quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3740: Historiografia da presença portuguesa em África (15): Filatelia, da medicina tropical à Missão do Sono (Beja Santos / Luís Graça)

Guiné > 1970 > Selo de 2$50 > I Centenário da Comissão Arbitral de Bolama [1870-1970] . No lado esquerdo, a efígie do presidente norte-americano Ulysses Grant (1822-1885). Bolama foi uma ilha disputada por ingleses e portugueses, já na 2ª metade do Séc. XVIII. Em 1860 foi anexada pelos ingleses à colónia da Serra Leoa. Uma comissão arbitral internacional, presidida por Ulysses Grant, devolveu a soberania aos portugueses. Foi capital da Guiné entre 1879 e 1941. (LG)

Guiné > 1952 > Selo de $50. 1º Congresso Nacional de Medicina Tropical, Lisboa, 1952. Sobre a emergência da saúde pública e da medicina tropical em Portugal, no virar do Séc. XIX, vd. textos de Luís Graça. Entre nós, a Escola de Medicina Tropical de Lisboa foi criada em 1902, por iniciativa do Ministro dos Negócios Estrangeiros, da Marinha e do Ultramar, Teixeira de Sousa, também ele médico, poucos anos depois das Escolas de Medicina Tropical de Liverpool e de Londres (1899) e de Hamburgo (1900). Tinha como objectivo: (i) o ensino teórico e prático da medicina tropical; e (ii) a realização de missões científicas às províncias ultramarinas portuguesas bem como a colónias estrangeiras.

Em 1901, Aníbal Bettencourt (1868-1930), médico bacteriologista, director do internacionalmente prestigiado Instituto Bacteriológico, realiza a Missão do Sono a Angola para investigar a doença do sono (tripanossomíase) (**). Esta missão ajudou a reforçar, entre nós, o desenvolvimento da medicina tropical, ligada ao projecto de expansão colonial, nomeadamente em África.

Tem cabimento recordar aqui as palavras de um dos grandes nomes da medicina portuguesa, Miguel Bombarda (1851-1910), em comunicação de 26 de Outubro de 1901 à Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa:

"(....) A colonialização não é somente uma questão social e económica, mas ainda uma questão de higiene e uma questão de patologia. A prosperidade e a riqueza de uma colónia dependem primeiro que tudo das facilidades de vida que lá podem encontrar os elementos colonizadores.

"Desgraçado povo aquele que das sua colónias só pode arrancar ouro à custa de sangue! Desgraçadas riquezas aquelas que se conquistarem à custa do depauperamento da metrópole pelas vidas ceifadas e pelas existências mutiladas! Todos os dispêndios empregados em salvar vidas não podem senão redundar em riqueza e prosperidade nacionais.

"O remédio para os graves riscos que importa uma colonialização empreendida às cegas está na intervenção da medicina, com os altamente poderosos recursos de que dispõe na actualidade. A Inglaterra, a Alemanha e a França acabam de o reconhecer pela criação de centros de estudo e de ensino que hão-de simplesmente converter-se em facilidades colonizadoras e em prosperidade colonial" (...).

Historicamente falando, o herdeiro desta Escola é o actual Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, mais conhecido por alguns de nós, amigos e camaradas da Guiné, pela sua sua Consulta do Viajante (LG)


Guiné > 1959 > Selo de 2$50 > 1º Centenário da morte de Honório Barreto [1813-1859]. Honório Pereira Barreto, natural do Cacheu, filho de pai caboverdeano e mãe guineense, é nomeado provedor de Cacheu, por decreto de 30 de Março de 1843; em 3 de Fevereiro de 1844, domina a revolta dos Manjacos no Cacheu, com o auxílio do seu tio, Francisco Carvalho Alvarenga, comandante de Ziguinchor; no mesmo ano, em 11 de Setembro, eclode a "guerra de Bissau"; Honório Barreto domina depois a revolta dos grumetes do Cacheu, com reforços vindos de Ziguinchor; concede-lhes depois perdão, uma vez feita a paz ... Em 26 de Abril de 1859, morre na Fortaleza de São José de Bissau. (LG)

Guiné > 1964 > Selo de 2$50 > 1º Centenário da Fundação do Banco Nacional Ultramarino (BNU). Efígie do seu seu fundador, Francisco Oliveira Chamiço. Originalmente criado como Banco Emissor para as ex-colónias portuguesas e como banco de desenvolvimento, o BNU foi abrindo sucessivamente sucursais e agências em Angola (1865), em Cabo Verde (1865), na Índia (1868), em S. Tomé (1868), em Moçambique (1877), na Guiné (1903), em Macau (1902) e em Timor (1912).

Como se pode ver selo acima reproduzido, o logótipo do Banco era um emblema com um navio a vapor e a legenda, “Banco Nacional Ultramarino”, na parte superior, e “Colónias, Comércio e Agricultura” , na parte inferior. (LG)

Fotos : ©
Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados [Legendas: LG]


1. Mensagem do Beja Santos:

Malta, fui à Feira da Ladra no sábado passado, dia 7 de Janeiro, continuo a ser um sortudo: para além de livros que me serão indispensáveis para um dos meus próximos empreendimentos, fui até aos filatelistas e aqui vos deixo uma selecção de selos com mais de 20 anos.

Alguns são muito belos, como o de 1952 alusivo ao 1º Congresso Nacional de Medicinal Tropical; o de 1959, dedicado a Honório Pereira Barreto, e o alusivo ao centenário da sentença arbitral de Bolama também são muito belos.

As colecções temáticas de selos da Guiné têm grande importância filatélica, caso das dedicadas aos insectos, répteis e fauna. Esta série que aqui hoje mostro vai para o blogue, espero que um dia se façam leilões que permitam angariar dinheiro para as despesas de manutenção com que nos devemos solidarizar.

2. Comentário de L.G.:

Agradeço, em meu nome e em nome da Tabanca Grande, estes mimos do nosso camarada e amigo Beja Santos, o maior rato de biblioteca que eu conheço e que nunca mais cortou o cordão umbilical dos afectos e das emoções que, desde 1968, o liga à Guiné e às suas gentes...
Agradeço a sua generosidade mas também o exemplo pedagógico que nos dá a todos: mesmo um pequeno selo, insignificante, pode ajudar-nos a contar uma história, a história da Guiné, das gentes que por lá passaram, incluindo estes tugas que teimam em cultivar a saudade saudável e preservar uma frágil memória...

Aqui fica um apelo: quem tiver velhos selos da Guiné, por favor guarde-os, digitalize-os e mande-nos as imagens em formato.jpg... É preciso alimentar a nossa memória... e este blogue (voraz).
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3658: Historiografia da presença portuguesa (15): Postais antigos, um relicário de João Loureiro (Beja Santos)
(**) Mário: Tens memórias trágicas da Missão do Sono, sita na tabanca de Bambadincazinha onde ficava o Grupo de Combate (da CCAÇ 12, do Pel Caç Nat 52...) que guardava as costas aos snehores de Bambadinca, durante a noite....
Era uma antiga estrutura sanitária, criada no âmbito do Programa de Luta contra a Doença do Sono, e na altura desactivada - presumivelmente em consequência da guerra. Era um edifício térreo, de tijolo de adobe, rachas de cibe e telhado de zinco (ou de colmo ?, já não me recordo). A nossa posição era mais do que conhecida pela população e pelos elementos simpatizantes do PAIGC que havia em Bambadincazinha e em Bambadinca. Em caso de ataque ao aquartelamento de Bambadinca (sede de batalhão), éramos um alvo fácil. Uma simples roquetada punham-nos a todos fora de combate.
Ali morreu um dos teus homens, num estúpido acidente com uma G3...

1 comentário:

Anónimo disse...

TABANCA GRANDE:

Simplesmente um ABRAÇO para o Beja Santos. Que " bravo " companheiro.

Com estima,

CMSantos
Cart 2339
Mansambo /68-69