segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3730: (Ex)citações (12): Um dia choraremos os tugas, por nos faltar a água de Lisboa (Osvaldo Vieira)

1. Excerto de mensagem de hoje do Pepito (*):

(... ) "Osvaldo Vieira: não tenhas dúvidas absolutamente nenhumas que o Osvaldo foi um combatente que viveu naquela barraca (acampamento) e fez dela ponto de partida para numerosas acções de guerrilha.

"As estórias dele naquele local são mais do que muitas, algumas até divertidas: quando lhe dava a sede, mandava um dos seus guerrilheiros comprar vinho no Quartel de Cacine. Uma vez o mesmo saboreado e estalada a língua de satisfação, recostava-se e dizia:
- Um dia ainda vamos chorar a partida dos portugueses, nunca mais beberemos bom vinho"…

2. Comentário de L.G.:

Não há dúvida que os guineenses (o Spínola gostava de os tratar por guinéus...) também têm, tal como os portugueses (diminuitivo, tugas, tuguinhas...), um grande sentido de humor, atributo que, para mim, é um traço de inteligência superior nos indivíduos...

Aprecio o humor. E esta tirada (atribuída pelo Pepito ao Osvaldo) é de génio: O Osvaldo Vieira merecia estar vivo, só para poder apreciar, no Séc. XXI, as boas pingas portuguesas, cada vez mais excelentes e algumas até geniais (v.g., Barca Velha, dizem!), graças ao talento e ao trabalho dos nossos viticultores e dos nossos enólogos...

Este é o outro lado da guerra, a do Solnado...Quem se lembraria de ir à tasca do inimigo beber um copo de vinho ou mandar comprar uma litrada para beber antes do combate ? Dito isto, como foi possível a guerra da Guiné ? Como nós (e eles), que gostamos do nosso copo e do nosso petisco, nos deixámos cair naquela armadilha ?

Obrigado, Pepito. Foi o primeiro dia do ano de 2009 em que me ri a bom rir!

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3728: PAIGC: O acampamento (barraca) Osvaldo Vieira (Pepito)

3 comentários:

Carvalho disse...

Não não Luís Graça. Melhor do que esse Barca Velha é o Penedo do Barco ou o Pedro Milanos, os quais, se o Osvaldo Vieira os tivesse bebido, ainda hoje estaria vivo.O Pepito e tu próprio experimentem beber desse nectar das terras de Torga e verão que viverão para sempre.

joão coelho disse...

Boa tarde

Este episódio faz-me lembrar uma situação que vivi quando, por razões profissionais estive na Guiné-Bissau, felizmente já em tempo de paz. Com o padre António Rego,fui dar uma volta pelo país; em dada altura, para cruzarmos um rio - não recordo qual - tivemos de esperar por uma jangada que fazia a ligação entre as margens. Cigarrito fumado apreciando a paisagem, notei,quase que inconscientemente, que pairava por ali um som que me era familiar..e reparei que o António também tinha dado por isso...Olhámos à volta e, prá aí a uns 50 metros, estava um indivíduo, aguardando também pela jangada; encetada uma voltita, chegámo-nos ao homem e vimos que era militar,não muito novo, (percebemos depois que tinha feito a guerra no PAIGC) com um transistor encostado à orelha..ouvindo a Tarde Desportiva da RDP..Saudações trocadas, pergunta o António: "então, ouvindo os relatos?.." E eis que o tropa nos diz, de memória, e em português coxo, todos os resultados, ao intervalo, da 1ª Divisão do nosso futebol..sem uma falha..!
No mesmo dia regressámos a Bissau e, noite feita, esperámos de novo pela jangada; no negrume, só os isqueiros, de vez em quando, traziam uma chispa de luz..O silêncio quase total começa entretanto a ser quebrado por sons que se aproximam da margem onde estamos e, pouco depois está connosco um grupo de mulheres e homens, gente alta e elegante,vestida com roupa tradicional, que canta e dança, completamente alheados do que os rodeia e sem nos darem nenhuma atenção..Chega a jangada e embarcamos todos..o grupo continua no seu embalo, como se estivessem em movimento perpétuo.. e é o nosso cicerone guineense que nos diz que vêm de um "choro" algures no interior..Desembarcamos, e eles lá vão, com a sua melopeia, o seu ritmo, entrando pela noite dentro, até os perdermos de vista..
E eu e o António ficámos a pensar como estamos, por vezes, tão perto e tão longe das coisas..

Abraço, bom 2009

João Coelho

Anónimo disse...

Este texto, merece um Post, pela sua singeleza, realidade e escrita.
Alguém assistiu a um choro?
Eu vi choro de verdade, em representação, com coreografia de sonho. Velhos tempos de malta que passou por Mato Farroba (Cufar)

Mário Fitas