segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

O babuíno da Guiné (mais conhecido na Guiné-Bissau por macaco Kom)

1. Mensagem do Jorge Picado
, ex-Capitão Miliciano (engenheiro agrónomo, na vida civil)... Conta aqui como na região do Oio os soldados africanos do Pelotão de Caçadores Nativos 61 (qual a etnia predominante?) fizeram um 'massacre' de babuínos.



Caro Luís e Camaradas

Acerca deste assunto tenho também uma "triste" lembrança dos meus tempos em Cutia. Como o camarada António Costa refere ter tido "contacto" com macacos-cães em Mamboncó, eu tive um "encontro", numa das muitas escoltas que efectuei nessa estrada, precisamente por essa zona.

Não posso precisar o dia, mas foi um daqueles em que saímos de Cutia para Mansabá afim de receber a coluna que íamos escoltar até Mansoa. Eram ainda só as viaturas militares, as duas primeiras com soldados africanos (que julgo seriam do Pel Caç Nat 61) e eu, invariavelmente na terceira com pessoal da CCaç 2589, seguindo-se as restantes, quando por alturas da zona (não "aldeia") de Mamboncó rebenta um tiroteio de G-3 à minha frente. Mas que valente susto me pregaram aqueles guineenses...e tudo para ver quem conseguia matar mais macacos.

Um grande bando, adultos, jovens e muito jovens (alguns pela mão talvez de fêmeas), atravessaram a estrada, que naquele local era ladeada por revestimento arbóreo relativamente denso, mesmo à frente do início da coluna e os soldados africanos não estiveram com meias medidas. Atiraram a matar, de rajada e tudo, incitando os condutores a passarem por cima deles, ao mesmo tempo que saltavam dos Unimogs e atiravam com os mortos e feridos para cima das viaturas.

O choro dos feridos, grandes ou pequenos, era nitidamente humano. Posso garantir que os mais pequeninos gemiam nitidamente como os nossos bébés. E eu que tinha os meus filhos ainda bem pequenos, lembrava-me bem desses gemidos e choro...Fiquei bastante traumatizado e nem quis olhar para "os troféus" que os soldados exibiam. Sei que lhes passei uma descompostura, mas eles nem ligaram.

Para eles aquilo ia servir para duas coisas. Ganharem dinheiro com a venda de alguns, nomeadamente aos...que estavam em Mansabá (não te assustes que não eram vocês, Carlos) e para uma melhor refeição preparada pelas suas mulheres.

Porém, o pior para mim, foi ao fim da tarde quando se me apresentaram algumas dessas mulheres, que quase garanto vinham acompanhadas pelo Alf Semião (Alô Vítor Junqueira, vê se confirmas isto com o teu vizinho), para me presentearem com uns pedaços daquela carne cozida, salvo erro, com massa. Encontrávamo-nos na nossa "messe" ao ar livre para o jantar, possivelmente. Vocês não calculam o sacrifício que fiz para comer dois ou três pequenos pedaços, para "garantir a amizade com que era distinguido". E os gemidos ainda a soarem aos meus ouvidos...

Também confesso que nunca ouvi a expressão "cabrito pé de rocha". E já agora para terminar, quando o Vítor Junqueira nos deu a conhecer uma história do Alf Semião, lembrei-me de contar este acontecimento, mas como eles são médicos, a ideia que me ocorreu tinha a ver com um assunto do foro, digamos, clínico. Como não saiu logo, por falta de tempo, quando ia para a reproduzir, parei, porque era um tanto ou quanto melindrosa

Jorge Picado

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Notas de vb:

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1 comentário:

Anónimo disse...

O Com, não o avec, mas o macaco, foi a "ração de combate" por excelência e por necessidade, dos Combatentes da Liberdade da Pátria, pois que havendo já alguma tradição no consumo desse "petisco", tornou-se como que prato nacional.

Nos primeiros anos de independência, era vulgar ver alguem, caminhando ao longo dos caminhos com um animal amarrado a um pau ao ombro e uma Kalash na mão.

O povo compreendia este consumo com a maior naturalidade.

Antº Rosinha