enfrentavam o inimigo com deficiente armamento ...
Viaturas cujas manutenções eram verdadeiras e constantes hemorragias de dinheiro .....
Cadeias de comando que "preparavam" operações em cima dum mapa da região que desconheciam por completo ....
Comandantes que, face a emboscadas onde as nossas tropas caíam, preocupavam-se prioritariamente em saber dos danos materiais e só depois dos humanos ...
Enfim, desenrascámo-nos !
__________
Nota de M.R.:
Vd. também o poste:
29 DE SETEMBRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13663: Sondagem: a arte lusitana do desenrascanço,,, na tropa e na guerra... Postes publicados no nosso blogue sobre este tópico
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P13741: Os nossos médicos (79): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (11): A água, a água da bolanha de Galomaro, a água de Lisboa, as pastilhas de sal, a cerveja, o uísque, o gin tónico, as bajudas... e os operacionais que nos guardavam as costas
Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro > BCAÇ 3872 (1972/74 > A bolanha de Galomaro...
Fotos do álbum do ex-alf mil médico Rui Vieora Coelho, disponíevis na página do grupo (fechado) do Facebook Galomaro, destino e passagem (Criado em 23/3/2011, e editado pelo Rui Vieira Coelho, tem já cerca de 90 membros, pretendendo "convergir pelo trato afectivo todos os ex-militares que permaneceram em Galomaro, na Guiné-Bissau, ou por lá passaram em trânsito").
Fotos (e legenda): © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
1. Mensagem, enviada por IPad, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, na bolanha de Galomaro]
Data: 12 de Outubro de 2014 às 17:45
Assunto: Água
Caro Luís:
O bem mais precioso para os operacionais da Guiné. Antes de cada operação pedia aos camaradas que iam para o mato, para tomarem umas pastilhas de toni-hidratantes (cloreto de sódio, o vulgar sal das cozinhas) e seguidamente beberem água esterelizada ou umas cervejolas que em princípio toda a malta preferia.
O sal fazia reter a água, diminuindo a sede e portanto o consumo da mesma. Mas se a operação fosse longa, até como muito bem dizes, " até o mijo se bebia". Nunca vi mas em quanto permaneci no CTIG as descrições sucediam-se e não eram poucas. Como tu gostava do meu uísque com água Perrier que vinha do Senegal, ao fim do dia e de manhã eu não passava sem beber o meu Gin com água tónica (tem sempre quinino).
Ás refeições acompanhava sempre com uma cervejola.
Mas tive o privilégio de, como médico do Batalhão, estar quasi permanentemente na CCS ou então nalguma companhia, em Dulombi ou Cancolim, onde as condições, embora não fossem das melhores, nada tinham a ver com o inferno que todos os operacionais passaram não só pela falta de água, mas pelo isolamento, pelos perigos constantes que espreitavam de qualquer lado, pelo clima psicológico e meteriológico que os rodeavam, pelo temor de um ataque de uma emboscada, mas no fundo sempre com a esperança de um bom regresso sem qualquer mazela ou ferimento.
A chegada à base surgiam as graçolas, os risos, as anedotas, uma refeição quente após uma chuveirada para limpar o corpo e a alma das agruras passadas, parecendo já esquecidas.
Nunca me deitei enquanto não chegavam os grupos de combate das missões de patrulhamento a que diariamente estavam sujeitos, inteirando-me de qualquer situação anómala que tivessem tido e se necessitavam da minha intervenção .
O comandante e o major das operações igualmente assim como o capelão (Padre Nuno), o aferes das transmissões (engº Mário Vasconcelos), o alferes tesoureiro (economista Veiga), o capitão da companhia do Dulombi (eng Pires). Todos solidários com quem vinha do mato e que nos guardava as costas e a quem devemos a nossa integridade física.
Obrigado, pois, a todos os Operacionais da Guiné
Rui Vieira Coelho
ex-Alf Mil Médico dos Batalhões 3872 e 4518
Galomaro, Guiné 1973/1974
_________________
Assunto: Água
Caro Luís:
O bem mais precioso para os operacionais da Guiné. Antes de cada operação pedia aos camaradas que iam para o mato, para tomarem umas pastilhas de toni-hidratantes (cloreto de sódio, o vulgar sal das cozinhas) e seguidamente beberem água esterelizada ou umas cervejolas que em princípio toda a malta preferia.
O sal fazia reter a água, diminuindo a sede e portanto o consumo da mesma. Mas se a operação fosse longa, até como muito bem dizes, " até o mijo se bebia". Nunca vi mas em quanto permaneci no CTIG as descrições sucediam-se e não eram poucas. Como tu gostava do meu uísque com água Perrier que vinha do Senegal, ao fim do dia e de manhã eu não passava sem beber o meu Gin com água tónica (tem sempre quinino).
Ás refeições acompanhava sempre com uma cervejola.
Mas tive o privilégio de, como médico do Batalhão, estar quasi permanentemente na CCS ou então nalguma companhia, em Dulombi ou Cancolim, onde as condições, embora não fossem das melhores, nada tinham a ver com o inferno que todos os operacionais passaram não só pela falta de água, mas pelo isolamento, pelos perigos constantes que espreitavam de qualquer lado, pelo clima psicológico e meteriológico que os rodeavam, pelo temor de um ataque de uma emboscada, mas no fundo sempre com a esperança de um bom regresso sem qualquer mazela ou ferimento.
A chegada à base surgiam as graçolas, os risos, as anedotas, uma refeição quente após uma chuveirada para limpar o corpo e a alma das agruras passadas, parecendo já esquecidas.
Nunca me deitei enquanto não chegavam os grupos de combate das missões de patrulhamento a que diariamente estavam sujeitos, inteirando-me de qualquer situação anómala que tivessem tido e se necessitavam da minha intervenção .
O comandante e o major das operações igualmente assim como o capelão (Padre Nuno), o aferes das transmissões (engº Mário Vasconcelos), o alferes tesoureiro (economista Veiga), o capitão da companhia do Dulombi (eng Pires). Todos solidários com quem vinha do mato e que nos guardava as costas e a quem devemos a nossa integridade física.
Obrigado, pois, a todos os Operacionais da Guiné
Rui Vieira Coelho
ex-Alf Mil Médico dos Batalhões 3872 e 4518
Galomaro, Guiné 1973/1974
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Nota do editor:
Úlçtimo poste da série > 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13732: Os nossos médicos (78): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (10): As recordações surgem e as saudades de todos os lugares e gentes também
Úlçtimo poste da série > 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13732: Os nossos médicos (78): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (10): As recordações surgem e as saudades de todos os lugares e gentes também
Guiné 63/74 - P13740: Agenda cultural (341): Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)
C O N V I T E
Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13721: Agenda cultural (340): Tributo ao pintor lourinhanense Estêvão Soares (1914-1992): uma belíssima homenanagem dos seus filhos e da terra que o viu nascer, há 100 anos... Um notável aguarelista, um apaixonado por África, suas paisagens, suas gentes
Guiné 63/74 - P13739: Efemérides (176): A primeira Operação da CART 494 foi em 11 de Outubto de 1963 (Coutinho e Lima)
1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 9 de Outubro de 2014:
Caro Amigo
Junto envio, em anexo, um pequeno artigo sobre o assunto em epígrafe.
Um abraço amigo
Coutinho e Lima
Primeira Operação da CART 494 – 11OUT63
A primeira Operação da CART 494, em Ganjola (Norte de Catió, que tinha sido ocupada em 17SET63), a que foi dado o nome de “ ALVORADA”, realizou-se no dia 11 OUT 63.
Na véspera foi presa uma mulher de etnia balanta, que vagueava nas imediações do aquartelamento, com evidentes sinais de desequilíbrio mental. Interrogada, declarou que o IN se encontrava instalado na tabanca Ganjola Dabenche (mais conhecida por Ganjola Velha), a mais próxima do quartel.
Imediatamente foi planeada uma operação, cuja missão era desalojar o IN e incendiar a tabanca.
Às primeiras horas da manhã de 11OUT, iniciámos a aproximação ao objectivo, verificando-se que o IN se furtou ao contacto e, juntamente com a população, internou-se no mato.
Foram incendiadas cerca de 100 moranças e recolhidos vários documentos.
Ao regressar ao quartel, fomos surpreendidos com um numeroso número de vacas (em número de 52), que levámos à nossa frente, o que foi particularmente difícil, porque houve necessidade de fazer passar as vacas, uma a uma, por uma pequena ponte sobre um braço de rio, enquanto que a bolanha à volta, estava totalmente alagada, por virtude da chuva. O que nos deu mais trabalho foi um grande touro reprodutor, que, seguramente, pesava mais de 500 quilos.
O esforço dispendido por todo o pessoal foi muito grande, não só com a recolha das vacas, mas porque as bolanhas que tivemos que atravessar, além de ser novidade, estavam completamente alagadas, sendo frequente verificar elementos enterrados até à cintura, tendo que ser ajudados para sair dessa situação.
Um ensinamento tirado foi a utilização das botas de borracha por alguns militares na operação, o que se verificou totalmente inadequado nas bolanhas.
Chegados ao quartel, improvisamos uma cerca de arame farpado, para evitar que as vacas fugissem. Com o imprevisto e agradável reabastecimento, passámos a abater uma rês por semana, o que melhorou de maneira muito significativa a nossa dieta alimentar: bifes com batata frita, carne assada no forno construído por nós, jardineira e cozido à portuguesa, quando recebíamos frescos de Catió.
O magarefe da Companhia, Soldado Atirador Armando Macedo Marques (o Sintra, por ser natural desta localidade), passou a trabalhar mais, para o bem comum.
Esta Operação, se tivesse recebido o nome, após a sua realização poderia ser denominada “Recolha imprevista de vacas”.
Possuidores desta manada, não mais tivemos problemas com a alimentação, permitindo-nos até dispensar algumas reses a Catió. A nossa grande desilusão foi termos que deixar o magnífico touro, que estava reservado para o Natal, que já foi passado em Gadamael.
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Coronel de Artª. Ref.
Ex-Comandante da CART 494 (63/65)
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13701: Efemérides (175): O Curso Caldas Xavier da Academia Militar iniciou-se há 50 anos (António Martins de Matos)
Caro Amigo
Junto envio, em anexo, um pequeno artigo sobre o assunto em epígrafe.
Um abraço amigo
Coutinho e Lima
Primeira Operação da CART 494 – 11OUT63
A primeira Operação da CART 494, em Ganjola (Norte de Catió, que tinha sido ocupada em 17SET63), a que foi dado o nome de “ ALVORADA”, realizou-se no dia 11 OUT 63.
Na véspera foi presa uma mulher de etnia balanta, que vagueava nas imediações do aquartelamento, com evidentes sinais de desequilíbrio mental. Interrogada, declarou que o IN se encontrava instalado na tabanca Ganjola Dabenche (mais conhecida por Ganjola Velha), a mais próxima do quartel.
Imediatamente foi planeada uma operação, cuja missão era desalojar o IN e incendiar a tabanca.
Às primeiras horas da manhã de 11OUT, iniciámos a aproximação ao objectivo, verificando-se que o IN se furtou ao contacto e, juntamente com a população, internou-se no mato.
Foram incendiadas cerca de 100 moranças e recolhidos vários documentos.
Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000
Ao regressar ao quartel, fomos surpreendidos com um numeroso número de vacas (em número de 52), que levámos à nossa frente, o que foi particularmente difícil, porque houve necessidade de fazer passar as vacas, uma a uma, por uma pequena ponte sobre um braço de rio, enquanto que a bolanha à volta, estava totalmente alagada, por virtude da chuva. O que nos deu mais trabalho foi um grande touro reprodutor, que, seguramente, pesava mais de 500 quilos.
O esforço dispendido por todo o pessoal foi muito grande, não só com a recolha das vacas, mas porque as bolanhas que tivemos que atravessar, além de ser novidade, estavam completamente alagadas, sendo frequente verificar elementos enterrados até à cintura, tendo que ser ajudados para sair dessa situação.
Um ensinamento tirado foi a utilização das botas de borracha por alguns militares na operação, o que se verificou totalmente inadequado nas bolanhas.
Chegados ao quartel, improvisamos uma cerca de arame farpado, para evitar que as vacas fugissem. Com o imprevisto e agradável reabastecimento, passámos a abater uma rês por semana, o que melhorou de maneira muito significativa a nossa dieta alimentar: bifes com batata frita, carne assada no forno construído por nós, jardineira e cozido à portuguesa, quando recebíamos frescos de Catió.
O magarefe da Companhia, Soldado Atirador Armando Macedo Marques (o Sintra, por ser natural desta localidade), passou a trabalhar mais, para o bem comum.
Esta Operação, se tivesse recebido o nome, após a sua realização poderia ser denominada “Recolha imprevista de vacas”.
Possuidores desta manada, não mais tivemos problemas com a alimentação, permitindo-nos até dispensar algumas reses a Catió. A nossa grande desilusão foi termos que deixar o magnífico touro, que estava reservado para o Natal, que já foi passado em Gadamael.
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Coronel de Artª. Ref.
Ex-Comandante da CART 494 (63/65)
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13701: Efemérides (175): O Curso Caldas Xavier da Academia Militar iniciou-se há 50 anos (António Martins de Matos)
Guiné 63/74 - P13738: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (12): Viagens pelo Norte de Espanha: Em Logroño, e já a pensar nas catedrais de Burgos e León
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2014:
Queridos amigos,
Prossegue a viagem pelo Norte de Espanha.
Tive o palpite que Logroño traria surpresas. E trouxe mesmo. Não está nas principais rotas turísticas, não compete com Granada, Sevilha, Ávila ou Toledo. Tem uma harmonia soberba entre a urbanização moderna e o casco histórico. O povo é simpático, os estrangeiros deambulam aos magotes, são os peregrinos de Santiago, vêm fazer os trilhos do caminho francês. A arquitetura religiosa é valiosíssima, há para aqui a imagem de um tímpano medieval que nos deixa assarapantados. E que deliciosos são os vinhos de Rioja!
Um abraço do
Mário
Biblioteca em férias (12)
Em Logroño, e já a pensar nas catedrais de Burgos e León
Beja Santos
A viagem de Bilbau até Logroño faz-se lindamente de comboio, primeiro são os maciços pétreos, não sei se espinhaços ou se cordilheiras, são rochedos que às vezes intimidam o passageiro, parece que vão rolar lá das alturas. E quando toda esta pedra desaparece, o comboio anda na berma do Ebro, são campos extensos, nunca vi tanto milho, até que os vinhedos tomam conta da paisagem, abeiramo-nos da comunidade autónoma de La Rioja. Sai-se numa estação de caminho-de-ferro moderna e logo se entra em quilómetros de habitação, só mais tarde me apercebi do facto que a cidade de aproximadamente 160 mil habitantes mais que duplicou dos anos 1970 para cá. Arrumados os pertences, percorrem-se avenidas largas e sempre perguntando onde é o casco histórico, é esta a razão da visita, ver os peregrinos de Santiago de Compostela, procurar duas ruas afamadas em todo o mundo onde se comem tapas e se bebe o supremo néctar da região. O calor é sufocante, a temperatura inusual, a rondar os 30 graus. Começa-se a ver referências ao General Espartero, vê-se mesmo que é um ícone da terra. À noite fui retirar referências deste Baldomero Espartero, Príncipe de Vergara, Duque da Vitória, Duque de Morella, Conde de Luchana e Visconde de Banderas, Regente do Reino durante a menor idade de Isabel II, fixou a sua residência em Logroño e aqui morreu em 1879. Ainda não sei que no dia seguinte lhe vou visitar a casa onde terei uma das maiores surpresas desta viagem, o museu de La Rioja é surpreendente, depois direi porquê. Chegámos ao casco histórico e estamos na concatedral de Santa Maria de La Redonda, tem duas imponentes torres gémeas do século XVII, o interior é faustoso, e por detrás do altar podemos ver uma crucificação atribuída a Miguel Ângelo.
Entardece, já estou ambientado aos horários espanhóis, o estômago pode muito bem esperar pela hora da ceia, depois logo se vê o que há de tapas e de néctares de La Rioja. E vai-se deambulando até à igreja de São Bartolomeu, iniciada no século XII. O tímpano da fachada principal é esmagador, mais a mais esta construção tem uma excelente torre em estilo mudéjar. Meu Deus, que beleza de tímpano, vejam lá se eu não tenho razão, se este estilo protogótico não conclama o sopro do divino:
E agora a última visitação, antes de ir aos comes e bebes. Chama-se Igreja Imperial de Santa Maria de Palacio, construída entre os séculos XII e XIII, estava em obras, encerrada, fica aqui a imagem da torre sineira, mais imponência não se pode ter:
É no casco histórico de Logroño à noite que se percebe a intensidade da sua restauração noturna. Há duas ruas que constam dos roteiros dos viajantes de todo o mundo: a San Juan e a Laurel. O movimento é febril, as bodegas iluminadas e ruidosas prometendo tapas e pinchos a preço módico, tal como o preço do Rioja a copo. É uma tentação não andar a petiscar tortilha, croquetes, coisas do fumeiro, daquelas lojas emanam odores convidativos, as ardósias que nos convocam com iguarias e preços de ucharia são fartas. E por ali se anda, é uma deambulação de feira, nada de tão belo e inesperado no senso gastronómico se suspeitava. E aqui fica a recordação de uma dessas ruas icónicas, para que conste dos possíveis roteiros de quem amavelmente acompanha esta viagem:
Agora vou à deita, o tempo finalmente esfriou, nem ligo o televisor, vai por aqui uma histeria descomunal com as manifestações da Catalunha, vi em Bilbau muitas bandeiras da Escócia, felizmente que no nosso terrunho só somos surpreendidos episodicamente pelas diatribes do Alberto João Jardim, quando quer desviar as atenções. Começo o dia pelo museu de Rioja, depois as muralhas e as pontes, a seguir comida de Rioja e regresso à estação ferroviária, a meio da tarde sigo para Burgos.
É um pequeno museu, mas com uma organização primorosa. Aproveita a estrutura do Palácio de Espartero, aqui viveu o tal ícone com a sua mulher Jacinta Martínez Sicilia, depois de se ter retirado definitivamente da política em 1856. O museu foi ampliado em 2003, tem salas dedicadas à Pré-História, ao período da romanização de Rioja, chega à pintura dos séculos XIX e começo do século XX. Impressionou-me a museografia, sugestiva, didática, apelativa, devorei tudo do princípio ao fim. Fixei-me numa pintura antiga, num quadro de São Francisco e o irmão Leão, saído da oficina de El Greco e acima de tudo, à má fila, captei um São João Baptista do século XIII, que me encheu as medidas:
Volto às ruas de Logroño, captei mais imagens, uma delas ficou muito boa, a da fachada do museu. Passeei-me de novo junto da igreja de São Bartolomeu, desta vez consegui apanhar a torre mudéjar, num românico sóbrio, do mais bonito que vi. Segui para a rua Vieja, a zona dos peregrinos, passei pelo Centro de Cultura da Rioja, uma intervenção moderníssima num edifício que me pareceu às moscas, passei a ponte de ferro sobre o Ebro, do lado de lá desfruta-se uma bela panorâmica de Logroño. O tempo passa, o estômago está a dar horas, Logroño convenceu-me, small is beautiful, recupero os meus pertences, sigo para a estação, vejo mais peregrinos estrangeiros que demandam Santigo, agora vou a ler o que me espera em Burgos e Léon. Depois conto, está prometido. E aqui seguem as últimas imagens de Logroño, seguramente que convenceram os últimos vacilantes de que Logroño é um refrigério para a alma e para os olhos:
Agora é que me despeço mesmo, ficaria mal comigo se não vos mostrasse a fachada de uma casa senhorial na rua Vieja, temos a mania que só cá é que deixamos arquitetura esplendorosa em ruínas, pois este palácio aguarda melhores dias, resignado. Oxalá que na próxima visita a Logroño ele já esteja reabilitado, nem que seja um hotel de charme… Até à próxima!
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13708: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (11): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño
Queridos amigos,
Prossegue a viagem pelo Norte de Espanha.
Tive o palpite que Logroño traria surpresas. E trouxe mesmo. Não está nas principais rotas turísticas, não compete com Granada, Sevilha, Ávila ou Toledo. Tem uma harmonia soberba entre a urbanização moderna e o casco histórico. O povo é simpático, os estrangeiros deambulam aos magotes, são os peregrinos de Santiago, vêm fazer os trilhos do caminho francês. A arquitetura religiosa é valiosíssima, há para aqui a imagem de um tímpano medieval que nos deixa assarapantados. E que deliciosos são os vinhos de Rioja!
Um abraço do
Mário
Biblioteca em férias (12)
Em Logroño, e já a pensar nas catedrais de Burgos e León
Beja Santos
A viagem de Bilbau até Logroño faz-se lindamente de comboio, primeiro são os maciços pétreos, não sei se espinhaços ou se cordilheiras, são rochedos que às vezes intimidam o passageiro, parece que vão rolar lá das alturas. E quando toda esta pedra desaparece, o comboio anda na berma do Ebro, são campos extensos, nunca vi tanto milho, até que os vinhedos tomam conta da paisagem, abeiramo-nos da comunidade autónoma de La Rioja. Sai-se numa estação de caminho-de-ferro moderna e logo se entra em quilómetros de habitação, só mais tarde me apercebi do facto que a cidade de aproximadamente 160 mil habitantes mais que duplicou dos anos 1970 para cá. Arrumados os pertences, percorrem-se avenidas largas e sempre perguntando onde é o casco histórico, é esta a razão da visita, ver os peregrinos de Santiago de Compostela, procurar duas ruas afamadas em todo o mundo onde se comem tapas e se bebe o supremo néctar da região. O calor é sufocante, a temperatura inusual, a rondar os 30 graus. Começa-se a ver referências ao General Espartero, vê-se mesmo que é um ícone da terra. À noite fui retirar referências deste Baldomero Espartero, Príncipe de Vergara, Duque da Vitória, Duque de Morella, Conde de Luchana e Visconde de Banderas, Regente do Reino durante a menor idade de Isabel II, fixou a sua residência em Logroño e aqui morreu em 1879. Ainda não sei que no dia seguinte lhe vou visitar a casa onde terei uma das maiores surpresas desta viagem, o museu de La Rioja é surpreendente, depois direi porquê. Chegámos ao casco histórico e estamos na concatedral de Santa Maria de La Redonda, tem duas imponentes torres gémeas do século XVII, o interior é faustoso, e por detrás do altar podemos ver uma crucificação atribuída a Miguel Ângelo.
Entardece, já estou ambientado aos horários espanhóis, o estômago pode muito bem esperar pela hora da ceia, depois logo se vê o que há de tapas e de néctares de La Rioja. E vai-se deambulando até à igreja de São Bartolomeu, iniciada no século XII. O tímpano da fachada principal é esmagador, mais a mais esta construção tem uma excelente torre em estilo mudéjar. Meu Deus, que beleza de tímpano, vejam lá se eu não tenho razão, se este estilo protogótico não conclama o sopro do divino:
E agora a última visitação, antes de ir aos comes e bebes. Chama-se Igreja Imperial de Santa Maria de Palacio, construída entre os séculos XII e XIII, estava em obras, encerrada, fica aqui a imagem da torre sineira, mais imponência não se pode ter:
É no casco histórico de Logroño à noite que se percebe a intensidade da sua restauração noturna. Há duas ruas que constam dos roteiros dos viajantes de todo o mundo: a San Juan e a Laurel. O movimento é febril, as bodegas iluminadas e ruidosas prometendo tapas e pinchos a preço módico, tal como o preço do Rioja a copo. É uma tentação não andar a petiscar tortilha, croquetes, coisas do fumeiro, daquelas lojas emanam odores convidativos, as ardósias que nos convocam com iguarias e preços de ucharia são fartas. E por ali se anda, é uma deambulação de feira, nada de tão belo e inesperado no senso gastronómico se suspeitava. E aqui fica a recordação de uma dessas ruas icónicas, para que conste dos possíveis roteiros de quem amavelmente acompanha esta viagem:
Agora vou à deita, o tempo finalmente esfriou, nem ligo o televisor, vai por aqui uma histeria descomunal com as manifestações da Catalunha, vi em Bilbau muitas bandeiras da Escócia, felizmente que no nosso terrunho só somos surpreendidos episodicamente pelas diatribes do Alberto João Jardim, quando quer desviar as atenções. Começo o dia pelo museu de Rioja, depois as muralhas e as pontes, a seguir comida de Rioja e regresso à estação ferroviária, a meio da tarde sigo para Burgos.
É um pequeno museu, mas com uma organização primorosa. Aproveita a estrutura do Palácio de Espartero, aqui viveu o tal ícone com a sua mulher Jacinta Martínez Sicilia, depois de se ter retirado definitivamente da política em 1856. O museu foi ampliado em 2003, tem salas dedicadas à Pré-História, ao período da romanização de Rioja, chega à pintura dos séculos XIX e começo do século XX. Impressionou-me a museografia, sugestiva, didática, apelativa, devorei tudo do princípio ao fim. Fixei-me numa pintura antiga, num quadro de São Francisco e o irmão Leão, saído da oficina de El Greco e acima de tudo, à má fila, captei um São João Baptista do século XIII, que me encheu as medidas:
Volto às ruas de Logroño, captei mais imagens, uma delas ficou muito boa, a da fachada do museu. Passeei-me de novo junto da igreja de São Bartolomeu, desta vez consegui apanhar a torre mudéjar, num românico sóbrio, do mais bonito que vi. Segui para a rua Vieja, a zona dos peregrinos, passei pelo Centro de Cultura da Rioja, uma intervenção moderníssima num edifício que me pareceu às moscas, passei a ponte de ferro sobre o Ebro, do lado de lá desfruta-se uma bela panorâmica de Logroño. O tempo passa, o estômago está a dar horas, Logroño convenceu-me, small is beautiful, recupero os meus pertences, sigo para a estação, vejo mais peregrinos estrangeiros que demandam Santigo, agora vou a ler o que me espera em Burgos e Léon. Depois conto, está prometido. E aqui seguem as últimas imagens de Logroño, seguramente que convenceram os últimos vacilantes de que Logroño é um refrigério para a alma e para os olhos:
Agora é que me despeço mesmo, ficaria mal comigo se não vos mostrasse a fachada de uma casa senhorial na rua Vieja, temos a mania que só cá é que deixamos arquitetura esplendorosa em ruínas, pois este palácio aguarda melhores dias, resignado. Oxalá que na próxima visita a Logroño ele já esteja reabilitado, nem que seja um hotel de charme… Até à próxima!
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13708: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (11): Viagens pelo Norte de Espanha: Bilbau é muito Bilbau, e ainda bem. E sigo para Logroño
Guiné 63/74 - P13737: Ser solidário (166): SOS, Ébola!... Uma epidemia que tem dIne ser levada a sério, só podendo ser prevenida e combatida por todos, a começar pelos mais ricos...
Micrografia electrónica do vibrião do vírus Ébola. Cortesia de CDC - Centers for Disease Control and Prevention, USA |
OMS diz que ébola "é uma crise que põe em causa a paz e a segurança internacional"
(...) Margaret Chan, directora-geral da OMS, não poupou palavras para avisar sobre as consequências do ébola em países com um tecido social e um sistema político frágeis, como os da África Ocidental, onde a epidemia já fez mais de 4000 mortos: “Nunca vi uma crise de saúde ameaçar a própria sobrevivência de sociedades e governos em países já muito pobres. Nunca vi uma doença infecciosa contribuir tão fortemente para potenciais estados falhados.”
Chan declarou que o número de casos de infecções pelo vírus do ébola – que já ultrapassaram 8000, segundo dados da OMS – estavam a crescer exponencialmente nos países mais afectados – Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa.
(…) Enquanto a atenção internacional se centrava nos poucos casos fora de África, Margaret Chan falou do “perigo das cada vez maiores desigualdades sociais e económicas”: “os ricos têm o melhor tratamento, e os pobres são deixados a morrer.” (…)
A desigualdade, continuou Chan, nota-se no investimento das farmacêuticas, que sem incentivo económico para vacinas ou outros medicamentos para o ébola, que apareceu há 40 anos, não desenvolveram produtos.
Mas os riscos de negligenciar os cuidados de saúde em países pobres são evidentes “quando um vírus mortífero e temido atinge os que não têm nada e fica descontrolado e todo o mundo fica em risco”. (…)
Ainda que a situação seja muito grave, Chan diz que “o pânico está a espalhar-se mais depressa do que o vírus”. E citou uma estimativa do Banco Mundial dizendo que “90% dos custos económicos vêm de esforços irracionais e desorganizados do público para evitar a infecção”.
Enquanto isso, sublinhou, “o mundo está mal preparado para responder a qualquer emergência de saúde pública grave e ameaçadora”. (…)
Fonte: Público, 14/10/2014, 10h26
2. Para saber mais, consultar o sítio da Direção Geral de Saúde, Ministério da Saúde, Portugal:
(..) Um surto de Doença por Vírus Ébola decorre na Costa Ocidental de África desde fevereiro de 2014.
A infeção resulta do contacto direto com líquidos orgânicos de doentes (tais como sangue, urina, fezes, sémen). A transmissão da doença por via sexual pode ocorrer até 3 meses depois da recuperação clínica.
Uma vez que o período de incubação pode durar até 3 semanas é provável que novos casos venham ainda a ser identificados.
O risco para os países europeus é considerado baixo. No entanto, impõem-se medidas de prevenção que se detalham nos documentos abaixo publicados. (...)
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Nota do editor:
Último poste da série > 27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13656: Ser solidário (165): Estou desesperada, conto com a vossa ajuda para encontrar o meu querido irmão Nivaldo Biagué Fortes, de 16 anos, desaparecido de Bissau há 4 meses (Hondina Cabral Fortes, guineense, enfermeira, São Carlos, São Paulo, Brasil)
Vd. também poste de 1 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13454: Ser solidário (162): SOS, Ébola!... Recomendações para viajantes com destino a regiões afetadas por doença por vírus Ébola (Portugal, Diretor-Geral de Saúde)
Guiné 63/74 - P13736: (Ex)citações (239): Ainda sobre as circunstâncias da morte do cap mil inf Rui Romero (1934-1966), comandante da CCAÇ 1565, que acorreu a 2 metros de mim (Artur Conceição, ex-sold trms, CART 730, Jumbembem, Bissorã e Bissau, 1964/66)
Guiné > Zona Oeste > Setor O2 > Farim >Jumbembem > CCAÇ 1565 (1966/68) > 10 de julho de 1966 > Helievacuação do cap mil inf Rui Romero > Na foto da evacuação importa também identificar o 1º Cabo Enfermeiro Fernando Teixeira Picão colocado do lado esquerdo da foto em calção e camisa (já falecido), e ainda do mesmo lado e logo a seguir o 1º Cabo radiotelegrafista Guilherme Augusto Leal chagas, natural de Elvas; do lado direito em tronco nu e calção, junto ao Heli o Furriel, Manuel Júlio Vira, natural de Setúbal, (já falecido em 2003).
Foto (e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
Cap mil inf Rui Romero, de pistola Walther P38, à cintura |
Meus caros:
Não tenho muito mais para acrescentar àquilo que já foi escrito e dito, apenas quero clarificar alguns pormenores. (**)
A primeira questão prende-se com a marca da arma de fogo. Era uma pistola Walther? É muito provável que sim, uma vez que era a arma de defesa usada pelos oficiais e os detentores de algumas especialidades, designadamente enfermeiros e pessoal de transmissões.
A porta do espaço reservado ao comando, descaída para o lado esquerdo, dava para um corredor aberto e era tapada com um reposteiro. A cama do senhor capitão Romero estaria colocada a cerca de 3 metros dessa entrada e com a cabeceira voltada para o lado esquerdo. No sentido oposto, (pés com pés), e com um bom espaço entre ambas, ficava a cama do comandante da CART 730.
O senhor capitão Romero estava caído no chão, e não estava nem de bruços nem de costas.
Em relação à parte do corpo atingida , penso não ter dúvidas de que foi a cabeça, mas convém esclarecer de que eu não entrei no espaço, Isto é, não passei da já referida porta. Fotos no chão, correspondência em cima da cama e arma no chão deu para ver.
O local exacto da cabeça onde foi o disparo não posso garantidamente afirmar. O choque, para mim, foi brutal... e as reacções nem sempre são "normais".
Em relação a ter deixado algo escrito, não me parece. Se tal tivesse acontecido estaríamos perante um acto premeditado que também não me parece que tenha sido o caso. Inclino-me sim para uma tentação espontânea, um gesto repentino.
Respondendo ao José Câmara (**), não me parece, dadas as circunstâncias, de haver qualquer hipótese de acidente. E de homicídio então nem pensar. A versão que ficou entre todos foi a de suicídio.
Agora vamos à parte mais fácil. Em relação ao 1º cabo cripto, ele encontra-se de frente numa foto existente no blogue (**) e está identificado nessa outra foto. Recordo-o como uma jóia de moço, bastante reservado, talvez pela sua especialidade. Não sei onde vive, sei que era natural de Portalegre. E já agora mais uma "dica" que só terá interesse para melhor o localizar se essa for a intenção. Pertencia nessa época a uma religião designada de Sabatistas.
À pergunta "quem tirou a foto", não sei responder.
Em relação ao meu capitão, estive com ele pela última vez, em Lagos num almoço convívio do Batalhão 733. Sei que mora na Rua António Saúde, em Benfica. porque ele me informou, não tenho mais nenhum contacto. Era cliente da Pastelaria Califa e de uma loja de óculos que existe ao lado.
Penso que o corpo do cap Romero seguiu para Bissau porque não vejo porque razão iria para Farim.
Salvo melhor opinião, penso que nesta época os helicópteros tanto levavam os feridos como os mortos.
Finalmente queria também fazer uma pergunta ao Carlos Silva (***): que tempo medeia entre cada uma das fotos que mandaste?
Alguém estragou o espaço onde era a minha cama, e quando a foto foi tirada estava à chuva....!
Ao dispor. Um abraço
Artur António da Conceição (****)
Damaia, Amadora
Guiné > Bissau > 23/6/1966 > Em primeiro plano, o cap mil inf Rui Romero, cmdt da CCAÇ 1565 (1966/68) > Guarda de honra ao gen Carrasco.
Foto: © Ana Romero (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
______________
Notas do editor:
(*) Questões postas ao Artur Conceição, em email de ontem
Artur: Queres responder ou comentar ou acrescentar algo mais ?
(i) A arma utilizada foi pistola Walther ?
(ii) Como estava caído o corpo ? No chão ou na cama ? De costas ou de bruços ?
(iii) Que parte do corpo foi atingida ?
(iv) O capitão deixou algum papel escrito ?
(v) Haveria alguma hipótese de ser "acidente", como sugere o José Câmara (que está nos EUA)
(vii) Qual a versão que correu de imediato no quartel ?
(viii) O cabo cripto, o "Fininho", que está na foto, de costas, com o quico na mão, ainda vive em Portalegre ?
(ix) Quem tirou essa foto ?
(xi) O corpor seguiu para Bissau ou Farim ?
(x) O teu antigo capitão está contactável ? A Ana Romero pode falar com ele ?
Ab. Luis
(**) Vd. poste de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)
(***) Vd. poste de 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)
(****) Último poste da série > 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)
O senhor capitão Romero estava caído no chão, e não estava nem de bruços nem de costas.
A pistola Walther, P38, de 9 mm, de origem alemã, foi adoptada pelas nossas Forças Armadas, em 1961, como pistola 9 mm Walther m/961, vindo substituir a Parabellum. Foi desde logo utilizada na guerra colonial em África. Fonte:Cortesia da Wikipedia. |
O local exacto da cabeça onde foi o disparo não posso garantidamente afirmar. O choque, para mim, foi brutal... e as reacções nem sempre são "normais".
Em relação a ter deixado algo escrito, não me parece. Se tal tivesse acontecido estaríamos perante um acto premeditado que também não me parece que tenha sido o caso. Inclino-me sim para uma tentação espontânea, um gesto repentino.
Respondendo ao José Câmara (**), não me parece, dadas as circunstâncias, de haver qualquer hipótese de acidente. E de homicídio então nem pensar. A versão que ficou entre todos foi a de suicídio.
Agora vamos à parte mais fácil. Em relação ao 1º cabo cripto, ele encontra-se de frente numa foto existente no blogue (**) e está identificado nessa outra foto. Recordo-o como uma jóia de moço, bastante reservado, talvez pela sua especialidade. Não sei onde vive, sei que era natural de Portalegre. E já agora mais uma "dica" que só terá interesse para melhor o localizar se essa for a intenção. Pertencia nessa época a uma religião designada de Sabatistas.
À pergunta "quem tirou a foto", não sei responder.
Artur Conceição |
Penso que o corpo do cap Romero seguiu para Bissau porque não vejo porque razão iria para Farim.
Salvo melhor opinião, penso que nesta época os helicópteros tanto levavam os feridos como os mortos.
Finalmente queria também fazer uma pergunta ao Carlos Silva (***): que tempo medeia entre cada uma das fotos que mandaste?
Alguém estragou o espaço onde era a minha cama, e quando a foto foi tirada estava à chuva....!
Ao dispor. Um abraço
Artur António da Conceição (****)
Damaia, Amadora
Guiné > Bissau > 23/6/1966 > Em primeiro plano, o cap mil inf Rui Romero, cmdt da CCAÇ 1565 (1966/68) > Guarda de honra ao gen Carrasco.
Foto: © Ana Romero (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
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Notas do editor:
(*) Questões postas ao Artur Conceição, em email de ontem
Artur: Queres responder ou comentar ou acrescentar algo mais ?
(i) A arma utilizada foi pistola Walther ?
(ii) Como estava caído o corpo ? No chão ou na cama ? De costas ou de bruços ?
(iii) Que parte do corpo foi atingida ?
(iv) O capitão deixou algum papel escrito ?
(v) Haveria alguma hipótese de ser "acidente", como sugere o José Câmara (que está nos EUA)
(vii) Qual a versão que correu de imediato no quartel ?
(viii) O cabo cripto, o "Fininho", que está na foto, de costas, com o quico na mão, ainda vive em Portalegre ?
(ix) Quem tirou essa foto ?
(xi) O corpor seguiu para Bissau ou Farim ?
(x) O teu antigo capitão está contactável ? A Ana Romero pode falar com ele ?
Ab. Luis
(**) Vd. poste de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)
(***) Vd. poste de 14 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)
(****) Último poste da série > 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)
Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) > Foto nº 1 > Vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo 3 casas com chapa de zinco; a primeira, era a messe conjunta e quartos dos alferes; a segunda, era o quarto do capitão e quartos dos furréis; e a uma outra, que era era o que restava da antiga tabanca demolida no tempo da CART 2548.
Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) > Foto nº 2 > A parada e as 2 casas, messe à esquerda; e a do capitão e furriéis, à direita onde se vê a janela do quarto do Carlos Silva.
1. Mensagem, de ontem, do nosso amigo e camarada Carlos Silva, jurista, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879,Jumbembem, 1969/71), membro da Direcção da ONGD Ajuda Amiga
Assunto: Poste P13729 - Cap Rui Romero (*)
Luís
Aqui vão 2 fotos de Jumbembem, onde se pode ver a zona principal do aquartelamento:
Foto nº 1, a preto, vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo 3 casas com chapa de zinco:
(i) A 1ª, messe conjunta e quartos dos alferes;
(ii) A 2ª , quarto do capitão e quartos dos furréis; a cabeceira da minha cama encostava à janela que se vê;
(iii) E outra era o que restava da antiga tabanca demolida no meu tempo, pois construímos uma cidade nova...
Ao centro era a parada que se estendia até às árvores.
Na foto nº 2, a cores, tirada de um slide, vê-se bem a parada e as 2 casas, messe à esquerda e a do capitão e furriéis à direita onde se vê a janela do meu quarto.
Presentemente apenas existem estas 2 casas.
Guiné > Região do Oeste > Setor O2 > Farim > Jumbembem > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74) > 1974 > Parada do quartel e chegada de um helicóptero com o correio.
Foto: © Fernando Araújo (2010). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
Na foto publicada do Fermando Araújo, que esteve lá a seguir ao batalhão que me foi render, vê-se as 2 janelas da secretaria/arrecadação viradas para a parada.
Nesta foto as 2 janelas são para W para o lado do refeitório.
Na minha foto colorida, anº 2, vê-se as 2 casas, sendo que a da esquerda está afastada 10 mts da casa da arrecadação/secretaria.
A casa da esquerda era messe, zona das esteiras e sala de convívio com janela, os quartos ficavam atrás. Casa da direita, em frente à bandeira, a porta do quarto do capitão e a janela que se vê era onde encostava a cabeceira da minha cama. A parada era tudo que se vê, mas no tempo do Artur Conceição (1964/66) e no início da minha estadia, existia a tabanca velha que encostava ao meu quarto e prolongava-se até aos mangueiros e estrada Farim- Jumbembem-Cuntima.
Podes publicar para ajudar a compreender. (**)
Um abraço
Carlos SilvaNa foto publicada do Fermando Araújo, que esteve lá a seguir ao batalhão que me foi render, vê-se as 2 janelas da secretaria/arrecadação viradas para a parada.
Nesta foto as 2 janelas são para W para o lado do refeitório.
Na minha foto colorida, anº 2, vê-se as 2 casas, sendo que a da esquerda está afastada 10 mts da casa da arrecadação/secretaria.
A casa da esquerda era messe, zona das esteiras e sala de convívio com janela, os quartos ficavam atrás. Casa da direita, em frente à bandeira, a porta do quarto do capitão e a janela que se vê era onde encostava a cabeceira da minha cama. A parada era tudo que se vê, mas no tempo do Artur Conceição (1964/66) e no início da minha estadia, existia a tabanca velha que encostava ao meu quarto e prolongava-se até aos mangueiros e estrada Farim- Jumbembem-Cuntima.
Podes publicar para ajudar a compreender. (**)
Um abraço
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)
(**) Último poste da série > 9 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorá-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)
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