Estávamos no princípio de Maio de 2005.
Três carolas ex-combatentes, regressados de uma visita à Guiné, meteram os pés debaixo da mesa num restaurante em Matosinhos, para saborearem umas sardinhas assadas, enquanto faziam o balanço da viagem.
Depois de bem almoçados e bem avinhados, decidiram voltar na semana seguinte, à mesma hora, no mesmo local, com a mesma ementa. E continuaram porque as suas conversas sobre a Guiné não tinham fim.
Assim nasceu a Tabanca de Matosinhos, já lã vão mais de 9 anos.
A notícia espalhou-se e como por encanto começaram a surgir novos convivas a alimentar o sonho. Ao fim de algum tempo tivemos de mudar de poiso. Não cabíamos no Restaurante.
Da Casa Teresa passámos para o Restaurante Milho Rei, na Rua Heróis de França em Matosinhos. Umas largas centenas de ex-combatentes, vindos de todo o País e até do estrangeiro, têm transformado as Quartas-Feiras neste restaurante, num espaço de convívio, de crescimento e partilha de amizades.
Uns são um “ferrinho” todas as semanas, outros vêm de vez em quando, outros de longe a longe e outros gostavam de vir, mas… as finanças ou a distância são o grande impeditivo. Outros, desconhecem, mas quando aparece um “periquito” chamado por um camarada ou por ter tomado conhecimento, fica encantado e volta, sempre.
A Tabanca de Matosinhos é uma autêntica caserna em pleno funcionamento onde, semanalmente, oficiais, sargentos e praças de outrora se irmanam num projeto comum de viver a vida que vai restando.
No dia 15 de Outubro juntou perto de quarenta convivas, numa alegria contagiante de quem se conhece e se identifica numa base comum – a passagem pela guerra colonial na Guiné.
Entre os convivas registamos o Manuel Vidal – um emigrante que todos os anos nos visita. Emigrou com 17 anos e regressou para o serviço militar e logo enviado para a Guiné. Ao fim de catorze meses é apanhado pelo PAIGC em Catió e fica retido entre Conakry e Madina de Boé durante trinta longos meses, fazendo companhia ao nosso António Baptista – o “morto vivo”, tendo sido libertado em 23 de Setembro de 1974. Emigrou de novo e por lá anda pela França. Quando vem de férias a Viana do Castelo, a sua terra, aproveita uma vinda ao Porto para visitar em Santa Cruz do Bispo o seu companheiro de infortúnio e vem abraçar os amigos da Tabanca de Matosinhos e trouxe a família.
Como quase sempre acontece, tivemos a presença de mais um “periquito” o Mário Marinho que andou pelo Xime e por Encheia, entre 1970 e 1972, com estórias tristes como quase todos nós os que por lá passamos. Registamos a tristeza com que contou o episódio do GC - o quarto pelotão da sua Companhia, quando se deslocava para Encheia, viu, 10 dos seus homens serem engolidos no Geba pelo macaréu.
Dos restantes convivas, já se conhecem as suas estórias, mas há sempre uma que ficou por contar para enriquecer as horas do convívio.
Na próxima quarta-feira, lá estaremos de novo para comer e conviver sadiamente.
Deixamos um convite a todos os ex-combatentes e familiares – Venham daí e não darão o tempo como perdido.
José Teixeira
Aspecto geral do Convívio
O Manuel Vidal contando um pouco da sua história
O Pires com a tia que sempre o acompanha, pois é ele que está a apoiá-la na velhice.
O Mário Marinho a apresentar-se à Tabanca e a contar um pouco do que foi a sua vida na Guiné.
Um brinde aos presentes do casal Basto.
Aspecto geral com o Manuel Vidal e os seus familiares
Um aspecto geral do Convívio
Aspecto geral do Convívio
____________Notas do editor:
Podemos visitar a Tabanca de Matosinhos na sua página Tabanca Pequena ONGD
e no Facebook em: Tabanca de Matosinhos Tertúlia
Último poste da série de 12 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13725: Convívios (635): XX Encontro do pessoal da CART 566 (Cabo Verde e Guiné, 1963/65), dia 18 de Outubro de 2014 em Vila Nova de Gaia (José Augusto Miranda Ribeiro)
6 comentários:
Amigos da Tabanca de Matosinhos
Estive uma vez num almoço no Milho REi onde o Maia fez o lançamento do seu livro.
Gostei e fiquei com saudades que não passam.
Um abraço a todos
Não sabia que o Manuel Vidal é de Viana do Castelo, quanto ao Mário Campos Marinho é de todo conhecido da nossa CART 3494 foi das TRMS de infantaria, viveu vários embrulhanços, esteve também no Enxalé, sim a CART 3494 tinha do outro lado do Geba um pelotão.O Marinho ainda não se interessa muito pelas novas tecnologias, talvez devido à actividade profissional.
Um abraço para ele e todos tabanqueiros.
Da CART 3494 já passaram pelo Milho-Rei 5 0u 6 camaradas.
Sousa de Castro
Gostei muito do texto do José Teixeira que reproduz bem o ambiente cordial e franco que se vive na Tabanca de Matosinhos. Sou um conviva recente, de à meio ano talvez, e fiquei encantado com o ambiente de boa camaradagem que se vive nesses almoços. Reparte-se a amizade, como o bacalhau, a feijoada, o peixe, o vinho. Sempre me senti bem em qualquer parte da mesa onde me sentei. Gostaria de ir lá todas as quartas-feiras, mas acontece que eu já tinha um outro grupo de amigos que se juntam no mesmo dia e hora. Os amigos são bens imateriais que devemos perservar, é uma traição grave abandona-los. Como tal eu vou-me dividindo entre estes dois grupos mas por vezes parece que com esta atitude não agrado nem a gregos nem a troianos.
No dia 15, com a alma dividida e com o cansaço da viajem da minha aldeia, de 240 Kms a uma chuva quase constante acabei por ir almoçar com os outros amigos sempre a pensar nos amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos.
Agora vede lá o dilema que me criastes!
Um grande abraço ao José Teixeira e a todos os camaradas da Tabanca de Matosinhos.
Francisco Baptista
Tal como o Juvenal também eu já tive o gosto e a satisfação de ter participado dum desses almoços da Tabanca de Matosinhos.
Aliás, foi na mesma ocasião e pelo mesmo motivo.
A Tabanca de Matosinhos é um exemplo de amizade, solidariedade e de entreajuda. É visível, é notória, a sua capacidade para apoiar e desenvolver ajuda concreta, real, tanto a camaradas por cá, como levando a solidariedade até à Guiné.
Um dia hei-de voltar a ir à Tabanca de Matosinhos.
Abraços
Hélder S.
Amigo Helder
Fico a aguardar a tua vinda a esta Tabanca. Quando vieres avisa-me para eu puder estar presente.
Naturalmente benvindo será tmbém o Juvenal e os outros camaradas que nos quiserem honrar com a sua presença.
Um abraço a todos
Francisco Baptista
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