Guiné > Zona leste > Estrada Nova Lamego- Bafatá > Maio de 1970 > CART 11 (1969/70) > 'Fomos à àgua: água das Pedras ou água da Bolanha'?
Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
Valdemar Queiroz |
Queiroz [ou Valdemar Silva][, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]:
Ora viva, caro Luís Graça.
Esta fotografia foi tirada, em Maio de 1970, no percurso de Nova Lamego/Bafatá, numa coluna civil, com a segurança do 4º. Pelotão da CART 11, na paragem para 'arrefecimento' junto dum poço de água fresca (??!!).
O poço era de 'água da bolanha' (seca).: água fresca, barrenta, como se fosse água leitosa, sem bicharada, com abelhas a sobrevoarem, com os nossos soldados a dizer 'podi beber' e nós 'quero lá saber', vai de bebermos uma água refrescante a caminho de Bafatá.
Lembro-me de, nos anos 62/63/64, ir acampar para Troia. Campismo selvagem, campismo de liberdade.(A PIDE andava por lá). Lembro-me de haver poços escavados no chão para tirarmos água, água leitosa, água sem bicharada, água com abelhas a sobrevoarem, mas água fresca e para beber.
Quem me dera estar acampado, em Troia, e a ouvir os Beatles nuns bailaricos de fim de semana. Quem me dera.
Nesta fotografia, 'Fomos á água', mais parece uma representação teatral, mas não é:
(i) o ex-Fur Mil Macias, o primeiro da esquerda, com a arma à caçador, está admirado; ele, exímio caçador, alentejano, da Aldeia Nova de S. Bento [, concelho de Serpa,], não podia ter outra postura.
Um abraço
Valdemar Queiroz
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Esta fotografia foi tirada, em Maio de 1970, no percurso de Nova Lamego/Bafatá, numa coluna civil, com a segurança do 4º. Pelotão da CART 11, na paragem para 'arrefecimento' junto dum poço de água fresca (??!!).
O poço era de 'água da bolanha' (seca).: água fresca, barrenta, como se fosse água leitosa, sem bicharada, com abelhas a sobrevoarem, com os nossos soldados a dizer 'podi beber' e nós 'quero lá saber', vai de bebermos uma água refrescante a caminho de Bafatá.
Lembro-me de, nos anos 62/63/64, ir acampar para Troia. Campismo selvagem, campismo de liberdade.(A PIDE andava por lá). Lembro-me de haver poços escavados no chão para tirarmos água, água leitosa, água sem bicharada, água com abelhas a sobrevoarem, mas água fresca e para beber.
Quem me dera estar acampado, em Troia, e a ouvir os Beatles nuns bailaricos de fim de semana. Quem me dera.
Nesta fotografia, 'Fomos á água', mais parece uma representação teatral, mas não é:
(i) o ex-Fur Mil Macias, o primeiro da esquerda, com a arma à caçador, está admirado; ele, exímio caçador, alentejano, da Aldeia Nova de S. Bento [, concelho de Serpa,], não podia ter outra postura.
(ii) a seguir o ex-1º Cabo Silva também está espantado;
(iii) e a seguir estou EU, quero lá saber 'com mais um copo' ;
(iv) depois o Fur Mil Arm Pes Canatário, de Alpalhão [, concelho de Nisa], de tronco nu, também a interrogar que água é esta;
(v) atrás está o Demba Jau, o nosso homem da Bazuca, do nosso Pelotão [, o 4º];
(vi) depois um militar que ia, de certeza a caminha da 'peluda';
(vii) mais atrás, à esquerda um condutor civil duma viatura empanada, a precisar de água para o radiador .
E, então, do poço ninguém fala ? Este era um grande poço, antigo, para abastecer por quem lá passava.
Um abraço
Valdemar Queiroz
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Nota do editor:
Último poste da série > 10 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13715: Fotos à procura de... uma legenda (37): D. Idalina Carvalho Pereira Martins, esposa do cmdt do BART 3873, ten cor Tiago Martins, no almoço de Natal de 1972, no Xime, o quartel do setor L1 mais atacado e flagelado (Jorge Araújo, ex-fur mil, op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)
Último poste da série > 10 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13715: Fotos à procura de... uma legenda (37): D. Idalina Carvalho Pereira Martins, esposa do cmdt do BART 3873, ten cor Tiago Martins, no almoço de Natal de 1972, no Xime, o quartel do setor L1 mais atacado e flagelado (Jorge Araújo, ex-fur mil, op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)
15 comentários:
Valdemar, água da bolanha, quem a não bebeu ?... Quem não a bebeu, é porque não esteve na Guiné, na Guiné profunda, no mato, na savana arbustiva de Badora ouy de Mansomine à floresta galeria da margem direita do Rio Corubal, ou do Cantanhez...
Eu sempre preferi a água de Perrier com uisque, mas no mato, "cá tem", não havia ... bar aberto.
Alguns dos momentos mais dramáticos que passei, no TO da Guiné, estão associados à desidratação, em grandes operações, como a Op Tigre Vadio (Março de 1970)... Dois cantis de água, não chegavam oara um dia, quanto mais dois, quanto mais três!...
Vi camaradas nossos a beber a pouca água, podre, dos charcos, em plena época seca, na região do Cuor, a norte do rio Geba...
Vi gente a mastigar desesperadamente folhas verdes...
Vi gente a beber soro...
Vi gente a beber o seu próprio mijo...
Tenho um enorme respeito pela água...potável, que era (e é) um dos bens mais escassos da Guiné.
Camarada em 1968/1970 estive em Contobuel,Paunca,Pirada,Nova Lamego,Piche e Buruntuma. Nas operações muitas vezes os guias lá arranjavam uma possa de água e nós com o lenço todo sujo metíamos em cima dessa água e bebíamos para matar a sede. São coisas que nunca vou esquecer.
ABRAÇOS PARA TODOS
José Carlos Pimentel
Email: josecarlospimentel@sapo.pt
JCLUCAS
12 out 2015 14:50
Meu caro
Como sempre fomos muito higiénicos esta agua era bebida com um lenço a servir de filtro ( diretamente da “ poça”)
È mais um facto tantas vezes repetido que chegamos a esquecer mas que o teu comentário me fez lembrar!
CPS
J.C.LUCAS
Em África, quando alguem se sentia sozinho e perdido, (antigamente, sem telemóvel nem GPS), a reação imediata era fazer contas à água que tinha no cantil.
Se nem tivesse cantil, punha a imaginação a pensar qual o rio que na sua ideia estivesse mais próximo, e acelerava instintivamente a contar que a orientação do rio fosse aquela da sua ideia.
Fome desaparece, falta de ar e água é o fim.
Francisco Galveia
12 out 2014 15:04
Amigo Luís, não saindo do quartel, nunca passei por isso e em Empada
tinha-mos uma fonte de nascente muito boa, mas tenho a consciência de
tudo o que se passava nessa área. Por isso e não só, continuo a
preservar toda a água. Perto de mim não deixo desperdiçar agua. Bem
haja.
Rui Santos
12 out 2014 17:34
Se queres saber Luis, eu fui dos que bebi água da bolanha, água parada no tempo sêco, cheia de pequenas sanguessuguinhas vermelhinhas que afastava antes de meter as mãos e tirar água sem sanguessugas, não morri, mas nos primeiros meses após regresso, tive dores horriveis no estômago, mas depois passou, mais tres ataques de paludismo, a juntar aos dois que tive na Guiné, um em Bedanda outro em Bolama.
Voltaria lá e beberia outra ... vez se a tasca do Ze não tivesse cerveja ...que era bem melhor.
Abraço
Rui Santos
EU levava sempre 4 cantis, 4 carregadores mais 2 na arma. Para compensar levava ainda o racal para não ir desequilibrado. Como recompensa, a nossa velhice é a pior dos últimos anos. Fialho
Quando saímos o enfermeiro dava os comprimidos de alozone ( acho que era esta o nome) para por no cantil e esperar 15mnt. mas quem conseguia quando se atravessava as bolanhas depois das queimadas com aquele pó negro fininho a secar tudo o que era garganta, vi muito desespero com a sede
Viegas
O António Rosinha tem toda a razão no comportamento em África, mas nós acabados de chegar sem conhecer nada de África de seguida enviados para a operação tridente até pensamos que a agua era logo ali, como dizem na minha terra.
Puro engano.
Quanto a beber a própria urina que eu tenha conhecimento ninguém na minha companhia o fez porque tínhamos um médico que sempre nos acompanhou e nos avisou e explicava o porquê para não usar esse estratagema que as consequências seriam muito graves.
O que fiz e que não era muito aconselhável mas como estava numa de desespero foi tentar o desenrrascanso.
Na cova que os fuzileiros do 7º destacamento fizeram aí com 2 metros de profundidade mas que dava uma agua toda gordurosa que se agarrava à garganta como se fosse petróleo. Arranjei cinza do capim que tinha ardido no dia anterior e passava a água pelo pano da tenda a servir de quadeiro ou filtro, fiz isto várias vezes renovando sempre a cinza, a seguir adicionei bastante tóni-lata que fazia parte da ração de combate e consegui beber um copo de cantil,
não o tornei a fazer, à tarde cerca das 15 horas chegou o helicóptero com agua potável feita a distribuição calhou um copo de cantil a cada militar todos sem excepção de soldado, sargento ou oficial.
Aqui a tal história de queres vender a tua agua dou-te 500$00 mil ninguém vendeu.
No segundo ano em Bafatá quando saíamos para o mato e que a agua do cantil esgotava era normal tentar afastar os saltões ou as sanguessugas e encher o cantil, recordo dizer quando chegar a Portugal tenho que ir ao hospital mandar fazer uma lavagem ao estômago.
Um alfa Bravo
Colaço Soldado de transmissões companhia de caçadores 557 - 1963/65.
José Pardete Ferreira
12 out 2014 18:21
Para mim, sempre bebi o wiskey com água da bolanha. Só bebia com Perrier quando, excepcionalmente, na "Casa da Mariquinhas" (PC) em Teixeira Pinto ou quando, em Bissau, alguém me levava, excepcionalmente ao Grande Hotel.
O Barista do HM 241 quando eu lhe pedia uma "Bolanha"... trazia um wiskey com água lisa, cuja origem desconhecia, como é lógico.
Eu tive sorte. Sei de quem apanhou Amibas sem nunca ter saído de Bissau... ou melhor, indo um fim de semana a Bubaque, coisa que nunca tive tempo de fazer.
Alfa Bravo.
Falou-se aqui de vários tipos de bebidas das bolanhas da Guiné,mas ninguém falou de agua com bosta de vaca e vamos lá saber mais o quê, pois eu e mais alguns bebemos e na falta de melhor e não havendo mais nada até sabe muito bem.Era um charco em que a agua tinha pouco mais de um palmo de altura onde vacas tinham estado a beber e a fazer as suas necessidades, a cede era muita e toca a beber, comentários é depois.Tenho e terei sempre muito respeito pela água.
Manuel Carvalho
Caro Valdemar
Grande foto!
Bem ilustrativa de muito do que se passou, principalmente por quem tinha que 'alinhar' em deambulações.
Falas aí em acampar em Tróia... também eu, meu amigo, também eu! Salvo erro em 64, ou 65. Outros tempos.... como escreveria o V. Briote... 'outras vidas'!
Entretanto a foto potenciou um conjunto de comentários com informações/revelações que bem podem constituir um tema a continuar: o que e como se bebia na Guiné.
Beber das poças, com mais ou menos (quase sempre menos) desinfectante, já todos tínhamos tomado conhecimento, beber o próprio mijo também já aqui tinha sido revelado, principalmente pelo nosso camarada tabanqueiro dos "comandos" (peço desculpa de neste momento não me ocorrer o nome), mas agora o resto das 'soluções' encontradas e apoiado nessa foto ilustrativa, é mais uma achega para se pintar melhor o quadro da vivência em terras da Guiné, e transmitir esse legado informativo para as próximas gerações, façam elas o que quiserem com ele, não podem é dizer que 'não sabiam', que 'ninguém lhes disse nada'.
Abraço
Hélder S.
Quando estive em Suzana existiam uns filtros que podiam ser usados no mato, sempre me fiz acompanhar de um para poder "filtrar" a água da bolanha mas aquilo só retirava o que estava em suspenção e não retirava o barro a cor da água era igual. Depois, de acordo com as normas, deveriam ser colocados no cantil algumas pastilhas de, se a memória não me atraiçoa, OLOZON e esperar 1 hora para matar as bactérias e virus que exixtissem. Para alem de dar um gosto a lexivia demorava muito tempo e não se esperava. Bebia-se mesmo assim.
Delfim Rodrigues
Guiné 1971/73
Valdemar, nunca necessitei de beber água da bolanha, mas a que bebi em vários locais da Guiné, também não sei de onde era a sua origem. Bebi muitas vezes dos poços da Troia, que foi sempre para todos os Setubalenses uma praia de eleição. A sua foto é bem elucidativa da grande dificuldade que os combatentes nos TO da Guiné, passavam para obter água. Pela minha mão passaram entre outros, militares desidratados. A sede é difícil de suportar, daí o tremendo sacrifício, também nesta vertente,a que muitos de vós estivésseis sujeitos. Felizmente o Valdemar é mais um sobrevivente que pode passar o seu testemunho às novas gerações. Um abraço. Mª Arminda
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