quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13742: (Ex)citações (239): "Desenrascanço" (António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,. enviou-nos a seguinte mensagem.


Caro Magalhães, se entenderes que este desabafo escrito ao correr da pena e sem qualquer pesquisa mas em resposta ao desafio do Luís Graça ao qual preferi "fazer uma declaração de voto" `perante a cruzinha que pus na sondagem, então publica se o restante corpo editorial concordar.

Abraços para todos os tabanqueiros em geral e em particular para vocês, homens que aguentam o blog de pé!

Camaradas,

Há já muito tempo que não participo no blog do Luís Graça ainda que, de quando em vez, ou o procure ou ele (blog) esbarre em mim e me desperte a natural curiosidade.

Hoje foi uma dessas vezes e o tema "desenrascanço" na sondagem de opiniões sobre a sua existência, mereceu uma reflexão da minha parte.

Perdi já uma certa dinâmica no manuseamento deste blog e não procurei muito.

Limitei-me a seguir uma referência e dei de imediato com um post meu onde, explicitamente, escrevo sobre essa nossa "nobre capacidade" ...

Passados todos estes anos e arrefecidos os ímpetos mais aguerridos que nos fizeram falar sob a influência do "ressaibiamento" de quem passara todo aquele tempo na defesa de interesses que salvaguardavam os dos políticos mas que se esqueciam literalmente dos que buliam com a vida das pessoas (falo das populações, claro), passado todos esses anos, dizia, aqui estou a corroborar o que na altura escrevi e a constatar que os homens do poder não aprenderam nada com a história pois continuam com o mesmo paradigma do quero-posso-e-mando deixando por esse mundo fora um rasto de destruição física e social que em nada faz prever algo de bom para as próximas dezenas de décadas ...

Costuma dizer-se que o povo é inteligente e não se deixa enganar mas eu tenho opinião diferente.

O povo (até porque as maiorias se comportam como carneiros) não goza desse epíteto e a prova provada aí está! Após anos de (des)governação vêm as eleições e, como que por milagre, a intoxicação intelectual revolve as mentalidades e o povo volta a votar nos mesmos !!

Muitas vezes com a desculpa de que os outros não podem fazer melhor ... Mal por mal, aguentemos os que já cá estão, dizem ....

Claro que, com o tempo e com a força das armas, vão emergindo novos "mentores", concebidos à luz daquela velha máxima de que, no reino dos cegos, o cego dum só olho é rei !

É o desenrascanço na sua fase plena !

Conclusão: o desenrascanço que nos diversos TO e que no da Guiné em particular se estabeleceu desde o 1º momento, é indiscutível pois aparece em consequência das incompetências superiores .

Li alguns artigos de autores que estudaram e tentaram fazer comparações (níveis de resiliência dos soldados à má nutrição, às condições de habitabilidade e fundamentalmente ao tempo de missão) entre a guerra na Guiné e no Vietname e foram conclusivos ao afirmarem que só o povo português aceitaria e suportaria tais condições quase sempre com um sorriso nos lábios, umas apalpadelas nas mulheres que os combatiam e com as quais, quantas vezes!, viriam a procriar e até a casar, não se apercebendo de quão infame era a sua situação.

Enfim, desenrascavam-se !

Depois vinham as dotações militares e aí era um fartar vilanagem !!!

Pelotões que enfrentavam o inimigo com deficiente armamento ...

Viaturas cujas manutenções eram verdadeiras e constantes hemorragias de dinheiro .....

Cadeias de comando que "preparavam" operações em cima dum mapa da região que desconheciam por completo ....

Comandantes que, face a emboscadas onde as nossas tropas caíam, preocupavam-se prioritariamente em saber dos danos materiais e só depois dos humanos ...

Enfim, desenrascámo-nos !
__________


Nota de M.R.:

Vd. também o poste: 


Vd. último poste da série em: 

10 comentários:

A. Murta disse...

Gostava de comentar este P13742 do António Matos, mas não sei se posso, pois não ainda não entrei na Tabanca. E comento na mesma e depois eliminem se assim o entenderem...
Sou o ex-Alf. Mil. Minas e Armadilhas António M. Murta Cavaleiro e o meu comentário era só para subscrever o que pensa e escreve o António Matos, para que ele não pense que está isolado nessa posição. Passaram já muitos anos desde que, finalmente, o povo teve oportunidade de poder votar livremente. E o que faz eleições atrás de eleições? O que nós sabemos: vota contra si próprio, (p.f. não me venham com a treta de que as alternativas são poucas). Houve umas eleições, há muito tempo, que me deixaram estupefacto e fiquei à espera das seguintes e das outras e outras ainda, mas nada mudou. Então fiquei estúpidodefacto. Deixei de ter actividade partidária, recuso-me a qualquer debate, faço por ignorar o que se avizinha para 2015, não me interessa. O que é preciso fazer mais ao povinho para ele aprender? Não queria que isto parecesse panfletário, mas não contenho a minha revolta.
Um abraço a todos e, especialmente, ao camarada António Matos.

antonio graça de abreu disse...

Aos meus camaradas ingénuos (eu às vezes, à noite, também sou muito ingénuo!) recordo-lhes Zhuang Zi (369 a.C.- 286 a.C.), um dos maiores escritores e filósofos da China de sempre, que explicava assim, no capítulo 17 do seu Livro, há 23 séculos atrás:

“Aqueles que afirmam existir o correcto e o justo sem o seu correlativo, o incorrecto e o injusto, ou o bom governo sem o seu correlativo, o mau governo, não compreendem os grandes princípios do universo nem a essência de toda a criação. Como se pode falar da existência do Céu sem se referir a existência da Terra, ou do princípio positivo sem se referir o princípio negativo? No entanto, ainda há pessoas que continuam estas intermináveis discussões. Essas pessoas ou são loucas ou são ingénuas.”

Abraço,

António Graça de Abreu

António Matos disse...

... este mundo está, de facto, cheio de loucos e ingénuos ....

manuel maia disse...

Camarigos,


Este escrito do António Matos está carregadinho de razão.
Lamentavelmente se constata, de há muitos anos a esta parte, que o povo fruto da ingenuidade que patenteia é sistemáticamente enganado pelos "ilustres opinion makers" ou pela corja desonesta a que alguns chamam políticos.
Lamentavelmente,entre os ex combatentes há chicos-espertos,que se encaixaram nesses antros mal frequentados e até ao dia de hoje foram incapazes de levantar a sua voz contra o miserável tratamento a que fomos votados.
Há-os aqui também e muitos de nós conhecem-nos...

Sou dos que de há imenso tempo a esta parte fiz como o Matos e tantos outros por esta ou aquela razão,fomos desaparecendo paulatinamente...

Vou terminar para não incorrer no risco de me "exceder".

Um abraço a todos os camarigos em especial ao António Matos,que foi uma das melhores penas que por aqui passaram com regularidade,e óbviamente aos editores que ao longo dos anos se têm esforçado para manter de pé este porto de abrigo. Bem hajam!

Anónimo disse...

António Matos

MUITO BEM!
E muito mais haveria a dizer sobre aqueles nossos "desenrascanços" nesses tempos de guerra (Atenção: De guerra! Não de guerra de secretária) e, agora, destes tempos que vão passando.
Não se trata aqui de filosofia, de loucura ou de ingenuidade. As realidades (essas e estas) foram/são COISAS bem concretas!
Abraço
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Será que debates estäo a ressurgir no Blogg com o reaparecimento de alguns saudosos camaradas?
Mesmo(e porque näo)quanto a "desenrascancos" que,aparentemente,faziam parte da subespécie cultural de uma instituicäo que,aos mais altos níveis muitas das vezes raiava a tal...choldra.
Um abraco do José Belo.

JD disse...

Olarilas!
Fazer uma campanha eleitoral cheia de barrêtes e hipocrisias, e ganhar, é um desenrascanço de sucesso.
Impor regimes autocráticos, com a ilusão da preocupação pelo bem-estar da maioria, é outra forma de desenrascanço. Assinar um tratado internacional que impõe cá dentro a vontade proveniente de fora sem a necessária legitimidade concedida pelo povo, mas com consequências que o penalizam gravemente, é outro desenrascanço, mas mercenário. Convocar uma greve, quando já se estabeleceu um acordoque afecta as partes, é outro desenrascanço, mas traidor.
E durante a guerra, reduzir ao mínimo as viaturas que se deslocavam apinhadas de militares, enquanto jaziam outras viaturas que continuavam a ser citadas nos mapas com o "correspondente" consumo de carburante, era outra forma de desenrascanço egoísta, por vezes assassino (em vez de 8 vítimas, seriam 12, 13, ou 14 vítimas). Para não nos referirmos aos abates de cervejas, justificadas por ataques, ou imaginados ataques,que continuavam a ser vendidas, e a reverter lucros para uns poucos.
O Zhuang Zi faz luz sobre a questão, e eu estou persuadido de que sem um instrumento legal que nos permita o controle e fiscalização sobre os actos políticos, não haverá democracia que resista. E é tão fácil... mas não cai do céu.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

OH meus amigoszzzeess

Isto vem a propósito de quê ?

Ah..politiquices..

Os políticos só dizem o que o Zé Povinho gosta de ouvir..e apesar de fazer o respectivo manguito...vai votar...a maioria absteve-se...mas nas últimas eleições..o psd teve 900000 votos e o ps 1.100000..expliquem-me lá isso.. mas como se eu tivesse só 5 anos..que é para perceber.

ATENÇÃO

Apesar de tudo prefiro viver nesta "choldra" do que em qualquer ditadura.

C.Martins

admor disse...

Como é possível haver dois milhões de votantes, depois destes anos todos e de tanta porcaria feita contra o povo.
Isto é que é de lamentar,um quarto da população ainda não entendeu o que deve fazer no mínimo a estes pseudo-políticos, que foram a desgraça do nosso país.
Abraços para todos.
Adriano Moreira

zeca disse...

Concordo com o que aqui foi dito !!!!!!!! lamentavelmente o povo têm o que nunca teve, a arma do voto, mas vota como de um clube de futebol se tratasse, concordo com o amigo Martins,quando diz que apesar de tudo, é preferivel, viver esta "CHOLDRA", do que em ditadura.
Abraços para todos.