quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4844: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (19): Dias em Binar - 4

1. Mensagem Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 15 de Agosto de 2009:

Caro Vinhal

Para ti, Luís , Briote e M. Ribeiro um grande abraço.

Mando mais um capítulo de Viagem … à consideração e na esperança de não maçar muito os eventuais Camaradas leitores. Se acontecer… paciência... avisem!!

Trata-se da ligeira abordagem de uma das verdades da guerra, muito comum mas ao que sei, relativamente pouco falado e muito menos aprofundado.

Outro abraço, para os que ficaram de fora no primeiro !!

Até breve
Luís Faria


Dias de Binar - 4

Voluntários da noite

Se muitos dos dias em Binar ao que recordo, eram cinzentos e convidavam à sorna e à ociosidade, às peguilhices desportivas entre ditos e bocas sibilinas e às conversas da treta, para não falar em divertimentos mais ou menos atentatórios da sanidade mental dos intervenientes, já as noites, a partir de certa altura e quando não havia trabalho pré-programado, por norma passaram a não o ser.

Formámos um pequeno grupo de voluntários da noite, tendo grande parte delas passado a ser, como se diz agora stressantes e interactivas emocionalmente condicionadas e participativas, em que a acção era assumida por este pequeno núcleo duro voluntário - Cap. Mamede, Cap. da 17, Urbano e eu – reforçado de quando em vez com os Furs. Mealha (MECAuto) ou o Metralhinha (TRMS) ou o Madaleno (Atirador) o que por vezes causou problemas de adaptação a mim e julgo que ao Urbano também.

Por norma este grupo reunia-se para a acção após um lauto jantar melhorado, de bianda com salsicha ou com atum(?!). Meia de converseta com o café e uns uísquitos ou similar à mistura, para ajudar à digestão do banquete e à boa disposição.

De seguida e já cientes de quem iria tomar parte, havia uns momentos de relaxe e de concentração de espírito nas tácticas a utilizar na acção que se avizinhava e que por vezes durava até ao nascer do sol ou até à cerimónia do içar da Bandeira, altura em que por norma e querer nos obrigávamos a estar presentes, salvo qualquer contratempo de maior.

Neste tipo de acções não podia haver, nem havia hierarquia, só respeito mútuo e autoconfiança.

A calma não podia ser simples figura de retórica e os nervos tinham que ser de aço! A dissimulação e a camuflagem deviam andar de mãos dadas com a observação arguta e atenta do terreno que se pisava; o engodo e agressividade tinham que estar presentes e usados na dose e altura certas, sob pena de passarmos a ser presa em vez de predadores.

Nos momentos em que essas condições estavam reunidas, era altura de desferir o golpe, sem misericórdia, não olhando a quem, esperando causar o maior estrago possível aos adversários ou até, se eventualmente possível, aniquila-los!

Éramos um grupo voluntário de companheiros amigos e nessas acções, todos sabíamos e tínhamos consciência de que, cada um tinha que olhar por si e não devia contar com ajuda dos outros!

Se sofrêssemos estragos causados pelo adversário, a culpa era unicamente individual e não do grupo, pelo que não podíamos nem devíamos responsabilizar outrem, senão a nós próprios!

Assim, a amizade e companheirismo nunca foram postos em causa e quando apanhávamos no pelo acabávamos por ganhar força e engenho para o próximo confronto, tentando aprender com os erros cometidos e aprimorando as nossas técnicas.

O importante era não ser aniquilado extemporaneamente. Devíamos tentar continuar e aguentar! Perder uma ou outra batalha não é perder a guerra!

A hora do arranque chegava. Olhava-mo-nos e cada olhar diz-nos que quer vencer. Todos o queremos, é certo!

Umas últimas chalaças para descomprimir e momentos depois ouvia-se um vamos a isto!?...

Dirigíamo-nos para os nossos lugares. Se tudo corresse à maneira, a noite iria ser longa!

O objectivo de todos era arrasar o adversário!

O baralho era posto na mesa. As cartas eram baralhadas e dadas!

A jogatina de Póker aberto começava!

Um abraço a todos e… desculpem
Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4823: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (18): Dias em Binar - 3

1 comentário:

MANUEL MAIA disse...

CARO LUIS,

AO LER ESTE TEU ESCRITO,"LEMBREI-ME DE NÃO ME LEMBRAR" DE ALGUMA VEZ TER ASSISTIDO A UMA SITUAÇÃO
DE HASTEAR OU ARRIAR DE BANDEIRA.

NA MINHA GUERRA DO CANTANHEZ,NEM SEI SE HAVIA BANDEIRA...

SE HAVIA,E É NATURAL QUE SIM,FOI COLOCADA UMA VEZ E POR LÁ SE MANTEVE ATÉ AO FIM...

DOU COMIGO A VERIFICAR QUE A MINHA GUERRA, APESAR DE SOFRIDA A TODOS OS NÍVEIS, ERA DAS MELHORES...

ÉRAMOS TODOS MILICIANOS,SALVO O SAUDOSO 1º GINJA QUE O FURMIL TEIXEIRA HAVERIA DE "MILICIANIZAR"
AO PONTO DE SE TORNAR UM DOS NOSSOS.
ERA UMA GUERRA SÓ NOSSA,SEM DEPENDÊNCIAS DE GENTE MUITO AMARELADA(O MÁXIMO ERA O CAP.MIL)
POIS POR ALI A "COISA FIAVA FINO"...

UM ABRAÇO
MANUEL MAIA