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Guiné > Região do Cacheu > Dia de Natal: 25 de Dezembro de 1972 > Um Gr Comb da 38ª CCmds (Os Leopardos) (1972/74) subindo o Rio Cacheu, em LDM... Na foto são visíveis o poço e a porta de bater, da LDM, a que se refere o texto a seguir publicado.
Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.
1. Texto do oficial da Armada, Marques Pinto, com data de 22 de Outubro de 2006:
Caro Camarada:
Por feliz acaso um camarada sugeriu-me o vosso blogue e lá fui meter o nariz. Para melhor me situarem direi que sou oficial da Armada, reformado, tendo feito duas comissões na Guiné (1966/68 e 1973/74).
Embora a minha unidade estivesse sedeada em Bissau - Primeira Secção de Mergulhadores Sapadores - , como as necessidades em pessoal eram superiores aos efectivos, fui várias vezes nomeado para comandar o agrupamento de LDM (Lanchas de Desembarque Médias) que faziam transporte logístico e pessoal e prestavam apoio nas deslocações em zonas de risco aos batelões civis.
Muitos dos nossos camaradas do Exército e Páras devem ainda guardar recordações de como eram amontoados aos cinquenta e por vezes setenta homens no chamado poço da LDM até serem largados por uma porta de abater frente a uma margem desconhecida e por vezes com contacto de fogo imediato, e a terem de se deslocar umas largas dezenas de metros no lodo e na bolanha.
Lembro-me de várias idas a Bedanda, após a subida do Cumbijã, e deslocar nas duas ou três horas de enchente do Rio Ungariuol a que na gíria maruja era o Rio Urinol (1). Recordo a passagem por várias vezes no porto de Cufar onde pelo menos duas vezes embarquei e larguei depois em zona IN uma companhia de Cavalaria que aí estacionava.
Percorri várias vezes o Rio Cobade, frente á Ilha do Como, lá recebi o meu primeiro abonanço de morteirada, felizmente sem consequências para o pessoal embarcado e lá fiz algumas entregas logísticas para o infelizmente célebre e tão martirizado destacamento do Cachil, que segundo me contaram pessoalmente alguns soldados tinham de fazer escolta armada para percorrerem os 300 a 400 metros que os separavam da água.
Na segunda comissão já numa situação, em gabinete, fui contudo muitas vezes a Bigene, Ganturé, Cacheu e Cacine, onde havia forças de Fuzileiros e porque tínhamos um pequeno avião civil ao dispor do Comando de Defesa Maítima da Guiné e eu era brevetado e pilotava; fazíamos (por vezes com o próprio Comandante Naval ) essas viagens de apoio ou por motivos operacionais.
Recordo hoje as vezes que só depois de estar já no ar lembrava aos acompanhantes a existência dos Strella (2) e da baixa velocidade do nosso avião ligeiríssimo, o que me permitia de imediato a autorização para voar baixo a sobrevoar os rios e brincar fazendo todas as curvas entre as arvores e o tarrafo das margens.
Enfim, naõ sei se são só recordações, se saudosismo, se um misto, mas sobretudo naquela idade as vivências que tivemos são impossíveis de apagar.
Um abraço de parabéns pela ideia e obra e peço desde já desculpa pelo tempo que este marujo roubou.
Manuel Marques Pinto
2. Comentário de L.G.:
Camarada marujo: Não roubas nenhum tempo, bem pelo contrário, só vens enriquecer a memória da nossa tertúlia. O teu ramo, a Armada, ainda está aqui mal representado: temos o Lema Santos e o Pedro Lauret, que foram imediatos do NRP Orion em momentos diferentes, e acabamos de publicar o testemunho do Alves de Jesus, que foi comandante do DFE 4... Julgo que estes três camaradas da Armada são teus conhecidos: o Lema Santos é do tempo da tua primeira comissão. O Pedro Lauret, por seu turno, não precisa de apresentações. Espero que o Alves de Jesus e tu também se juntem a nós. As nossas regras de convívio são mínimas e são simples, estando contidas na página relativa à nossa tertúlia. Independentemente da tua decisão, serás sempre bem-vindo, todas as vezes que quiseres e puderes vir conversar connosco.
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Notas de L.G.
(1) Afluente do Rio Cumbijã, passando junto a Bedanda
(2) Mísseis terra-ar, de fabrico soviético: foram usados, pela primeira vez, em 25 de Fevereirod e 1973, tendo abatido um Fiat 91 da FAP.
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