Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 4 de novembro de 2006
Guiné 63/74 - P1245: Efemérides: Quarenta anos sobre Catió (João Tunes)
Guiné > Região de Tombali > Catió > Vista aérea de Catió em 1968 (fotos, a preto e branco, de Vitor Condeço) e em 2005 (foto , a cores, de Jorge Rosmaninho).
Fonte: Africanidades (2006) (com a devida vénia...). O Jorge Rosmaninho é membro da nossa tertúlia e mantém connosco uma política, mutuamente vantajosa, de troca de serviços e de roncos...
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Quarenta anos sobre Catió
por João Tunes
Quanto é que a distância no tempo e dos lugares pode impressionar a memória? Contento-me com o vago muito. E no remexer da memória, falando do registo em imagens, mais que uma velha fotografia que se desenterra e a que se limpa o pó, tanto é o tamanho do que impressiona ao rever um lugar onde ficou um bocado da pele e olhar-lhe as idas e voltas do tempo e a mudança da afirmação da sua modernidade (ou, por vezes, a sentença da decadência).
Há dias, mirando o blogue do Jorge Rosmaninho (*)(o Africanidades), dei com fotografias de Catió com quase quarenta anos de diferença. As duas mais antigas (de 1968), a preto e branco, tiradas por Vítor Condeço, mostra a Catió que bem conheci dois anos após o tempo do bater das fotos.
Em primeiro plano, a pista de aviação em terra batida e que era a nossa principal ligação ao resto da Guiné e ao mundo. Após a pista, a vila habitada por gente bem hospitaleira. Ao fundo, quase indistinto, o quartel sede de batalhão onde se viveram sufocos de morteirada e alegrias de excelentes convívios e camaradagens, além dos copos, muitos copos, para aguentar a espera do passar o tempo e arribar a hora de zarpar.
A recente, a cores e sob o mesmo ângulo, tirada há um ano, traz o verde especial do sul da Guiné e a mesmíssima (antiga) pista, agora recortada com trilhos e os sinais humanos de ocupação social do espaço.
Pela foto de hoje, imagino a importância que Catió hoje ocupa como capital de distrito. E que fará toda a diferença da Catió sitiada e flagelada, encrustada como testa de ponte e comando na resistência militar colonial a que o sul da Guiné (o famoso reino de Nino) não fosse o desastre absoluto da anunciada derrota na guerra como era seu destino.
E fixo-me naquela hoje transformada pista de aviação, pensando no contraste. Ficando a meia nau entre feliz e triste. Feliz porque antes assim. Triste porque me pergunto porque raio o tempo me levou ali, pousando naquela pista, no tempo que não o certo.
Confesso que é esta mesma perplexidade, este conflito de sentimentos, esta dualidade de querer e não querer, que me mantêm a força da recusa em voltar à Guiné e voltar a pisá-la com os meus passos. Por muita garantia que a voltaria a pisar, como o fiz de 1969 a 1971, com os cuidados devidos a quando se pisa terra de outros. Talvez daqui até 2008, seja tempo suficiente para acumular a energia de desinibição necessária para voltar a Catió em passagem para Guileje para poder mirar a excelente obra do Pepito e seus companheiros (3), rendendo-lhe o preito que eles tanto merecem. Oxalá vença a vontade sobre a desvontade. Oxalá.
Abraços para todos.
João Tunes
(Ex- Alf Mil Trms,
CCS/ BCAÇ 2884, Pelundo, 1969/7o; CCS/ B..., Catió, 1970/71)
(*) Porque diabo o Jorge Neto, num ápice, se crismou de Jorge Rosmaninho? O companheiro casou-se e adoptou o apelido da consorte? E, se por isso foi, como não pagou ronco ao pessoal? (2)
____________
Nota de L.G.:
(1) Vd. Africanidades, blogue de > 29 de Outubro de 2006 > Catió, ontem e hoje
Uma foto aérea tirada há pouco mais de um ano e outras duas enviadas por Vitor Condeço, que por ali passou nos anos 60 e muitos.
Segundo Condeço "pelo que é dado ver, a vila cresceu e ocupou também parte da pista. Será que foi um sinal de progresso? Gostava que sim! Para que compare a diferença 37 anos e meio decorridos, em anexo envio-lhe uma foto dessa mesma pista e uma vista da vila, tiradas por mim em Janeiro de 1968, e digitalizadas dos negativos, passados 38 anos, tem a patine do tempo."
Obrigado.
(2) A explicação vem do própiro, em e-mail de 6 de Outubro de 2006:
(...) Quanto ao nome, duas razões:
(i) o ter migrado para o Beta [, a migraçºao do Africanidades para a versão Beta do Blogger.com], abrindo uma conta no Gmail, que é Jorge.rosmaninho. Aliás, este passará a ser o e-mail de serviço (jorge.rosmaninho@gmail.com). O nome de guerra pode passar a ser este, mas quem quiser chamar pelo outro (ou se isso der mais jeito), não terá problema;
(ii) é mais alentejano! Esta é a minha costela do Sul. Uma questão de identidade mal resolvida, que quero recuperar! (...)
(3) Vd. post de 8 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1158: AD anuncia para 2008 simpósio internacional 'A memória de Guiledje na luta pela independência da Guiné-Bissau'
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